Samuel, Saul e os Amalequitas

O Senhor Deus ungiu Saul rei e lhe determinou que exterminasse por completo os amalequitas e inclusive seus rebanhos. Os amalequitas eram descendentes de Amaleque, neto de Esaú. Os amalequitas atacaram os israelitas pela retaguarda quando os mesmos fugiam do Egito. Várias vezes batalharam contra os israelitas, eram derrotados, mas se multiplicavam e voltavam a incomodar. Saul quase que conseguiu cumprir a missão, mas falhou. Falhou até mesmo porque quando o rei seria Davi as mulheres e crianças seriam seqüestradas pelos mesmos. É aí que Davi pede a capa do sacerdote para orar. É que a indumentária caracteriza de tal modo as pessoas que por vezes podemos dizer até mesmo qual a sua profissão pelas vestes. A indumentária chega a ser sagrada da mesma forma que a nudez traz consigo uma agressividade. Voltemos a Saul: ele fez erguer uma estátua para si e disse ao profeta Samuel: honra-me diante dos anciãos e diga a eles que eu cumpri a vontade do Senhor Deus. Mas Samuel é apodítico: o trono lhe será tirado e será colocado outro melhor do que tu na realeza. Eis que escolhestes o melhor do gado e das ovelhas e trouxestes contigo. Ao que Saul respondeu: foi o povo quem trouxe o gado, quanto aos amalequitas, nós os matamos. Estamos diante da dialética “o povo” e “nós os matamos” e devemos atentar para o agente do discurso e da ação. E Saul continua: trouxemos o melhor do gado para oferecer em holocausto ao Senhor Deus. Entrementes o profeta Saul remenica: é melhor obedecer a Deus a cometer o crime de rebelião em nome do culto. Ou seja, mais importante do que os rituais, mais importante do que o holocausto é fazer a vontade de Deus. Isso significa que de nada adianta eu jejuar e freqüentar a missa ou o culto e não fazer a vontade de Deus. Diria que quem não pratica as boas obras quando cultua a Deus, além de não lhe agradar, peca. Poderia parecer a alguém que Deus poderia ser tirano ao determinar que um povo fosse aniquilado. Mas o certo é que os amalequitas nos representam o pecado. E o pecado em nossa vida deve ser totalmente aniquilado. E quando Deus manda matar até mesmo as reses é para mostrar que tudo o que é reminiscência dos amalequitas, isto é, do pecado, deve ser exterminado. Isto significa que devemos joeirar a nossa alma para perscrutar todas as suas dimensões e não deixar nenhum vício ou vicissitude a inquinando. É mais ou menos como um computador fulminado por um vírus, um terrível vírus, que muitas vezes não o eliminamos aplicando nem mesmo o mais sofisticado anti-vírus. Daí é necessário formatar a máquina, é preciso passar pela imersão do batismo. E o mais interessante da conduta que diferencia Saul de Davi é que Saul diante da reprimenda do profeta Samuel diz: eu fiz isso porque..., eu fiz isso mas... Já quando Davi é repreendido pelo profeta Natã por causa da mulher que tomara de Urias, ele simplesmente diz: pequei! E imediatamente se põe em posição de penitente e suplica o perdão a Deus. Deus perdoa a Davi, mas através da boca do profeta lhe anuncia que a espada nunca sairia de perto da sua casa. Deus não quer generais ou políticos, Deus quer um coração puro e todas as vitórias militares e políticas serão dadas por acréscimo àquele que ouve a sua voz. O ensinamento desta passagem nos mostra que devemos nos livrar de todo pecado e de todas as portas de acesso que eventualmente possam ser para nós causa de pecado. É assim que está escrito nos evangelhos “ se a tua mão é causa de pecado corta-a, se o teu olho é causa de pecado arranca-o”. Tamanha deve ser a radicalidade com que devemos rechaçar o pecado.