Se a vontade e a união da comunidade de Duque de Caxias estão sustentando a luta contra o tempo para montar o desfile da Acadêmicos do Grande Rio, o mesmo não acontece no caixa da escola que quer homenagear Florianópolis na Marquês de Sapucaí.
O presidente da agremiação, Jayder Soares, já elegeu o grande vilão para as dificuldades financeiras. Para ele, uma sucessão de promessas de apoio não cumpridas, principalmente da prefeitura da Capital e em menor dose do governo do Estado, está sendo um obstáculo tão grande quanto o incêndio que atingiu fantasias e carros da escola no início deste mês. Desde o incêndio, ele diz que só consegue dormir à base de doses de tranquilizantes cavalares como o Dormonid 15g.
O prefeito Dário Berger, segundo o presidente da escola Jayder Soares, assumiu reiteradas vezes o compromisso de ajudar na captação de R$ 3,5 milhões junto à iniciativa privada, via Lei Rouanet, desde maio do ano passado. Até agora, confirmou somente R$ 150 mil que teriam sido doados pela Tractebel. Só que no caixa da escola, até agora, não pingou um centavo sequer.
— As lideranças que nos convidaram para homenagear a cidade há quase um ano são as mesmas que só prometem, prometem e não cumprem nada — mirando no prefeito Dário Berger.
A última esperança surgiu na sexta-feira. Dário teria ligado para o empresário Max Gonçalves, espécie de embaixador da escola em SC, prometendo que estaria no Rio neste domingo para acompanhar o ensaio técnico na Sapucaí. E que levaria boas notícias.
O prefeito deveria desembarcar no aeroporto do Galeão, às 10h30min. O único a chegar foi o secretário de Turismo da Capital, Márcio de Souza. Trazia nas mãos apenas as passagens aéreas de Dário, que não apareceu no aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis. O telefone celular passou a manhã toda desligado e Márcio não sabia explicar o que tinha acontecido. A paciência do presidente da Grande Rio foi para o espaço.
— Estou cansado de escutar conto da Carochinha. O fato é que fizemos um acordo. Nós cumprimos a nossa parte e do lado de lá não. Aqui, promessa é dívida.
Visivelmente constrangido com a situação, o secretário de Turismo ainda tentou contornar o impasse, antecipando a informação que seria dada por Dário. Conforme Souza, o prefeito já teria assegurado R$ 1 milhão junto a quatro empresas: R$ 250 mil da Casan, R$ 150 mil da Tractebel e os outros R$ 600 mil entre Celesc e Intelbrás, mas sem precisar quanto de cada uma.
Max Gonçalves ainda quer agendar uma nova reunião com secretário de Turismo do Estado, César Souza Júnior, que teria se comprometido em apoiar a escola, principalmente depois do incêndio, mas que também se manteve em silêncio nos últimos dias.
Para fechar o circuito prefeitura, Estado, União, quem acaba de entrar no circuito com a promessa de apoio à Grande Rio, só que com recursos federais, é a ministra da Pesca Ideli Salvatti. A informação sobre o contato foi confirmada ontem ao DC pela assessoria de Ideli. Ela fez contato com a Eletrobrás, mas não teve resposta, segundo a assessoria devido à troca de direção da estatal, que deve acontecer nos próximos dias.
Simplificar e colorir é a receita para vencer o tempo
As fantasias da Grande Rio estão sendo refeitas pelas costureiras da escola e por voluntários. Cahê Rodrigues, carnavalesco, desenhou todas as fantasias e depois do incêndio precisou simplificar tudo. Afinal, além de o Carnaval estar bem perto, o material, como tecidos, aviamentos e plumas, é escasso e muita coisa não tem como comprar. Em apenas um dia, o trabalho de remodelagem estética das fantasias deixou tudo mais simples, mas com muito colorido.
As fantasias de luxo, depois de idealizadas por Cahê, são feitas por Carlinhos Barzellai e sua equipe. Ele é o responsável pelos adereços da escola e trabalha com materiais de luxo: penas de faisão albino, plumas de avestruz e rabo de galo, pedras, strass entre outros.
As fantasias dos destaques, assim como das celebridades, são feitas por Carlinhos, entre elas as de Ana Hickman e Ana Furtado. O material é comprado em Nova York e Miami. As penas são tingidas com técnicas e tintas especiais e depois montadas. Em média, são feitas 28 fantasias de luxo para um desfile. O trabalho do atelier de Carlinhos começa quatro meses antes do Carnaval.
Segundo a produtora de moda catarinense Mariana Goulart, que visitou o local e conversou com Carlinhos, é surpreendente a beleza do material que será apresentado na Sapucaí.
— É um trabalho diferenciado, artesanal, mas de uma plasticidade que tem tudo para encantar — comenta a produtora.
É consenso no Rio de Janeiro que a beleza do samba Y Jurerê Mirim tinha grande chance ser vitorioso na Sapucaí. A letra do compositor Foca é considerada uma das mais belas dos últimos anos na opinião dos integrantes da escola, de especialistas em Carnaval e até das agremiações concorrentes. E um bom samba, dizem os entendidos no assunto, é garantia de 50% de vitória.
Se falta tempo e o dinheiro não pingou no caixa, também é fato confirmado por todos os cariocas que, mesmo não sendo o mais belo por questões óbvias, este será um dos desfiles mais emocionantes que já passaram pela Marquês de Sapucaí.
— Acompanho Carnaval há 48 anos e não tenho dúvidas de que veremos o espetáculo mais contagiante da história quando a Grande Rio pisar na avenida — diz José Bonifácio Sobrinho, o Boni, ex-todo-poderoso da Rede Globo e atual empresário de comunicação.
Para vencer o relógio, centenas de voluntários se juntaram aos mais de 200 funcionários que trabalham na confecção de fantasias e adereços para contar a história do boi-de-mamão, dos índios carijós, da ponte Hercílio Luz, do Guga, do Avaí, do Figueirense, das belezas das praias e das bruxas da Ilha.
O vaivém de gente carregando barras de aço, pintando, costurando e colando beira o caos. Mas é graças a esta mobilização que, dos sete carros alegóricos que foram totalmente destruídos, quatro estarão na avenida.