As noivas

Robert Frost disse “você não precisa fazer nada para ter o amor da mãe, mas precisa conquistar o amor do pai”. Tem um fundo de verdade. O pai quer que o filho tenha projeção social. E aí o pai que sonhou com o filho presidente de uma grande corporação empresarial pode ver o filho bailarino, o que a despeito de qualquer preconceito, não há nenhum problema, mas pode gerar um conflito intergeracional interminável e desgastante. Um dos maiores banqueiros da Europa viu o filho tornar-se filósofo: vocês já devem estar sabendo que estou falando de Alain de Botton. E olha que, para mim, Botton nem é filósofo, mas um divulgador da filosofia. Em minha casa o que sempre existiu foi isto: um pai querendo ser conquistado pelo filho e um filho querendo ser conquistado pelo pai. Ambos erraram. Bem, hoje, eu que fui filho no passado, agora sou pai. Penso que a obrigação de conquistar é minha. Porque o filho não sabe o quanto é amado pelo pai. E o pai tem, de algum modo, que mostrar isto ao filho. É o veterano que tem de respaldar o novato e não o inverso. Como que um ser que está em processo de formação de suas estruturas cognitivas tem de ser maior do que aquele que já está com estas tais estruturas delineadas? Se você é pai ou mãe raciocine bem sobre isto. Outra coisa que preciso lhe dizer: pai e mãe não têm escolha, têm obrigação. Não faz parte do seu alvedrio amar ou não o filho ou a filha. Você tem a missão histórica de amar os mais novos ainda que possa fazer todo tipo de queixa dos seus próprios pais. Os mais velhos têm tudo: mais dinheiro, mais conhecimento e mais afeto. Os mais velhos têm de ser despenseiros, provedores. O melhor caminho de você superar as próprias frustrações e ser resposta para os que estão vindo é se enveredando pelo mundo do conhecimento – todas as formas de conhecimento – e pelo mundo das Sagradas Escrituras. Veja se o pensamento de Robert Frost faz sentido para Deus! Nenhum sentido. Foram uns poucos que conseguiram agradar a Deus, Noé, Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Josué, Davi e o próprio Cristo. Deus nos ama sem que tenhamos lhe dado um vintém para nos amar. Somos amados pelo simples fato de ser filhos, assim como um mãe ama o filho simplesmente por ser filho. Ora, se o melhor modelo de paternidade do universo ensina um amor incondicionado e enviesado pela gratuidade, que direito temos nós de cobrar virtude de nossos filhos? O seu filho não dará conta de provar nada para você se o que você cobra dele é algum tipo de prova. É claro que Deus se agrada com quem lhe é obediente, fiel, cúmplice e responsável. Deixe-me resgatar a palavra “cumplicidade”. O que os pais mais cobram é obediência. É errado. Obediência pressupõe ignorância absoluta em quem obedece e devemos querer que nossos filhos raciocinem. Temos de ser amigos de nossos filhos. Pais e filhos têm de ser cúmplices e isto implica quebra de hierarquia. Se você trata seu filho como inferior a você ele se colocará em posição de inferioridade em relação a todos os outros. Se Cristo morreu na cruz pelos pecadores quem é você para exigir heroísmo do seu filho para poder abençoá-lo? Não sabeis que os vossos filhos são feitos da mesma matéria que vós? Aliás, aproveito para dizer que se você deplora o comportamento dos seus filhos, eles são vocês melhorados. Quando o filho fracassa em verdade são os pais que fracassam. Até quando ides ficar na posição de uma donzela querendo ser seduzida por quem está carente de ser amado e que por ora pouca coisa tem a oferecer? Deve-se investir no filho, mas filho não é investimento. Ele é pessoa. Quando você fizer tudo e mais um pouco por um filho, tome sobre si a lição do servo bom que diz de si mesmo “não passo de servo inútil”. Quem tem filho está sendo provado. Não é você que avalia seu filho, é o seu filho que está avaliando você. Se você tem malícia para com seu filho não espere dele a caridade. Porque a caridade está na contramão do mundo cuja marca é a maldade. Na Bíblia está escrito “achegai-vos a Deus e Ele se achegará a vós”. O mesmo vale em relação aos filhos. Ter proximidade ou distância deles só depende de você que é pai ou mãe.