RIO - O ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, demonstrou desconforto ao ser questionado, ontem, sobre a possibilidade de alguns dos 11 suspeitos de terrorismo presos na Operação Hashtag, iniciada na quinta-feira, serem soltos e monitorados por tornozeleiras eletrônicas. A informação foi revelada ao GLOBO pelo juiz da 4ª Vara Criminal da Justiça Federal em Curitiba, Marcos Josegrei da Silva, responsável pela decisão que levou o grupo à cadeia. Mesmo dizendo não entender as razões para uma eventual libertação dos acusados, Etchegoyen evitou polemizar e disse que forças de segurança já monitoram, com o uso de uma tornozeleira eletrônica, um empresário suspeito de terrorismo em Chapecó, em Santa Catarina.
— Eu não tenho como entender, não sei as razões do juiz. Mas, em qualquer circunstância, todas as ameaças aos Jogos serão monitoradas — disse o ministro durante uma solenidade que marcou o início das ações de segurança na Olimpíada, realizada na sede do Comando Militar do Leste (CML), no Palácio Duque de Caxias, no Centro.
Etchegoyen exaltou a eficácia da Operação Hashtag, realizada pela Polícia Federal, e destacou que os acusados ainda estão presos. Nos bastidores, no entanto, a cúpula da segurança dos Jogos admitiu incômodo com a possibilidade de os acusados serem soltos, embora diga confiar no monitoramento dos serviços de inteligência.
Ao GLOBO, o juiz Marcos Josegrei da Silva afirmou que se preocupa com o risco de a Operação Hashtag ser confundida com preconceito religioso.
— Dos 12 presos, é possível que não se encontre nada em relação a alguns além de conversas. É possível que polícia e Ministério Público concluam que basta que aquele sujeito seja monitorado por tornozeleira eletrônica para que não chegue perto da Olimpíada ou de aeroportos, por exemplo. O risco fica bem diminuído — disse o juiz.
O empresário de Santa Catarina monitorado pela Polícia Federal é Ibrahim Chaiboun Darwiche, que está proibido de deixar Chapecó, de se aproximar de escolas, aeroportos ou cursos e atividades que envolvam armas de fogo. Ele teria gravado um vídeo em apoio ao ataque terrorista contra o jornal francês “Charlie Hebdo”, em janeiro do ano passado. Policiais encontraram na casa do suspeito anotações de aulas de um curso que ensina como um sniper atira.
“É PRECISO REDOBRAR ESFORÇOS”
A recente escalada de atentados terroristas, incluindo os de Munique, na Alemanha, e Cabul, no Afeganistão, deixou em alerta as forças de segurança dos Jogos. Também presente na solenidade de ontem, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, classificou os últimos ataques como “uma febre” e disse que o país precisa “redobrar esforços” e se preparar “para o convívio com situações e eventos que vieram para ficar”.
Jungmann citou uma frase do primeiro ministro da França, Manuel Valls. Na última terça-feira, Valls disse que “os franceses terão que aprender a conviver com a ameaça”. Ele se referia ao atentado em Nice, que matou 84 pessoas no último dia 14.
— Ainda ontem, depois do atentado, Angela Merkel (chanceler alemã ) perguntava “qual é o lugar seguro?”. Ela se referia à Alemanha. No que diz respeito à prevenção, às atividades de inteligência e ao preparo das forças, está sendo rigorosamente cumprido tudo que requer o caderno de encargos dos Jogos. É assim que nós podemos nos contrapor a essa febre, a esses eventos que vieram para ficar — disse o ministro da Defesa. — Hoje, os alvos são difusos e não há uma relação orgânica entre quem pratica e quem organiza um ato de terror. Há que se redobrar esforços e compreender que é uma nova realidade. Não apenas para os Jogos, mas para todo mundo. Vamos ter que nos preparar para conviver com esse tipo de situação.
Segundo o ministro, há, para a Olimpíada, uma cooperação internacional de inteligência com cem países.
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