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José Kormann, Dr. (Histórias da História)


Dr. José Kormann (Histórias da História)

Historiador


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Prata da Casa - Eliana Kerecz Grahl (continuação)

Segunda, 04 de abril de 2011

No decorrer dos anos duas irmãs de Eliana passaram a frequentar a mesma escola. Eliana deixou de morar em pensão - e as três foram morar numa casa própria, cujo terreno o pai comprou e, juntamente com o avô, Basílio, construiu ali uma casa. Isso a princípio parecia ser uma boa alternativa, mas com o passar dos tempos problemas de diversas ordens se estabeleceram. O maior deles era a falta de segurança. Tão logo os malandros descobriram que lá moravam três meninas, começaram a perturbar.

Com muita frequência após as 21:00 e 22:00 ouviam o portão sendo aberto e alguém rodeando a casa. Enxergar era impossível. A iluminação da casa era só com lampião e a pública nem existia. Via-se apenas o farolete de quem estava por fora e fazia adentrar réstias de luz pelas frestas. Para piorar a situação, os vidros da janela eram trabalhados, impedindo ver o que se sucedia lá fora.

Foram muitas noites de medo. Medo cruel e terrível.

Até que certa noite a janela foi forçada e vendo o perigo mais próximo, elas se puseram a gritar e pedir socorro. Os vizinhos vieram e socorreram as três. Daquela noite em diante a coragem acabou. Passaram a dormir nas casas dos vizinhos que as acolhiam e que se revezavam, com frequência, em dar-lhes os pernoites.

Cansadas desta rotina resolveram voltar a dormir em casa, mas transferiram a cama para debaixo do telhado, em cima do forro. Para dormir subiam por uma abertura e recolhiam a escada e lá passavam a noite ora cochilando e ora vigiando.

A perturbação persistia. Mamãe, a título de checar o fato, resolveu passar algumas noites com elas e nestas noites ninguém aparecia. Conclusão: a mãe foi embora e o sossego acabou. Até que um dia a mãe resolveu adquirir um revólver 22 e o deixou em posse das três. Vejam só o perigo, mas resolveu.

Diz Eliana que não sabe o que faria. Mas, certa noite, alguém novamente rodeava a casa. Uma das irmãs encheu-se de coragem, mirou na porta e puxou o gatilho. Atirou, mas não acertou em ninguém. A partir daquele momento acabou, por completo, a perturbação. Acabou a coragem do fantasma.

Mais tarde, por conta de certos indícios, concluíram que era um vizinho que as incomodava. Covarde que queria se aproveitar de pobres e indefesas adolescentes ou simplesmente colocá-las em pânico.

Convivendo com muito temor e carência, além de estudarem num colégio de extremo rigor, que, aliás, pouco se interessava pela vida particular de seus alunos. O que lhe interessava mesmo era que as mensalidades caíssem regularmente. Carência sim. Dependiam totalmente de seus pais na qualidade de menores que eram. Recebiam, semanalmente, os alimentos que os país enviavam e que, muitas vezes, não chegavam por causa das estradas do interior, que, em tempos de chuva, se tornavam intransitáveis. Aconteceu também de a caixa de alimentos ser extraviada na rodoviária e só encontrada pelo cheiro da podridão. Era aí que a fome batia pelo racionamento daquilo que sobrava no fundo da caixa de comida.

Comiam aipim com açúcar. Sopa de couve com aipim, que cultivavam no quintal. Eliana, a mais velha das três, procurou trabalho. Estudava de manhã, trabalhava de tarde e fazia os deveres à noite. Limpou muitas casas, lavou muita roupa e arrumou muitos jardins. Quando ela completou 18 anos de idade, bem no dia de seu aniversário, ela conseguiu seu primeiro emprego. Foi numa panificadora. Foi aí que, aos poucos, tudo começou a melhorar.



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