A serpente

A serpente é o primeiro animal que aparece no livro do Gênesis. Ela era “o mais astuto dos animais”. É a serpente quem sugere a Eva o fruto da árvore proibida. Quando o povo começa a murmurar contra Deus no deserto são enviadas cobras que picam e matam o povo. Então Deus manda fundir a imagem de uma serpente sobre uma haste para que todo aquele que for picado e olhar para a serpente seja salvo. Interessante é que Deus não acaba com as serpentes. Ele apenas manda uma solução para a picadura e a consequência que é a morte. Isto vem ao encontro dos dizeres do Novo Testamento, deixar o trigo e o joio crescer juntos. Quando o Filho de Deus está em vias de encerrar sua missão é erguido no madeiro da cruz. Cristo se faz pecado por nós. Ele atrai para si o castigo que estava preparado para nós. O episódio das serpentes é mais um mistério para nossa fé. Quem sabe Deus não extingue a serpente justamente porque o que caracteriza o ser humano é a dubiedade que oscila entre a santidade e o pecado. Assim, estamos postos num mundo conforme a nossa natureza. Ou como diria um velho pastor que Deus o tenha: Deus é bom, o diabo é ruim e nós somos mais ou menos. Ora, se queremos banir as serpentes de uma vez por todas de nossa vida, temos de abrir mão do pecado por completo. Sejamos um só com Deus e Deus será um só conosco. Este, enfim, é o grande desafio. Se a serpente simboliza o diabo e ela é ostentada, quando Cristo é ostentado, o Filho do próprio Deus é satanizado. O Santo dos Santos é tido como o mais maligno e abjeto dos seres. Isto é o que Deus faz por nós e é a isto que Ele se submete para nos ganhar para Ele. Existe um amor maior e mais absurdo do que este? Quem jamais pecou assumiu os pecados do universo inteiro sobre si. Eu não consigo encontrar um fundamento metafísico mais firme e mais oportuno para a construção de um sistema moral. O requisito para ser cristão é a fé. Mas duma coisa estou certo: a verossimilhança das alegações é algo extraordinário e formidável. Quem puder entender, entenda.