Cléverson Israel Minikovsky (Pensando e Repensado)
Advogado
Filósofo
Jornalista (DRT 3792/SC)
No livro de Juízes, capítulo 6, está escrito que um anjo do Senhor assentou-se debaixo de um carvalho e observava a Gideão. Até este momento o anjo não havia aparecido. Isto significa, caro leitor, que, ao ler este artigo, quem sabe, está ao seu lado um anjo muito embora você não possa vê-lo. Gideão estava malhando trigo no lagar. Ora, porque alguém iria malhar trigo no lagar se ele se prestava a amassar uvas e o lugar de malhar o trigo é no moinho? Simples: por medo dos midianitas. O versículo 12 fala que, então,” o anjo apareceu e disse: o Senhor é contigo, homem valente”. Ou seja, o Senhor, através desta epifania, não apenas apareceu, e toda aparição é transitória, mas falou com Gideão. Ora, a palavra é permanente. E ainda chamou-lhe de “valente” ele que tinha que malhar o trigo no lugar errado por medo dos midianitas. Gideão conversa com o anjo: “não foi o Senhor que nos tirou das mãos dos egípcios e agora, no entanto, nos desamparou nas mãos dos midianitas?”. Então o Senhor lhe disse “vai nessa tua força e livra Israel das mãos dos midianitas”. A pergunta é: que força??? E adiante ele diz “como eu vou fazer isto? A minha família é a mais pobre em Manassés e eu sou o filho caçula de minha família!”. Ou seja, aqui estava a força de Gideão: a sua humildade. Ele tinha um conceito de si mesmo altamente humílimo. Então Gideão trouxe um cabrito e pães ázimos de um efa e caldo. Então o anjo disse: “Pega a carne e os pães ázimos e põe o caldo sobre eles”. Ou seja, Gideão era um adorador além de um baita de um humilde. E o interessante é que Deus ensina os seus adoradores a Lho adorarem. Ou seja, “coloca o caldo sobre a carne e os pães ázimos”. Logo em seguida, à noite, por medo dos judeus idólatras, derrubou o altar a Baal e edificou no seu lugar um altar ao verdadeiro Deus. Ou seja, Gideão teve que correr risco de vida para agradar ao Senhor. Muita gente podia não gostar daquilo que Gideão fizera. Por causa da fidelidade e da obediência com que Gideão ouvira ao Senhor ele conseguiu derrotar os midianitas que até então subjugavam os israelitas. E interessante que não levou todo o Israel para batalhar contra os midianitas, mas apenas uns poucos que venceram aos midianitas que eram numerosíssimos. Isto prova que além de o modo como Deus olha as pessoas ser diferente, igualmente distinta é a matemática de Deus. Para Deus um reduzido pelotão pode derrubar poderosos exércitos. No mesmo livro de Juízes faz Sanção derrubar mil homens com a queixada de um burro. Fechando este artigo com uma reflexão filosófica, podemos dizer que o oriente está muito mais próximo das sagradas escrituras do que o ocidente. Aqui os expoentes dos grandes movimentos espirituais e filosóficos são pessoas ricas na acepção materialista da palavra. Na Índia muitas vezes o guru é mendigo e os chelas são homens de negócio e grandes empresários. A sabedoria não está diretamente atrelada à aparência e à projeção patrimonial da pessoa. O cinismo enquanto escola pós-socrática grega foi um modelo do que estou a falar. A filosofia, assim como a religião, despreza no mundo aquilo que é valoroso, e enaltece o que está com a piúncha sovada em tira. Saul era alto, bonito, humanamente apetecível sob todos os aspectos. Mas Davi era quem se comportava segundo o coração de Deus. Tanto o conteúdo das Sagradas Escrituras quanto o conteúdo da reflexão filosófica se aparta daquilo que é prestigiado pelo senso comum. Digo que não apenas podemos ter uma única vida e dois estilos de vida, como ainda podemos fazer do cristianismo e da filosofia algo amalgamado numa única e só visão de mundo. A leitura das Sagradas Escrituras faz com que eu me sinta melhor filósofo do que quando estou lendo uma revista, por exemplo, e a prática da filosofia faz com que eu busque cada vez mais aquele que não foi filósofo, o Cristo, porque o filósofo é um buscador da verdade e Cristo é a própria verdade.