Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
Facebook Jornal Evolução       (47) 99660-9995       Whatsapp Jornal Evolução (47) 99660-9995       E-mail

Henrique Fendrich

rikerichgmail.com

Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)

Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF


Veja mais colunas de Henrique Fendrich

A cidade que um dia foi

Segunda, 03 de março de 2014

Devorada, era assim que a ironia chamava o povoado pouco antes da alagação. Mas naquela época a maior parte dos moradores – que um dia foram 7 mil – já tinha ido embora. Quem tinha terras foi indenizado e comprou outras no Paraguai ou no Mato Grosso. Ou então foi vítima de estelionatários, vendeu suas propriedades a preço de banana e foi viver como inquilino em outra parte. De toda forma, era o fim da vila, criada um dia de forma planejada, mas sem saber que os planos de homem são inconstantes e que um dia seria preciso se adequar a um desenvolvimento maior do que o simples comércio entre Foz do Iguaçu e Santa Helena. Assim saíram todos, e aqueles que já não podiam partir por conta própria contentaram-se em sair dos seus túmulos e aguardar que a própria Itaipu os levasse para outro canto. Livre do incômodo dos ossos, incluindo aqueles que ainda andam, Alvorada do Iguaçu pôde enfim ser alagada em nome da hidrelétrica.

Isso já faz mais de trinta anos. Seria tempo suficiente para esquecer se Alvorada do Iguaçu não tornasse a aparecer esporadicamente, agora transformada em ruínas, alicerces de casas, restos de sepulturas. É assim que ela se mostra toda vez que a seca é forte o bastante para diminuir o nível do lago de Itaipu em pelo menos quatro metros. E quando isso acontece começam a afluir antigos moradores, que lá da prainha artificial de Santa Terezinha conseguem avistar a cidade que um dia foi. Tentam se localizar em meio às ruínas e identificar onde eram as suas casas. Descobrem o local de um antigo posto de gasolina. Encontram um poço artesiano intacto. Levantam do chão um tubo de pasta de dente com data de 1976. E lembram-se de tantas histórias que não foram submersas pelas águas do reservatório e que tampouco puderam ser indenizadas pelos royalties.

Mas a Itaipu garante que não há motivo para preocupação: as águas de março irão por fim à seca e a todas as desagradáveis consequências que dela emergirem.

 

Para entrar no prédio

Quebrei o cartão que me autorizava a entrar no prédio em que trabalho. Ele já estava meio rachado, mas um dia quebrou de vez. Agora, quando chego de manhã cedo e quando volto do almoço, sou obrigado a pedir um cartão de visitante para um dos porteiros. Mas não é simplesmente pedir e sair levando, porque preciso informar o número da minha identidade. E de uns tempos pra cá eles querem ainda o estado. De início, eles pressupõem que nasci em Brasília e por isso perguntam com ar de quem já sabe a resposta: “DF?”. Acredito que o DF seja a única unidade da federação que chame a si próprio através de uma sigla. Mas eu entro no jogo deles e também reduzo o meu estado de origem a duas míseras letras: “SC”. Perguntam então para qual sala eu vou e, quando respondo, o computador deles exibe um histórico tão grande de entradas que eles observam: “Funcionário, né?”. Confirmo, e só então recebo o cartão, enquanto o porteiro fica pensando por que raios eu não arrumo um pra mim. Confesso minha preferência pelas porteiras mulheres, especialmente uma que... Enfim. Uma que me atende bem. Apesar disso, sei que não sou correspondido, porque até hoje, depois de dois meses, ela ainda me pergunta todo santo dia: “DF?”. 



Comente






Conteúdo relacionado





Inicial  |  Parceiros  |  Notícias  |  Colunistas  |  Sobre nós  |  Contato  | 

Contato
Fone: (47) 99660-9995
Celular / Whatsapp: (47) 99660-9995
E-mail: paskibagmail.com



© Copyright 2025 - Jornal Evolução Notícias de Santa Catarina
by SAMUCA