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Henrique Fendrich

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Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


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Otto quer separar o Brasil

Segunda, 24 de março de 2014

Perguntaram-me na última semana quem é esse Otto, de quem volta e meia falo por aqui. Admira-me muitíssimo que não o conheçam, muitíssimo. Talvez apenas não estejam atinando o nome com a pessoa. Não creio que exista pessoa em São Bento que nunca o tenha visto, e mais: que nunca tenha conversado com ele. Otto é bastante simpático, expansivo como um italiano. Mas não cometam, jamais, a indelicadeza de chamá-lo de brasileiro – embora tenha nascido no Brasil. Acabei me esquecendo disso na última vez que nos encontramos, e foi o que bastou para que o Otto fizesse um discurso a favor da separação do Brasil – ou melhor, do sul do Brasil. Dizia ele, embebido pelo som das próprias palavras, que, afora as questões econômicas, a separação se justificava também do ponto de vista étnico – ele disse cultural, mas eu entendi étnico.

Bolas, o Otto, como todos sabem, é mais alemão do que os concertos de Brandenburg. Se bem entendi a sua argumentação, ele dizia que a vida civilizada havia começado na região sul ali pela segunda metade do século XIX, quando as primeiras levas de imigrantes começaram a chegar da Europa. Antes disso, só vida selvagem e brucutu – só índio Xokleng e Kaingang. Em uma palavra: bugres. O Brasil mesmo, o Brasil português, o Brasil de Pedro Álvares Cabral, este começava um pouco depois de Adrianópolis, do lado de lá do Vale do Ribeira – já em São Paulo, portanto. De modo que nunca houve a menor relação entre o Brasil de lá e o Brasil de cá, donde se explica a distinção cultural que nos faz ignorar solenemente o Carnaval. Nada mais lógico, portanto, que também a cultura servisse de argumento para a separação do sul.

Isso tudo foi o que eu consegui entender do arrazoado do Otto, que eu ouvi como se fosse um ministro de Estado. Quando chegou a minha vez de falar, dei um longo suspiro, como aqueles da Hortênsia antes de arremessar a bola. Perguntei se o Otto se lembrava de sua bisavó brasileira – e ele disse que vinha tentando esquecer. A verdade é a seguinte: dos oito bisavôs do Otto, sete são alemães e uma é brasileira. E mais ainda: de Campo Alegre. Chegou até lá vinda do Paraná – era mais paranaense que carneiro no buraco. Duas ou três gerações antes sua família vinha de São Paulo, ou seja, do Brasil. Falei de uma vez: o Paraná foi feito por paulistas. Os mesmos paulistas que se espalharam por Minas Gerais, pelo Centro-Oeste e, vejam que coisa, até pelo Rio Grande do Sul. Havia vida no sul bem antes do século XIX e, como se não bastasse, vida brasileira. Até imigrantes já havia, e daqueles que falavam a língua de Camões – Santa Catarina se tornou praticamente uma ilha dos Açores.

Falei, falei, e não sei se o Otto me entendeu. Ao final saiu-se com a solução: “Pois anexemos também São Paulo. O Sul mais São Paulo!”. Achei, no fundo, uma bonita concessão. E a verdade é que não é a única. Não faz muito tempo eu soube de uma proposta de separação que incluía o Sul, São Paulo e ainda o Mato Grosso do Sul. Por aí já se percebe que o movimento separatista ganha cada vez mais adesões, e quem sabe um dia não seremos a maioria – 26 estados mais o Distrito Federal, todos unidos pela separação.  



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