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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Vê se dá uma engordada

Quarta, 17 de fevereiro de 2016

É batata: basta eu encontrar alguém que não me via há muito tempo para que comecem as exortações:

– E vê se dá uma engordada, hein?

Aparentemente, é bastante desconfortável para as outras pessoas que você se apresente diante delas pesando menos do que a média da população. Sobretudo neste país em que os obesos já passam de 50% e podem muito bem eleger um presidente da República. Ou seja, a maior parte da população está tentando perder peso, e precisa fazer o diabo para conseguir se livrar de algumas gramas. Como aceitar então que alguém próximo da gente possa comer à vontade, sem se preocupar com a quantidade de calorias ingerida? É quase possível ler os balõezinhos em cima das pessoas: “Esse sujeitinho se acha melhor do que eu só porque tem um índice de massa corpórea inferior a 20?”.  Ser magro, hoje em dia, é praticamente uma ofensa pessoal, quando não uma falha de caráter – Nelson Rodrigues já dizia que todo canalha é magro. É por isso que não é sem algum ressentimento que é feita a sugestão:

– E vê se dá uma engordada, hein?

Nota-se, portanto, que para essas pessoas engordar é simples questão de esforço e boa vontade, um problema que se resolve colocando mais comida dentro do prato. E é precisamente isso que tentarão fazer toda vez que tiverem a oportunidade de oferecer uma refeição ao magro. Colocarão grandes porções dentro do prato e ai de você se recusar – era só o que faltava ser, além de magro, mal-educado. Ao final, insistirão: “Mas coma mais, nem tocou na comida!”. O magro, para os outros, está sempre a um passo do desmaio e é preciso lhe abastecer de tanta comida quanto possível para que ele pare em pé. Acreditam que nem faz bem à saúde ser magro desse jeito, muito embora, na tentativa de combater esse mal, costumem oferecer guloseimas cheias de açúcar e gordura saturada. É, portanto, para o próprio bem do magro que observam:

– E vê se dá uma engordada, hein?

Por algum motivo, as pessoas não enxergam nessa insinuação nenhum sinal de indelicadeza. Não lhes ocorre que o magro pode muito bem querer engordar e estar sofrendo por não conseguir. Mas, curiosamente, todos achariam uma grande grosseria e elencariam argumentos mil para justificar a própria incapacidade se alguém resolvesse inverter a observação e falar sobre o peso deles:

– E vê se dá uma emagrecida, hein?

Uma pessoa que quer engordar não é muito diferente de uma que quer emagrecer: ao invés de consultar um especialista, irá varrer a Internet atrás de dicas infalíveis e de efeito imediato. Encontrará nutricionistas que recomendam frutas oleaginosas, sobretudo as nozes, que dizem possuir muita gordura boa. O risco de uma dieta que privilegie a ingestão de nozes é que em pouco tempo o sujeito não conseguirá comer qualquer outra coisa, já que, à medida que engorda, o seu saldo bancário emagrece. Tem quem decida recorrer a simpatias. Há uma especialmente poderosa, a simpatia de engordar da lua crescente. Durante 7 dias o sujeito precisa comer 7 barras de chocolate inteiras. Mas tem que ser em noite de lua crescente, se for em outra lua não engorda. Repita essa magia do bem até aparecerem os resultados. Se nem isso funcionar, aí já é oficial: você é mesmo magro de ruim.



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