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Michell Foitte

michell_foittehotmail.com

Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta

CRP 12/07911


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Menina Mulher

Sexta, 04 de abril de 2014


Senti um aperto no coração. Era isso. Um nó na garganta que eu teria que aguentar. Senti meus olhos arderem. Ainda era um sentimento estranho. Enraizado em noites e dias tão profundos quanto os meus sonhos abissais.

Respirei. Tentei disfarçar as batidas que vinham de dentro do meu peito. Lembrava-me da primeira vez que a vira. Tantos anos passaram, mas, parecia que tudo aconteceu ontem. Fora no outono de 1995.

Era um tempo de incertezas. Uma nova moeda nacional, velhos e novos desempregados, nuvens espessas que encobriam o céu de desânimo.

Eu ainda era apenas um estudante, mas pensara em arranjar qualquer espécie de emprego para ajudar nas despesas de casa. Eu tinha 15 anos e meus amigos queriam acampar naquele final de semana. Morava em uma cidade do interior e isso era quase que habitual entre os jovens, acampar. Levaria a comida que tínhamos em casa, macarrão, ovos, conservas, café e leite. Depois passaríamos em uma vendinha para comprarmos cigarros.

Seria um final de semana como outro qualquer. Reuniríamos os amigos e em torno de uma fogueira entre brindes e tragadas conversaríamos e nos divertiríamos à nossa maneira. Falaríamos coisas estúpidas, pois éramos tão jovens.

Quando pisei fora da venda e risquei o isqueiro, olhei por sobre o cigarro que em minha boca estava... Levei algum tempo para apreender o que via. E aquilo atingiu meu coração.

Os cabelos loiros escorriam por debaixo daquela boina preta, contornavam-lhe a límpida face e seus lábios escarlates entreabertos mostravam seus alvos dentes. As orelhas pequenas passavam despercebidas àqueles lindos olhos castanhos que delineavam a face. Olhos quentes resplandecentes que acompanhavam uma paixão que eu não conseguia compreender.

Procurei ver o que naqueles olhos havia. Já estava com o cigarro em uma das mãos. Olhos que não se deixavam ser totalmente lidos.

Ela desviou os olhos quando passou pela minha frente. Eu apenas a fitei.

Acompanhei seu rastro de perfume deixado para trás. Não pude sequer dar uma tragada em meu cigarro, era como se o meu corpo não respondesse mais a mim.

Foi quando ela se virou por completo e me sorriu. Aquilo foi uma espécie de um golpe violento e explosivo que me atingiu direto à alma. Os  lábios dela se moviam. E a paixão tomou conta do meu corpo de inocência.

Amamos-nos, nos encontramos e por vicissitudes nos perdemos.

Dezenove anos se passaram. Fazia tanto tempo... Tanto tempo. Os nossos olhos se cruzaram novamente. Ela passou por mim.

Era o mesmo andar gracioso. Lembrava seu cabelo liso, agora um pouco mais ondulado, mas era o mesmo cabelo solar.

Já fazia tanto tempo...

Ajustei a respiração junto ao compasso das batidas do meu coração. Eu estava quase explodindo com todos  aqueles sentimentos que um dia me invadiram.

Ela era uma mulher que trazia a paixão em si. Carregava o sexo em torno de si e aos olhos alheios. Seus lábios, seus olhos, suas pernas, seu sorriso, sua paixão, seu desejo, eram algo que nenhum homem ou mulher podiam deixar de senti-los.

Nossos olhos sorriram. Fazia tanto tempo que nos perdemos... Não! - pensava. Nunca havíamos nos perdido, então nos reencontramos e nos amamos.

Ela menina mulher. Criança crescida. Mulher que descortina sonhos. Menina mulher de pulos, saltos e alegrias, que irradia os dias de outono à descoberta dos teus encantos. Que se deixa encontrar nos olhos de outros olhos. Dentro desta mulher existiu e existirá sempre uma menina crescida.



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