Animais protegidos, animais desprotegidos

Situação será discutida em Audiência Pública a ser realizada no próximo mês

Caso atendido em maio do ano passado: a cachorrinha estava com um corte na cabeça, após ter levado uma pancada (pedaço de pau ou foice). Escapou dos atos violentos, mas estava perdendo a luta para uma bicheira. Socorrida, recuperou-se e hoje é a alegria de uma família (Fotos APA/Divulgação)

Em maio, provavelmente numa quinta-feira à noite, deve ser realizada Audiência Pública na Câmara de Vereadores para discutir uma questão que há muito preocupa: a situação de animais em São Bento do Sul, notadamente a de cães abandonados. O vereador Josias Terres (DEM) inclusive já apresentou Requerimento, inicialmente solicitando que a audiência fosse realizada no dia 31 de março, data que teve de ser adiada. Segundo o parlamentar, o principal objetivo é "escutar as pessoas que estão diretamente ligadas" ao assunto, como a Associação de Proteção aos Animais de São Bento do Sul (APA) e as clínicas e canis, por exemplo, além das "pessoas que têm interesse", conforme suas palavras.

Posse responsável, castração e identificação são alguns dos pilares que devem ser trabalhados, para, na definição do vereador, "dar um passo na direção da regularização" da questão. Josias explica que recentemente esteve na prefeitura e deparou-se com uma pessoa no gabinete do prefeito Magno Bollmann querendo uma solução para o caso que tinha acabado de acontecer: para não atropelar um cachorro abandonado na rua, precisou desviar do mesmo e quase causou um acidente de trânsito. Tal pessoa inclusive estava com o cachorro em seu carro, pretendendo dar uma destinação correta ao mesmo. Josias acabou, na ocasião, conversando com o chefe de Gabinete da prefeitura, Cláudio Schultz - e a decisão tomada foi enviar o cachorro a um canil de São Bento, conforme o vereador.

Cãozinho sem uma das pernas - o adotante também tem uma das pernas amputada e se comoveu com o caso

ENTIDADE SEM FINS LUCRATIVOS

Semanalmente os leitores do jornal Evolução e do saite jornalevolucao.com.br acompanham a coluna da APA, denominada "É o Bicho!" (página 18), que apresenta inúmeras situações envolvendo animais. Na semana passada, por exemplo, teve bastante repercussão a divulgação do vídeo de um cachorro enforcado nas proximidades do autódromo de Rio Represo, em São Bento do Sul. Nesta semana, além de mais um caso cruel envolvendo cão abandonado, há informações sobre a Feira da Adoção, que acontece neste sábado. Constituída legalmente em outubro de 2007, a APA é uma entidade sem fins lucrativos e tem trinta integrantes - dentre eles, doze na diretoria. A mensalidade é de R$ 10,00. A associação também recebe algumas doações da comunidade e contribuições de empresas. O atual presidente da APA é Márcio Ronska, que tem Daniele Gassner na vice-presidência.

Ambos estiveram no escritório do jornal, no Shopping Zipperer, na semana passada, revelando alguns detalhes dos trabalhos realizados pela associação. A situação de cachorros abandonados é uma das que mais tem registros. "É extremamente difícil achar lar para os cães, principalmente adultos", disse. A posse responsável também é outro aspecto preocupante. Mediante alguma denúncia ou flagrante, junto aos proprietários que não mantêm os animais em condições adequadas é feito um trabalho de orientação primeiramente.

Dependendo da situação, dá-se um prazo de oito dias para que a mesma seja regularizada. Se não houver resolução, o caso vai parar na Delegacia de Polícia, com registro de Boletim de Ocorrência e representação criminal. Em alguns casos, porém, os proprietários recebem dicas e aconselhamentos dos voluntários da APA. "Às vezes, por falta de orientação, a pessoa não está mantendo o animal em condições", pondera Deniele.

Membros da APA em reunião com a Vigilância Sanitária; à direita, o presidente Márcio Ronska (Foto Elvis Lozeiko/Evolução)

PARCERIA FIRMADA COM O MUNICÍPIO

Ainda na semana passada, integrantes da associação reuniram-se com a diretora do Centro de Vigilância à Saúde (CVS), Maria Hercília de Souza, e com o chefe de divisão de Vigilância Sanitária e Ambiental, Czeslaw Kosciarz. O presidente da APA iniciou suas considerações pedindo uma transparência maior nas ações do órgão, ou seja, "o que a Vigilância Sanitária vai fazer e não vai fazer" em 2011. Márcio também reiterou que "a APA não recolhe animais", destacando que já houve situações em que pessoas da própria Vigilância teriam indicado a associação a populares.

A diretora do CVS, contudo, igualmente destacou: "A APA nos faz inúmeros encaminhamentos e também sabe das nossas limitações". Segundo Maria Hercília, só existe um trabalho de recolhimento de animais para um canil de São Bento do Sul porque foi uma determinação do prefeito Magno Bollmann e do secretário de Saúde, Marcus Maluf. "Não há uma serviço público específico instalado em São Bento do Sul", frisou a diretora.

Em 2010, de acordo com Czeslaw, foi aberto processo de licitação para contratação de clínica especializada para cuidar de determinados casos. "Não apareceu nenhuma clínica", revelou. A castração de animais, principalmente de cães, acabou tendo de ser feita em um canil local. A Vigilância Sanitária, através da Secretaria de Saúde, disponibilizou R$ 2 mil mensais para este e outros serviços. Agora em 2011, apenas uma clínica - de Rio Negrinho - se habilitou, vencendo o processo. Também será investido um valor aproximado de R$ 2 mil por mês.

Agora, na presente semana, a APA recebeu a notícia, em nova reunião, de que a prefeitura repassará mais uma verba - R$ 22,5 mil para este ano. A subvenção ainda depende de aprovação da Câmara Municipal. "Aguardamos o voto favorável de todos os nobres vereadores, dando o aval a essa verba, nos possibilitando, assim, fazer mais em prol dos animais", registra, complementando: "Deixamos claro que infelizmente nem todos os animais poderão receber auxílio ou serem recolhidos".

VALORIZAÇÃO DO TRABALHO

Como contrapartida, a APA procurará aumentar o número de lares provisórios/temporários para os animais que estiverem em tratamento. "Ainda iremos acertar alguns detalhes referentes à parceria para deixar tudo muito claro e sem maus entendidos no futuro", diz Márcio. "É inegável que ver nosso trabalho sendo valorizado é muito bom e que este é o começo de um trabalho longo e grandioso em São Bento do Sul", acrescenta. "Estamos contentes com essa valiosa colaboração do poder público de São Bento do Sul e não há dúvidas que iremos utilizar este recurso da melhor forma possível na luta em defesa da vida animal, principalmente no quesito castração, evitando assim que mais animais sejam abandonados ou sofram todo tipo de necessidade e crueldade".

"Com relação aos lares provisórios", acrescenta Márcio, "iremos na medida do possível aumentar o número de pessoas interessadas em ajudar". Ele frisa: "Como já fazíamos anteriormente, forneceremos a ração, a medicação e o responsável pelo lar provisório entrará com seu trabalho e carinho para com o animal que esteja sendo abrigado em sua casa até sua total recuperação ou adoção". Caso não haja adoção, porém, o animal tem que voltar ao local de origem. "Nossa intenção é não deixar que nenhum animal volte às ruas, trabalhando firme na questão da adoção ao invés da compra de animais". O presidente da associação também deixa claro: "A APA não vai gastar dinheiro com cão com dono, porque ele é o responsável legal". (E.L.)