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Sentimentos - Fernando Coimbra dos Santos

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"Se eu puder combater só um mal, que seja o da Indiferença".

 


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Estavam na véspera do casamento, aguardando amigos para o jantar, ela falava feliz o que se seguiria, o que ela se empenharia para tornar a vida dos dois dali em diante.

- Querida, espere.

A gravidade em seu tom a surpreendeu.

- Antes de falar sobre isso... - começou, procurando com cuidado as palavras. - Eu... esta tarde, encontrei alguém... que você precisa ver.

A noiva piscou.

- Alguém...?

O abrir de uma porta a interrompeu. A moça virou o rosto naquela direção, para a pessoa que surgiu.

O mundo parou.

Ele estava mais alto do que ela se lembrava, e definitivamente mais sofrido. As linhas de seu rosto haviam endurecido. Mas... aquelas feições, aqueles olhos, eram exatamente os mesmos que ela guardara tão vividamente na memória, há tanto tempo.

Aquele rosto... Há tantos anos aceitara que nunca mais o veria... Mas, agora, ela simplesmente não lembrava como respirar.

A jovem se moveu um pouco, atordoada, então pendeu para frente, o recém chegado a apoiou, desajeitado, contra o peito.

- Você... – exclamou ele para o noivo, em censura. - Eu disse que você precisava avisá-la.

Olhou-a, quase desfalecia.

- Querida... está me ouvindo? – perguntou com suavidade.

A moça entreabriu os olhos, zonza. Tocou-lhe o rosto, trêmula, e sua visão embaçou de lágrimas.

- Meu amor... - ela suspirou, e o abraçou quase que com desespero, num choro entrecortado, extravasado de alegria absoluta. – Meu amor...

Acomodou-a nos braços, acariciou-lhe os cabelos, a afastou um pouco para olhá-la.

- Está tudo bem... Não chore.

- Eu pensei... - ela soluçou – pensei que nunca mais o veria de novo...

Uma pontada aguda pungiu o peito do visitante, ele respirou fundo, cingindo a moça novamente num sorriso dolorido.

- Eu também...

Permaneceram quietos por um momento, ele sentindo a respiração dela, aos poucos abrandando contra seu peito. Admirou-a com afeição, ela estava tão linda... Ainda mais do que quando a vira pela última vez.

De repente se deram conta da presença do noivo. Separaram-se num gesto constrangido, olharam para o rapaz, mas o rosto dele estava voltado para o nada.

Uma senhora surgiu, aguardou ser notada.

- Sim? – o noivo perguntou, polido.

- Perdoe-me por incomodá-lo... os convidados chegaram.

– Ah, obrigado, irei num instante.

Então se dirigiu aos outros dois.

– Desculpem-me... preciso ir. Amigo, gostaria de se juntar a nós? Seria um prazer recebê-lo.

Compartilhar uma refeição com seu velho colega de escola, e provavelmente o melhor amigo que já tivera...

- Obrigado... – o outro baixou o rosto em consideração. – Fico honrado com o convite, mas... não é o momento.

- Ah... é uma pena.

Olharam ambos para a moça.

- Você deveria acompanhá-lo – o noivo sugeriu.

Ela hesitou, entre o entusiasmo e o compromisso que assumira.

- Mas... E quanto ao jantar? E quanto a você?

- Não se preocupe com isso - ele assegurou. – Acho que vocês têm muito o que conversar.

Ela ainda o mirou, incerta. Ele sorriu em resposta, encorajador.

- Vá, não se preocupe... sei que os dois têm muito a conversar - repetiu.

A moça se voltou para o visitante, que retribuiu seu olhar com ansiedade. Assentiu, segurou-lhe a mão, então se dirigiu ao noivo em agradecimento sincero.

- Sou-lhe imensamente grata...

- Não há o que agradecer. Fico muito feliz por seu retorno, meu amigo.

No dia seguinte contou o sucedido ao avô estarrecido.

- Então... depois de tanta insistência com essa mulher, vai entregá-la a outro!

- Não é qualquer outro, vovô... – o neto justificou. É meu melhor amigo.

Sentira durante todo o jantar parte de si querer gritar, furiosa, de frustração... Mas essa era sua parte mais desprezível, à qual ele se recusava a dar alguma atenção. O amigo que retornara do nada fora, por anos, como seu irmão mais velho. E essa pessoa, a quem ele tanto respeitava, amava sua noiva, não mais, apenas, do que ela ainda o amava de volta.

O que fazer a respeito era inescapavelmente claro.

Ele terminou de alinhar as xícaras brancas, com desnecessário capricho, ao lado do bule de chá já frio. Um nó comprimia sua garganta.

“Vamos... pare de se lamentar” – disse para si mesmo..

O rosto exultante dela, nos braços do amigo, voltou-lhe à mente, e ele se viu sorrindo para o chão numa ternura dolorosa. Nunca a vira tão feliz.

Respirou fundo, e pôs-se de pé com decisão, despediu-se do avô sem nada mais dizer.

“...Não se lastime”, racionalizou, por fim, novamente para si próprio. - “Você não a perdeu”.

Afinal, ela nunca fora realmente dele.

 



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