Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
- Pai... Ô pai... Acorda!
- O que é minha filha?
- Lembra que você me pediu para eu pensar e depois vir comunicar o que eu gostaria de aniversário?
- Sim, minha filha, mas seu aniversário é só daqui a seis meses... Não quer falar disso depois?
- É que de repente até lá eu esqueça...
- Está bem... Pode falar.
- Ai que bom papai... Então eu vou dizer... Eu quero um monte de piolhos!
- Como assim minha filha, piolhos?
- É que todos os meus coleguinhas de aula estão com piolhos e eu também quero alguns!
- Mas isso não é legal minha filha...
- Mas papai... Toda aquela coceira na cabeça parece ser tão gostoso.
- Piolhos não minha filha! Escolhe outra coisa.
- Tá bom. Pode ser uma varinha?
- Dessas varinhas mágicas que as feiticeiras usam?
- Pode ser aquelas de marmelo mesmo!
- De Marmelo?
- É papai... Algumas crianças apanham de seus pais com essas varinhas e pensei que se eu tivesse uma também poderia ser surrada?
- Mas você não merece ser surrada. Que ideia minha filha!
- Nem com uma cinta ou bainha de facão ou fio de telefone?
- Sem chances!
- Quero então um amante.
- Minha filha. Você só tem seis anos. Para ter um amante é preciso ser... Ahrrr minha filha... Esquece isso. De onde você aprende essas coisas?
- É que a mãe da Bia conversava ao telefone com sua amiga e dizia que seu amante é tudo de bom. Daí achei que seria legal ter um.
- Não. Nem varetas, nem amantes, nem piolhos! Você não quer roupas, celular, tablet, ou algo parecido?
- Uma nuvem com formato de dinossauro?
- Essa é mais difícil que as outras opções, minha filha.
- Quero uma briga entre você e a mamãe e não dou mais opções!
- Mas você sabe que eu e sua mãe não brigamos.
- Mas que saco papai... É difícil pedir algo normal nessa família anormal?
- ????
*****
Recentemente escutei a história de um senhor que havia perdido seu celular. Quando deu a falta do aparelho resolveu ligar de outro telefone para o celular sumido, na esperança de alguém tê-lo encontrado. De repente, atende do outro lado da linha uma criança que, ao se atrapalhar na fala e com o aparelho acaba por interromper a ligação. Contudo, o dono do celular, não satisfeito voltou a telefonar minutos depois, mas, dessa vez que atende é um adulto e diz: “Olha, estamos com o celular e o Junior, meu filho, quer uma recompensa para poder devolver...”
Em suma, esse pai perdeu a chance de dar uma lição de respeito, gratuidade, generosidade, humanidade, ao seu filho.
De nada adianta mandar seu filho a ler se ele não te vê ler. De nada adianta pedir educação ao seu filho quando você desrespeita sinais de trânsito, joga lixo no chão, trata com desrespeito as outras pessoas. De nada adianta falar se os teus atos são opostos ao que você diz.