Calmon - Da horta do presídio de Caçador, onde está preso há 17 dias, o ex-prefeito de Calmon, no Meio Oeste-catarinense, João Batista De Geroni (PDT), manda o recado pelo diretor: – Não irei me pronunciar agora. Vou aguardar o desfecho de tudo isso.
Dentro ou fora da cadeia, De Geroni terá muito o que explicar. O político que reinou por oito anos no poder da pequena cidade de 3.380 habitantes é alvo de uma série de ações penais e investigações do Ministério Público (Estadual e Federal). Na mais grave delas, é investigado pelo desvio de R$ 700 mil repassados pelo Ministério da Educação para a construção de uma creche. O dinheiro entrou na conta da prefeitura há dois anos, mas a obra sequer começou em algum dos três terrenos cogitados.
Enquanto o procurador da República Anderson Lodetti Cunha de Oliveira apura o destino desse dinheiro, outra investigação que envolve R$ 200 mil dos cofres da prefeitura foi concluída. O promotor de Justiça de Caçador, Cléber Augusto Hanisch, constatou que esses valores foram parar nas contas da mulher do ex-prefeito, Ivone Mazutti De Geroni, e do filho, João Batista Mazutti De Geroni. A família teve os bens indisponibilizados pela juíza Viviane Speck de Souza, entre eles uma fazenda que está em nome do filho de 18 anos.
O destino do ex-prefeito complicou-se após um fato recente envolvendo uma discussão com um comerciante da cidade. De Geroni teria ameaçado de morte um homem que move um processo contra a sua mulher. A Justiça decretou três prisões preventivas contra ele por coação de testemunha, lavagem de dinheiro e crime de responsabilidade.
De Geroni aparece como investigado em mais de 10 processos na promotoria estadual e cinco inquéritos em andamento. Os motivos são os mais diversos, como manter adolescentes trabalhando em sua fazenda com máquinas da Prefeitura, obrigar funcionários a fazer empréstimos a seu pedido, favorecimento na construção de casas populares e até o de instalar placas com as iniciais MDG (“Mui De Geroni”) nos carros oficiais.
Em Calmon, De Geroni é conhecido como político populista, festeiro, influente. Há nas ruas quem defenda sua administração – marcada por grandes obras – e também quem o tenha como uma espécie de ditador. Em 2008, após ver o candidato que apoiava perder as eleições, mandou cancelar alguns serviços básicos nas áreas da saúde e educação. A Justiça o tirou do cargo.
Sem mandato na cidade, De Geroni mostrou nos anos seguintes a influência estadual e foi nomeado diretor-geral da Secretaria de Estado da Assistência Social, Trabalho e Habitação. No dia 2 deste mês, foi preso em Florianópolis pelo Centro de Apoio Operacional a Investigações Especiais (CIE) do Ministério Público. O governo disse que o havia exonerado do cargo dias antes, mas De Geroni recebeu a voz de prisão em sua sala na Secretaria.