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Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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O dia em que nós brigamos

Quinta, 15 de outubro de 2015

 

E então houve o dia em que nós brigamos. Isto é, não foi um único dia, mas me refiro àquele em que pensamos “não dá mais” e cada um foi para o seu canto. O engraçado é que não foi por um motivo pelo qual valesse a pena brigar, se é que realmente existe algum assim. Foi por uma besteira, uma daquelas coisas que, se a gente contar a alguém, vão nos olhar incrédulos e perguntar: “Mas foi por isso que vocês brigaram?”. E pior que foi, foi justamente por uma coisa tão à toa como essa que nós brigamos. Mas é um equívoco achar que foi ali que decidimos nos separar. Ah, já fazia muito tempo que não nos entendíamos como antes. Já trazíamos mágoas que nunca haviam sido resolvidas, pequenas coisas que iam se somando e que tiravam a nossa paciência. Já éramos irônicos, já fazíamos provocações, já tínhamos o desejo de ferir…

E parece que a gente sabia que havia de se separar, porque ali, no dia em que nós brigamos, falamos coisas duras que nunca havíamos falado um ao outro, coisas que iriam tornar difícil qualquer tentativa de reconciliação. Revendo hoje, pensando em tudo que dissemos, percebo que muita coisa não era verdade. E parece-me incrível que tenhamos sustentado de forma tão convicta os nossos pontos de vista. Talvez eu nem discordasse de você, em outro contexto, se eu não tivesse a necessidade, tão premente, de provar que estava com a razão. Porque estar com a razão ali, naquela besteira em que discutíamos, significava estar com a razão em todo o resto. É claro que, na hora, eu não sabia que estava sendo tão infantil assim. Achava que devia seguir na minha argumentação, até o fim, mesmo que disso resultasse a nossa separação.

E então houve o dia em que não nos vimos mais. Claro, nem por isso deixamos de pensar no que havia acontecido, de remoer todos os momentos da nossa discussão, de pensar em como seriam as coisas dali para frente, quando não poderíamos mais recorrer um ao outro. Talvez tenha havido um momento em que reconhecemos que aquilo tudo era um grande exagero e que deveríamos passar por cima daquela discussão. Ah, mas era quando vinham à lembrança todas as palavras, todas aquelas ofensas ditas no calor da hora, e no fim das contas cada um achava que quem tinha que pedir desculpas era o outro. Talvez aceitássemos um pedido de desculpas, talvez até desejássemos que ele viesse. Mas ninguém tomou uma iniciativa, nem naquele dia e nem nos que se seguiram, e então a gente foi se acostumando a viver assim, brigados mesmo.

Levamos adiante as nossas vidas, como era natural, mas acho que estarei falando por nós dois se disser que, de vez em quando, ainda pensamos um no outro. E talvez nem seja mais com mágoa, porque essas coisas passam. Há dias em que penso que deveríamos voltar a nos falar, tentar de novo, começar outra vez, do zero. Até porque, nós também temos lembranças muito boas juntos. Mas há outros dias em que penso que, mais cedo ou mais tarde, nossas diferenças iriam aparecer de novo, e então nós brigaríamos e nos desgastaríamos outra vez, e talvez de modo ainda pior do que a primeira. É por isso que eu nada faço, não tomo nenhuma atitude – a não ser recordar, com aperto no coração, o dia em que nós brigamos.



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