Crista S. Grohskopf
Estamos presenciando um momento diferente na história deste país: as multidões estão ocupando as ruas para protestar, cujo estopim foi o aumento da tarifa do transporte coletivo na maior cidade brasileira. São seis dias de protestos, que vão continuar indefinidamente, se as coisas continuarem como estão.
Durante a abertura da Copa das Confederações, momentaneamente a mídia voltou-se para os jogos do fim de semana, e assistimos a nova vaia ao mandatário maior da nação: a Presidente Dilma teve que ouvir calada as vaias do público que lotava o Maracanã, a exemplo do Presidente Lula, em 2007, na abertura dos Panamericanos. Quem assistiu os jogos pagou o ingresso e certamente não era um beneficiário do Bolsa-Família...
Por que estão acontecendo estas manifestações, já que o povo brasileiro é conhecido por ser pacífico, não tomar partido das questões e não pensar no coletivo? Parece que as pessoas estão cansadas de pão e circo: esta já era uma tradição em Roma, quando o povo estava insatisfeito com os governantes da época. Davam-se espetáculos de matança no Coliseu, para que o povo tivesse distração dos problemas políticos...
Mas, atualmente, no Brasil, a situação ficou difícil para quem tem que trabalhar para ganhar o pão de cada dia... Paga-se muito imposto para se ter nenhum retorno e o Governo Federal investe em estádios para a Copa do Mundo. No mínimo, um insulto ao trabalhador que toma ônibus todos os dias, com custo caro e de baixa qualidade, ou aquele que vai a pé ou de bicicleta, para economizar o dinheiro da condução (e dar um pouco mais de alimento à sua família).
Este mesmo trabalhador paga seus impostos, porque não pode fugir deles: está embutido no preço dos alimentos (cada vez mais altos desde o início do ano), no aumento do aluguel e dos preços públicos, além do famigerado desconto na folha de pagamento.
Vemos hoje uma divisão no Brasil, que já foi sentida nas eleições de 2012, quando a massa de eleitores de Dilma Roussef concentrou-se no Norte e no Nordeste, tradicionais redutos de beneficiários do Bolsa-Família. Este benefício, chamado de distribuição de renda, sai do imposto que todos nós pagamos... E aí?
Tudo que está acontecendo no País, não pode ser simplesmente rotulado pelos governantes nem pela mídia. É preciso ler nas entrelinhas o que este povo está querendo dizer: temos corrupção demais, segurança, saúde e educação de menos, muitos cargos públicos e pouco resultado prático. As prefeituras estão falindo, os Estados também... Até onde o governo vai manter o status quo às custas das mazelas da população?