Psicóloga
Comer por tristeza?
Muitas pessoas sentem vontade de comer algo quando estão muito tristes. Certa vez, uma paciente num grupo de tratamento para perda de peso, disse que a função da comida nesta hora era “fazer um carinho no coração”. Imediatamente as demais concordaram com a sensação reconfortante que comer nas horas de tristeza gera.
Mas, paga-se um preço por este “carinho”. Após o alívio momentâneo, vem o “pagamento”, pode-se dizer que injusto, afinal, o que gerou a necessidade de carinho, continua a incomodar e o artifício usado para acariciar se torna um problema. Entra-se num circulo vicioso de incômodos incessantes e não resolvidos. O novo problema? A tristeza (ou mais tristeza), afinal, as pessoas ficam muito magoadas consigo mesmas quando imaginam ter fracassado. O fracasso poderia ser traduzido em não ter conseguido perder os quilos que desejava; ter aumentado o peso e não caber naquela roupa que gosta; não dar conta de levar a sério a decisão de se cuidar... Além, é claro, da questão inicial provocadora do mal estar.
Quando algo não vai bem, ninguém precisa de mais motivos para ficar mal, precisa é resolver suas tristezas e isso não será feito com comida. Comer em demasia, geralmente alimentos calóricos porque dão algum prazer momentâneo é buscar um bem pelo mal. Ou seja, buscar prazer através de algo danoso. Nada contra comidas saborosas e calóricas, mas elas devem ser ingeridas com moderação. Infelizmente, quando se está triste a capacidade de julgar o que é adequado ou não na alimentação parece desaparecer.
Para resolver algo que incomoda é preciso primeiro lhe dar o status de problema. Um problema é um objeto bem delimitado que precisa ser entendido e depois solucionado. No percurso, muitas vezes se fará necessário uma bela dose de carinho para suportar o mal estar. E esse carinho muitas vezes é chamado de “colo”, talvez remetendo a todo carinho maternal que uma criança recebe ao ser amamentada.
E a confusão parece ficar. Na falta do colo, vai o leite ou qualquer outra coisa que se coloque pra dentro, como muita comida, cigarro, drogas. Pois, lá no fundo colo e comida é tudo a mesma coisa para algumas pessoas. Afinal, a sensação do carinho e da comida estiveram algum dia unidas, como se fossem uma coisa só. É preciso separá-las.
Enfim, quando o carinho se fizer necessário é preciso colo. Mas, para tê-lo é preciso cultivá-lo. E é bem sabido que cultivar dá trabalho, mas vale a pena a colheita!