Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Colunista. Cronista. Nunca consegui me identificar com essas definições, apesar de escrever muitas vezes em um espaço em formato de coluna, em um espaço muitas vezes pré-estabelecido por uma quantidade de caracteres. Não que isso seja regra, apenas uma configuração. A palavra cronista automaticamente me remete a Cronos, o titã do tempo. Logicamente que aquilo que escrevo é referente há um tempo onde muitas vezes nem é meu, mas o tempo do outro, daquilo que o outro muitas vezes me fala, ou, daquilo que simplesmente ouço quando estou sentado perto de alguém enquanto apenas faço um mero lanche ou espero em filas de pão, dentro de um ônibus e, por aí vai.
Nesse sentido sou um ladrão de histórias. E por isso me identifico com a palavra escritor. Escrever é se apropriar sem o uso da força de histórias, pensamentos, jeitos, atitudes, relações das pessoas. Não quer dizer que não se manipule. Escrever é conseguir lidar com um tempo que não se fragmenta em passado, presente, futuro, mas com um passado, presente e futuro lineares ou não, atemporais, de tempos sem tempos. O que é maravilhoso, pois, é a liberdade que a coluna não da, pois comprime e reprime as palavras em um espaço de tempo tão parecido ao Cronos.
Entendo e amo os sonetos, assim com os Haikais, mas, às vezes a métrica, a rima, a concisão e objetividade não bastam.
Tempo e espaço que parecem tão deslocados.
Como é possível um mundo onde os alimentos estejam com seus preços cada vez mais em alta. E o amor... Um dia esteve em baixa? Porque depende do que se coma pode dar dor no estômago ou um desarranjo intestinal. Assim quando se come se lambuzando dos sabores das paixões e daquelas borboletas parecendo revoar de dentro das nossas barrigas. Mas o amor que não associa buquês ou a abertura gentil de portas de carros ou aquelas puxadas na cadeira aguardando primeiramente o outro se sentar. Ahm... Contudo, acredito no romance e não no casamento. Lembro que sempre confundimos a data que nos conhecemos. Eu marco como o dia do nosso primeiro beijo. Ele, no dia em que fizemos amor pela primeira vez. Estranho eu usar amor para definir o sexo... Acho que tudo isso se mistura em algum momento, embora, não queremos um contrato em que ambos sejamos pertences um do outro quando de alguma forma já nos pertencemos pela liberdade. Quem sabe sejamos eternos namorados e namorados eternos. Quando me perguntam a quanto tempo namoro e digo vinte e três anos às pessoas, elas se assustam. Então pergunto para a mesma pessoa quantos casamentos você conhece que duraram vinte e três anos? A resposta nem sempre aparece ou só depois dela lembrar a avó que ficou casada quarenta anos. Já passamos das cinquenta primaveras vividas e nosso namoro sobreviveu a todas as estações passadas... Melhor dizer... Nosso namoro viveu há todos esses anos. Chatices, mau humor, ciúmes, brigas... É claro que já tivemos. E tudo acontece porque deixamos de enxergar o outro a não ser como um utensílio ou figurante em nossas vidas. E as traições que acometem tantos casais raramente são pelas diferenças das pessoas, mas por fusão desses dois seres. A tampa da panela, o feijão no meu arroz, a metade da minha laranja... Temos tanto do outro que não temos espaço para nós mesmos. O desemprego do marido, o salário desigual, a incompatibilidade de cultura, podem fazer com que as pessoas se separem, entretanto, mesmo havendo esses fatores que poderiam desequilibrar a relação, existem pessoas que permanecem por conta do desejo que sentem uma pela outra, pelo tesão de serem desejadas fisicamente, intelectualmente... Onde há fogo há desejo e vontade.
Escrever é ter o cuidado de escutar. De ter o respeito de ouvir sem julgar. Como eu escutei o que foi escrito acima. E finalizo com a última frase que ouvi. Quando não há vontade existe apenas uma possibilidade, mas quando há vontade existem várias possibilidades.