Pelo menos dois navios carregados de gasolina chegam nesta semana ao País para garantir o abastecimento do combustível. A disparada do preço do álcool nos últimos dois meses levou motoristas de carros flex que antes abasteciam com etanol a migrar para a gasolina, provocando necessidades de importação - não somente do derivado de petróleo, mas também de álcool anidro, que é misturado à gasolina. Resultado: o País está importando cerca de 440 milhões de litros dos combustíveis.
De acordo com a Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), cerca de 200 milhões de litros de álcool anidro estão vindo do mercado americano - criticado por especialistas por usar o milho menos eficiente que a cana-de-açúcar brasileira. A informação é confirmada por distribuidoras de combustíveis, que compram o produto de usineiros. O volume é suficiente para abastecer o País por cerca de 10 dias.
Foto: Eudes Santana/Divulgação Ampliar
Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, é um dos 4 projetos da Petrobras para aumentar capacidade de refino de petróleo
"Só não faltou produto por causa desta importação. No início do ano, pedimos ao governo para reduzir a quantidade de álcool anidro à gasolina, mas ninguém achou que fosse faltar o produto. Mas os estoques não suportaram o aumento da demanda", afirmou ao iG o presidente da Fecombustíveis, Paulo Miranda Soares.
Se o governo tivesse aceitado a redução da mistura de anidro na gasolina, a Petrobras teria de importar ainda mais combustível do que já está fazendo, num momento desfavorável para a estatal - em que o preço do derivado sobe no exterior e permanece estável no Brasil. Cerca de 240 milhões de litros de gasolina estão a caminho dos Estados Unidos e da Europa para o Brasil. A quantidade garante ao País cerca de 3 dias de consumo.
Gargalos na logística
De acordo com o presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras de Combustíveis (Sindicom), Alísio Vaz, não há problemas de desabastecimento, embora alguns jornais locais da região Centro-Oeste tenham noticiado nos últimos dias demora de algumas horas para abastecer em postos de gasolina.
"Não temos problema de fornecimento de nenhum produto. O que temos são alguns gargalos no transporte, dificuldade para receber rapidamente o álcool anidro, já que os fornecedores estão adaptando a logística de álcool hidratado para anidro", relata Vaz.
No final de março, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) emitiu resolução que permite aos usineiros acrescentar até 1% de água ao anidro, percentual que antes era de 0,4%. A medida abriu caminho para a importação do combustível, já que outros países trabalham com a adição de 1% de água.
"A migração do consumo de etanol para gasolina era previsível, já sabíamos que isso aconteceria, só não sabíamos quando", acrescenta o representante das distribuidoras.
Queda no consumo de etanol
Uma grande distribuidora relata que 90% dos seus clientes estão abastecendo com gasolina e apenas 10% com etanol. Antes do repique de preços nas usinas de álcool, a proporção era de 60% para gasolina e 40% para álcool, segundo a distribuidora. De acordo com o Sindicom, o consumo de etanol recuou 70,5% em abril em relação à média do primeiro bimestre do ano. E a demanda por gasolina, por sua vez, aumentou 27,5%.
O álcool hidratado, que abastece os automóveis, ficou cerca de 25% mais caro nos últimos dois meses. Além do período de entressafra, preços mais atraentes do açúcar no mercado internacional atraem usineiros e reduzem a oferta de etanol no mercado doméstico. Com o encarecimento, o uso de gasolina fica mais vantajoso para o consumidor.
Para dar conta do aumento do consumo de gasolina e outros derivados, a Petrobras tem em andamento 4 projetos de refino no País: a Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco; o Comperj, no Rio de Janeiro; e duas refinarias premium, uma no Ceará e outra no Maranhão. (Fonte IG)