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BICHO SOLTO

Domingo, 31 de outubro de 2010

Certa vez me disseram que eu era um “bicho solto”.

Na hora, sem pensar muito, ri. Depois a imagem de um cavalo solto no campo não me saía da cabeça. Era exatamente essa a descrição do 'bicho solto': um cavalo, livre. Sol, água, campo como únicos companheiros. Sem destino. Sem sela. Crinas ao vento. Cheiro de mato. Livre.

Não precisou muito tempo para eu começar a viajar. Na ocasião em que foi dito, aquilo fazia sentido. Em partes.

Esqueceram que todo animal é domesticável.

Você primeiro oferece uma maçã, uma cenoura. Aquele bicho no começo arredio e desconfiado, que pegava o alimento e ia embora, começa a demorar mais, perto de você. Depois começa a pegar confiança, sabe que você não fará mal a ele. Até que você acaricia a sua crina, faz carinho entre os olhos. O cavalo deixa. Passa mais um tempo e ele começa a esperar aquele carinho, aquela maçã. Torna-se rotina. Ele sabe que você vem. Ele sabe que é bom. Quando te vê, chega perto da cerca. Faz graça. Você acha bonitinho. Você estende a mão e ele vem. 

Um dia você consegue entrar no cercado. Escova seu pêlo. Sela. Monta. Cavalga. Puro prazer. Passam tardes incríveis juntos. Correm pelos campos, entre as árvores, se refrescam com a água pura do rio e com o vento bagunçando os cabelos. No final da tarde, os dois cansados voltam às suas casas felizes.

Um belo dia você não aparece. O cavalo, como de costume e rotina, espera. Ele sabe que você virá. Ele sabe que você trará uma maçã e passará as mãos por entre suas crinas. Sabe que vocês montarão juntos por entre os campos. Mas chove. O cavalo mesmo assim, espera. E você não aparece. Outro dia nasce. Com ele a esperança de te ver. Aquele afago. Horas de espera e nada.

Daí você volta, com sua maçã. Com o mesmo tom de voz. Com as mesmas mãos quentes.

E você espera que ele esteja lá na cerca. Feliz. Fazendo graça. Mas você percebe que ele está um pouco mais arredio, desconfiado. Aproxima-se devagar. Cheira sua mão primeiro. Não te deixa se aproximar muito. E você não entende.

O cavalo antes solto, despreocupado, livre, foi domesticado. Agora ele precisa de você. Precisa de afeto, pois gostou de recebê-lo. Sente falta da sua presença. Sabe quando você não aparece. Entristece. Espera. Sofre.

Já dizia “O Pequeno Príncipe”: “Tu és responsável por tudo que cativas”.

Às vezes, preferia ser assim: solta, livre, selvagem, chucra. Mas sou apenas mais um animal facilmente domesticável. Enganaram-se quando disseram com tanta certeza que eu era assim tão solta. Eu só precisava do carinho certo com a frequência certa.

(Colaboração: Brunah Wagner)



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Karina Diener


Adorei seu texto, Crista, encantador.

Responder      09/12/2010

Flávia


Amei este texto, Crista. Muito feliz a escolha deste texto.

Responder      18/11/2010

Maurélio Machado


Crista, sou um admirador de suas crônicas há muito, venho parabeniza-la por mais um excelente texto inserido na sua coluna do Evolução.Abraços

Responder      01/11/2010

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