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Michell Foitte

michell_foittehotmail.com

Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta

CRP 12/07911


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Extra! Extra! Deu no Jornal Evolução

Quinta, 26 de novembro de 2015

 

Quando se aposentou, aos 50 anos, após uma longa vida dedicada ao serviço militar, Toledo ou como ainda era chamado por algumas pessoas, “Coronel Toledo”, que nada mais era do que as forças do hábito para Vossa Senhoria, como assim diziam. O Coronel ou simplesmente Toledo, resolveu ingressar em novas conquistas e expedições... Lançando-se à arte.

Toledo que jamais havia pegado em coisas que não eram revólveres, cassetetes, metralhadoras, pistolas, granadas, algemas, pessoas pelo pescoço, etc. Via-se agora com a sutileza de um pincel delineado cuidadosamente uma tela com suas figuras e fundos bucólicos nas dimensões de profundidade e nas psicodinâmicas das cores.

Maria, esposa do Toledo, que raramente chama o Toledo de Toledo, mas de Coronel, expressão de tratamento não por força do hábito, mas porque em hierarquia ela é uma espécie de General, inconformada com essa ideia do marido em relação à ars, o máximo de apoio ao cônjuge era ainda pintando com graxa de sapato as botas do Coronel colocadas na “reserva”.

Maria adorava esses termos beligerantes, “reserva”, “batalhão de infantaria”, “fortalezas voadoras”. A própria Maria se tivesse uma nomenclatura bélica para defini-la seria a de “canhão”. Não porque era uma arma de guerra, a não ser quando estava na TPM e destruía a casa em ataques de fúria, mas, porque a Maria era feia. Maria era praticamente uma sobrevivente das consequências do agente laranja e das bombas atômicas, era um desastre nuclear. Sabendo disso, quando jovem usou de táticas de captura para casar com o Toledo. Pobre Toledo, um pequeno infante, casou-se virgem com a Maria, e não com a virgem Maria.

Toledo que trabalhava a meses em seu ateliê, estava prestes a finalizar uma de suas obras, uma escultura que cobria com um lençol branco para apenas ser mostrado quando pronta. Dias depois convidou amigos para um vernissage. Quando os quadros já haviam sido vistos pela maioria, anunciou sua mais recente obra, que ainda estava encoberta por aquele manto claro, que seria uma obra que se apoiaria num realismo em favor de uma expressão que transcende a realidade aparente. Quando descobriu o manto de sobre a obra, intitulando-a de: A mulher monocromática.

Os olhares se arregalaram, alguns “ohh” foram ouvidos. Era a escultura de uma mulher toda em branco deitada de lado. Era a escultura de uma mulher feia, com a aparência de um tanque de guerra que foi alvejado por um míssil. Não havia como negar, Toledo tinha reproduzido a Maria, não a virgem, mas a Maria que o desvirginou.

Quando Toledo se virou e viu a Maria esbranquiçada, não a sua escultura, mas a Maria General, ele ficou na dúvida se ela tinha ou não gostado, contudo, achou por prudência, ou medo, não perguntar naquele instante.

O que ninguém viu é que a Maria ficou tão petrificada quanto a mulher monocromática. Ninguém ouviu também que a Maria havia engatilhado a pistola da segunda grande guerra, adquirido de um antiquário, e que estava prestes a dar um tiro no Coronel. Tudo porque na obra existia um pequeno detalhe que ela fuzilou com seus olhos, na verdade eram dois detalhes que ela identificou, na verdade eram dois detalhes da mesma parte...  Os seios.

Os seios... Maria identificou como não sendo os dela. Eram seios belos, bem orientados, com proporções corretas e muito simétricos, eram empinados como os seios das jovens, tinham também aureolas angelicais e bicos de beija-flor, pareciam seios de pele de pêssego. E para o Toledo conseguir reproduzi-los daquela forma só havia uma explicação... Toledo a estava traindo com outros seios.

Era preciso descobrir primeiramente os seios, só para depois identificar o inimigo e assim por diante, até minar as resistências alheias.

Maria saiu à procura do algoz, ou melhor, do seio, como o príncipe que saiu atrás do pesinho que caberia no sapatinho de cristal. Era necessário saber quem era mais próximo do Toledo, pois, o inimigo normalmente mora ao lado, segundo o que dizia Maria. E assim a vizinha gostosona e com cara de Barbie foi atacada por alguém que se travestia com uma meia fina para estampar as feições. “Só fui tocada nos seios”, dizia a mulher. Maria logo percebeu que eram seios emborrachados e não se aproximavam dos da escultura.

Outra vítima, uma ex-colega de trabalho do Coronel, falou que o quarto havia sido revirado e que apenas os sutiãs foram levados. Depois de um trabalho minucioso de investigação por parte de Maria, conclui-se que não poderia ser esta moça, pois, os seios eram incompatíveis com os sutiãs, já que eram de enchimento.

Maria começou a frequentar os clubes para onde as mais chegadas amigas se encontravam. De trocador em trocador, de baia de banheiro em baia de banheiro, de chuveiro em chuveiro, lá estava Maria, de olho nos seios, pequenos, médios, grandes, uniformes, desequilibrados, estrábicos. O gerente do clube chegou a falar que não se importava com as preferências sexuais de seus sócios, mas que não poderia ficar tão escancarado, pois, mesmo as mulheres começavam a ficar incomodadas com os olhares e investidas da Maria, que já suspeitavam que poderia ser sapatona. 

Maria, com todas as questões beligerantes que a cabiam, ajuizou em construir uma espécie de campo de concentração para mulheres com seios perfeitos, porém, logo abandonou a ideia, pensou nos direitos humanos e nos boatos que surgiam de um maníaco do peito e ladrão de sutiã nos meios jornalísticos. Deu noticiado na capa do Jornal Evolução “Maníaco Sutiãbentese ataca novamente”.

Algumas mulheres muito bem humoradas pensavam em lançar um filme curta metragem nesta cidade do planalto norte, o título seria “Eu seio o que você fez no verão passado”.

Maria estava prestes a desistir de encontrar o seio perdido, era como tentar concertar o Brasil, pensou em fazer uma espécie de tortura moderna como faz o judiciário com algumas pessoas, uma delação premiada, torturar suavemente até alguém denunciar de quem seria aqueles peitos, o que em suma, provavelmente, não daria em nada.

Foi quando, por uma providência divina, encontrou Paulão, amigo de longa data de Toledo. Paulão era ão mesmo, grandão, pesadão e naquele dia também estava suadão já que fazia um calorão desses que anuncia o verão. Maria olhou para o Paulão e refletiu sobre aquela massa que ficava sobre o Paulão e pensou se ele não fosse homem bem que caberia nele um sutiã.

Insight!

Maria pediu educadamente para Paulão tirar a camisa e abismada viu o que eram os seios mais bonitos que ela já tinha visto... Iguais ao da mulher monocromática.

Inspirações são assim, se encontram nas coisas mais estranhas, e na arte é a linguagem que faz o mundo ou o olhar sobre o mundo.

Quem diria... Paulão!



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