Carioca criada em Joinville, morando algum tempo em São Bento do Sul e Florianópolis.
Sou vegetariana desde os dezessete anos e recentemente me mudei para a terra do churrasco (Pelotas - RS), onde faço graduação em biotecnologia. Gosto de arte, cultura geral, animais domésticos, psiclogia, história e filosofia. Gosto de algumas pessoas também. Aprecio culinária japonesa... mas tem que ser sem carne. Gosto de escrever, desenhar, conversar, tocar violão, perder tempo na internet e dormir.
Há quinze anos, minha primeira banda favorita teve seu fim. Não por overdose, disputas internas ou ostracismo e insucesso. O barulhento e irreverente grupo paulista silenciou em seu auge, em 1996, durante uma turnê que incluía Portugal.
Justamente quando tinham o "money" para comprar o apartamento no Guarujá ou gastar no Chopis Centis e pareciam ter encontrado sua "minas", de cabelos da hora e corpão violão ("arlindas mulheres"), os integrantes tiveram de encerrar sua carreira.
"Rock n'Roll não se aprende nem se ensina", disse Marcelo Nova. Sendo assim, talvez baste um primeiro contato para que alguém se torne adepto. Comigo pode ter sido assim. Ou não. O fato é que foi descobrindo os Mamonas Assassinas que aprendi a gostar de rock. Não me lembro de como os conheci, mas me lembro bem do despertar do interesse por guitarra e por saber os nomes dos integrantes, além de decorar as letras das músicas. Lembro-me de uma vez em que eu e meu irmão fomos na casa de uma amiga de minha mãe e enquanto brincávamos com seus filhos, o garoto me perguntou: "é você a menina que sabe as letras de todas as músicas dos Mamonas Assassinas?" Respondi que sim, orgulhosa. Eu gostava mesmo da banda. Meu irmão tinha um álbum de figurinhas dos Mamonas, que passava a maior parte do tempo comigo (eu catava no quarto dele, sem pedir, na maior cara-de-pau). Ele teve uma festa de aniversário deles. Quando chegou meu aniversário, quis imitar. Minha mãe, por motivos óbvios, vetou.
Os rapazes de Guarulhos viraram moda em minha escola e mesmo meus colegas mais velhos (da quarta-série, turma do meu irmão na época) colecionavam as figurinhas do álbum e cantavam as músicas do grupo. Eu gostava de desenhar e muitas vezes desenhava os cinco. A parte em que eu mais demorava era a de Bento Hinoto, o guitarrista. Achava o baterista Sérgio Reoli o integrante mais bonito, mas o meu favorito era nipodescendente que tocava guitarra. Não por ele, mas pelo instrumento mesmo.
Lembro-me de minha mãe comentando que achava legal o penteado dele: "um japonês de trancinhas". Eu não gostava (hoje acho gosto) e só não achava mais estranho que o visual do baixista Samuel Reoli.
Não me lembro de ter visto nenhum outro oriental ou descendente com os cabelos assim. Imagino que, na época, Bento tenha atraído bastante atenção e se diferenciado dos outros "sanseis" dos anos noventa. Anos depois, ouvindo novamente sucessos da banda, percebi que ele se destacava não só pelos cabelos: era um excelente guitarrista, talvez o mais talentoso da banda e um dos melhores do cenário nacional.
Para não excluir os outros músicos, vale lembrar Júlio Rasec, que tocava teclado e fazia a voz da Maria, na música O Vira. Há uma gravação em que o músico conta ter sonhado com um desastre aéreo antes do acidente.
É preciso citar também o vocalista Dinho. Mas, do pouco que soube sobre ele, o que mais me surpreendeu foi a seguinte declaração: "Daqui a cinco anos? Só espero estar vivo. Eu não sou nada, sou apenas um músico que, graças a Deus, está fazendo o que gosta."
As letras de música eram muito mais irreverentes que o visual do grupo e para desespero de muitos pais e avós (incluindo os meus), criancinhas cantavam músicas com palavrões e conteúdo "inadequado para menores". Talvez até mais polêmicas que a "arte" da capa do primeiro CD da banda, em que havia o busto de uma mulher nua (desenhado), logo acima dos integrantes.
Como se isso não bastasse, havia uma inquietação para um melhor entendimento e apreciação de obras tão singulares. Uma colega minha (já na faculdade) afirmou que chegou a perguntar à sua mãe por que comer tatu dava dor nas costas e sua mãe deu a melhor resposta que imaginava poder dar naquela situação: "não sei". Eu, criança, havia perguntado o mesmo à minha mãe. A resposta foi outra: "não é comer de 'comer' mesmo". Obviamente, surgiu outra pergunta: "como assim?". Mas para essa, não houve resposta.
Havia também aquelas músicas de teor aparentemente inocente para as crianças, como Boys Don't Cry (ah, sim, havia muitos trocadilhos também) e as "non-sense", como Cabeça de Bagre II. Creio que não eram adeptos do naturismo e o trecho que dá nome à Pelados em Santos refere-se à simulação da reprodução humana.
Em uma declaração sobre o sucesso da banda entre as crianças, Bento Hinoto afirma que os Mamonas não imaginavam que fariam sucesso entre as crianças e que se as músicas fossem direcionadas a elas, não teriam palavrões nem temas "adultos".
Mas ainda que eu não entendesse boa parte do que estava cantando e achasse estranho adultos usando fantasias para cantar em programas de auditório, é impossível não lembrá-los com carinho quando vejo uma brasília amarela (não é tão comum, mas de vez em quando aparece alguma) ou ouço algum rock "non-sense" ou cômico. Quase dez anos depois de ter doado o primeiro cd da banda, ganhei (por ter pedido) um mais recente, com sucessos gravados ao vivo. Inclui o tema da pantera e alguns comentários feitos durante o show. A capa é mais "comportadinha" e nela os Mamonas aparecem sobre as nuvens. A imagem pode ser uma tentativa de consolar os fãs e fazer os menos céticos desejarem que os músicos estejam bem, felizes como crianças aprendendo a gostar de música.