As provas espirituais não são brincadeiras

Se a sua vida está difícil, tenha certeza de uma coisa: trata-se de batalha espiritual. Se você tem a vida emocional trucidada por incertezas, frustrações, decepções, superveniência de tragédias, fique certo: é uma prova espiritual. Muitas vezes o nível de estresse, desconforto, aborrecimento e demanda de todo tipo, inclusive de trabalho no exercício de sua profissão e fora dela, é tão grande, tão intenso, que você se sente um escolhido por não ter sido brindado com um derrame, um infarto, um câncer. Você é extremamente sobrecarregado psicologicamente. Mas não apenas isto. O seu próprio corpo é cobrado superlativamente. A ponto de você lançar-se à noite no seu leito e considerar-se um sobrevivente. Pudera eu quando criança vislumbrar que quando adulto teria uma vida tão puxada e feroz? Não. Digo, ainda bem que não. Eu achava que o mais difícil de tudo era ser criança. Nós crescemos e os desafios crescem conosco. No passado eu sonhava ir para a guerra. Achava glamouroso ser “herói de guerra”. Hoje vejo que eu já sou um herói, que minha vida é uma grande luta, mas que não me coube nenhuma comenda militar. Sou um cliente para o comércio, um crente para a congregação, um moço para quem me trata com impessoalidade, um CPF para o governo. Nada, nada além disso. E fazendo todos os dias o extraordinário não consigo angariar outra coisa senão o básico e elementar. Encarar o cotidiano é como subir uma corredeira com forte correnteza pela altura no peito a arrastar tudo o que vem pela frente. Nossa vida é uma piracema sem fim. Não nos é dado o direito de fraquejar. Sente-se a cada dia o corpo envelhecer sem que haja uma minimização das forças contrárias que sempre nos acossaram. Darwin é o pensador por excelência. Temos de ser fortes, temos de ser rápidos, temos de nos adaptar e resistir o tempo inteiro. Como se o universo conspirasse contra os impulsos dos indivíduos na busca da consecução de seus fins. O poder da natureza e do próprio Deus fica claro na violência de precipitação de água numa tempestade. Para que maior sinal de onipotência de Deus do que a descarga de um trovão? Somos os descendentes dos comedores de carniça da estepe africana, é isto o que somos. E sendo tão pouca coisa, os fios de cabelo de nossa cabeça estão todos contados. No fundo, toda luta, toda dificuldade, toda contraforça faz com que busquemos mais a Deus. Deus dispõe as coisas de tal modo no universo e no mundo de maneira que recorramos a Ele. Nós achamos que somos onerados demais. Na verdade, nossa cruz é pesada, mas é carregável. Deus procura criar pretextos para poder nos premiar. Portanto, quando vem o contratempo a postura que Deus espera de nós é de gratidão. Esse é o Deus que escreve o certo quando tudo parece ser incerto. Nossa função é cumprir nossas metas. E fazê-lo, de preferência, com zelo, capricho e santidade. A murmuração tira o mérito de nossa luta. Assim, o melhor é ter calma e silenciar. Uma pessoa espiritualmente madura enfrenta as dificuldades com calma, serenidade e confiança. Pois ela sabe que em última instância tudo na mão de Deus está. Quem estuda numa universidade não reclama para o professor que a prova está muito difícil. O professor quer saber se o estudante foi capacitado e torce pelo êxito intelectual. Assim também na vida o professor é Deus e não podemos reclamar da prova senão passar por ela com paciência e submissão aos mandamentos divinos. O critério, pois, é este. E agora que já sabemos qual é o critério temos uma razão a mais para acatar os princípios que não escolhemos. A vitória será a concessão do gozo eterno cuja magnitude jamais mereceríamos. Nosso sofrimento é grande, mas é finito. E a coroa que será posta sobre nossas cabeças é em algum sentido infinita. Vale à pena ou não?