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No Mundo da Lua - Sônia Pillon


Sônia Pillon nasceu em Porto Alegre e desde 1996 reside em Jaraguá do Sul. 

Formada em Jornalismo pela PUC-RS e pós-graduada em Produção de Texto pela Univille, atuou como repórter, editora, redatora e assessora de imprensa,  no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Por mais de 10 anos trabalhou no jornal A Notícia.   

É autora de “Crônicas de Maria e outras tantas – Um olhar sobre Jaraguá do Sul” e “Encontro com a paz e outros contos budistas”, com participação em antologias de contos, crônicas e poesias.

Publica também no blog soniapillon.blogspot.com e na fanpage "Sônia Pillon Escritora". É Presidente de Honra da Seccional Jaraguá do Sul da Academia de Letras do Brasil de Santa Catarina (ALBSC).

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Folhas de Outono



Sônia Pillon

A mesa retangular estava ocupada de ponta a ponta por familiares e amigos. Devia ter umas 20 pessoas. Um grande bolo nevado em formato de escada redonda era coberto por cerejas e recheado com calda de chocolate e morangos, bem no centro da mesa. Em cima do bolo de aniversário, uma boneca de confeito representava uma idosa clássica, elegante, delicada, com cabelos cor de prata segurados por um coque, óculos de grau, vestido longo em tom pastel e um gracioso colar de pérolas. Salgadinhos, docinhos e guloseimas para a criançada não faltaram naquele dia.

- Parabéns pra você, nessa data querida! Muitas felicidades, muitos anos de vida! Viva a vovó Vitóriaaa! Vivaaaaa!

Cem anos! Vitória nem acreditava que alcançaria um século de vida! Emocionada, circulava o olhar pela mesa. Olhava um a um, com os olhos marejados, agradecida pela presença dos que a aplaudiam enquanto cantavam o “Parabéns”. Apesar da avançada idade, lembrava de cada um deles e do quanto cada um era importante em sua vida, de uma maneira ou de outra. Entre eles estavam a filha, o neto e a bisneta, pessoas que amava tanto!
As memórias da centenária estavam vívidas, com incrível precisão de detalhes, de acontecimentos bons e ruins, como um filme sendo exibido na tela grande.

A vida da veterana senhora trouxe conquistas e perdas, alegrias e tristezas, como todo mundo, mas ela aprendeu a ser resistente, a perseverar, ainda que a duras penas. Mesmo nos momentos em que o desânimo tomou conta, quando os pensamentos a conduziam por caminhos tortuosos, de revolta e insegurança em relação ao futuro, lá no fundo, a chama da esperança nunca se apagou.

A infância modesta, a educação severa que recebeu, especialmente da mãe, de quem teve poucas demonstrações de amor, a maneira justa e afetuosa do pai, a rebeldia e as traquinagens do irmão mais velho…

No frescor dos vinte anos, viveu a expectativa de felicidade com o matrimônio. Mais tarde, com o casamento desfeito, enfrentou a dor, a frustração e o preconceito ao se tornar “uma mulher desquitada”. A morte prematura do filho, as dificuldades encontradas para concluir a faculdade, em se manter no mercado de trabalho, ela lembra bem. Como esquecer?

Os anos foram passando, o mundo foi mudando e Vitória foi seguindo em frente, como sempre. Se ela sentiu solidão durante a jornada? Muitas vezes! Mas sempre foi reservada. Nem sempre externava o que sentia. Se preservava em seus recônditos.
Lentamente, décadas se sucederam. Constatava que a idade foi pesando. Os passos começaram a se tornar mais lentos, a visão e a audição não eram mais as mesmas. Os cabelos ganharam grandes mechas brancas. Cansava mais rápido com as atividades cotidianas. Se sentia triste com as limitações que a longevidade trazia, mas foi se adaptando, contornando, driblando.

Porém, um fato fazia toda a diferença para ela. Mais do que em qualquer outra fase da vida, se sentia amada, amparada pela família, e esse foi o melhor presente que recebeu.

Por isso, naquele dia, quando todos comemoravam os seus 100 anos de nascimento, ela irradiava alegria e fez questão de soprar as velinhas do bolo, posar para as fotos. É como se cada ano correspondesse a uma folha de outono, que lentamente formou um lindo tapete, contornando a Árvore da Vida.

Vitória! Sim, literalmente, vitória é a palavra que define esses momentos tão especiais para ela, que mantém a alma de menina.

* Resgatando o conto inspirado na história de vida da minha mãe Wilma, que em outubro colhe mais uma flor no jardim, publicado na “Revista Literária A Ilha”, edição de Setembro de 2018.



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