Florianópolis - O Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, tem este ano um diferencial: os números mostram que o sexo feminino ampliou, em 2011, sua participação na esfera política. Com uma bancada de cinco parlamentares, a maior em 177 anos de história, o Parlamento catarinense vai prestar homenagem às mulheres na sessão ordinária do dia 9, das 14 às 16 horas. Na ocasião, será oficializada a criação da bancada feminina suprapartidária, que atuará em defesa das causas de gênero, como a proteção, o combate à violência e a defesa dos direitos da mulher.
Os números mostram que o sexo feminino ampliou sua participação na esfera política. Pela primeira vez, uma mulher foi alçada ao comando da Nação, a petista Dilma Rousseff (PT) eleita em 2010. A Assembleia Legislativa de Santa Catarina, por sua vez, alcançou a sua maior representatividade feminina em 177 anos de existência. Até então, o maior número de deputadas no Legislativo catarinense tinha chegado a quatro. Atualmente, a bancada de saias ocupa cinco das 40 cadeiras do Parlamento com as deputadas Ada Faraco de Luca (PMDB), Ana Paula Lima (PT), Angela Albino (PCdoB), Dirce
Haeiderscheidt (PMDB) e Luciane Carminatti (PT).
A advogada Ada de Luca traz a política no sangue. O avô Addo Caldas Faraco foi prefeito de Criciúma três vezes. Inspirada no exemplo familiar, aos 12 anos Ada já estava envolvida no grêmio estudantil. O pai, Addo Vânio Faraco, foi vereador, deputado estadual, secretário do Trabalho no Governo Celso Ramos, até ser cassado e preso pela ditadura. Ao visitá-lo na prisão, a deputada conheceu outro preso político, Walmor De Luca, que se tornaria seu marido. Já casada, participou das campanhas do esposo e quando ele foi eleito deputado federal, Ada foi militar em Brasília: “como o MDB, mais tarde PMDB, sempre foi um partido democrático e sem fronteiras, fui muito bem acolhida em Brasília, para onde transferi minha luta política. No início dos anos 80 fui uma das fundadoras do PMDB Mulher”. Na capital federal participou de importantes movimentos: a luta pela anistia, a campanha “Brasília quer Votar” e as “Diretas Já”, ao lado de grandes nomes como Ulysses Guimarães.
Ada chegou a ser candidata a vice-governadora em Brasília, mas revela que só aceitou o desafio de disputar uma cadeira no Legislativo catarinense quando estava realmente preparada: “Não aceitei apenas cumprir cota, participei para valer e não aconselho as mulheres a se candidatar sem preparação e apoio para competir ”.
Ada deverá licenciar-se do Legislativo em breve para assumir a Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania, onde também vai fazer história. Será a primeira titular da nova pasta e também a única mulher a compor o primeiro escalão do Executivo catarinense.
Representante do Partido dos Trabalhadores pela terceira vez consecutiva, Ana Paula Lima é a parlamentar com maior número de mandatos em atuação hoje no Legislativo estadual. Também foi a primeira mulher a presidir, mesmo que interinamente, a Assembleia catarinense. Atual 4ª secretária da
Mesa, ela é companheira de partido da professora Luciane Carminatti, que estreia no Parlamento, mas já acumula boa experiência na vida política.
Antes de chegar a Assembleia, Luciane Carminatti disputou três eleições, duas vitoriosas para o Legislativo de Chapecó e uma para vice-prefeita, em 2004. “Minha carreira é resultado do meu trabalho na Educação, no Legislativo e no Executivo chapecoense, como secretária da Educação, e também
da grande luta pela implantação da Universidade Federal da Fronteira Sul”, avalia. Orgulhosa de sua sigla, Luciane lembra que “de forma geral, o PT tem uma trajetória um pouco diferenciada em relação à valorização da mulher na política. Foi o partido que propôs a cota e elegeu a primeira presidenta, Dilma
Rousseff”. Mas salientou que é difícil encontrar uma mulher na presidência de um partido.
Funcionária de carreira da Justiça do Trabalho, Angela Albino, ex-vereadora (2205-2008), tem em seu currículo uma expressiva campanha para a prefeitura de Florianópolis, em 2008, quando conquistou 29,5 mil votos. Em 2009, passou pela Assembleia, duas vezes, na condição de suplente da 16ª Legislatura.
Na eleição de 2010 foi vitoriosa e tornou-se a primeira representante do PCdoB no time titular do Legislativo.
Seu espírito combativo e transformador, contudo, se revelou muito mais cedo. Angela fundou o grêmio em sua escola, participou do movimento de jovens e fez parte do centro acadêmico na faculdade. Integrou a União Brasileira de Mulheres e, em 2002, filiou-se ao PCdoB. Hoje, é uma das poucas mulheres a presidir partido político no país.
Já Dirce Heiderscheidt chegou ao Parlamento “através da vontade política do esposo”, como relata. Sempre atuou na política ao lado do marido, onde descobriu a convivência partidária. Ela confessa que estava acostumada a fazer política nos bastidores e que “nunca se viu como titular”, porém quando o desafio foi lançado, não recuou e conquistou a segunda suplência da sua coligação, e hoje ocupa a vaga aberta por Serafim Venzon, secretário de Estado. Dirce reforça o coro das demais deputadas para reivindicar mais incentivo das siglas para as candidatas. (Rossana Espezin)
HISTÓRIA
A primeira deputada a pisar o Parlamento catarinense, eleita em 1934 pelo Partido Liberal, quebrou dois paradigmas de uma só vez: era mulher e negra.
A professora Antonieta de Barros conquistou 35.484 votos, mas teve sua carreira interrompida com a instituição do Estado Novo. Voltou na Legislatura de 1947 a 1951 pelo PSD e morreu em 1953.
A próxima deputada foi a joinvilense Ingeborg Colin Barbosa Lima (PTB), que cumpriu mandato de 1959 a 1963.
A partir daí, estabeleceu-se um hiato de 25 anos sem eleição de deputadas até a camponesa Luci Choinaki (PT), a ser eleita para a 11ª Legislatura, de 1987 a 1991. A 12ª Legislatura (1991-1995) só teve participação masculina.
A professora Ideli Salvati (PT) foi a única mulher eleita para a 13ª Legislatura (1995-1999) e marcou um novo ciclo. Desde então a participação feminina tem sido ininterrupta no quadro parlamentar barriga-verde.
Ideli Salvati foi reeleita na 14ª Legislatura, de 1999 a 2003, dessa vez acompanhada de Odete do Nascimento (PPB), que adotaria o nome político de Professora Odete de Jesus, com o qual iria ser reeleita para a 15ª e 16ª Legislaturas, agora pela legenda do Partido Liberal (PL), do qual assumiu a presidência.
Na 15ª Legislatura, além de Odete de Jesus se fizeram presentes Ana Paula Lima (PT) e as suplentes convocadas Alba Terezinha Schlichting (DEM) e Simone Schramm (PMDB).
Na 16ª Legislatura (2007 a 2011) estiveram presentes a advogada Ada de Luca (PMDB), Ana Paula Lima (PT) e a Professora Odete de Jesus (PRB). Como suplente, participou a deputada Angela Albino (PCdoB).
A deputada Ana Paula Lima foi a 2ª vice-presidenta da Mesa, entrando para a história como a primeira mulher a presidir interinamente o Parlamento catarinense. Odete de Jesus é a detentora do maior número de mandatos completos, três.