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Michell Foitte

michell_foittehotmail.com

Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta

CRP 12/07911


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Origâmi

Terça, 17 de novembro de 2015

 

Como poderia imaginar que as lembranças chegariam assim... Desse jeito, nessa linha traçada verticalmente sobre um papel pardo – as linhas traçadas no papel faziam parte da dinâmica sobre alguns pontos importantes que marcam a vida das pessoas – As lembranças... As minhas lembranças – dizia ele – são como papéis amassados, daqueles usados quando se precisa embrulhar coisas. Daqueles papéis que preenchem o interior dos sapatos novos quando ainda estão guardados em suas caixas de papelão. Daqueles que servem de fundo para gaiolas onde os pássaros defecam. Papéis embolorados pelo tempo... Como uma velha carta há tempos esquecida no fundo escuro de uma gaveta qualquer. Lembro das flores – continuou – Do cheiro das flores quando o vento deslocava um olor para próximo de onde estávamos. Digo estávamos, pois, automaticamente lembro meus pais. Tínhamos três floriculturas, mas após a separação deles, dos meus pais, meu pai perdeu a parte dele e também conseguiu perder a parte que era da minha mãe. Por conta disso, minha mãe começou a beber. Meu pai se afastou de nós por algum motivo que para mim era tão incerto... E eu não aguentei viver com todos aqueles sofrimentos e com doze anos eu saí de casa. Trabalhei como ajudante de obras quando, depois de alguns dias de carona, cheguei à cidade do Recife. Lá trabalhei como panfleteiro. Empacotador. Trabalhei também numa empresa de desentupimento e por conta de alguns produtos que usávamos para diluir dejetos, os meus olhos, minha visão ficou comprometida por conta desses produtos de limpeza. Foi quando fui trabalhar como carregador de malas num hotel, ainda no Recife, e aconteceu a coisa mais estranha da minha vida, maravilhosa – olhou para baixo por instantes em sorrisos de realização e satisfação – foi quando eu a vi pela primeira vez, foi lá que conheci minha esposa. A vida eu acho que tem essas coisas de destino... Ela estava passando as férias com seu pai. O pai dela era cônsul na África do Sul. Ela não era rica, apenas seu pai era. Foi um lance que ele teve com uma recepcionista e daí... Daí já da para imaginar que nove meses depois ela nasceu, a minha esposa. Estava com dezenove e ela com dezessete. Não sei explicar para você o que aconteceu, mas, só sei que estamos juntos até hoje. No mesmo ano que conheci a Júlia meu pai faleceu. Estranha a sensação que da quando não se tem mais tempo. Eu não consegui apresentar ela para meu pai... Não deu tempo! Ele foi encontrado caído próximo a casinha de onde morava. Disseram que sofreu um Acidente Vascular Cerebral e ficou caído lá como um papel que é arremessado para fora da janela de um carro e que para, amassado, em algum canto de um acostamento. Júlia e eu temos quatro filhos. Júlia se forma este ano em administração. Eu fiz um curso técnico em manutenção de computadores. Trabalho em casa e assim consigo cuidar e estar junto dos meus filhos. Minha mãe parou de fazer uso de álcool quando Pietra nasceu, minha primeira filha. Hoje, após vinte e três anos, lá daquele momento de quando eu saí de casa, consegui olhar para a vida não apenas como uma linha traçada na vertical, mas como uma linha contínua e horizontalizada. Como um papel com linhas prontas para serem escritas. 



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