Dr. José Kormann (Histórias da História)
Historiador
Um terrível acidente
Ao completar sete anos de idade, Eliana concluiu sua catequese - e no início do ano seguinte, 1962, ela faria sua Primeira Comunhão e oficialmente iniciaria seus estudos, mas eis que lhe ocorre a primeira grande frustração de sua vida: sofreu um grande acidente doméstico.
Ao descer do fogão da cozinha que era ladeado de tijolos, onde as crianças podiam sentar-se, especialmente nos invernos de Itaiópolis, que são de um frio muito rigoroso, Eliana enroscou o seu vestido no bico da chaleira que virou em cima dela e dessa forma essa criança de apenas sete anos banhou seu corpo com cinco litros de água fervente. Teve queimaduras de terceiro grau que lhe causaram profunda dor física, mas também espiritual, pois dois de seus grandes sonhos foram postergados: a Primeira Comunhão e o poder entrar na escola. A recuperação foi muito dolorida e bem lenta.
No dia seguinte ao acidente viajariam, de carroça, até a cidade de Itaiópolis, o que era sempre uma grande novidade cheia de expectativas. Mas, devido ao acidente, Eliana não foi. Foi sua irmã. Pernoitaram na cidade e voltaram só dia seguinte e somente então é que, verdadeiramente, Eliane recebeu os primeiros cuidados. Já se haviam passado 24 horas.
A notícia se espalhou rápida pela vizinhança e, até que sua mãe voltou, muitas receitas caseiras foram aplicadas, mas todas com pouco ou nenhum resultado. Só quando mamãe retornou, orientada por um farmacêutico da sede do município, é que realmente iniciaram o tratamento dos graves ferimentos.
O primeiro procedimento, com auxílio de uma pinça e uma tesoura, estourar todas as bolhas e isso sem anestésico nenhum. Diz Eliana: "Como ardia! Como queimava! Lembro-me que o alívio só vinha quando papai e mamãe assopravam sobre as feridas abertas". Após estourar as bolhas que cobriam grande parte do corpo de Eliana e retirar a pele queimada, sua mãe passava uma pomada chamada Paraqueimol. Ela ficou acamada por uns três meses. A recuperação foi lenta, muito lenta. Eliana hoje se pergunta: “Por que não me levaram para o médico?” Ela mesma o responde: "Talvez pela distância, aproximadamente 40 quilômetros. Talvez a falta de recursos. Na verdade não sei. Só sei que as marcas daquele tempo carrego no corpo e na alma até hoje. Minha Primeira Comunhão e minha oficialização da matrícula na 1ª série ocorreu somente em 1963, um ano após o previsto".
Outras grandes dores ainda se abateram sobre esta família naquele tempo, mas nada que não se possa vencer. Ninguém tem sua cruz tão pesada que não a possa carregar. A Eliana sabe bem disso e já passou por isso, mas venceu e, como sempre, aprendeu a ser feliz, colhendo os louros da vitória que sempre são melhores e mais bonitas do que as dores do fracasso momentâneo.
E a luta continuou...
A família mudou para uma casa própria. Muita alegria, mas também muita saudade da casa da escola onde moraram por mais de dez anos. Diria um pensador: feliz de quem tem saudades para chorar a perda de um bem, quando tantos nunca nada tiveram para perder.
Eliana chegou na 4ª série escolar e a repetiu, embora estivesse aprovada com boas notas. É que não havia, então, ainda a 5ª série na localidade de Craveiro, mas falavam, os responsáveis, que esta 4ª série teria validade como quinta logo que fosse criado o Curso Ginasial, mas como isso demorou, Eliana foi estudar em Mafra. Lá ela teve de repetir a 5ª série já que não houve regulamentação na escola onde ela fez a dita 4ª série que valeria como 5ª série.