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Michell Foitte

michell_foittehotmail.com

Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta

CRP 12/07911


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Profunda superficialidade

Quinta, 10 de dezembro de 2015

 

Felicidade tem a ver com prazer. Não há duvida que o prazer precise ser sentido no corpo. Fora disso é qualquer outra coisa, menos felicidade, pois, estaria fora de mim, dessa estrutura celular que me forma.

Entretanto, é bem verdade que, quando a felicidade está em mim ela transborda, ou seja, sai das bordas. Ela então se doa para os outros.

Lembro dessa felicidade quando me apaixonei pela primeira vez. Tinha oito anos quando ela me lançou um olhar que há época não saberia explicar o que ocorria comigo, ou melhor, o que me corroia. Seus olhos negros e cabelos esvoaçantes, que sensação maravilhosa. Incômoda também? Claro, mas acima de tudo prazerosa.

Lá se vão alguns anos.

Estranho as felicidades atuais, como um produto do empacotamento normatizante, do enlatado, do algo pronto e acabado, que é ditado muitas vezes por livros que tentam nos ensinar os “dez mandamentos” de como ser feliz, por exemplo. E por aí vai... “As sete melhores e mais picantes posições sexuais que irá deixar seu homem maluco por você”... “Como conquistar uma mulher em dez etapas”.

Questiono a felicidade estampada nas capas das revistas com mulheres maravilhosas, carrões importados, homens malhados, pessoas supostamente famosas com dentes branquíssimos sempre a mostra.

Definitivamente não consigo ter prazer com essa felicidade moderna, pois, trago a marca na pele dos tombos que levei pedalando, subindo em galhos de árvores, das canelas raladas por alguma trava de chuteira. Trago na pele os foras que levei, olhando olho no olho, de algumas meninas que me rejeitaram, e não as marcas modernas quando alguém que não me quer e simplesmente aperta a tecla delete como algo a ser descartado e assim poderia estar virtualmente excluído.

Definitivamente sorrisos branquíssimos não me cabem, não só os branquíssimos como também os sorrisos, quase fotográficos. Trago de outro tempo alguns entraves, entende? Não? Deixe-me explicar... Educação severa, não rude, mas severa. Colégio de freiras. Ideias de um tempo onde esbanjar era ofensa, e assim economizava-se nas coisas, inclusive na felicidade. Rir apenas baixinho. Gargalhar dependendo a ocasião era desrespeito. O excesso era evitado. Sim, havia o bom senso.

A felicidade atual, moderna, virou sinônimo de sucesso e desempenho. Vou apenas melhorar a frase, pois, acho que a felicidade não é exatamente “sinônimo”, mas, uma reprodução de uma imagem, uma cópia mal feita de alguma auto-imagem de sucesso e desempenho, onde as pessoas viraram objetos de consumo, tanto homens quanto mulheres como objetos de consumo. Tornaram-se reféns do desejo do outro. Relações midiáticas de consumo onde as mulheres são vistas, porque assim querem, como uma grande tanajura bunduda, de peitos plastificados, uma máquina “sex machine” sensualizada e sexualizada, mesmo que seja fingimentos, quando quase sempre é.

Os homens como coisas de consumo também, com seus pênis AK-47 que saem metralhando para todos os lados, um pênis supersônico que jamais brocha e da gozadas homéricas, uma, duas, três sem ficarem molengões, flácidos. Um homem pênis grande comedor, irresponsável, vazio, um pênis devorador de mulheres ou homens, devorador da mesmice produção em série.

Quase não há diferenças entre homens e mulheres e aspiradores de pó. Apenas objetos de uso.

Felicidade automatizada, robotizada, burocrática, encontrada nas coisas, objetos consumidos pelo consumismo de nós mesmos. Somos um grande produto.

A felicidade moderna soa como um grande desprender-se. Como se para alcançá-la não precisasse de esforço algum. É assim também com as infelicidades, onde as pessoas as vêem, mas, não as enxergam. Beiramos ao perigo de nos sentirmos intocáveis, de acharmos que não temos nada a ver com a corrupção, com o consumo das drogas, com as mortes. Intocáveis com as misérias, com a fome, com a dor, com o câncer, o Hiv, da falência da educação e da saúde. Não nos sentimos. A vida como um eterno delete.

Talvez hoje eu me permita ir ao exagero, não de uma gargalhada, mas, de pensar que não estamos mais produzindo saberes, não estamos aproveitando ou reaproveitando prazeres, estamos apenas acumulando monturos.

Vivemos uma profunda ideia de que se entrarmos em contato com as coisas, com as pessoas, com nós mesmos, estará se revelando algo de nós que não pode ser revelado. Talvez, que somos feito de carne e osso, talvez... Que somos frágeis e finitos, e que em algum lugar nesse nosso corpo exista a boa, natural, clássica felicidade, mas, que para muitas pessoas isso seja insuportável. Uma insuportável profundidade da felicidade.

 


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