Psicólogo Clínico Gestalt-terapeuta
CRP 12/07911
Há sempre uma primeira vez para todos. Obviamente que as nossas primeiras vezes se diferenciem, por exemplo, eu tive a sorte de nunca ter levado um raio na cabeça, e espero que essa primeira vez nunca aconteça, já que poderia ser a primeira e a última.
Mas eu vou contar algumas primeiras vezes das quais eu sobrevivi, ou melhor, sobre o que vivi.
A primeira lembrança que eu tenho é de um céu azul, num começo de Outono, quando tinha meus 5 anos, e é a que guardo até hoje em algum lugar especial dentro de mim, como uma pintura que sempre me acompanha.
A primeira vez que ganhei um cachorro. E a primeira vez que ele me escapou dos portões de casa eu saí correndo atrás dele, minha mãe grávida de meu irmão correndo atrás de mim, e o cachorro fugindo de nós.
No primeiro tombo de bicicleta eu ralei a coxa e outro instrumento muito importante para um homem. E minha mãe acha graça disso até hoje!
A minha primeira pandorga – um bidê colorido –, feita por meu pai, voou apenas uns 6 segundos antes de eu quebrá-la em um poste.
A minha primeira copa do mundo, aquela que eu consigo lembrar alguns jogos, foi a de 1986. Que futebol maravilhoso era aquele. O primeiro beijo dado em uma menina não foi dado por mim, foi dado por ela, na marra! A primeira vez que tentei dirigir encalhei o Corcel-II no gramado de casa. Precisei de várias primeiras vezes até aprender a guiar.
A primeira vez que meus pais não estiveram mais juntos, foi justo a primeira vez que meu irmão quebrou o braço por ter escorregado de uma centrifuga de roupas, coincidiu, pois, com o dia em que meus pais se separaram.
A primeira vez com uma mulher eu criei um ambiente super romântico, com luz de velas, na penumbra, porém, estava tão gripado e com dor de garganta, que no criado mudo estavam pastilhas Benalet e misturados a elas a camisinha. Na hora decisiva tateie a primeira embalagem que encontrei, lógico que rasguei a errada e a bala saiu voando até aterrissar na barriga dela. Agradeço a essa maravilhosa mulher, pois, foram de ambos, as nossas primeiras vezes.
A primeira vez que o laboratório coletou amostra do meu sangue eu fique muito enjoado. O primeiro cadastro no banco nacional de doadores de medula. O primeiro livro que li inteiro. O primeiro livro escrito por mim. O primeiro trago em uma bebida destilada. O primeiro porre. A primeira tragada em um cigarro. A primeira coluna em um jornal.
As primeiras perdas. Primeiro meu avô há vinte anos. Depois a morte de um grande amigo que se foi justo no primeiro dia de Abril de 2001. Quem me dera que esse realmente fosse o dia da mentira.
O primeiro salário. A primeira depressão. A primeira confissão a um padre. A primeira consulta com um psicólogo. A primeira vez como psicólogo.
A primeira vez que realmente entendi o que queria dizer o eu te amo. E ainda penso que o amor é construído dia após dia.
O primeiro dia no jardim de infância, o primeiro na pós-graduação. O primeiro barquinho de papel lançado em um dia de chuva. O primeiro cabelo branco.
Primeiras vezes que estiveram acompanhadas de algo que estava sempre em primeiro plano: esses seres humanos lindos; irmãos, pais, amigos. Essas sim, verdadeiras obras primas.
Primeiras vezes. Acredito que elas aconteçam a cada pequena fração de tempo, como o dia que amanheceu e partirá hoje e amanhecerá e partira amanhã, assim, nascemos a cada dia, podemos então, fazermos sempre uma primeira nova vez.