Aos 65 anos, o prefeito conta que está bem de saúde ("melhor do que antes", afirma) e que tem procurado fazer exercícios físicos. Magno Bollmann se diz otimista com os próximos dois anos de governo - principalmente por causa de "um monte de projetos" que garantirão, segundo ele, recursos externos para investimentos em São Bento do Sul. Magno, durante sua conversa de mais de uma hora com o Evolução, na sexta-feira passada, falou de inúmeros temas, como a situação da Saúde Pública e a morosidade existente no serviço público. Questionado pela Reportagem, o prefeito não deixou de responder sobre a relação PP x DEM, comentando inclusive uma eventual "debandada" dos democratas do governo e a possibilidade de o principal partido aliado disputar, de forma independente, uma vaga à prefeitura em 2012. Magno também falou sobre a possibilidade de concorrer à reeleição nas próximas eleições municipais. Magno transmitiu o cargo, anteontem, terça-feira, ao vice Flávio Schuhmacher, que ficará no comando do Município até o dia 9 de janeiro.
EVOLUÇÃO - O senhor disse na semana passada, em um café da manhã oferecido à imprensa, que, "sinceramente", está "muito otimista". Por que esse otimismo todo prefeito, em meio aos profetas do apocalipse, aos negativistas?
MAGNO BOLLMANN - Isso tem uma razão de ser. Nesses dois anos corremos atrás de recursos e fizemos um monte de projetos - e esses projetos estão sendo viabilizados e vão ser viabilizados. Então, isso dá uma tranquilidade. Não precisamos pegar os recursos do orçamento da prefeitura - porque vêm recursos de fora. Nessa última viagem a Brasília acertamos sobre o Cedup (Centro de Educação Profissional), uma escola técnica profissionalizante gratuita. É uma parceria federal-estadual-municipal. O governo federal entra com o dinheiro, o Estado com a manutenção e a gestão, e o município com o terreno. Também tem duas creches (uma na Vila União e outra no Loteamento Alpestre, bairro Lençol). Existem pequenas contrapartidas para as creches, mas esse é um valor mínimo. Esses são alguns exemplos. Tem a construção de casas. Tudo isso dá um ânimo maior. Já são recursos disponíveis nos bancos.
EVOLUÇÃO - O senhor diria, então, que nessa "segunda fase" do governo, nesses próximos dois anos, que estaria colhendo os frutos plantados nos dois primeiros anos?
MAGNO BOLLMANN - Justamente. Já colhemos alguns frutos - e nos dois anos seguintes vamos colher muitos. Tem o Posto de Saúde para inaugurar no Mato Preto. Tem a creche na Schramm. Vamos inaugurar essas obras no início do ano. Tem o asfalto do "Nossa Rua". O projeto já foi aprovado, já passou pela Câmara (de Vereadores). Na Saúde, tivemos uma reunião muito boa da Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público). Na parte da informatização, já estamos bastante adiantados. Agora vamos fazer reuniões da Oscip com os contadores, com as empresas que vão descontar Imposto de Renda, com o Conselho de Saúde, com a Câmara de Vereadores - todos integrados para que possamos buscar o recurso do Terceiro Setor.
EVOLUÇÃO - O senhor acredita que a Oscip pode resolver esse problema todo que existe na área de Saúde?
MAGNO BOLLMANN - Sempre digo que podem existir males que vêm para bem. Se existia alguma coisa, o que vai trazer benefícios é isso aí (Ação Civil Pública da Promotoria de Justiça contra o Município e contra o hospital Sagrada Família). Isso desencadeou uma série de ações que vão acontecer. Por exemplo: já estamos discutindo na Secretaria (de Saúde), com o (secretário Marcus) Maluf para que o Pronto-Socorro passe para o município. O que acontece? Nós teríamos o controle, porque nós repassamos os recursos. A questão dos plantonistas podemos terceirizar. As cirurgias eletivas praticamente eliminamos dos atrasos. Isso foi um grande trabalho que fizemos. Agora foi um momento mais pontual que aconteceu. Existe responsabilidade da prefeitura? Existe. Não vamos fugir disso. Não pagamos suficientemente? Pagamos na média. Vocês (do jornal Evolução) fizeram muito bem a matéria ("Valor/hora do plantão é reajustado para minimizar o problema", do dia 17). Foi muito bem colocado, está bastante claro e profissional. No domingo à noite (dia 12) eu estive no hospital, visitando a Irmã Beatriz (Zanatta, diretora do Sagrada Família). Conversando, perguntei a ela: "O que aconteceu?". E ela: "Magno, as emergências/urgências foram atendidas normalmente. Foram trezentas e quinze atendimentos em quarenta e oito horas". Isso dá um atendimento a cada seis minutos. O que aconteceu? Como veio uma gama grande de acidentados, deu esse transtorno maior. Recebi o telefonema do Abel (Volinger, funcionário da Secretaria de Agricultura) que me contava que o pessoal não estaria sendo atendido. Eu disse: "Você aciona imediatamente o Cláudio (Schultz, chefe de gabinete) e ele que acione imediatamente o Maluf".
(Toca o telefone celular do prefeito).
EVOLUÇÃO - No instante em que fazemos esta entrevista, o procurador do Município, César Godoy, liga para dar qual notícia, prefeito?
MAGNO BOLLMANN - No dia 25 de janeiro vai ser implantado o primeiro módulo de atendimento - é uma Unidade Básica de Saúde, UBS, dentro do programa da Oscip. Isso é estratégico. Acho que estamos encaminhando bem essa situação. É o grande desafio que temos agora. Primeiro era a questão do emprego, pela qual conseguimos passar. Criamos 1.385 vagas só em 2010. Acabei de conversar com um cidadão no Calçadão. Ele dizia: "Magno, agora tem emprego sobrando". Isso, para mim, é gratificante.
EVOLUÇÃO - O Maluf falou que "o grande sonho" dele é fortalecer a Rede Básica de Saúde. Porém, como mudar essa questão cultural? O cidadão com uma unha encravada, em vez de ir no posto, vai ao hospital...
MAGNO BOLLMANN - Toda essa sistemática vai ser fortemente trabalhada. Vamos estabelecer parâmetros. As confusões todas acontecem pelo acúmulo de gente no hospital. Isso é fácil de resolver. É só fazer uma dinâmica maior nos postos de saúde, para que, tanto as Unidades Básicas quando o ESF (Estratégia de Saúde da Família) estejam preparados para dar um atendimento condigno - e não seja necessário todo mundo ir para o hospital. Essa é a grande questão. Antes de ser prefeito eu trabalhei com o sistema da Oscip. Eu sempre digo: vou ser o último dos moicanos, porque não vou desistir nunca. Eu assumi um compromisso! É fácil buscar dinheiro da iniciativa privada. Existe uma lei que nos protege! Por que não vamos buscar? Acho que no início o projeto foi mal vendido. Depois, ficou em standby durante um tempo - as coisas se assentaram e tivemos inclusive o poder de convencer muitos médicos. Tivemos reunião no Cemox com todos os médicos, também. Ouvi algumas sugestões do tipo: "E se a gente começar fazendo algumas coisas mais pontuais?". Também sou dessa opinião. É melhor do que abracar todo o orçamento da Saúde, que era a primeira ideia. Hoje, vamos tentar por partes. Na questão da informatização, por exemplo, vamos começar com uma UBS e depois vamos estender a todos os postos. Esse é o grande objetivo. Também está em estudos a UPA, que é uma Unidade de Pronto Atendimento. Ela já está configurada no Ministério da Saúde. Nessa última viagem o Maluf era para ter visto essa questão. Com tudo isso, o nosso cidadão vai estar contemplado com uma Saúde à altura do que entendemos ser necessário. Também deve se fazer uma política assim: aquele que não precisa do Sistema Único de Saúde (SUS) que busque as clínicas particulares. Que deixe o SUS para os menos favorecidos. Para que vai procurar o Sistema de Saúde, que sempre atende um número maior de pessoas, se tem condições de procurar um médico na iniciativa privada?
EVOLUÇÃO - Bom, até agora falamos da Saúde Pública. E a sua saúde particular, como está? O senhor está bem, prefeito?
MAGNO BOLLMANN - Graças a Deus, estou muito bem. Estou melhor do que antes. Estou dormindo melhor. Estou descansando bem. Naqueles tempos eu andava muito agitado. A mulher dizia que eu, enquanto dormia, "dava coice para lá e para cá". Era o estado de ansiedade em que eu me encontrava. Estou me medicando - tenho um excelente médico em Curitiba, que briga comigo quando não vou lá. Também tem o seguinte: continuo fazendo meus exercícios constantemente. Os exercícios e as atividades físicas tiram a ansiedade, tiram o estresse. Isso é muito importante. Se você realmente descarrega suas energias nas atividades físicas, isso faz um bem maravilhoso! Esse é um trabalho que continuo fazendo. Veja bem: eu não posso aqui descarregar a minha raiva, o meu remorso, nas pessoas que trabalham comigo. Não posso! E não faço. Quero que alguém se queixe que fui mal educado, que tratei mal... Isso não existe. Por isso prezo muito pelo estado emocional das pessoas. Estamos dando toda a atenção às pessoas que têm doenças psíquicas e sociais. Vamos instalar os Caps (Centros de Atenção Psicossocial), que vão dar essa cobertura, principalmente para professores. Temos o IDI (Instituto de Desenvolvimento Integral), que já está fazendo isso. Tem também o seguinte: precisamos ser mais enérgicos na questão das faltas. A gente sabe que a pessoa falta por problema de saúde. Hoje existem de quatrocentos a quinhentos empregados da prefeitura que faltam ao serviço - por mês. A média é de seis, sete dias. Isso é terrível para nós! Vinte por cento do efetivo da prefeitura!
EVOLUÇÃO - Alguém comentou esses dias: "Pô, eu estava indo trabalhar, daí vi um senhor andando de bicicleta, usando boné, usando tênis, e parecia ser o prefeito, mas acho que não era ele". Então comentamos: "Mas era o prefeito, sim... O senhor Magno às vezes vai para a prefeitura de bicicleta".
MAGNO BOLLMANN - Sempre fui bicicleteiro - desde jovem. Agora acentuei mais essa questão. Dia sim, dia não (a menos que chova) eu venho de bicicleta ou a pé. Então, umas duas ou três vezes por semana eu venho de bicicleta. Ida e volta dá uns oito ou dez quilômetros. Isso faz um bem... A bicicleta ajuda na coordenação motora do organismo. Você não tropeça, você não cai. Tenho três bicicletas: uma aqui, uma no Rio Natal e uma na praia. Em todo lugar em que vou, eu tenho uma bicicleta. É uma para cada ocasião. A da praia tenho desde a década de 90. Essa mais recente que comprei é melhor lá para o Rio Natal, porque a topografia é mais acidentada. Essa precisa de mais marchas... Mas isso, realmente, mantém a saúde. Eu não tenho outro horário para fazer trabalho físico. Então saio de bicicleta às 6:15 ou 6:30.
EVOLUÇÃO - Alguém disse, dia destes: "O trânsito de São Bento não foi planejado para as bicicletas". O fato é que não foi planejado nem para os carros! E isso não se muda do dia para a noite. É um exemplo ver o senhor andando de bicicleta, porque é um carro a menos na rua.
MAGNO BOLLMANN - Justamente. Tenho visto muita gente seguir mais ou menos este caminho. Outro dia encontrei o doutor (Eduardo) Moraes (vereador e presidente do PP) andando de bicicleta. Eu disse: "Pô, Moraes, você andava de moto!". O (José) Canísio (Tschoeke, secretário de Administração) vem todo dia a pé de casa - antes vinha de carro. Tenho certeza que muita gente vai entrar também nessa roda. Já estamos com recursos para passeios e ciclovias.
EVOLUÇÃO - Perguntamos-lhe na Acisbs (Associação Empresarial de São Bento do Sul) o que governo e sociedade podem fazer em relação ao trânsito. O secretário de Planejamento, Mauro Osowsky, falou que a partir do momento em que se criar o Instituto de Planejamento de São Bento do Sul, que a decisão fique com o próprio instituto, para ver de que forma resolver essa questão do trânsito, que está cada vez mais complicado.
MAGNO BOLLMANN - O Mauro tem razão ao falar disso. O Instituto de Planejamento deve sair em 2011. Também está planejado o início das obras dos acessos-norte, tanto do trevo do Mato Preto como o da Panificadora Pimpão. Já estamos com o projeto lá em Brasília - e já foi aceito pela Caixa. Vamos terceirizar muitos trabalhos técnicos, porque não temos uma equipe suficiente para montar todo esse trabalho que está sendo feito aí.
EVOLUÇÃO - O senhor está vendendo uma imagem de otimismo, mas nem tudo são flores em uma prefeitura. O que mais lhe chateia em seu trabalho como prefeito? O que mais lhe incomoda - aquilo que, se fosse possível, o senhor resolveria em um passe de mágica?
MAGNO BOLLMANN - O que mais me incomoda - em parte já está sendo resolvido - é a questão da morosidade. O setor público é tremendamente trancado. É uma coisa impressionante a vagarosidade com que isso funciona! Mas estamos trabalhando em cima disso - o Instituto de Planejamento, a Central de Compras, que vai sair na (antiga) Móveis Leopoldo (futuro "centro administrativo" de São Bento). Isso vai dar uma agilidade ao trabalho. Desde o princípio tentamos implantar o trabalho compartilhado - as parcerias público-privadas. Isso está acontecendo. Vim agora há pouco do Cras (Centro de Referência em Assistência Social) de Oxford, onde um supermercado entrou com presentes e lanches para as crianças mais carentes. Então, veja: quando se estabelece um caminho, de repente tudo começa a se direcionar para isso. O setor de Habitação está violentamente trabalhando na parceria público-privada. Através da Oscip, a Saúde vai trabalhar com a iniciativa privada. Na Agricultura, tem a Coperdoti, uma cooperativa de hortifrutigranjeiros, que é nossa parceira na venda direta do produtor para o consumidor. Essa é outra atividade fantástica. Então, de alguma forma, estamos conseguindo agilizar os trabalhos na prefeitura - mas é a burocracia o que mais atormenta o homem público, sem dúvida! Ontem (quinta-feira 16) e hoje (sexta-feira 17) fiquei a semana inteira assinando mais de duzentas folhas. Pelo amor de Deus! Tem os ACTs (Admitidos em Caráter Temporário), que saem agora - e em fevereiro entram todos de novo!
EVOLUÇÃO - E sem a “caneteada” do prefeito...?
MAGNO BOLLMANN - Não tem jeito, né? Então, esse é um ponto que me preocupa.
EVOLUÇÃO - Não vamos nem falar do seu relacionamento com o Flávio (Schuhmacher/DEM, vice-prefeito), porque ele jura que está tudo bem, o senhor também jura que está tudo bem - embora pareça que não. Sabemos que o relacionamento humano não é fácil, independente de estarmos na prefeitura, na empresa, na família ou com amigos. Mas, de maneira geral, como está isso na prefeitura?
MAGNO BOLLMANN - Vem de novo a questão: você tem que estar em perfeito estado de saúde. Se você estiver em paz consigo, você não "estoura" com o cidadão comum, com os funcionários da prefeitura. Isso é o que mais prezo. Daqui a pouco tenho uma reunião de encerramento com a (Secretaria de) Educação. O que eu vou falar? "Levante a mão quem ganhou o salário atrasado. Vocês sirvam bem o cidadão que está precisando de ajuda, que está mais carente. Às vezes ele até vem querendo lhe dar um tapa. Vocês recuem! Esperem, contem até dez e tragam ele para o lado de vocês. Não batam de volta. Isso é besteira".
EVOLUÇÃO - "Não caiam na armadilha"?
MAGNO BOLLMANN - Fui, muitas vezes, instigado a fazer isso.
EVOLUÇÃO - O senhor foi provocado?
MAGNO BOLLMANN - Provocado - essa é a palavra! Então, tentamos levar essa mensagem - e tem dado certo. O que tenho observado dentro da prefeitura é uma coisa importante. Eu participei do governo anterior, que era de oposição. Eu participei trabalhando com o Turismo. Eu vi como os funcionários falavam mal do Poder Público. Meu Deus do céu! Como eles "largavam o pau", principalmente na cúpula do governo. Era uma coisa triste. Eu chamava a atenção deles. Hoje isso não acontece mais, porque estamos trazendo os servidores para perto de nós e levando o servidor para perto do cidadão.
EVOLUÇÃO - O senhor faz parte de uma coligação bastante grande...
MAGNO BOLLMANN - Oito partidos, né...
EVOLUÇÃO - Interessante que o senhor trabalha tanto com o pessoal do Democratas quanto com o pessoal do PT, que nacionalmente são arquirrivais.
MAGNO BOLLMANN - Eu diria que são até inimigos - e não adversários. Acho que é isso tremendamente prejudicial. Não se pode misturar as coisas. Eu digo o seguinte: essa questão político-partidária - as coligações - está na fase embrionária. Somos um país jovem ainda. Não se pode chegar ao ponto de querer ser fanático por um partido. Não pode! Porque isso não está consolidado, ainda. O PT, hoje, está aprendendo a trabalhar conosco. Eles eram radicais ao extremo. Só eles tinham "certeza". Do outro, tem esse liberalismo por parte do PFL (atual DEM), que é o capital pelo capital - quando tem que ser a política do capital pelo social; aí estaremos no caminho certo. Cada um tem uma crença, tem um perfil, que vão se encaixando dentro de cada partido, porém, os partidos não têm uma política de ideias, de projetos, de vertentes...
EVOLUÇÃO - Mesmo porque são quase trinta siglas no Brasil - e praticamente não existe mais ideologia.
MAGNO BOLLMANN - Não existe. Por isso que eu digo: é preciso urgente fazer a reforma política. Vi o (senador) Álvaro Dias (PSDB/PR) dizendo que a presidente (eleita, Dilma Rousseff/PT) falou na campanha (sobre a reforma) - e ele disse que vai cobrar até o fim. Acho fundamental uma reforma política, porque os partidos pequenos servem de aluguel - e aí a corrupção pega. O momento em que mais aconteceu corrupção na História foi durante esta campanha (de 2010). Foi uma loucura o que aconteceu! Não vou debitar isso a um ou a outro. Acho que foi de modo geral. Acho que o setor público deve pagar as campanhas, por exemplo. A coisa já mudaria bastante. Então, na campanha, o partido tem que defender o seu trabalho. Depois que a comunidade votou, "agora temos que estar juntos". É o que fizemos desde o começo aqui dentro. Porém, depois de uma campanha, eles (do DEM de São Bento) queriam se exacerbar para cá e para lá. Eu disse: "Opa! Espera aí, meu amigo: tem um limite. Vocês não ultrapassem esse limite". Chamei o vice-prefeito aqui e falei: "Flávio, não é assim que funciona. Isso vai atrapalhar a Administração, isso não vai funcionar". Aí nos propuseram reuniões antecipadas. Eu disse: "Não, não está na hora ainda. O tempo vai dizer". Então reunimos o colegiado e falei novamente. O Flávio prontamente atendeu - teve humildade suficiente para se comprometer perante todos. Então, é assim que trabalhamos. Às vezes realmente o tempo é o melhor remédio. Não adianta se afobar e querer resolver tudo na hora, porque não funciona.
EVOLUÇÃO - Ouvimos muito por aí, inclusive de lideranças do próprio partido, o seguinte: "O Democratas vai abandonar o governo". O que o senhor pode dizer sobre isso?
MAGNO BOLLMANN - A verdade é a seguinte: eu tenho em vista a demissão de alguns. Vamos ver até onde vamos com isso. O Democratas nos disse que, se fizéssemos isso, haveria uma debandada geral. Isso foi em um primeiro momento - foi dito por um jornal, mas pessoalmente ninguém me falou. Eu até dizia: "Bom, vamos economizar R$ 1 milhão em 2011 e R$ 1 milhão em 2012". Eu dava essa resposta. Acredito que eles fizeram uma avaliação criteriosa, pois tiveram tempo para isso. As lideranças do Democratas, eu acho, se perdoaram. Isso é uma grandeza. Eu também faço isso. Quando eu vejo que estou errado, eu analiso: "Bom, por esse caminho eu não posso, então tenho que ir por outro". Isso faz parte do político que quer ter futuro na política. Acho que eles repensaram o assunto. Eu acredito que (o DEM) não (vai abandonar o governo), porque eles só têm a perder. Por isso eu disse: a porta está aberta, mas eu não iria mandá-los embora. Sabe por que não? Porque seria em detrimento à Administração, em detrimento aos projetos que trabalhamos juntos. Então, quem perderia com isso é a comunidade. Isso sempre vou dizer para eles: "Olha, a porta está aí, eu não seguro ninguém. Se vocês querem ir, a porta está aí. Mas vocês vão ter que se ver com o povo. Nós vamos sofrer aqui dentro por causa disso". Tem gente (no DEM) que é preparada. Nem todos seguiram essa linha de querer abandonar o barco. Houve, já de cara, uma divisão, porque sabiam que iriam tomar decisões precipitadas. Por isso houve uma reviravolta. Hoje, graças ao bom senso, eles estão aí - e estamos trabalhando em paz, sem nenhum constrangimento.
EVOLUÇÃO - Muito se diz que o Democratas - que sempre foi conhecido por ser um partido em cima do muro - vai querer ter chapa própria nas eleições de 2012.
MAGNO BOLLMANN - Eles têm toda a liberdade de fazer o que bem entender. Mas eu entendo assim: se eles fizeram uma coligação e eles acharem que o governo foi bom, será uma coisa natural a re-candidatura. Mas, se for uma coisa artificialmente montada, aí não! Se o time da coligação achar que deve ser assim, por que não? Porém, não partindo da minha pessoa, mas, sim, do grupo coletivo. No nosso projeto, temos gente muito boa, que pode tranquilamente disputar a campanha no mesmo nível do nosso.
EVOLUÇÃO - Tem gente que diz que é cedo para falar nas eleições municipais de 2012, mas o tempo está voando! O senhor já chegou a pensar em sua reeleição?
MAGNO BOLLMANN - Acho que pode-se começar a falar em eleição, mas não dentro dos quadros administrativos da prefeitura, porque vai atrapalhar todo um trabalho e o povo não quer saber de política partidária agora. Durante o período administrativo, não pode se misturar a coisa política aqui dentro. Isso eu não vou permitir. Para o primeiro que fizer, a porta está aberta - e tchau! Fazer reuniões e começar a trabalhar politicamente, tudo bem, mas não dentro da prefeitura. Vou ser energicamente contra! Não pode se misturar partido e Município! É com essa visão que estamos tocando esse processo. Se houver mais candidatos, vou levantar as mãos para o céu, porque vai ser mais fácil a eleição ainda.
EVOLUÇÃO - O senhor deve estar entre esses candidatos?
MAGNO BOLLMANN - Se o partido me indicar como candidato à reeleição... Nunca fui de impor candidatura, mesmo porque se tivesse imposto alguma candidatura teria me dado mal. O partido é quem sabe. Se o partido achar assim, tudo bem. Se eu estiver em plenas condições, com saúde, assumo com o partido - mas tem que ter o apoio do time, senão não funciona.
EVOLUÇÃO - Fizemos uma pergunta, em uma certa oportunidade, mas, por ser um evento oficial, por existirem mais profissionais da imprensa, por existirem membros do governo - e principalmente pelo tempo escasso -, o senhor acabou dando aquela resposta rápida, mecânica. Então vamos perguntar novamente: o Turismo em São Bento do Sul um dia vira borboleta? Já virou? Está se transformando? Qual sua visão sobre esse tema?
MAGNO BOLLMANN - Quem é o turista? É aquele que viaja. Ele viaja por quê? Tem que ter um motivo - conhecer a cidade, conhecer o povo, a arquitetura, os recursos naturais, a cultura. Tem um monte de matizes em que o turista procura uma identificação - coisa que lá na origem ele não conhece. O turista quer novidade. Esse é o grande fato turístico. Quando encaminhamos a questão turística em São Bento, isso vai acontecendo gradativamente. Hoje já temos um exemplo disso. Temos um turismo de eventos muito forte, como a Móvel Brasil. Teremos um evento de meio ambiente, inclusive com a presença do pessoal Biosfera da Mata Atlântica. São eventos nacionais! São fatos que fazem com que nosso Município seja conhecido lá fora. Tenho falado com o pessoal da hotelaria. A taxa de ocupação é impressionante. Que bom isso! O turista deixa o recurso na hotelaria, na gastronomia, no comércio. Parei esses dias no posto de artesanato (na praça Getúlio Vargas) e me falaram que chegaram dois ônibus de visitantes. Isso é turismo!
EVOLUÇÃO - Mas São Bento tem vocação turística?
MAGNO BOLLMANN - Tem! Mas o nosso povo não tem a cultura turística. Isso precisa ser trabalhado no cidadão - e não é difícil. Na questão da Literatura, por exemplo, queremos abrir um espaço para os homens da Literatura, com suas biografias, com seus livros. Vamos trazer de volta o Mário Carbajal (presidente da Academia de Letras do Brasil). No Patrimônio Histórico, tem os prédios tombados. O próprio Ipresbs (Instituto de Previdência do Município) quer comprar um prédio. Que compre um prédio tombado e faça toda a sua estruturação, embelezando as construções antigas. O turismo é uma grande fonte de recursos em outros países, que tiveram a virtude de ter explorado isso. A Europa, por exemplo, é visitada pelo mundo inteiro. Porque eles têm atrativos! Mas esses atrativos existem lá e existem aqui também. Eu próprio tenho o meu empreendimento (Parque Natural das Aves, em Rio Natal) e vejo: o que vem de visitantes é incrível! Tem uma infinidade de ações que podemos desenvolver aqui. O pessoal da AMA (Associação Amigos do Artesanato) me disse que em um mês foram quatrocentas visitas - só de turistas. Aí entra novamente a questão dos servidores. As "margaridas", por exemplo, deixam a praça que é um brinco! Essas mulheres capricham muito. São essas particularidades que atraem as pessoas.
EVOLUÇÃO - Vamos pegar o exemplo de Rio Negrinho. A sociedade se uniu de tal forma que fez um Natal maravilhoso! É impressionante! Em São Bento do Sul não está faltando isso também?
MAGNO BOLLMANN - Eu fui a Rio Negrinho. Eu disse à Leoni (Fuerst Pacheco, executiva do Consórcio Quiriri): "Isso já é um trabalho do consórcio" (referindo-se aos materiais recicláveis utilizados). Rio Negrinho tem um espaço ideal para fazer isso. Mas nós também temos - e eu até conversava com o pessoal da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas) e com a Associação Empresarial, com o (Adelino) Denk (presidente da Acisbs): "Olha só, Denk, vi uma coisa interessante em Rio Negrinho. E nós temos que aprender!". Tem uma placa lá com os dizeres "Mantenedores da Fábrica dos Sonhos". Fui contar o número de empresas - foram sessenta e três! Se calcularmos que cada empresa deu R$ 10 mil, são R$ 600 mil. Tem muita gente reclamando que a prefeitura gastou um valor tal, mas isso é blasfêmia. Quem realmente participou foi a sociedade civil, que se engajou no projeto.
EVOLUÇÃO - Mas o governo assumiu sua responsabilidade!
MAGNO BOLLMANN - Justamente - e também colocou algum recurso. Mas, então, no ano que vem, vamos fazer um trabalho conjunto. Ele (Denk) foi além: "Vamos fazer um Natal nos bairros, não só no Centro da cidade". Isso começaria a melhorar muito a autoestima do pessoal dos bairros. Temos levado algumas ações aos bairros - e eu sempre digo ao pessoal da Fundação Cultural: "Não façam nada sem música". Apesar dos poucos recursos disponíveis, já fizemos um Natal mais bonito, com mais atividades - e vai melhorar mais ainda no ano que vem.
EVOLUÇÃO - Para encerrarmos, prefeito, queremos desejar um Feliz Natal e um próspero Ano Novo - não só para o senhor, mas para São Bento do Sul como um todo. Que o seu otimismo se transforme em ações práticas a favor da comunidade!
MAGNO BOLLMANN - Esse é o maior desejo. Para finalizar, eu quero dizer: eu adoro o que faço, tenho orgulho do que faço. Quero desejar aos são-bentenses um Natal com a maior felicidade, principalmente à população dos bairros. Quero agradecer a todos que nos ajudaram neste ano, porque não estou aqui administrando sozinho. (Por Elvis Lozeiko)