Maria Bethânia volta a Florianópolis

 Florianópolis - Os 34 anos de litígio entre Maria Bethânia e a cidade de Florianópolis serão encerrados com uma histórica apresentação neste domingo a noite, no Costão do Santinho.

Bethânia foi a última dos Doces Bárbaros a retornar á cidade, depois da tumultuada passagem do quarteto pela Capital para um show no Clube Doze de Agosto, em 7 de julho de 1976.

A cantora sempre foi a mais resistente à ideia de retornar à Capital catarinense. Gilberto Gil e Caetano Veloso pouco depois colocaram os pés de novo na Ilha. Gal, por sua vez, também demorou: voltou apenas em abril de 2007, com uma memorável apresentação do Floripa Music Hall. E em junho desse ano, Gal esteve aqui de novo.

Por isso, a expectativa é de que esta apresentação, que faz parte da turnê Amor, Festa, Devoção, seja algo de especial. A cantora, inclusive, deve incluir no setlist músicas mais antigas, daquelas que não tem mais cantado em sua turnê. Homenagem aos fãs da Capital que, claro, sempre manifestaram, durante o longo hiato, o desejo de revê-la.

Então, além das músicas do CD, DVD e Blu-Ray que dão nome ao show, Bethânia apresenta os sucessos Ronda, Olhos nos Olhos, Terezinha, Mel, Grito de Alerta, O Lado Quente do Ser e Não Existe Pecado ao Lado Debaixo do Equador.

O deslumbramento vai continuar na parte visual da apresentação. Todo roteiro do show — dedicado à mãe da cantora, Dona Canô — foi produzido por Bethânia em parceria com Fauzi Arap. A cenografia de Bia Lessa, também diretora do espetáculo, utiliza elementos cênicos que identificam com muita clareza todo o conceito desenvolvido por Bethânia.

O chão é salpicado de rosas vermelhas, a madeira é de tábua envelhecida. O manto também traz rosas vermelhas, e pequenas luzes internas que alternam cores, posição e ritmo. Ainda estão dispostos vários pequenos quadros com fotos de Anna Mariani (de fachadas de casas do interior do Nordeste) que retratam a fé, as pessoas e as coisas do Brasil — presentes no canto, na essência e no discurso contundente da artista.

Simplicidade no backstage

Para tantos detalhes e tanto estilo, claro, é necessário trabalho. Duas toneladas de material devem chegar neste sábado à Capital, para a montagem do palco. Para o antes e o depois do show, a cantora não foi das mais detalhistas e exigentes, não. O pedido foi para que o palco e o camarim fossem na maior parte brancos. Frutas frescas e secas, mel e champanhe estarão esperando pela estrela. E a equipe de 22 pessoas que acompanha a cantora deve estar toda mobilizada no Norte da Ilha.

Confusão em 1976

A reconstituição dos fatos que ocorreram naquele sete de julho de 1976 faz qualquer um dar razão à Maria Bethânia no que diz respeito à resistência para realizar um novo show na Capital catarinense. Ela não queria incluir Florianópolis na turnê dos Doces Bárbaros.

Um dos motivos era o fato da cidade ser, àquela época, muito menor do que hoje. Tinha 160 mil habitantes, e precários espaços para show. O outro motivo era a própria intuição da intérprete, que indicava ser a passagem por Santa Catarina uma má ideia.

Amigos do saudoso jornalista, colunista e agitador da Ilha Beto Stodieck, Caetano Veloso e Gilberto Gil insistiram no show. Beto era promotor do espetáculo. Os dois músicos chegaram no dia cinco de julho.

Na manhã do dia seis, uma batida no hotel da banda, comandada pelo delegado da Divisão de Tóxicos, Elói Gonçalves de Azevedo, encontrou um baseado e erva na carteira de Gil, e uma quantidade maior do tóxico em posse do baterista Chiquinho.

Os dois foram para a cadeia, e o show do dia sete só ocorreu porque o então juiz da Primeira Vara Criminal da Capital, Ernani Palma Ribeiro, liberou a dupla. Curiosamente, Bethânia foi quem demonstrou maior abatimento com o episódio.