ublicado em 04/05/2011
Bristol (EUA) - E assim se passou que o inimigo público número um dos Estados Unidos foi fuzilado à queima-roupa pelos comandos da Marinha, numa expedição noturna em território estrangeiro, sem que os governantes do país, o Paquistão, fossem prevenidos, notificados, ouvidos ou cheirados.
Agora desenrola-se um interessante dueto diplomático. O inimigo número um, Osama bin Laden, procurado há dez anos, estava num subúrbio da capital paquistanesa, Islamabad, numa mansão conspícua por seu tamanho e pelos altos muros que a cercavam, a 600 metros da West Point do Paquistão: uma grande academia militar.
Os moradores da mansão nunca davam as caras em público e ainda assim ninguém no Paquistão mostrou, ao longo de cinco anos, interesse em saber quem eram?
Me engana que eu gosto.
O Paquistão é o segundo maior país muçulmano do planeta, formado quando a Índia se tornou independente do Império Britânico e originalmente dividido entre Paquistão Ocidental e Paquistão Oriental, a cerca de 1.600 quilômetros um do outro.
O Paquistão Oriental moveu uma guerra de secessão e virou Bangladesh, país de mínima importância no cenário mundial.
O Paquistão Ocidental ficou Paquistão puro e simples: um país com mais de 170 milhões de habitantes, situado numa região altamente estratégica para a NATO e os Estados Unidos, uma nação muçulmana, detentora de armas atômicas, com grande peso no cenário mundial.
E aí reside o problema. Os Estados Unidos dependem do Paquistão para abastecer e conduzir suas operações militares contra o Taliban, no Afeganistão. Os Estados Unidos sabem que o governo paquistanês é um agente duplo, de mínima ou nenhuma lealdade, mas não podem simplesmente depô-lo e substituí-lo porque, reza o velho ditado, é melhor o diabo que você conhece do que o que você não conhece. Os Estados Unidos são odiados pela maioria da população do Paquistão, seguidora do islamismo, que vê os americanos como infiéis, uma força cristã de ocupação.
Por uma questão de política interna, o governo de Barack Obama não podia pensar em simplesmente prender Osama bin Laden. Não teria condições para submetê-lo a um julgamento por tribunais civis, depois do fiasco da tentativa de fazer o mesmo com Khalid Sheikh Mohammed.
Teve que matá-lo, mesmo desarmado, e ainda assim é obrigado a aturar políticos republicanos proclamando que a captura de Osama bin Laden só foi possível por causa de confissões obtidas sob tortura.
Se Barack Obama admitir que é preciso torturar presos muçulmanos, suas relações com o vasto mundo islâmico só poderão piorar.
Agora, Barack Obama precisa mostrar dureza na política interna americana, para poder se reeleger. Na política externa tem que pisar em ovos, porque, graças a suas armas nucleares, o Paquistão não é um mero tigre de papel.
Matar Osama bin Laden foi a parte fácil