Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
São Bento do Sul possui uma história de 1º de abril muito bem sucedida - embora ela, provavelmente, não tenha acontecido neste mês. É difícil acreditar que diante de tamanha mentira os seus autores tenham conseguido levar uma vida normal na cidade depois do episódio. Segundo eles, nunca houve nenhuma represália. O certo é que boa parte da cidade foi enganada. O magnífico cônsul da Alemanha, afinal, não veio visitar São Bento.
Bailes para o imperador
Aconteceu no final de 1898, ou começo de 1899. Os imigrantes boêmios de São Bento haviam fundado uma Sociedade Auxiliadora, da qual meu trisavô Frederico Fendrich foi o presidente. Faziam bailes e comemorações, especialmente no aniversário do imperador da Áustria. Nesse dia, desfilavam pelo centro da cidade e os ex-combatentes de guerra exibiam com orgulho suas condecorações.
Em dezembro de 1898, o imperador Franz Joseph completou 50 anos à frente da Áustria. Para comemorar, a Sociedade marcou um grande baile no salão de Josef Zipperer, em frente ao atual Shopping Zipperer. O evento foi um sucesso, mas o salão ficou pequeno demais para tanta gente. Os dançarinos eram obrigados a ficar separados em grupos. Diante disso, a diretoria decidiu mudar a sede da Sociedade. Escolheram, então, o salão de Hermann Knop.
A vingança
Ora, Josef Zipperer sentiu-se profundamente ofendido com essa troca de salões. Afinal, ele era um boêmio legítimo, enquanto que Hermann Knop não passava de um pomerano. Decidiu então se vingar: sabendo que havia sido criado recentemente o Consulado da Alemanha em Curitiba, resolveu simular uma visita do cônsul a São Bento. Escreveu uma carta se passando pelo cônsul e enviou ao presidente Fendrich. Ele e toda a cidade ficaram entusiasmados com tão ilustre visita!
Começaram os preparativos. O Arquivo Histórico guarda até hoje o "Protocolo de Recepção ao Cônsul", em que todas as sociedades da cidade mandam representantes para o evento, e a cerimônia é cuidadosamente planejada. Enquanto isso, Josef Zipperer foi conversar com seu cunhado Josef Linzmeyer, que também havia perdido com a mudança de salão, pois sua cerveja deixou de ser consumida. Linzmeyer tinha um velho trole com dois cavalos. Era o que Zipperer precisava.
O grande dia
No grande dia, o arco triunfal estava montado na Avenida Argolo para receber o cônsul. As autoridades e os alunos estavam posicionados. Os cantores aguardavam um sinal. Theodoro Hermann revia o discurso que iria fazer. Otto Gelbke confirmava o nome das autoridades presentes. Todos os preparativos foram pagos por contribuições voluntárias. Agora era só esperar o homem. Era o ponto alto da história da Sociedade. E então alguém avisou: lá vinha o cônsul!
Todos viram que um trole se aproximava. Em cima dele, no entanto, não havia nenhum cônsul. Apenas Josef Zipperer e Josef Linzmeyer, que acenavam alegremente para a multidão atônita, sem entender direito o que acontecia. O trole passou rapidamente pela comissão de recepção - certamente para que não se recuperassem do susto e percebessem que haviam caído numa peça. Zipperer e Linzmeyer, totalmente vingados, provavelmente riam às gargalhadas.
Alguém supera essa mentira? Um bom 1º de abril!