Carioca criada em Joinville, morando algum tempo em São Bento do Sul e Florianópolis.
Sou vegetariana desde os dezessete anos e recentemente me mudei para a terra do churrasco (Pelotas - RS), onde faço graduação em biotecnologia. Gosto de arte, cultura geral, animais domésticos, psiclogia, história e filosofia. Gosto de algumas pessoas também. Aprecio culinária japonesa... mas tem que ser sem carne. Gosto de escrever, desenhar, conversar, tocar violão, perder tempo na internet e dormir.
Ressaca cultural, depois de uma sessão de cinema que começou às 22:10 da noite de ontem e ainda não terminou. Eu dormi sim. Mas o filme ainda está passando em minha cabeça. Não pelas cenas de nudez ou sexo, nem as das peculiaridades dos clientes e programas. O que se sobressaiu foi drama pessoal de uma garota que teve oportunidades de estudar e se tornar "mais uma" em uma sociedade de aparências, consumo e status, mas fugiu dessa programação para ser independente, sem limites e sem regras. Mostra como amizades podem ser frágeis a falta de comodidade ou benefícios e como drogas e perda do autocontrole podem ferir uma vida em formação. O filme me lembrou Trainspotting (filme britânico de 1996) nesse sentido.
O nome Trainspotting significa trilho (de trem) em inglês. Pode ser uma referência ao encaixe de pessoas em uma trilha, em seguirem aqueles que fizeram o mesmo caminho que você faz. Como vagões, as pessoas não fazem os próprios caminhos, apenas cumprem o que foi estabelecido. Não experimentam, não inovam. O filme revela a rotina de jovens dependentes químicos, que se decepcionam com o sistema.
A menina que deixou o bullying (na escola e em casa) para viver de programas foi muito bem representada por Déborah Secco. A atriz foi capaz de mostrar a densidade psicológica de várias situações, mesmo em cenas de nudez, em que o corpo dos atores costuma ser o foco de atenção. Mas o olhar de Bruna se destaca e transmite ao espectador os sentimentos de uma classe tão desvalorizada e maltratada pela sociedade: as prostitutas, que não vivem apenas em países emergentes, como mostra a série "A Profissão mais Antiga do Mundo", exibida no canal GNT.
E assim como o documentário, a maior lição trazida pelo filme é a de não discriminar seres humanos por sua profissão ou escolhas em períodos conturbados ou de inexperiência em sua vida. Por que condenar aqueles que optam por viver de forma mais intensa ou polêmica que a sua, quando estes não lhe roubam ou fazem algum mal?
Bruna Surfistinha deixa claro que a vida é feita de escolhas. Pode-se ser mais um, encaixar-se em um sistema previamente determinado, de estudos e trabalho com carteira assinada, no qual muitas vezes estão os reais vilões. É possível ousar e errar sem arrependimento, pois fazer o que realmente se quer envolve riscos. Assim se aprende e muito, mas pode trazer a si mesmo uma carga maior de sofrimento e más recordações. Mas as diretrizes de cada ser humano só dependem de sua busca por conforto e do alívio da própria consciência. A sociedade define paradigmas sobre o que é certo ou errado, mas na formação de cada um, eles se tornam apenas sugestões.