Escritor e Poeta
Natural de São Bento do Sul,SC, casado com Karim Voigt, pai de 2 filhas: Daniela e Fernanda e 1 filho: Fábio Luis, 1 neta Giovanna e 1 neto Eduardo.
Membro da Academia Parano-Catarinense de Letras, ocupando a cadeira de nr. 41.
Membro da Diretoria da Oficina de Poetas - formação de jovens poetas nas escolas públicas.
Membro da Academia de Letras Infanto-Juvenil para Santa Catarina
Municipal de São Bento do Sul
Mérito Literário do Instituto Montes Ribeiro de Curitiba/Pr
Estava muito frio, o mercúrio do termômetro parecia congelado nos 2ºC e a chuva carregada pelo vento sibilante não dava trégua.
A casa estava aquecida, no fogão de lenha tocos de bracatinga crepitavam quebrando o silêncio reinante.
Osvaldo levantara-se cedinho, teria que ir à vila próxima para comprar suprimentos, o armário da cozinha estava quase vazio.
Observou o abrigo ao lado do casebre, o velho pangaré tiritava de frio, precisava arreá-lo para seguir pela trilha lamacenta para chegar à vendinha.
Ranger de porta, ao derredor as árvores contorciam-se castigadas pelo vento, arrepiou-se... da soleira da porta observou a massa de névoa que encobria a vegetação, pios de pássaros ocultos na mata pareciam anunciar nova tempestade.
Fechou a porta. Amanhã irei, hoje não saio de casa nem que a vaca tussa.
Recostou-se no banquinho ao lado do fogão, a chaleira d’água quente lançava vapores de fumaça que se diluíam suavemente no ar.
Da parede acima da mesa da cozinha o velho cuco anunciava: 6:00 da manhã.
Osvaldo empertigou-se, já era hora de um mate quente, o amargo chimarrão, cuia, bomba e erva as mãos, preparou o delicioso chá tão apreciado pela gente do sul.
Ficou ali mateando, matutando sobre a vida, lembranças passadas.
Tornou ao quarto e abriu a porta do tosco guarda-roupa... lá estava ela, a caixa de sapatos em que guardava pequenos mimos e recordações: o par de alianças, óculos de sol, o relógio de pulso, poucas fotografias e algumas desbotadas cartas... o maço de papéis amarelados enlaçados por uma fita azul, titubeou mas assim mesmo desenlaçou-os vagarosamente.
Sentou-se na beira da cama, as mãos tremulavam, desdobrou-as cuidadosamente temendo que se desmanchassem sob o toque áspero.
Transladou-se ao passado, alegres e tristes recordações assomavam-lhe a mente, abriu a carta derradeira, uma violeta ressecada, colada na desbotada carta encimava a despedida:
– Adeus Osvaldo, tenho que partir, não me procure mais, nosso amor é impossível, meus pais jamais aceitariam que eu me casasse com o filho do caseiro de nossa chácara, lembre sempre de mim pois eu jamais o esquecerei, beijos... Renata.
Olhos cheios de lágrimas, Osvaldo largou as cartas sobre a cama e retornou à cozinha, do armário apanhou a aguardente e murmurou: “Até nunca mais, querida!”.