Cléverson Israel Minikovsky (Pensando e Repensado)
Advogado
Filósofo
Jornalista (DRT 3792/SC)
O modo mais eficaz de produzir não só a justificação e legitimação da dominação, mas a própria dominação, sem dúvida alguma, é a ideologia entendida no seu sentido amplo, forma de representação da realidade. Mas a ideologia não só joga a água benta sobre o status quo, mas o cria e lhe dá vida. Se a Igreja Católica Apostólica Romana foi durante séculos a instituição dominante por antonomásia, foi porque, do ponto de vista filosófico, teológico, jurídico e linguístico, conseguiu se impor sobre outras formas de pensar. A forma de pensamento mais arrojada é a que se impõe sobre as demais. É assim que um pobre se impõe sobre um rico, um fraco sobre um forte, um homem sem reputação sobre um homem de prestígio, um homem sem representação sobre um velho político: com um bom discurso. O pensamento cria a realidade. O pensar algo é mais do que a metade da sua execução. Foi assim que portugueses e espanhóis dividiram o mundo em metades no Tratado de Tordesilhas, o que mudou a vida de milhões de pessoas que já viviam nas Américas, razão pela qual estou escrevendo em português e não em árabe ou tupi-guarani. Quando pensamos que o Estado é um centro indiscutível de poder não podemos nos esquecer de todos os famosos teóricos de formação do Estado, sobretudo de alguns franceses cujos nomes me abstenho de mencioná-los para não deixar nenhum de fora. Quando ainda hoje vemos o Vaticano como centro de poder não podemos nos esquecer que lá dentro mora um exército de teólogos que não fazem outra coisa além de pensar teologia-ideologia vinte e quatro horas por dia. Os marqueteiros são produtores de verdades instantâneas para surtirem efeito em curto prazo - eleição -, o que acaba se desdobrando em um prazo não tão curto assim, quatro anos. Por de trás de um processo de produção existe muito mais que engenharia de produção, existe a perspectiva de um homem de negócio, o empresário, que sabe conduzir um complexo de conjuntos, aspectos jurídicos, trabalhistas, tributários, políticos, comerciais, logísticos e conjunturais, que sabe extrair, conjugar e coordenar tudo isto orquestralmente para fazer verter o precioso lucro, sempre exagerado para sindicalistas e ideólogos de Esquerda. O jogo da dominação é sempre trazer as pessoas para o seu lado, estudando se é mais viável fazer isto por bem ou por mal. A vantagem do discurso é que você traz as pessoas para o seu lado sem dor, sem provocar o estampido de nenhum projétil, sem ofender o sentimento de ninguém. A dominação na maioria dos casos se manifesta em uma forma de ficar rico, de expropriar o destinatário do discurso, de fazer com que ele trabalhe para você (não necessariamente numa relação empregatícia), e, no final das contas, explorado, usado, descartado, ele lhe agradece, pede desculpas e lhe tem até o fim dos seus dias em alta conta. Quem tem um bom discurso sempre está no governo de algo. Nem que seja no governo de sua própria vida, quem vive de verdades alheias empresta o corpo e o espírito para serem usados por aqueles que pensam um pouco mais do que os medianos. Para ser rico ou você faz as pessoas trabalharem para o seu patrimônio, ou você inculca na pessoa que ela deve dar uma contribuição espontânea porque a doação tem um caráter meritório. Com poder se consegue dinheiro, com dinheiro se consegue poder, com boas ideias se consegue os dois - se realmente este for o objetivo. Porque o objetivo poderá ser mais nobre como o dinheiro indispensável para não sucumbir e o poder indispensável para não ser pisado e o conhecimento como uma meta em si mesmo.