Vinícius Fendrich
Psicólogo
Educador
Os mais belos sentimentos brotam da espera. Afinal, esperar é crer na vida.
Saudade, palavra triste. Impregnada de força tamanha, que não é por coincidência que na sua forma literal só existe na língua portuguesa. É tão linda que tornou-se nossa, tal qual marca registrada de um sentir ímpar.
Começo a exercitar de forma concreta, por vezes dura, noutras ameaçadora até, períodos em que meu anjo se mantém distante.
Um dia conversa comigo tão intimamente que imagino ter-se embrionado uma relação simbiótica. Noutro, mostra-se afetuoso. Seu toque suave é um convite desprovido de preocupações para caminharmos nas nuvens. Depois, um pouco distante. Momentos de tristeza. Comentários sobre a insatisfação e a irritação com certos estímulos. O discreto insinuar que você deve partir, pois está se tornando um peso sua presença.
Difícil. É comum, ao invés de compreendermos, nos sentirmos rejeitados. E a rejeição nos atinge diretamente no coração. Faz com que histórias passadas venham à tona e as futuras causem receio um tanto superdimensionado.
Sinto saudades do meu anjo quando por perto não respira. Uma saudade tão pura quanto as lágrimas que já trocamos, como os sorrisos que já demos. Ele sorri muito. E de forma fácil. E contagia. Eu, com menos intensidade. Porém, como diz ele: gosto de ver esses dois dentes grandes esboçados em reflexos de bem querer.
Disse-me o anjo: é bom sentir saudades. E eu respondi: é tristeza e alegria ao mesmo tempo. Tristeza por não ter, alegria por ter tido. E é fundamental que seja recíproco. Eu termino dizendo: sinto muita saudade de você, meu anjo. Houve silêncio. E ele diz: eu também sinto de você.
A partir daí o verbo amar pode ser conjugado...
Mantenho contato com meu anjo todos os dias. Tornou-se alimento para o eu interior. A maneira obviamente possui formas e dimensões que não me cabe explicitar aqui.
Entrelaçamentos ótimos, na maior parte das vezes. E por conta das correntezas num rio chamado vida, alguns medianos e outros carregados de sombras inoportunas.
Então, saudades do quê? Há um anjo presente sempre que possível. Há um anjo presente diariamente sob formas alternativas. Há um anjo em seu coração e você no coração do anjo. Lamentar o quê?
Lamenta-se a falta de certezas maiores. Não seriam e nem serão certezas eternas, essa se chama Deus. Mas preciso melodias pautadas em construções, que, livres de fragilidades exageradas, acolhem e nos dão segurança. Segurança é a palavra mágica.
Meu anjo é por demais ocupado e em seus trânsitos constantes, hora me deixa seguro e hora inseguro. Até porque vive os mesmos dilemas. Como é um anjo, sei que não tardará em escriturar comigo nossa total segurança para o alto, para as estrelas, para a minha estrela, para a sua estrela, para a nossa estrela.
Meu anjo, me permita lhe dizer o que brota do sentir maior.
As flores murcham, as lágrimas secam, o tempo passa, a saudade maltrata. Só o amor possui a capacidade de unir passado e futuro num presente eterno...
Não deixemos que as coisas passem despercebidas e desprovidas de uso. Ousemos, tentemos, permitamo-nos o mergulho. Caiamos no abismo do não sei, mas caiamos juntos e dançando a melhor música, a da alma.
Meu anjo, hoje eu estou aqui e vejo a importância do estar mais do que nunca.
Do contrário, certamente os movimentos da maré já teriam nos golfado em praias diferentes, objetivando um não para o que, após lapidação delicada, passará a ser um sim. Acreditemos...