Henrique Fendrich (Crônica de São Bento)
Jornalista são-bentense residindo em Brasília/DF
Houve um tempo em que eu era criança e começava uma contagem regressiva para a chegada do Natal. Digamos que eu começava um pouco cedo - lá por setembro. Mas bolas, a gente cresce e não faz mais nada disso. Sou da opinião de que, depois de adultos, todas as pessoas devem ter a oportunidade de ver ao menos uma coisa triste na época do Natal. Alguma coisa longe da realidade delas - mas, necessariamente, uma coisa triste.
Isso para que, ao menos nessa época, possamos ser constrangidos pela constatação de que existem pessoas ao nosso redor que não terão um Feliz Natal. Ou, ainda, para perceber que pessoas que tinham tudo para ter um péssimo Natal estão sendo mais felizes do que a gente. E que isso nos deixe bastante envergonhados e incomodados, para que assim, ao menos nessa época, sejamos capazes de sentir algo verdadeiro - embora triste.
No hospital
Há três anos eu vi a época de Natal de um hospital - e principalmente, eu vi a época de Natal das crianças de um hospital. Logo na entrada havia uma grande e bonita árvore enfeitada e nos galhos estava a lista de presentes: cartões escritos pelas mães para os seus filhos internados. Eram cartões simples, geralmente escritos com erros de português, e muitas vezes pedindo coisas abstratas e difíceis, como um pouco mais de saúde.
Embora não existam chaminés, o Papai Noel também costuma passar por lá nessa época. Existe uma ala especial para crianças com câncer e o velhinho foi até lá distribuir doces, um pouco de alegria e algum esquecimento. Está visto que as crianças continuam sendo crianças, ainda que doentes. E por isso se divertiram com facilidade. Talvez a visita do Papai Noel sirva ainda mais para os pais - essa gente que passa um Natal de preocupação.
Pato Donald
Lembro de uma história de Natal do Pato Donald, aquele mesmo que se veste com roupa de marinheiro, mas sem as calças. Pato Donald e os sobrinhos iam passar o Natal na casa da Vovó Donalda e foram para lá de trenó. Veio uma forte tempestade de neve e eles foram jogados ao chão, perdendo totalmente a direção. Pato Donald resmungava: que Natal!
Conseguiram encontrar uma casa e foram pedir ajuda. Nela morava uma viúva e um casal de crianças - era uma família bastante pobre. É véspera de Natal, mas não há peru algum na ceia: há apenas uma lata de ervilhas. Mas as crianças não estão tristes: "É só fechar os olhos e imaginar que as ervilhas são um delicioso peru".
E assim, os patos viram uma coisa constrangedora no Natal.
2010
Esse foi o ano em que me tornei imigrante. Sem perspectivas de crescimento no lugar em que estava, decidi tentar a sorte num lugar novo e completamente desconhecido, além de longe da família. A decisão mudou minha vida. Essa também é história de todos os imigrantes europeus que deixaram sua terra para se arriscar no Brasil. Passaram-se mais de 100 anos desde que vieram, mas a gente continua imigrando, e por motivos parecidos.
Saudações
Ao leitor do Evolução, desejo um bom Natal, com comemorações repletas de sentimentos agradáveis e, se possível, com um ligeiro incômodo que o leve a praticar uma sorrateira boa ação. E que elas possam se repetir com frequência no ano que se aproxima.
Até ano que vem!