O itinerário da disciplina de história na educação brasileira mostra que essa é também um agente de história, que pode ser usado nas salas tanto como veículo de reflexão e debates de idéias, como também ferramenta de doutrinação viável na constituição e consolidação de um regime político mais autoritário.
As reformas educacionais ocorridas no Brasil nos anos 1960 articulavam-se ao ideário de segurança nacional e desenvolvimento econômico dos anos de repressão. Tanto as intervenções no currículo escolar como na formação do professor, serviram para a realização dessa nova ordem política. Em 1969 o governo autorizou o funcionamento de cursos superiores de curta duração, o resultado foi a descaracterização das ciências humanas por uma formação nutrida de conhecimentos superficiais. Nesse sentido, a despreparação dos professores limitava seu poder de crítica e criatividade, forçando-o a quase absoluta reprodução do material didático, esse por sua vez, compunha-se de conteúdo puramente doutrinário. Os livros de Organização Social e Política Brasileira, disciplina criada em 1962, e de educação Moral e Cívica, disciplina obrigatória segundo um decreto de 1969, eram recheados de símbolos e heróis nacionais, como bandeiras, hinos e personagens que recebiam status de heróis nacionais, como Tiradentes e Santos Dumont. Trabalhava também com questões econômicas, como a indústria e os recursos naturais do país, e culturais, como as tradições, em um esforço de construir um sentimento nacionalista e de comprometimento com a nação, colocando a educação a serviço do desenvolvimento econômico do país.
Em 1976 é determinado que as aulas de Estudos Sociais só poderiam ser ministradas por professores formados em Estudos Sociais, o que afastava os professores de História e Geografia das salas de 1º grau.
No decurso dos anos 70 engrossam as manifestações de professores contra a nova política de educação, cedendo a elas, em 1980 o Conselho Federal de Educação permite que licenciados em História e Geografia ministrem as aulas de Estudos Sociais. A resistência dos professores configurava-se também dentro das salas de aula, muitos utilizavam as aulas como um instrumento de crítica ao regime autoritário.
Os anos 80 testemunharam à dificuldade encontrada na revalorização do ensino de História e Geografia. A carga horária diminuída desfavorecia o debate e discussão em sala de aula.
O que um itinerário sobre o ensino de História no Brasil nos possibilita perceber, é os usos da História como instrumento de formação de um pensamento social, o que nos remete ao debate sobre o papel dessa disciplina nos currículos escolares, assim como o papel do professor na aceitação ou negação do que é estabelecido, isso está estritamente ligado às discussões que se referem à autonomia do profissional da educação. É latente a necessidade de uma aproximação do Estado com o professor, definir o que é prioridade no currículo deve ser uma ação conjunta.
Para além disso é possível perceber a importância da História na formação de cidadãos politizados, a História não é a apresentação de um passado como fato, mas uma reflexão sobre o “ser” histórico e suas práticas, é algo que deve provocar um “desassossego” e a necessidade de mudança, transformação e melhora.