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Sentimentos - Fernando Coimbra dos Santos

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"Se eu puder combater só um mal, que seja o da Indiferença".

 


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Um Apito de Trem Longínquo Demais - Intróito ao Cap .II


 

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 INTRÓITO

 

O automóvel afasta-se pouco a pouco.

E, em breve, na primeira curva da estrada, deixávamos atrás, para sempre, a terra em que tínhamos nascido, os amigos, os parentes que talvez não veríamos mais.

Levando, sem que soubéssemos, além de esperança, uma provisão de saudades para o resto da vida.

Agora, num lugar que desconheço, numa casa que não reconheço como minha, sentado na soleira da porta da entrada, pés no chão que não sentem mais a areia suave da praia, passo as horas a olhar desconsolado a rua deserta de conhecidos.

Sentindo-me perdido, triste e sucumbido.

Até o sorriso fugaz que sempre retorcia meus lábios parece também ter ficado inexplicavelmente para trás.

A mudança começa a cortar as asas ao pássaro que, criança, eu pensava ser, num fortíssimo sentimento de rejeição.

E amparo-me ansioso às figurinhas de sonho que me atenuavam a solidão.

Súbito, o trem na estação enche o silêncio espaçoso com um som que se estenderá de minha infância a toda a minha vida, quando eu dormia sem dormir e viajava dentro do país dos sonhos, quando a escuridão se ia chegando pouco a pouco, vagarosa, dissimulada.

Um som como se fosse um adeus ao longe. Um longínquo e doloroso adeus. De quem? Para quem?

Então reuno pedaços de pessoas, de lembranças e de coisas, pedaços de mim mesmo que boiavam no passado e presente confusos, articulo tudo, crio o meu pequeno mundo salvador e incongruente, minha ponte ilusória entre a realidade e a indistinta fantasia.  

Onde terminaria uma e começaria outra? Nunca o soube. Nunca o saberei.

A história, a minha história, confusa e maravilhosa, era desenrolada aos meus olhos como um fio que não acabasse nunca.

E pendurei nele todas as misérias.

Todas as minhas misérias.

 

I

Sentei-me no extremo da escrivaninha toda marcada, talvez originária da Arca de Noé. E que Noé, com certeza, teria comprado de terceira-mão.

As únicas antiguidades que eu devia colecionar seriam contas atrasadas, mas minha vida – ou o que ela se tornara – não era bem assim.

Olhei desconsoladamente para a folha de papel em branco à minha frente e tentei descobrir sobre o que escrever.

Uma mariposa morta jazia, asas abertas, num canto do chão do quarto.

Na janela uma abelha com as asas partidas zumbia de uma maneira remota, triste e cansada, como se soubesse da inutilidade do gesto, pois estava no fim, havia voado um demasiado número de missões e nunca mais voltaria para sua colméia.

Mas esta era a peça em que eu morava.

Era a coisa mais parecida com um lar que eu tinha.

Tudo que era meu estava ali dentro, tudo que tinha alguma associação ou memória para mim, todo o meu passado, todo o meu presente, tudo o que assumisse o papel de uma família. Que atenuasse um pouco que fosse o sentimento de eterna solidão.

Que tentava, sem sucesso, não me fazer sentir tão sozinho comigo mesmo.

Não era muito. Alguns livros, uma velha máquina de escrever, algumas poucas fotografias em preto-e-branco, um rádio valvulado que eu pouco ligava, o jogo de xadrez que eu não jogava com ninguém, cartas antigas, coisas assim.

Não era nada. Quase nada. Mas eram todas as minhas lembranças.

Lembranças que haviam saído da minha vida como alguma coisa levada pelo vento.

Saído?

Como o ser humano é capaz de se enganar quanto a si mesmo.

Talvez eu estivesse apenas sentindo o peso dos anos.

Mas, aos vinte e poucos anos?

Pessoas relaxadas tornam-se descuidadas. E se machucam, a menos que tomem muito cuidado. Mas, geralmente, quando se dão conta, é tarde demais para isso.

Há certos momentos em que você se sente como se tivesse sido levado para a beira de um precipício e abandonado lá.

Eu deveria saber como aquela história iria terminar.

No entanto, continuei escrevendo e não me importei. Eu dominava as palavras, tinha palavras para tudo, mas, para isso, nenhuma.

Talvez eu tivesse muita imaginação e adorasse enfeitar a velha e insípida verdade. Mas, até que ponto somos realmente capazes de enganar a nós mesmos?

Não existe armadilha mais mortal do que aquela que a gente arma para a gente mesmo.

- Tento gostar de você — disse-me eu de repente, como se eu fosse uma segunda pessoa. — Porque você acredita em milagres.

Então sorri, mesmo que não soubesse bem porquê. Mas os melhores e mais belos sorrisos têm uma pitada de melancolia neles. E eu não poderia ser diferente. Meus sorrisos não poderiam ser diferentes.

A vida nos endurece dando-nos pancadas com as quais supomos que atingimos nosso limite, mas, em seguida, vem uma pancada que é maior do que qualquer outra que você já tenha sofrido.

E só então você percebe o quanto é vulnerável.

Lembranças são como projéteis.

Alguns passam rente e só nos assustam. Outros abrem um buraco em nós e nos deixam dilacerados.

No começo eu me iludia dizendo que era tudo passageiro, que um dia tudo retornaria à normalidade. Obviamente isso não aconteceu.

Acabei me convencendo que, para a imensa maioria das pessoas, crescer significa, infelizmente, adquirir a incrível habilidade de enfiar os sonhos numa caixa, fechá-la a sete chaves, e jogá-los num precipício inacessível.

Aparentemente não fui exceção à regra.

Mas, há pouco tempo, deparei-me com uma descoberta importante, que trouxe de volta à minha mente uma série de acontecimentos aparentemente esquecidos.

Você sabe como é: você acha que esqueceu alguma coisa – um fato, um acontecimento, uma pessoa, uma situação – e então, de repente, percebe que a lembrança estava jogada em algum canto escondido da mente.

E que ela sempre estivera ali, como se o episódio tivesse ocorrido ontem.

É como abrir um armário velho, cheio de tralhas: é só tirar uma caixa do lugar que tudo desaba em cima de você.

Foi como se, de repente, eu tivesse redescoberto quem eu era realmente, depois de me esquecer totalmente de mim mesmo.

Mas eu me conhecia o suficiente – ou assim pensava – para saber que seria mais fácil eu me ensinar a voar num cabo de vassoura que esquecer tudo aquilo.

Foi quando me deparei com a aterradora verdade: a gente não sabe o que é a dor até sofrer um corte tão profundo que nos permita perceber que as feridas passadas não foram nada mais que arranhões.

Foi um choque perceber, de repente, que tudo o que me ligava à minha infância estava prestes a reaparecer.

Às vezes a presença daqueles que se vão é mais forte do que quando estavam a nosso lado.

Olhei pela janela, estremecendo na noite tão fria de inverno. Parecia que as estrelas estavam tão perto que eu poderia esticar o braço e tocá-las.

Então ocorreu-me acreditar em mim mesmo: às vezes nós, pura e simplesmente, precisamos acreditar que um elefante pode ser tirado de uma cartola. Não um coelho, mas um elefante.

Grandioso como o sonho que precisaríamos ter.

O sonho que precisaríamos viver.

É... eu era jovem o bastante para fazer promessas impossíveis de serem cumpridas.

Mesmo que fossem promessas para mim próprio.

Eu havia aprendido que a maioria das pessoas adora falar de seu passado. Mesmo que tenda a embelezá-lo.

Seria como olhar de relance para algo com o canto dos olhos por uma fração de segundo e, depois, não saber realmente se havia visto alguma coisa ou não.

Mas, para ser honesto e sincero, eu vinha girando em torno de minhas ilusões como uma mariposa atraída pela luz de uma lâmpada.

Desci os olhos das minhas estrelas tão longínquas para os reais níveis terrenos de meu viver.

Lá ao longe havia uma grande praça com bancos de madeira nos quais eu gostava de me sentar ao anoitecer. Dali dava para ver abaixo as luzes da cidade, e eu tinha a impressão de estar flutuando acima dos telhados.

E então eu inexplicavelmente sempre me lembrava de meu sonho secreto, gostava de pensar que, às vezes, as pessoas deviam perdoar as outras. Que podiam perdoar uma às outras.

Nada é mais duradouro que uma ilusão provisória.

Existem pessoas para as quais você pode mentir: dizer coisas exageradas, absurdas, que soam até ridículas, e percebe que mesmo assim elas acreditam. Com outras, não. Se eu dissesse uma coisa não verdadeira, embora plausível, elas me olhariam com uma expressão intrigada, como se perguntassem “mas com quem você acha que está falando?”, ou então ririam diretamente na minha cara.

Num impreciso sábado da minha infância, numa aula de Catecismo, quando o padre Rômulo nos falou de Pôncio Pilatos (que havia pronunciado a frase “lavo minhas mãos”) achei que Deus tinha feito o mesmo com a minha vida.

Então ouço inexplicavelmente o inexistente longínquo apito de um trem, o rangido do portão de casa onde morava quando eu era pequeno, que também não escuto há anos, e um grande sorriso se abre em minha alma.

Eu sei, é uma loucura, mas essa fantasia me deixa feliz. Por mais que doa.

Durante grande parte da minha vida, fui uma grande mentira emocional. Repetia sempre para mim mesmo: “Não sou feliz, mas posso e devo parecer que sou”.

Eu me sentia perdido. Talvez eu tenha me enganado, talvez devesse ter continuado a me procurar. Em que lugar da vida eu me perdera? Estaria ela também me procurando? Em vez disso, a certa altura nenhum de nós dois deu mais um passo em direção um ao outro. Desde então fomos separados por uma parede de chuva, feita de gotas de ausência.

Agora, começo a pensar em mim e na minha vida.

No meu momento, no homem que me tornei, que no fundo não é senão a consequência do menino que eu era.  Sou, como todo mundo, a soma de um número infinito de pessoas, aquelas que fui ao longo da minha vida.

Olho desconsolado o papel em que escrevo, tão cheio de aparentes e talvez incompreensíveis contradições. Como minha vida.

E como poderia ser diferente?

Afasto os olhos do meu papel que se desfocalizou há tempos.

Ali, bem ao lado, quase imperceptível, um prato rachado.

Conseguem entender isso? Eu o uso sempre. Veja a que ponto cheguei: usar um prato quebrado, só porque foi alguém muito especial que o rachou.

– Você se lembra? – pergunto à fugaz imagem que inesperadamente me sorri e se desvanece inapelavelmente no instante seguinte.

Então, por minha vez, sorrio dolorosamente, E continuo, numa aguda ponta dilacerante de saudade intransponível:

– Não quero um prato novo, prefiro o seu, mesmo rachado.

E confesso, mais para mim mesmo:

– Quando o lavo, gosto de sentir com o dedo a parte áspera; tenho a ilusão de que se a esfregar, como a lâmpada de Aladim, você voltará um dia para mim.

Ele já está até gasto de tanto eu esfregá-lo inutilmente.

Mas eu não o trocaria por nenhum outro prato no mundo.

Abro então um livro que contém um de meus tesouros: um papel amassado de bombons e me flagro tentando alisá-lo, fico girando-o entre os dedos, pensando, lembrando. Por fim recoloco-o no livro, volto a sentar e a enfrentar minhas lembranças.

 

II

Fazia muito tempo que esperava um ônibus que não vinha. Tanto tempo, que nem mais me impacientava, ou me importava com isso. Era esperar, só esperar. Uma hora, um dia, ele chegaria, era apenas uma questão de paciência.

Fiquei a olhar a cidade deserta àquela hora da manhã (ou seria um entardecer?) imersa num tênue nevoeiro frio que me fazia ficar com as mãos nos bolsos do casaco. Como sempre, a bagagem era muito pouca, quase inexistente.

Chegava a ser engraçado – pensei – como a espera de um ônibus que não vinha marcara a minha vida indelevelmente em tantas ocasiões. Inexplicavelmente, por que seria que um ônibus sempre se fazia presente nas horas mais difíceis e decisivas de minha vida?

Seria um irônico simbolismo de que uma etapa acabara e outra estava se iniciando, e o ônibus era o inquietante elo de ligação que me afastava da segurança amarga de minhas lembranças, conduzindo-me para o futuro desconhecido que se me afigurava tão incerto?

Seria isto a explicar a dolorosa e incerta nostalgia que quebrava meu coração sempre que via um ônibus intermunicipal ou interestadual a se deslocar vagarosamente ao longe?

Mesmo que aquele momento não fosse de solidão, amargura e desamparo, que haviam se tornado tantos?

Ver um ônibus ao longe, e meu coração se confrangia numa saudade e falta dolorosas, nem mesmo eu sabendo precisar exatamente de que. Ou de quem. Não importava, não fazia mesmo muita diferença àquela altura da vida.

E agora estava sozinho, de pé na beira da calçada, esperando mais uma vez um ônibus que não vinha.

Um ônibus que me levará para um lugar incerto, qualquer um, não importa. Importa sair dali, antes que as mágoas de minha vida me afoguem de vez na desesperança fatídica que me corrói o que me restou de alma.

A luz mortiça do amanhecer (ou seria entardecer?), a luz que me envolve, parece destacar e participar daquela mágoa profunda, acentuando de certa forma aquela dor surda e constante que martela impiedosa e incansavelmente meu cérebro e coração, atordoando-me em lembranças que não devem ser lembradas.

Começo a ouvir mentalmente uma melodia triste, uma das tantas que marcara minha vida. Não consigo assobiá-la ou mesmo cantarolá-la, e isto também não tem a menor importância.

Uma das poucas coisas que tentara aprender na vida fora aceitar resignadamente as coisas que escapavam a meu controle, as coisas que sentia ou sabia que não podia modificar.

E como se fosse o tema musical de um filme triste e sentimental, sempre havia uma melodia diferente a marcar indelevelmente cada etapa sofrida de minha vida, a melodia que, no entanto, é uma superfície leve, que não consegue esconder ou encobrir o desespero que tumultua nas profundezas.

Cada música bem que se esforça para ser despreocupada e ter a alma leve, como se fosse uma amarga dança pueril em cima de uma sepultura, o que talvez explique meu olhar enevoado que às vezes se perde ao longe, muito longe, longe demais, olhando para dentro de mim mesmo, olhando para um passado longínquo demais.

E de repente no esforço desesperado e angustiante para contê-la, de repente as águas represadas ameaçam romper todas as barreiras, levar por diante a cortina vaporosa e ilusória, as barreiras que também ameaçam se romper num estrondo incontrolável e se espraiar numa melodia agitada de desespero, o retrato patético não revelado do estado irreversível e irrecuperável de minha alma.

E aquele maldito ônibus que não vem, deixando-me desamparado e exposto naquela beira de calçada de uma rua cujo nome não me importa. E oscilo dolorosamente entre uma tristeza insuperável e um riso amargurado em meu desamparo, em meu desânimo, aquele coração de adulto que tinha crescido sem jamais deixar de ser criança.

Uma criança que teimava ainda em sonhar, em viver consciente e deliberadamente num mágico mundo de faz-de-conta, que incoerentemente era unicamente o que me separava da insanidade de minhas realidades.

Mesmo doendo, ainda me permitia algumas lembranças que se recusavam a submergir em meus esforços para contê-las, mesmo porque não podia evitá-las.

E momentaneamente meu involuntário sorriso triste se alarga, ganhando um brilho particular e pleno de significados que avaramente não divido com mais ninguém.

A música indefinida continua a tocar em meu íntimo, lágrimas internas teimam em brotar e ameaçam extravasar em meus olhos que procuram ocultar um desespero esmagador.

Diabo de música triste. Como se fosse possível escolher um repertório mais alegre, constato amargamente.

Há na cidade adormecida um silêncio comovido, um silêncio que embala docemente uma enorme tristeza, a tristeza desalentada de não poder voltar ao passado.

Voltar para me corrigir, para passar a vida a limpo, evitando todos os erros, todas as misérias, a impossibilidade de mudar coisas que não podem ser mudadas.

Mais uma viagem. Desta vez – espero – a definitiva, a derradeira delas. Outras não se farão mais necessárias. E meu sonho – espero – desta vez irá se realizar, ficarão para trás todas as angústias, todos os aparentes fracassos que aconteceram à minha revelia, no que será uma libertação. Devia estar alegre, sacudir os braços, correr, gritar, mas uma opressão estranha me paralisa naquele torpor que parece fazer o próprio tempo parar.

Olho penosamente para meu interior, para minhas lembranças, mas nenhuma delas emerge e me fala assim consoladoramente, com aquela ternura longínqua.

De repente tenho a impressão de que na memória se me abre uma clareira por onde eu enxergo o passado. Por uns momentos vejo o passado como se fosse um privilegiado espectador, mas é apenas um relâmpago, quase que imediatamente de novo cai a névoa e eu constato duramente que sou o insubstituível ator principal.

Olho para diante, para o presente que se faz tão amargo e, mais uma vez, para o futuro que se afigura tão incerto, terrível e dolorosa possibilidade, quase certeza, de novas e inevitáveis etapas de repassar o que já passei infindáveis vezes.

Questiono-me inutilmente. Quem sou eu? Como vim parar aqui? Onde estão os amigos que nunca tive? Será que o ônibus que espero com tanta angústia e ansiedade traz como passageiros os fantasmas de minha vida? Eu não queria viajar neste ônibus tenebroso e escuro como minha alma e meu coração partido, cujos passageiros são os conhecidos e sempre presentes fantasmas de minha vida, de minhas lembranças.

O ônibus desconhecido que tantas vezes é um pavor na noite que se tornou a minha vida. E agora, está amanhecendo (o que seria uma esperança) ou entardecendo (que seria mais uma inevitável aniquilação), com suas recordações, com a dolorosa realidade dos sonhos desfeitos pela vida?

O ônibus finalmente surge lentamente ao longe. Por que demorou tanto? Há um instante de aflitiva e derradeira esperança, a desesperada busca pela leitura do letreiro do destino.

Por um instante eu balanço, indeciso e esperançoso, sob as tênues fronteiras que separam a vida da morte, na letal esperança irrealizável de que alguma coisa aconteça e não me faça partir.

O letreiro de destino é apenas uma tarja negra sem palavras, o ônibus para a meu lado e a porta se abre. Finalmente.

Entro, não vejo o motorista, não vejo os passageiros. Sento-me num lugar qualquer, a porta se fecha aparentemente para sempre, o ônibus vai partir. Buzina como numa despedida, é um gemido rouco, longo, doloroso, desesperado, irremediável, definitivo, sem possibilidade de volta.

Voltado para a janela de vidros embaçados, eu não vejo mais a cidade que fica aos poucos para trás, para nunca mais voltar. Imerso numa absurda amargura, eu olha o vácuo, o vazio onde me precipito mais uma vez. Agora sou novamente uma sombra amarga e ao mesmo tempo resignada entre as outras sombras que me acompanham em mais esta viagem, os familiares fantasmas de meu passado que teimam obstinadamente em ser sempre o meu insustentável presente.

Fosse um ônibus de turismo, o guia certamente estaria dizendo e contando os detalhes que constituíam a paisagem que não podia ver. Mas omitiria talvez a coisa mais importante daquilo tudo que naquele momento acontecia naquele ônibus.

Naquele ônibus, naquele momento, um homem sofria. E chorava amargamente, mesmo que fossem lágrimas que não se exteriorizassem, lágrimas que ao invés de lavar e aliviar sua alma apenas o submergia e afogava em uma dor desesperada.

(continua)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



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