Vinícius Fendrich
Psicólogo
Educador
Meu anjo precisa escolher. O momento chegou e não há como se furtar dele. Ou escolhe pela liberdade e sai de uma gaiola, entendendo que pode reaprender a voar. Ou cospe a chave do cadeado e permanece no cativeiro, com asas atrofiadas, até que um dia seu "cuidador" o jogue definitivamente no lixo, com gaiola e tudo.
E o meio termo? Nem gaiola, nem céu. Um pouco voando e um pouco permanecendo no território demarcado. Nesse caso não existem alternativas. Os descompassos são tantos que já inviabilizaram qualquer possibilidade. Tudo, que se tente exaustivamente, levará ao mesmo desfecho. Um desastre oriundo de desgastes em que o gostar doentio deu lugar ao suposto dominar e ser dominado, considerado, pelos protagonistas, "sadio".
Em meio a isso, o anjo da dita não dúvida, se mostra na dúvida. E visivelmente perturbado. Difícil abrir mão de hábitos embolorados e amarrotados para ousar olhar à frente. A um mundo o esperando de braços abertos, com problemas e soluções, como na maioria dos casos.
O anjo chega a confundir o não saber com dinâmica de vida. Quando questionado de sua imprevisibilidade diz que isso é importante para não entrar na rotina. Nem percebe que é o sair da rotina que o apavora.
E muitos o rodeiam. E querem auxiliar. Alguns são bem vindos, outros não. E diz estar bem. E diz estar ruim. E ri. E chora. E quer. E não quer. E trata com carinho. E trata com aspereza. E ou o outro o compreende, ou já teria se afastado. Mas é importante não abandonarmos os que nos são queridos quando realmente precisam.