Vinícius Fendrich
Psicólogo
Educador
Ou as coisas caminham dentro de um sistema convencionalmente entendido como aceitável, ou o sinal verde passa para amarelo e preocupa estar próximo do vermelho.
Assim é com tudo na vida. Saúde, família, relacionamentos, trabalho, sociedade. Exercício de cidadania, direito à individualidade, questões da espiritualidade. Enfim.
O local que habitamos segue a mesma regra. Precisa de harmonia e é importante orgulharmo-nos do mesmo.
Hoje nossa cidade passa por um período preocupante. É aí que gostaria de pontuar algumas considerações.
Há tempos um descuido se verifica. O mesmo faz com que nossa imagem e auto imagem sofram rebaixamento. O colorido cartão postal fica preto e branco. Os daqui e os de fora lamentam. Os daqui, dias melhores já vividos. Os de fora, mudanças significativas, com menos atenção aos tão importantes detalhes que nos tornavam diferentes. Um povo caprichoso, que de longe costumava mostrar seus traços europeus.
O que está acontecendo? Onde estão os olhos de nossos mandatários no sensibilizar-se com turismo, cultura e toda uma infraestrutura que convalida uma identidade?
Algo precisa urgentemente ser colocado em uma mesa redonda. Que nela as pessoas não se limitem a discutir cargos, salários e coligações. Onde, apesar de tanto “peru de fora”, ainda sejam convidados os que literalmente amam São Bento do Sul.
Os acessos ao município são feios, para não dizer horríveis. As portas de entrada não possuem nenhuma beleza ou ícone chamativo.
Destacam-se as necessidades de negócios. Os visitantes estão aqui, na maioria, por motivos de trabalho. Lugares rurais ou atrativos distantes, em bairros, dependem muito de um quartel general chamado centro. Pois afinal, é a primeira impressão que fica.
Urge então a mudança de tal impressão. Ruas esburacadas. Calçadas quebradas. Sujeira e lixo acumulados em pontos nada estratégicos para paisagismo. Poluição visual absurda. A sonora nem se discute. Não temos festas de peso e nenhum evento de maior envergadura, no setor público. É o privado que se esmera em propostas já solidificadas e aprovadas pelos simpatizantes.
Um calçadão nu. Uma praça maior faltando pouco para ser destruída na totalidade. Agora foram as árvores, atitude precipitada, não seguindo o exemplo da logística usada em grandes metrópoles. Daqui a pouco veremos um trator fazendo terraplanagem e talvez a brilhante idéia de um amplo estacionamento, pois os carros são tratados como deuses aqui.
Demais praças sem sinalização histórica. Construções, algo tímido. Uma rota monitorada por guias, onde se conta um pouco de nossa vida local, não há.
Igreja fechada. Monumentos não compreendidos por carência didática. Edificações memoráveis sendo demolidas por não se dar continuidade ao tombamento racional. Até o cemitério, local de grande riqueza em biografias dos que construíram alicerces tantos, fica a mercê de familiares e curiosos.
Culpa de quem? Sem dúvida, de todos nós. Porem é ao poder constituído que cabe o pontapé inicial. Ou capitaneia empreitadas em prol da preservação, ou assistiremos uma metamorfose negativa ainda maior.
Isso vai, até nossa querida e charmosa São Bento do Sul perder seu estilo germânico e transformar-se em cortiço, sem condições de recuperação.
O que é preciso? Planejamento e ação. Planejar menos o inatingível. O que só se limita a caros projetos que não saem do papel e agir mais. Determinações voltadas ao coletivo, ao que trará benefícios para todos, ao que faz com que pessoas se unam em torno de uma causa. E não aquelas mesmices, tão comuns, que visivelmente atendem só os interesses de algumas tendenciosas minorias.