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"A carga tributária é muito injusta com a população"

Segunda, 02 de maio de 2011

Ex-presidente da Embraco (Empresa Brasileira de Compressores, líder mundial em sua área de atuação) e atual vice-presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij), Ernesto Heinzelmann comandou a companhia joinvilense na época em que a mesma passou a atuar no mercado chinês, em 1995. Ele esteve presente na reunião da Associação Empresarial de São Bento do Sul (Acisbs) na última segunda-feira, falando sobre o Movimento Brasil Eficiente (leia nas páginas 5 e 6), que começa a ganhar força inclusive na mídia nacional. O projeto, que luta pela melhor aplicação do dinheiro público, tem como um dos seus slogans: "Imposto: reduzindo esse peso, nada segura o Brasil". Após suas considerações na Acisbs, Ernesto Heinzelmann conversou com o Evolução, concedendo a presente entrevista.

 

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"(...) Se tornaria um círculo virtuoso, com mais gente empregada, com salários melhorando, com mais gente consumindo, com a indústria produzindo mais - enfim, com a economia toda se realimentando, coisa que outras nações já usufruíram no passado" (Foto Elvis Lozeiko/Evolução)
 

EVOLUÇÃO - No restaurante da Associação Empresarial de São Bento do Sul, conversamos com o senhor Ernesto Heinzelmann, vice-presidente da Associação Empresarial de Joinville (Acij). Uma das metas do projeto é fazer com o que Brasil cresça 6% ao ano até 2020, o que possibilitaria que a renda per capita do brasileiro dobrasse. É um desafio e tanto!

ERNESTO HEINZELMANN - É um grande desafio - mas antes tem a lição de casa para fazermos. É isso que o Movimento Brasil Eficiente propõe: uma reformulação fiscal do país, com redução de gastos correntes por parte do governo, com liberação maior de recursos para investimentos e redução de carga tributária. Isso vai fazer com que a economia possa crescer sem sobressaltos, de uma forma consistente e constante, gerando mais emprego - e, como consequência, uma renda maior por pessoa no Brasil.

 

EVOLUÇÃO - O que reverteria em uma qualidade de vida maior à própria população.

ERNESTO HEINZELMANN - Se tornaria um círculo virtuoso, com mais gente empregada, com salários melhorando, com mais gente consumindo, com a indústria produzindo mais - enfim, com a economia toda se realimentando, coisa que outras nações já usufruíram no passado.

 

EVOLUÇÃO - O maior exemplo que o senhor citou foi a Coreia do Sul, certo?

ERNESTO HEINZELMANN - O Japão, principalmente após a Segunda Guerra Mundial, era um país pobre e extremamente destruído. Também tem a Coreia do Sul, coisa de vinte ou vinte e cinco anos atrás. Tem a China, também, que possivelmente é o melhor exemplo de todos. A China deixou a Revolução de Mao-Tsé Tung para trás há trinta ou trinta e cinco anos, se tornando num país extremamente colonial, com uma população extremamente pobre, para se transformar na segunda economia do mundo.

 

EVOLUÇÃO - O senhor falou bastante na redução dos gastos públicos, mas não podemos esquecer que isso deve acontecer não apenas na esfera federal, porque existem os governos estaduais e os próprios governos municipais.

ERNESTO HEINZELMANN - É no governo de uma forma geral - federal, estadual e municipal -, como procuramos fazer nas nossas empresas, cortando todos os gastos possíveis para propiciar capacidade de crescimento, com produção mais moderna, com máquinas mais novas. Ou seja: uma gestão profissional, como fazemos nas nossas empresas, deve ser reproduzida em nível de governo.

 

EVOLUÇÃO - Certo! É que as pessoas, de maneira geral, querem falar só de Brasília, mas esquecem do seu próprio quintal, dos seus próprios Poderes Executivos locais. Não é mesmo?

ERNESTO HEINZELMANN - Não é mal falar de Brasília, porque é das grandes lideranças que devem vir os bons exemplos. Tenho certeza que se o governo federal tomar uma iniciativa nesse sentido, os Estados e os Municípios vão segui-lo. O país precisa de uma liderança forte, de uma liderança que tenha metas claras e objetivos positivos para o próprio país e para a sua população.

 

EVOLUÇÃO - O senhor deixou bem claro em suas explanações que não é necessária uma mera "reforma tributária", mas uma "readequação fiscal". Isso não passa primeiro por uma reforma política?

ERNESTO HEINZELMANN - Tem vários estudiosos que defendem essa posição - que, de fato, a primeira das reformas deveria ser a reforma política, porque o Brasil não está bem representado pelos políticos no Congresso Nacional. Fica muito difícil uma cobrança por parte dos eleitores. A grande maioria da população não lembra em quem votou na última eleição. Essa é a grande verdade. Porém, isso não deve ser um impedimento para que busquemos o que podemos fazer, que é uma reformulação fiscal, que olhe tanto o lado da receita como o da despesa, de maneira que sobre mais para investimento e reduza a carga tributária.

 

EVOLUÇÃO - O senhor também comentou que as indústrias que realmente agregam valor já não têm mais competitividade. Estamos desindustrializando o país? É isso que está acontecendo?

ERNESTO HEINZELMANN - De fato. O Brasil está importando cada vez mais bens de consumo. Hoje, qualquer pessoa que vá ao supermercado compra produtos chineses, indianos, paquistaneses... muitas vezes a marca está até meio escondida, mas, de fato, já não são mais produtos feitos no Brasil. O país perdeu praticamente toda a sua capacidade de exportar.

 

EVOLUÇÃO - A não ser as commodities...

ERNESTO HEINZELMANN - A não ser as commodities, que estão com o preço internacional muito elevado. Aqui na região de São Bento do Sul há um exemplo bem claro. A cidade tem sentido tremendamente. Uma indústria moveleira que era de ponta no Brasil, que exportava seus produtos para o mundo inteiro, agora está se voltando mais e mais para o mercado nacional. Obviamente que, para o tamanho da indústria moveleira da região, o Brasil é pequeno. Então, é um problema social. A industrialização no Brasil é algo extremamente prematuro. O Brasil não está pronto para isso. Não há poder de consumo que faça a área de serviços sustentar o giro econômico do país. Porém, a indústria tem que estar presente - pois é ela que hoje  gera mais riqueza e empregos, sem dúvida nenhuma.

 

EVOLUÇÃO - A Embraco entrou na China em 1995. O senhor presidia a empresa nesta época, certo? Que realidade encontrou no gigante país oriental na ocasião e que paralelo o senhor faz com a realidade da China hoje?

ERNESTO HEINZELMANN - A China, no começo da década 90, era um país totalmente diferente do que é hoje. Era um país com infraestrutura muito modesta, com aeroportos muito ruins, a própria população conhecia muito pouco sobre como atender uma pessoa que vinha do exterior, havia processos extremamente burocráticos. A própria forma de se fazer negócios na China era muito difícil. O governo estava envolvido em praticamente todo e qualquer movimento que se fizesse. Hoje, a China é uma economia moderna. A infraestrutura da China é uma das melhores do mundo, atualmente. A burocracia tem caído. O governo se intromete cada vez menos na condução econômica. É um país pujante, de fato, com uma população orgulhosa do que está construindo. São milhões e milhões de chineses que saem da linha da pobreza todos os anos. É uma coisa extremamente admirável.

 

EVOLUÇÃO - Para encerrarmos: em suas explanações, ouvimos falar de diversos pontos deficientes do Brasil, ou seja, vários problemas que devem ser resolvidos, como gastos públicos elevados, poucos investimentos, falta de infraestrutura, educação precária, saúde precária, etc. Porém, vamos falar um pouco também do Brasil que funciona? Devemos reconhecer que o país melhorou em alguns aspectos nos últimos anos?  

ERNESTO HEINZELMANN - Acho que melhorou. A política macroeconômica do país foi muito responsável nos últimos anos. Em função disso, o Brasil tem recebido investimentos externos muito grandes. Avançamos, certamente, na questão social - talvez não da maneira como muitos gostariam, pois foi mais de forma assistencialista do que através da educação com trabalho. Mas houve uma evolução social, não há dúvida. Porém, o país continua sendo extremamente injusto. A carga tributária é muito injusta com a população. Cobra-se muito, mas a qualidade dos serviços que recebemos em troca é muito ruim - isso quando existem!  O brasileiro passou a ganhar mais, mais gente está empregada, todos têm o direito de passear no final de semana, ir à praia, mas acaba encontrando o problema da infraestrutura, que não tem estradas à altura. A BR (101) aqui na região sul já está em construção há doze anos - e só vai ficar pronta em 2016, com muita sorte. Os aeroportos estão entupidos de gente, porque viajar de avião se tornou algo possível para uma grande parte da população, que acaba sofrendo com a má qualidade dos serviços nessa área. E assim vai! Se levarmos isso para o setor produtivo, veremos que é necessário distribuir produtos, que é necessário gerar negócios.

 

EVOLUÇÃO - Tem o exemplo da BR-280, aqui mesmo, com filas enormes de caminhões que não têm com escoar a produção para o Porto de São Francisco do Sul.

ERNESTO HEINZELMANN - Exatamente. Veja a BR-376, que liga o sul do Brasil ao sudeste: está parcialmente fechada há meses. Então, são coisas com as quais não deveríamos mais nos conformar. Como eu disse hoje, nós trabalhamos até o mês de maio apenas para pagar os impostos do governo. Quando digo "nós", não me refiro apenas aos empresários, mas à população em geral, porque os impostos estão embutidos nos preços dos produtos.

 

EVOLUÇÃO - Ok. Algo mais, senhor Ernesto?

ERNESTO HEINZELMANN - Seria isto. Muito obrigado. Agradeço pela oportunidade.



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