Gostamos de aventuras - e quando levantamos uma possibilidade, nos empenhamos de corpo e alma para realizá-las
- - Por Rachel e Jonny Zulauf - -
Foi assim que, mais uma vez, conseguimos ir além do sonho. Há dois anos, vivemos um episódio não muito comum sobre duas rodas: percorremos durante trinta dias (26/12/08 a 26/01/09) os países que formam o norte da América do Sul, ficando apenas de lado a Bolívia (por falta de tempo). Foram 15,3 mil km de muita emoção, além de termos passado pela Amazônia. Desta vez, decidimos percorrer o caminho oposto. Nossa meta: "Ushuaia". O extremo sul da América, na "Tierra del Fuego". No dia 19 de dezembro de 2010, às 8:00, partimos muito bem equipados para mais uma aventura em nossa BMW. Em nosso primeiro dia de viagem, depois de 1.060 km bem rodados, chegamos a Uruguaiana. Dia seguinte, rumo ao sul pela Argentina. Não podemos deixar de relatar ou mesmo de gritar aos quatro cantos que mais uma vez ficamos indignados com a polícia das províncias de Missiones e Entre Rios, que é corrupta ao extremo. Todas às vezes que passamos por elas somos obrigados a deixar um troco... Coação pura. Depois do único dia com um pouco de chuva, num calor incrível, passamos pela charmosa Buenos Aires com a clássica foto na Avenida 9 de Julho, seguindo até Mar del Plata. O relevo passa a ser uniformemente regular, os campos sem vegetação e as retas, intermináveis. Aproveitando as melhores rodovias pela costa do Atlântico, a Ruta 3, seguimos ao sul, passando o centro industrial de Bahia Blanca, para descansar em Puerto Madryn, acesso à península de Valdez, já na denominada Patagônia Legal.
MODERNIDADE E RECURSOS
Em nosso quarto dia de viagem aportamos em Comodoro Rivadavia. Sempre cidades que surpreendem por modernidade e recursos disponíveis, dentre eles bons hotéis e restaurantes. Entre lindas paisagens com muito frio, sol, lhamas, carneiros e muita curtição... Só o vento começa a "dar trabalho", principalmente quando de lado, fazendo com que a moto deva ser conduzida sempre em forte inclinação para compensá-lo.
Rio Gallegos fez parte do nosso roteiro, de onde partimos rumo ao Ushuaia. Cruzamos o Estreito de Magalhães, que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico de balsa. Na sequência, rodamos mais ou menos 110 km em estrada de rípio (saibro), com muita poeira, pedras soltas e muito vento, passando necessariamente por uma parte do território chileno e, claro, com toda uma burocracia que até países sem muita identidade na Europa deixaram de cobrar. São declarações repetidas e inúteis, mas devem justificar-se para gerar muitos empregos de carimbadores de papéis sem razão.
Já em nosso destino final, curtimos e agradecemos por estar transcorrendo, até ali, tudo muito bem. Fim da América, fim da Ruta 3, "fin del mundo". Ushuaia é um charme, uma esquina do mundo em que se encontra gente de toda parte, principalmente pelas paradas dos transatlânticos que no verão passam por lá. Nesta região, quebrando a monotonia das planícies da maior parte da patagônia, é forte a marca do fim da grande coluna cervical que são os Andes. Emolduram o local com altas montanhas, sempre cobertas de neve, mesmo em pleno verão do hemisfério sul. Onde se curte o calor em torno de cinco graus e onde o sol nesta época do ano se põe somente pela meia noite.
A LENDÁRIA RUTA 40
Dias longos permitem aproveitar mais as "pernadas" nos nossos deslocamentos, que chegaram a ser superiores a 1,3 mil km num dia. Na volta, depois de Rio Gallegos, já iniciando o grande sonho de enfrentar a lendária Ruta 40, desafio de motociclistas do mundo inteiro - encontramos alemães, americanos, italianos e até brasileiros -, passamos a cruzar o continente em direção ao oeste, divisa com o Chile e nas encostas da cordilheira andina. Um dos destinos desejados e realmente recomendados é o maior glaciar do mundo: Perito Moreno. A magnífica "cascata" de gelo que desliza pelas montanhas por quilômetros para despencar em suas paredes de gelo azul fantásticas, de até 60 metros de altura, nas águas geladas de lagos não menos impressionantes pela beleza e águas límpidas.
Enfim, como toda aventura tem emoção, a nossa não foi diferente, saindo da cidade de El Calafate, aliás, outro destino turístico recomendável, seguimos com destino a Gobiernador Gregori. Estávamos em outra estrada de rípio, e o pneu da nossa moto furou, no meio do nada... Soluções existem, ou aparecem. Nosso produto químico de vedação e enchimento do pneu esteve em todos os check lists e não foi esquecido, mas estava vencido. Imprestável! Fim de tarde, deserto, estrada ruim, distante no mínimo de duas horas da próxima localidade e sem sinal de vida, de telefone, ou outros veículos... Eis que quase uma hora depois da nossa parada aproxima-se uma moto também solitária em sentido contrário. Também uma BMW, pilotada por um alemão com sua namorada francesa, com quem pudemos conversar e que nos ajudou com o tal socorro químico - que funcionou.
A CADA MOMENTO, UMA EMOÇÃO DIFERENTE
Bariloche também fez parte do nosso roteiro. No Chile, passeamos e apreciamos as belezas de Santiago (capital). Bons hotéis e excelentes restaurantes marcaram nossa passagem por lá. Cruzar os Andes sempre é emocionante, com vistas de pontos famosos como o Aconcágua, vulcões como o famoso Osorno. Em mais de vinte e sete curvas pesadíssimas, com maravilhosas paisagens, estivemos lado a lado com picos nevados da Cordilheira...
Conseguimos realizar um sonho, que talvez todo motociclista idealize: fizemos praticamente toda a "Ruta 40", famosa por ter nela alguns quilômetros muito difíceis de serem percorridos. Centenas em rípio, muitas vezes muito ruins e bem difíceis quando o vento chegava a fazer a moto derrapar para os lados sobre areia e pedras, parecendo que sempre andávamos em curvas... É muito bom quando iniciamos nossas viagens, colocando em prática todos os estudos para realizarmos os melhores roteiros, esperando conhecer lugares novos, a cada momento uma emoção diferente, um sentimento, que não temos palavras para descrever, somente vivendo e sentindo na pele cada um deles.
A data da volta é sempre uma incógnita, mas, é muito bom chegar e ter mais uma história para contar, acumulando vivência e experiências. Nesta aventura percorremos 12 mil km quilômetros em vinte dias. No dia 5 de janeiro estávamos em terras de São Bento do Sul, imaginando onde e quando será a nossa próxima aventura...