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Maurélio Machado

maurelio_machadoyahoo.com.br

Escritor e Poeta

Natural de São Bento do Sul,SC, casado com Karim Voigt, pai de 2 filhas: Daniela e Fernanda e 1 filho: Fábio Luis, 1 neta Giovanna e 1 neto Eduardo.

 Membro da Academia Parano-Catarinense de Letras, ocupando a cadeira de nr. 41.

 Membro da Diretoria da Oficina de Poetas - formação de jovens poetas nas escolas públicas.

 Membro da Academia de Letras Infanto-Juvenil para Santa Catarina 

Municipal de São Bento do Sul

 Mérito Literário do Instituto Montes Ribeiro de Curitiba/Pr

 


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NUMA FRIA

Sexta, 12 de novembro de 2010

Sentia dores por todo o corpo.

Gosto amargo na boca e a terrível dor de cabeça impediam-lhe o raciocínio.

Estava n’uma cela da detenção juntamente com diversos delinquentes que olhavam-no com indiferença.

Levantou do piso frio em que fora atirado e sorveu alguns goles d’água da torneira imunda da prisão.

Sentou no banquinho de madeira e num flash a vida lhe passou pela mente.

Fora abandonado pelos pais num orfanato da periferia, aos 5 anos de idade.

Das poucas lembranças: a pobreza, a fome, as brigas do casal e as bebedeiras do pai.

Dos irmãos só soube depois: 4 foram para São Paulo e 3 ficaram com os pais.

O pai falecera de cirrose hepática ainda jovem e sua mãe mudara-se com os irmãos para Mato Grosso.

Nunca mais teve notícias deles.

No orfanato aprendeu poucas coisas, fora muito maltratado e submetido a trabalhos pesados e humilhantes.

Aos 18 anos foi convocado e serviu ao exército, e nas folgas da caserna conheceu Flora com que veio a casar pouco tempo depois.

Foram morar com a sogra Orozima que os acolheu com todo o azedume que lhe era peculiar.

Da união precipitada nasceu Florzima (nome escolhido pela “bondosa” sogra).

Juventino havia enjeitado um emprego de servente de pedreiro numa pequena construtora dos arredores da Baixada Fluminense (eles moravam em Duque de Caxias).

Do serviço pra casa e vice-verso, saía às 5 da manhã e retornava às 20 horas... suado, cansado e sem perspectivas de um futuro promissor.

O chefe, um homem mesquinho, desprezível e infeliz lhe infernizava os dias.

Em casa não era diferente.

Eram 3 vozes azucrinando seus ouvidos cotidianamente: Orozima, Flora e Florzima a exigir do pobre coitado um conforto acima de suas possibilidades financeiras.

Um inferno!

Num final de semana Florzima comunicou à família que estava grávida de um camioneiro do Tocantins, e com ele partiria de imediato, novo lar.

A última notícia e a única (anos mais tarde) era de que ela estava num bordel de quinta categoria em Santarém.

Florzima jamais deu notícias.

E o cotidiano amargo continuava.

- Juventino??? ...trouxe a caixa de chocolates e os salgadinhos para mamãe?... e os cigarros que lhe pedi???

Era assim, elas passavam o dia frente a TV, fumando, comendo chocolates e salgadinhos, tomando refrigerantes e cafés, e, “peidando” no sofá semi-novo que ele comprara nas Casas Bahia em 10 prestações.

O casebre estava às traças: teias de aranha por todo canto, manchas de gordura por tudo, banheiro entupido, traças nos cobertores, pia entulhada de louças, cheiro de mofo, o mato tomando conta do quintal cheio de “chepas” de cigarro e de cocô do magriço vira-latas Sansão (um protótipo de cão)...já não era um lar mas um “baita dum zonão” mal administrado.

Há mais de 25 anos Juventino fora privado de sexo ou de quaisquer carinho por parte de Flora.

Sair de casa nos finais de semana para um cervejinha ou um futebol com os amigos?...nem pensar...

Futebol pela TV?...você é “boiola” Juve? ...onde se viu gostar de 22 homens peludos e suados correndo atrás de uma bola?

Eu e minha querida mãe temos mais o que assistir (elas eram “fanzérrimas” do domingo legal do Gugu).

Vez por outra convidavam umas amigas para um joguinho de canastra e o pobre fazia as vezes do garção.

- Juventino, traz mais chocolates e salgadinhos e não esqueça os refrigerantes para as “visita”.

E as coroas riam, fumavam, roíam guloseimas e “peidavam” na pequena sala do casebre.

Isso sem contar a conversa chula e os palavrões indecentes que faria enrubescer qualquer cafajeste.

E a vida transcorria “normalmente”...

Naquela segunda-feira Juventino foi chamado ao setor do pessoal(a empresa era antiga e não adotara o codinome de RH)

- Fica esperto malandro, você está há muito tempo por aqui, mas tempo de serviço não te garante, quanto mais velhas as vivências mais rápido se rompem as correntes!

Saiu da sala apavorado, meio envergonhado, não aprendera nada de novo em 50 anos, onde iria “encostar o cadáver” prestes a se aposentar?

Final de expediente.

Pegou o “buzão” e se mandou para um bairro distante.

Desembarcou num beco fétido cheio de butecos e prostitutas.

Do bolso do puído paletó sacou duas notas de R$ 10,00.

Entrou no primeiro bar.

Ambiente mal iluminado, pestilento, com alguns clientes de olhos avermelhados e falta de dentes mas cheios de amor pra dar...

 O botequeiro careca e barrigudo bradou: o que é que manda meu chapa?

- Quero um copo grande de cachaça, por favor!

Tomou uma, duas...perdeu a conta...

Uma velha prostituta se aproximou:- vamos fazer neném garotão?

Topou.

Mais de 25 anos sem gozar, foi às nuvens.

Madrugada.

Cansaço, frio e embriaguês.

O barrigudo aproximou-se:” temos umas contas para acertar seu vagabundo”!

Um fio de lucidez faiscou em sua mente.

- Tenho "vintão" e o relógio de estimação meu amigo.

- Não basta seu bastardo, deixe sua jaqueta, a camisa e os sapatos também...

Posto na rua da amargura, com toda a pompa: aos tapas e pontapés Juventino ziguezagueou até o nascer do sol.

Sentia frio, uma desilusão extrema... nem lembrava como chegou em casa.

Chegada rebordosa, “acolhido” com toda a presteza, não suportou a “ternura”...

Proferiu todos os impropérios que conhecia, vomitou no sofá, jogou no lixo os chocolates e salgadinhos, derramou os refrigerantes na privada, quebrou a televisão, fez imensos “elogios” à sogra e à mulher e foi pras “cabeças”... pirou de vez.

Agrediu e foi muito agredido, desmaiou pelos cacetes recebidos e pelos efeitos da fantástica bebedeira.

N’outro dia soube na prisão: estava desempregado, expulso do “lar” e definitivamente varrido do mundo “encantado” de Flora e Orozima.

Contundente o B.O. – acusações graves: lesões corporais, abandono de lar, tentativa de homicídio, etc, etc...

Após alguns meses a sentença: 8 anos de prisão.

O advogado dativo pouco argumentou em seu favor.


"Tava" nem aí, não ganhava nenhuma "merreca" mesmo...

Só, amargurado, sem parentes ou amigos Juventino “curtia os dias do pensionato prisional”.

Alguns anos depois a liberdade condicional.


Ah... liberdade... liberdade...

Não sabia se sorria ou chorava, tudo lhe era grandemente indiferente e sem sentido.

Aprendera um pouco de artesanato na “universidade prisional”, afinal guardara algum bagulhinho.

Tornou à terra natal, ao bairro ...o casebre não mais existia.

Perguntou para um antigo morador:

- sua mulher e sogra escafederam-se daqui, deixaram muitas dívidas, desaforos e desavenças...

Voltou à rodoviária.

Pediu um cafezinho e um pão amanteigado.

Devorou em segundos o “banquete”, saciou-se.

Foi conferir o resultado da Mega Sena:

05 – 08 – 18 – 20 – 55 – 56

Incrédulo, pediu à moça da lotérica que confirmasse a aposta.

- O senhor é um vencedor, parabéns, está bilionário, pois ganhou o prêmio maior.

Bem que Juventino tinha um palpite:

05 – Fora abandonado no orfanato;

08 – O número de filhos de seus pais e os anos de prisão;

18 – Saída do orfanato e casamento com a Flora;

55 – A idade de sua amada mulher;

56 – Sua idade atual.

Lágrimas encheram-lhe os olhos, um tremor tomou conta de seu corpo, enfim a felicidade batera-lhe a porta...

Que lástima, não foi assim... nosso injustiçado herói teve um infarto fatal.

A mulherzinha e a “querida” sogra foram localizadas no Cabaré da Florzo em Belford Roxo.

The end: uma cruz de madeira no túmulo de terra batida com os dizeres:

“Aqui jaz um homem honesto, feliz e muito amado”.

Hoje na mansão de Campos do Jordão, Flora e Orozima (a senhora gorda e flatulenta), ouvem Beethoven, degustam chocolates (importados da Suíça), sorriem aquecidas pela lareira e brindam ao futuro com um encorpado Cabernet Sauvignon... à “Dolce Vita”.




Comente





Marisa Torres


Muito bom amigo... Você é demais.Amei te ler, voltarei com certeza!Marisa Torres.

Responder      21/02/2011

Sueli do Espírito Santo


Olá Maurélio,Sempre é muito bom poder ler teus textos pois nos enrriquecem.Aproveito para desejar-lhe um novo ano repleto das grandes realizações.Com carinhoSueli

Responder      02/01/2011

William Fontenelle


Amigo de letras, meus aplausos e meu abraço daqui do Sul, interessante o causo companheiro.Maurélio, boas festas tchê, cerveja, churrasco e chimarrão pra comemorar

Responder      23/12/2010

Adriana Campos


Oi Maurélio, conto insólito regiamente pormenorizado, desgraças de um à favor de imerecidas "barangas"Parabéns, gostei de sua maneira de relatar os fatos...

Responder      23/12/2010

Renata Ferreirra


Pobrezito do Juventino, que sina cruel que a vida lhe aprontou, merecia melhor sorte que as duas gaiatas,rssssBjsss

Responder      21/12/2010

Marcela Batista


Uma vida maldita a do personagem, ao final quando poderia desfrutá-la...o trágico final.Dramático e belo seu conto Maurélio, meus aplausos

Responder      15/12/2010

Marcelo Morais


Olá vizinho de letras, um conto que me prendeu a atenção até o the end trágico do protagonista Juventino, que pena, a sogra "peidona" e a prenda desgarrada é que deveriam ter ido pro burado ao invéz deste peão azarado...rsssParabéns pelo grandioso conto e um abraço daqui do sul do querido rincão do Rio Grande.

Responder      14/12/2010

Veronica Haddad


Triste sina de um ser humilde, humilhado e escorraçado, não merecia, mas a vida é uma caixinha de surpresas fazendo sofrer os inocentes.Conto tristonho e magnífico, adorei seu espaço, bjs

Responder      14/12/2010

Dora Andrade


Que azar esta vida do Juventino, não???? Ele merecia melhor destino na vida.Ótimo conto escritor Maurélio, adorei estar por aqui, voltarei breve, bjssss

Responder      14/12/2010

Adriana Constanza


Mas bah!!! Juventino não merecia este castigo. Que realidade atroz! Mas é a vida né Maurélio.Grata pelo conto inédito e bem escrito.Parabéns, bjs

Responder      14/12/2010

Vilma Tavares


É´poeta ..."quem nasceu paraderréis , não chega a tostão" Que o diga o Juventino. Este é o da sua ficção,mas existem outros nesse palco da vida que ainda não viram oSol brilhar.Ficou ótimo. Parabéns!Vilma

Responder      10/12/2010

João Veríssimo


E o acaso do não-acaso, teceu o intrincado do pano cru que o levou á tumba!

Responder      07/12/2010

Maurélio


Muito obrigado querida(o)s amigos pelas visitas e comentários.Abraços à todos

Responder      19/11/2010

Kate Weiss


Meu caro amigo,seu conto, deixou-me presa até o final, prova que tu és realmente um escritor daqueles que a gente quer ler sempre mais. Pena que meu pai não esteja mais por aqui para lê-lo também, com certeza ele também estaria orgulhoso do espaço que conquistaste na literatura da nossa SBS.

Responder      17/11/2010

Dolce Vita


Olá Maurélio! Uma história muito bem construída e com um final surpreendente! Parabéns! Beijos

Responder      16/11/2010

Anne Lieri


Maurélio,sempre um bom texto,divertido apesar da vida dificil do Juventino!Abraços,

Responder      16/11/2010

Patricia Montenegro


Caramba! Pobre do Juventino! Ninguém merece um 'carma' assim. Depois de 'uma vida' assim acho que o infarto foi um 'premio'!Amigo Maurélio: muito bom o seu conto. Muita imaginação e no fundo retrata uma realidade de muitos 'Juventinos' desse nosso Brasil.Abraços,Patricia

Responder      15/11/2010

Ariadne


Credo! Que vida! Afff! Ninguém merece e o pior que tem muito de realidade isso aí! E que nomes esses personagens tem! Rsss! Só acho que as duas tiveram muito bom gosto para quem eram... Rss! Estavam mais para ouvir um pagodão ou um brega do que Bethoven! Rss! Adorei, Maurélio! Uma triste história, mas muito bem narrada! Parabéns, meu amigo! Grande beijo!

Responder      14/11/2010

Juliana Silva Valis


Olá Maurélio, parabéns pela criatividade do conto ! Adorei o texto e o modo como você escreveu foi muito bom e reflexivo, abraços, Juliana

Responder      13/11/2010

Pedro Galuchi


Muito bom! Adoro essas tragedias do dia a dia. Seu espaço está excelente no Jornal. Parabéns

Responder      13/11/2010

Norma Facchinetti


Coitado! Rsrsrsrs... Adorei a idéia, como você desenvolveu a história e o final surpreendente. Parabéns, Maurélio.

Responder      13/11/2010

Xama


Olá querido amigo, esse teu conto é simplesmente espetacular, me lembro de ter lido ele no recanto, e depois de um tempo estive lá e li novamente, alem dos nomes "originais", rs fiquei pensando muito nele e no final que achei muito injusto ...rs acho que Juventino merecia um final feliz..rs.. Um ótimo final de semana querida..Beijos com saudades.

Responder      13/11/2010

Maria Luiza


Sempre que o visito, tenho a certeza de que será um prazer. beijos

Responder      13/11/2010

Hideli Estork Coelho


Pois é, amigo... Por vezes "comemos o pão que o diabo amassou e pisoteou", mas as coisas sempre podem ser piores kkkkkkk Ou melhores, tão aí a Flora e Ozima para não me desmentir... Muito bom seu conto, adoro lê-lo. Bjk para ti e para a Karim!

Responder      12/11/2010

Enise


Muito bom!Um conto divertido e bem escrito...Parabéns!

Responder      12/11/2010

Terezinha


Oh,coitado!! Mas que criatividade!!! Adorei!!bjus

Responder      12/11/2010

Aparecida Coelho


É... Coitado do Juventino (ou não!). Foi ironia do destino... Tragicômico... Também: Orozima, Flora e Florzima não são nomes de pessoas confiáveis, mesmo, né? hahahahaha. A-d-o-r-e-i ! ! ! Beijooossss

Responder      12/11/2010

Rosa Pena


Gostei muito amigo...beleza mesmo Maurélio. beijos rosa pena

Responder      12/11/2010

LunaDIPRIMO


Um conto sensacional e personagens que encontramos pela vida... na medida que se desenvolve a leitura nos perguntamos o que falta para acontecer? Mas, inesperável o deleite das mulheres de sua vida, rsrs... eh, homem azarado esse... Boa leitura Maurélio... Belíssimo conto... Beijos de Luna

Responder      12/11/2010

favodemel


eu adorei!!! maravilha!!! parabéns sempre!!!

Responder      12/11/2010

Vânia Gomes


Meu caro Maurélio! A-DO-REI!! História divertida e muito criativa! Parabéns e um abraço, Vânia.

Responder      12/11/2010

Nena Medeiros


Õ maldade! Que bom que eu não sou a única que gosta de um humor negro!!

Responder      12/11/2010

Lu Genovez


rs! Maurélio, bom demais isso aqui!rs Agora os nomes que arrumaste pras personagens é algo à parte!rs Geniallll! Beijão, meu amigo querido.

Responder      12/11/2010

Elvis Lozeiko


Maurélio, meu camarada: muito bom o texto. Bom mesmo! Fez-me lembrar do saudoso Fausto Wolff. Grande abraço.

Responder      12/11/2010

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