Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
Facebook Jornal Evolução       (47) 99660-9995       Whatsapp Jornal Evolução (47) 99660-9995       E-mail

Mulher morre ao ingerir mortadela estragada

Terça, 08 de março de 2011

Marido de Benta cobra explicação do atendimento médico no Hospital Regional em Joinville

Dona de casa ficou internada após comer mortadela e morreu sem ninguém saber do que ela sofria

Karina Schovepper - Taísa Rodrigues - Roelton Maciel

Joinville - Os sentimentos de inconformidade e revolta eram nítidos nos olhos do pedreiro Valcedir dos Santos, de 38 anos, que perdeu a esposa na madrugada de desta segunda-feira. A dona de casa Benta Janaína Lamego, de 36 anos, morreu depois dois dias internada no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, em Joinville, com dores abdominais, paralisia facial, fraqueza e boca seca. Deu entrada na tarde da sexta-feira, foi medicada e ficou em observação até a noite de domingo, sem que ninguém chegasse a um diagnóstico. A partir daí, foi encaminhada à ala psiquiátrica do hospital, onde morreu.

Ainda na segunda-feira, o secretário de Estado da Saúde, Dalmo Claro de Oliveira, anunciou por meio do microblog Twitter que a secretaria investigava a causa da morte da mulher. Benta, o marido e um amigo do casal passaram mal na quarta após ingerir uma mortadela comprada em um mercado perto da casa em que morava o casal, em Araquari. A dúvida da secretaria é se o embutido estava contaminado com uma neurotoxina que causa o botulismo, uma doença grave que precisa ser descoberta rapidamente para não causar a morte.

Segundo Valdecir, o casal percebeu que a mortadela tinha cheiro forte.

— Estava dentro da validade e achamos que não havia problema.

Na quinta de manhã, Benta e o marido foram ao Pronto-atendimento de Araquari com sintomas de intoxicação alimentar. Foram medicados e liberados.

Segundo o irmão dela, Hermes Lamego Jr., 32, Benta piorou na sexta. Não conseguia mais engolir nada, sentia falta de ar, boca seca e fraqueza. Hermes levou a irmã de novo ao PA de Araquari, onde novamente recebeu remédio e foi para casa.

Como continuou mal, a dona de casa foi transferida ao Regional, em Joinville, conta o marido.

— Ela não conseguia falar nem tomar água. Mesmo assim, médicos diziam que não era nada, que era coisa da cabeça dela. Vi minha mulher morrer e não pude fazer nada —, diz o pedreiro.

Benta ficou em observação até a noite de domingo, quando foi transferida para a ala psiquiátrica. O marido dela recebeu a notícia da morte por telefone, às 6 horas.

— Ficamos até a meia-noite tentando vê-la, mas depois que a transferiram não deixaram mais entrar no quarto. Então fomos para casa  —, conta ele, que foi surpreendido com a declaração de óbito.

— Disseram que foi morte natural e que não fariam a autópsia.

Inconformado, o pedreiro foi até a Central de Polícia de Joinville registrar boletim de ocorrência e exigir autópsia no corpo encaminhado ao IML da cidade. À noite, ainda não havia sido entregue à família.

— Fiquei sozinho, com três filhos para criar —, desabafa Valdecir, amparado pelos três filhos – um menino de dois anos, e outras duas garotas, de 14 e 16 anos.

INTERNAÇÃO EM ALA PSIQUIÁTRICA

“A Notícia” teve acesso ao histórico de atendimento da paciente Benta Lamego, de 36 anos, que mostra os passos da equipe que a atendeu no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt. O documento comprova que, após uma série de exames e de consultas por especialistas que não chegaram a um diagnóstico, a dona de casa acabou internada na ala psiquiátrica do hospital, onde morreu pouco mais de dois dias depois.

Às 14h25 de sexta-feira, Benta foi internada no Regional. Reclamava de dores abdominais e informou que teve vômito e diarréia, seguida de rouquidão, boca seca e falta de ar. Segundo o relatório, Benta passou por vários exames clínicos. Eles atestaram, de acordo com o registro, que ela tinha a mucosa da boca seca (um sintoma de botulismo). Mas os exames na garganta, raio-x do tórax e de sangue não revelaram problemas. Ela continuou em observação, no soro.

Como os sintomas persistiram, às 8h35 de sábado Benta foi atendida por um neurologista, que não constatou doenças neurológicas. À tarde, a dona de casa foi avaliada por um gastroentereologista, que também não achou o problema. Perto das 19 horas de sábado, a equipe avaliou a capacidade dela em engolir água. A dona de casa não conseguiu ingerir nada. Também é sinal da doença, que prejudica a capacidade de os músculos responderem aos nervos.

A última avaliação clínica foi às 8 horas de domingo. Ao meio-dia, Benta teria se mostrado agitada e foi sedada levemente. Transferida à ala psiquiátrica, foi atendida por um médico que prescreveu diversos remédios, boa parte sedativos (veja quadro ao lado). Havia ainda um remédio contra esquizofrenia.

A conclusão do psiquiatra foi de que Benta falava de forma arrastada, não se alimentava e não tomava água. "Molha a boca com os dedos ao invés de beber.” Ela foi encontrada morta por um enfermeiro às 3 horas de de segunda-feira.

DEMORA EM DIAGNÓSTICO SERÁ AVALIADA

O secretário do Estado da Saúde, Dalmo Claro de Oliveira (PMDB), conta ter recebido a informação de que Benta Lamego chegou ao Hospital Regional Hans Dieter Schmidt na sexta-feira, com diarreia, vômito, rouquidão e dificuldades para engolir. Ela foi colocada em observação e recebeu hidratação pela veia.

Segundo Dalmo, um gastroenterologista e um neurologista a avaliaram e não encontraram um diagnóstico. Benta teria continuado agitada e se queixando de dores. O secretário da Saúde afirma que a paciente foi avaliada por um psiquiatra apenas 48 horas depois.

O profissional teria recomendo que ela ficasse em observação na psiquiatria.

— A observação foi feita na ala psiquiátrica, mesmo. Infelizmente, houve dificuldade para se fazer o diagnóstico. Esse é o relato que tenho —, explica o secretário, que também é médico.

Ele afirma não saber se a dona de casa foi medicada na psiquiatria porque não teve acesso ao prontuário. Mas reconheceu haver calmantes na lista de remédios obtida por “A Notícia”.

— Isso não interfere. Com certeza não tem a ver com o desfecho. O problema é que não houve o diagnóstico precoce do botulismo.

Conforme o secretário, a dificuldade de se chegar ao diagnóstico será apurada numa avaliação do atendimento à paciente.

— Já antecipo que não trabalho com a hipótese de algum tratamento prejudicial. Só me parece que não houve o diagnóstico da doença. O que é um problema mesmo —, opina.

MARCA ORIENTADA A RETER RESTO DE LOTE

Uma análise preliminar da mortadela apontou a possível presença da bactéria causadora do botulismo. O teste foi feito no laboratório central da Secretaria do Estado da Saúde, em Florianópolis. A mesma amostra foi enviada pela secretaria ao Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo, no sábado. O laboratório paulista tem tecnologia capaz de identificar a suposta bactérica com mais precisão. Não há prazo para que o resultado da análise seja divulgado. A resposta pode levar mais de uma semana.

Enquanto não há confirmação, a fabricante da marca Pena Branca, ligada à Seara e ao grupo Marfrig, foi orientada pela Vigilância Sanitária do Estado a reter todo o estoque da mortadela com toucinho fabricada no dia 17 de fevereiro. O lote havia sido entregue ao comércio pelos centros de distribuição de Canoas (RS) e Itajaí.

Ainda não há ordem de recolhimento para os produtos que já estão no mercado. Eles só devem ser retirados de circulação se a contaminação for confirmada. Mas o secretário do Estado da Saúde, Dalmo Claro de Oliveira, alerta para o risco de infecção.

Ele publicou mensagens de orientação, na tarde de segunda, na sua página pessoal no microblog Twitter.

— Publiquei lá porque sabia da divulgação. A rede social é muito forte nisso. Alertamos que aquela mortadela, daquela marca, ainda não deve ser consumida.

Além do fabricante, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária e a Vigilância Sanitária do Rio Grande do Sul também já foram comunicadas pela Secretaria Estadual de Educação sobre a suspeita de contaminação. A informação ainda foi repassada às vigilâncias municipais de SC.

— É por cautela. Não podemos condenar o material nesse momento. Precisa de uma análise mais detalhada —, avisa Dalmo.

Por meio da assessoria de imprensa, a Seara informou que técnicos da empresa também retiraram uma amostra do produto em um ponto de venda para análise própria. O resultado da análise deve sair  nesta quarta-feira. Até a noite de segunda-feira, o fabricante ainda fazia um levantamento para saber se há outros produtos do mesmo lote em estoque. Se houver, o material ficará retido em câmara fria até que as análises complementares sejam concluídas.

A empresa informou que desconhece outros possíveis casos de infecção. O grupo Marfrig é o segundo maior produtor de embutidos no País. Só a Seara tem mais de 30 distribuidores e cerca de 60 representantes exclusivos da marca no mercado nacional.



Comente






Conteúdo relacionado





Inicial  |  Parceiros  |  Notícias  |  Colunistas  |  Sobre nós  |  Contato  | 

Contato
Fone: (47) 99660-9995
Celular / Whatsapp: (47) 99660-9995
E-mail: paskibagmail.com



© Copyright 2025 - Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
by SAMUCA