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Michell Foitte

michell_foittehotmail.com

Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta

CRP 12/07911


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Até as coisas mais rasteiras

Terça, 06 de outubro de 2015

 

Sentou-se sem jeito naquele sofá recoberto com um tecido multicolorido. Um tipo de chitão. Almofadas que incomodavam as costas foram direcionadas para os cantos. Havia duas com rendas do que um dia foi branco, mas, que o tempo se encarregou de amarelá-las. Uma em cada braço do estofado. Como dois lutadores em seus corners a espera da batida do gongo para iniciar o round. A aparência delas mostrava que há muito tinham sido surradas.

Cruzou e descruzou as pernas. Algum tempo depois cruzou e descruzou as pernas novamente. Cuidou para que nenhum desses giros acertasse com os pés a mesa do centro de pernas longas e finas e vernissage mogno. Alguns objetos decorativos preenchiam sua superfície.

“Estranho” – pensava.

Era estranho olhar a ponta do sapato. Aquela ponta ali tão de perto. Ajudada pelo cruzamento das pernas, não da mesa, mas das pernas próprias.

Uma ponta gasta que só poderia ser vista com certa proximidade. A ponta gasta pelas bicudas nas quinas dos móveis, nos tropeços indesejados nas pedras e calçadas irregulares, ou talvez, um pé que insistia em encontrar as coisas mais rasteiras.

“Estranho”. Estranho já havia dito anteriormente em uma composição apenas mental, silenciosa. Mudara para “esquisito”. Apesar de “esquisito” ser uma palavra esquisita. Tão esquisito quanto “pé” – pensava. Porém, era tudo o que coube para preencher compreensões de algo que se molda pelo contato das coisas superficiais. Do chão que molda a ponta de um sapato. Das coisas do chão que o faziam pensar na reconstrução frasal, como... Entre o céu e a terra... Haveria tanto chão, pedra, pó.

Dos primeiros passos aos primeiros tombos. O imperativo da gravidade quando das migalhas de um pão qualquer encontra o chão, João e Maria. Do chão que brota o trigo. Um sapo esmagado por um carro que nada mais seria se não complemento asfáltico.  O levantar-se quando o chão pede para beijá-lo, como fez João Paulo.

Dos joelhos encostando-se às partículas de sujeira do chão em cada prece. Da chuteira direita amassando a grama antes de uma partida de futebol... Supersticiosa como os pés de coelho.  Campos de guerrilha com todas as minas terrestres explodindo sapatos e pernas pelos ares.

“Café?”

Demorou um pouco para responder, até sair de seus pensamentos rasteiros, superficiais, planos, para a resposta.

“Sim”

Ao levantar para receber a xícara com todo seu conteúdo – “sem leite, por favor,” – aproximou-se em demasia e ambos se encontraram...

As coisas mais baixas também produzem encontros. Os dois sapatos se beijaram. Um gosto selado de sola.

“Saúde”.

“Saúde”

Cruzou uma das pernas. A outra com o sapato com a ponta gasta encostando o chão.



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