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Obras Publicadas de Cléverson Israel Minikovsky

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Cléverson Israel Minikovsky


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AS 70 CARTAS DO BARALHO FILOSÓFICO: O BATE-PAPO DOS ASES DA FILOSOFIA

Terça, 06 de março de 2012

 MARIANO SOLTYS

 CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY

 

  

AS 70 CARTAS DO BARALHO FILOSÓFICO:

O BATE-PAPO DOS ASES DA FILOSOFIA

 

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2011

 

Índice

  

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Carta n° 1

 

Ilustre e caríssimo amigo e mestre Dr. Cléverson Israel Minikovsky

 

        É com grande alegria que te escrevo esta carta. Talvez sejamos raros demais, ouro em meio à rocha uniforme. A própria philosophia nossa se vê envolta de um manto de grandiosidade inexprimível. Deste modo, fora o gênio que encontrei no meu próprio ser, eis que no senhor me foi revelado também essa dádiva verdadeira, iluminação. Somente o que é superior nos é comum. Mesmo por nossas leituras em comum, cujas suas são mais numerosas, ainda que algumas obras sejam virtuais, percebemos que participamos de uma mesma egrégora, de certo plano ainda inatingível as pessoas simples, mesmo que de nossa convivência social. Confesso que nos últimos dias não tinha eu um logos para compartilhar, e a oportunidade me levou a essa introvisão da comunicação nossa por cartas, ou outro meio tecnológico assemelhado em aspecto teleológico. Somente nós não somos os robôs, mas ainda demasiado humanos. Mesmo que ainda com o espírito de Asimov, ou no modelo das cartas a que escrevia Van Gogh ao seu irmão, acredito que devemos essa glória ao mundo, essa arte superior, alguma oitava maravilha. Ontem somente a tua presença me foi benéfica, pois tirei a persona da superficialidade do dia a dia, do que é mesmo não sólido e se dissolve no ar. Mas como já falei em blog de meu livro Reflexões Gerais, “eu sou gigantesco”, talvez eu tenha ainda mais a dizer, que foi esse ser através de mim que inventou as artes e os ofícios, que descobriu o fogo, que enfim depois filosofou. Heráclito que percebeu um além nessa transformação constante. Foi com grande alegria que descobri o seu livro Summa ser traduzido para outras línguas, uma vez que é um dos melhores livros do mundo. Espero que a civilização tenha a felicidade de descobrir sua grande obra, para encontrar o rumo a sua salvação. Eu já estou salvo, releio quando posso as suas 10.000 teses. Queira meu subconsciente assimilá-las, projetá-las na vida, nas vidas que ainda terei, nos gênios que ainda serei. Certamente serei uma bela noogênese. Mas, há dois dias escrevi em meu “Diário de um tímido” a seguinte boa nova: “Eu não nasci, estou ainda no ventre do infinito. Sou uma ave de rapina etérica, certo perigo trago do céu de onde mergulho. Talvez o próprio talvez seja a minha certeza, uma certeza fatal. Poderia eu ser reduzido a alguma dimensão? Sou fractal, essa é minha complexidade. Somente o que é eterno me pertence. Salve a filosofia! Quero revelar meu tesouro, mas o mundo não deseja conhecê-lo. Não me vejo com mais idade, acho que parei nos dezessete, quando conheci a amizade do saber, filosofia. Desde aquela adolescência filosófica, daquelas “conquistas” (de ideais), vejo sacrificado numa talvez nova cosmovisão. Já falaram que minha filosofia é nova – talvez seja a única nova com quem me relacionei. Os anos se contam de forma regressiva, estou cada vez mais jovem, logo um bebê. Preciso por fim de um parto, de um parto ao contrário. É necessário que seja parida uma nova filosofia para o mundo, e tenho presenciado já esse nascimento, revelo”. Aguardo seu comentário e resposta, mestre.

 

 

Atenciosamente

 

Que o saber não se afaste de nossa presença

 

São Bento do Sul, 14 de Julho de 2010

 

De Mariano Soltys

 

Carta n° 2

 

Amigo da sabedoria, meu irmão Mariano:

 

A terribilidade das suas palavras me estarrece e me deixa tremendamente afoito como quê à beira de um abismo. No fundo, a filosofia é este salto, abismo adentro, porque não sabemos o que iremos encontrar em função da espessa névoa. O seu parto ao contrário me faz lembrar das palavras de Napoleão: “a educação de uma criança começa 100 anos antes de ela nascer”.

Nós somos filósofos porque rompemos com a banalidade. Tudo o que fazemos, nos abstemos ou pensamos é nobre e importante. Espero que você me ajude a realizar as grandes sínteses, como a que eu falei sobre a reencarnação e a ressurreição, duas dimensões de um único processo. O mundo está carente de filosofia. Expandem-se as ciências, a técnica, a economia, as seitas religiosas e a filosofia é deixada de lado. É certo que o nosso nível é o nível dos autores europeus. Só que ninguém reconhece isto porque Habermas é reconhecido como grande filósofo na Alemanha e Popper na Áustria e Inglaterra enquanto que o Brasil nos escorraça uiofobicamente.

A filosofia é o pensar sistemático. O mal do nosso tempo é a enxurrada de informações que não nos permite mais pensar sistematicamente. Não conseguimos concatenar tudo o que nos atinge. Mas nenhum desafio é grande demais para a filosofia. Ela é sempre maior do que os nossos problemas.

Vejo você, meu caro, é elementar, como um ilustríssimo desconhecido. Bem mais ilustre do que desconhecido, conquanto você exerça a advocacia que é uma profissão que exija publicidade, não há como ficar no anonimato. Mas você não deveria ser tão conhecido pelo notório conhecimento em ciências jurídicas, mas muito mais pelo excepcional conhecimento filosófico. Nossas mentes são férteis e fecundas. Nossa imaginação não tem limites. O pensamento é muito mais do que um foguete espacial.

O fim da filosofia é a relatividade. O bom filósofo é sempre relativista. Como diria Marx, “nihil humani a me alienum puto”. A filosofia é contextualizadora. Uma ideia só tem valor dentro de um contexto. Nada tem valor fora de contexto. Somente Deus, porque Deus é maior que os nossos contextos.

Estou pendendo seriamente para o estoicismo. Nada me alvoroça, nada me atinge, nada me tira da minha imperturbabilidade. O fato de levar mais um não de uma editora não me faz nem cócegas. Meu rosto é uma muralha. O exterior não toca o meu interior. Pairo acima das circunstâncias. Nem mesmo a periclitância da morte me apavora. Se eu puder continuar vivendo, viverei. Se eu puder levar a cabo meus projetos intelectuais, levarei.

O exercício intenso, extenso e ilimitado de poder gera um não poder. Rio dos poderosos e tenho a mais pura indiferença em relação a eles. Os homens poderosos deste mundo eu os reputo no rol de nulidades absolutas. Somente eu sou importante. Somente eu e meu colega de filosofia, o austríaco Mariano. Do ditado “ou pelo amor ou pela dor” eu lhe revelo que é justamente aquilo que hoje em dia não mais existe é que me comove, o amor. A dor é tão corriqueira, frequente e encontradiça que eu a desprezo. Só o amor será capaz de quebrar meu coração quase petrificado por completo.

Temos muito sexo e pouco amor, muitos livros e pouca sabedoria, muita informação e pouco senso de orientação, muitos processos e pouca justiça, muita diversão e pouca felicidade, muitos colegas e poucos amigos, muitas teorias e nenhuma verdade. É para quebrar com este círculo vicioso que eu filosofo e pretendo, com sua colaboração, meu caro, iluminar a mente e o coração de toda humanidade.

Do seu sempre amigo e parceiro intelectual, frater Cléverson Israel Minikovsky, luzeiro da humanidade, nascido em São Bento do Sul, a Königsberg brasileira

 

Carta n° 3

 

Amigo da sabedoria, meu irmão Cléverson:

 

Não são palavras, mas são tochas que saem por meus lábios. Fiquei comovido com tuas palavras e renovado em meu espírito, purificado. Mais do que um batismo essênio, encontrei na água do que tudo envolve a mística do maior sentido, e ela veio com tua carta.

Gostei de saber que você se encontra na terra de Kant, e grande é essa metrópole a que também habito, de algum juízo sintético a priori, esquema mental. Mas teoria e prática caminham juntos nessa ação-reflexão-ação, e nosso trabalho será cedo ou tarde descoberto, e vai desde já preparando-se para a fama, amigo e mestre.

Noutro dia no aconchegante da visita em tua residência, eis que eu falei em instinto, mas pensava em Nietzsche, e tu falaste em animal. Quero elucidar talvez em que obra ou pensamento do polaco eu me referia: “O bem antigo problema teológico da ‘fé’ e do ‘conhecimento’ – ou mais precisamente do instinto e da razão (..)” (falando então de Sócrates) “Por que, disse para consigo, separar-se por isso dos instintos! Há de ajudá-los a eles também a razão a exercer os seus direitos” (Para além do bem e do mal, 191). Então era no sentido de fé, diferentemente do animal, como uma espécie de inclinação humana. O Nietzsche tinha suas complicações, coisa de filólogo. 

Sobre a grande síntese, eu já havia presenciado um cabalista, mesmo que pela TV, meio cruel de informação, em um canal educativo, claro, se referindo de que tanto a reencarnação está ocorrendo quanto a ressurreição ocorrerá. Existem assim dois caminhos, um por onde o homem o busca, através de ser justo (acredito que o termo é tsadik), e outro é pela dificuldade e sofrimento na vida, o que levaria por fim a salvação de todos, sem exceção. Ao mesmo tempo, reencarnação e ressurreição por fim.

A filosofia será a ultima busca da humanidade. Após a ciência não mais dar as respostas, como a religião organizada não deu, e pelas lacunas mesmo, ou limitação do entendimento palpável, averiguável, de evidencia etc, caberá a filosofia resolver novamente grandes questões. Bem que hoje a física teórica tem teorias filosóficas, ou semi, de pura abstração. De certo modo retornam aos poucos nos préssocráticos que se referiam à origem do mundo, forma, cosmo etc.

Eu estou pendendo para uma visão multidimensional das coisas. Não acredito que uma escola ou outra possa encerrar o que eu defendo, a não ser que eu crie essa escola filosófica. Claro que muito do que pensamos já foi pensado, senão tudo, como queria Aristóteles. Noutro dia estava lendo algo de psicologia e após Piaget e Vygostsky, eis que tal Henri Wallon me impressionou, colocando grande importância na emoção ao desenvolvimento mental e de aprendizagem da criança. Eu mesmo acho até a emoção mais importante a maioria das pessoas, que a razão. Após o instinto, venho agora eu falar de emoção, e o que tem isso a ver com filosofia?

De certo modo devemos quebrar o paradigma da modernidade. O que é novo deve surgir dentre logo mas não tem pessoas que o façam, além de nós. Claro que Habermas e Popper são expoentes em suas terras, e mesmo no planeta, mas hoje com as redes de informação, todos estamos inseridos numa dimensão pânica. Porém, temos coisas mais novas e as teorias que formularemos e já criamos, serão para o mundo algo novo, somente necessitando de um parto. Mesmo não estando entre russos e norteamericanos, ou mesmo europeus, acredito que somos a vós de nossa comunidade.

A humanidade desde agora merece essa claridade em sua consciência. Já superamos certas tendências filosóficas, você muito influenciado pelo marxismo, eu pelo existencialismo, mas de certo modo presenciamos transformações em nosso filosofar. Mas hoje estamos um tanto sintonizados com outras tendências. Eu também pelo meu misticismo estou bem alterado em comparação a minha adolescência filosófica, mesmo em comparação aos anos acadêmicos.

          Acredito assim que temos que formular sempre coisas novas, adaptando, intuindo o que ainda não foi pensado, ou pelo menos demonstrado em filosofia. A chave seria reunir as filosofias e formar um bolo com novo nome, e a Contrarreforma Ético-Filosófica já fez muito disso, bem como a sua Summa. Somos porta vozes do que pode ser pensado em nosso tempo.

          O determinismo e inatismo talvez não sejam nem mera probabilidade. Assim não precisamos ser europeus, norteamericanos, brancos ou qualquer coisa: basta que filosofemos. A desculpa de preconizar a razão, ou mesmo alguma tradição também não interessa, o que importa é ter um discurso, e temos o nosso. Por isso falei de instinto e emoção, que sempre ou quase foram colocados de lado na filosofia moderna, com seu quase geral racionalismo. Mas a filosofia sempre teve a tendência a se universalizar.

 

Do seu sempre amigo e parceiro intelectual, frater Mariano Soltys, cidadão do mundo, na Nova Era.

 

Carta n° 4

 

         Caminho pelas sendas da penseneidade, me banho na pensatividade, abstraio, leio, reflito, poetizo, interpreto, enfim, não consigo parar de pensar. O órgão que mais me dá prazer é o cérebro. Intuo que o caminho é a introspecção como começo, meio e fim. Tenho percebido que seu estilo é essencialmente poético-filosófico. Muito feliz opção literária. Porque o que nos dá a possibilidade de reflexão filosófica produtiva é a capacidade de nos admirarmos com as coisas. Isto era o que dizia Platão. E o poeta é um encantado. O bruxo vai ainda adiante. Ele cria novos encantamentos. Hoje é 15 de julho de 2010. Dia internacional do homem. É nosso dia duas vezes. Uma vez pela nossa natureza biológica, personalidade e caráter, e outra por sermos filósofos. Ainda em nosso tempo há a predominância maciça dos varões nos meios filosóficos. Estamos vivendo um dos dias mais frios do ano. Massa de ar polar, umidade e chuvisco. Sensação térmica baixíssima. Adoro isto. O frio é instigador da reflexão filosófica. Fico em frente do meu PC como meus ancestrais ficavam em torno da lareira. O frio ensina a gente a viver, nos torna sábios.

          O animal existe como ponte. O homem é ponte e um fim em si mesmo concomitantemente. Porque a função do ser humano não é apenas reproduzir-se, é levar a cabo um plano espiritual, que envolve vários subplanos dentre os quais alguns possuem maior envergadura, inclusive o filosófico, logicamente. O homem passa a ser homem quando produz todos os meios dos quais se serve e ainda mais coisas e ideias das quais não precisa, mas produz para ensoberbecer-se como homem, como sujeito pensante. A filosofia é a máxima realização do ser humano enquanto, por um lado, não tem instrumentalidade pragmática alguma, e, do outro lado, nos fornece um giga-instrumento, uma cosmovisão norteadora de tudo o que fazemos e somos. O animal provê apenas a mantença do próprio organismo através daquilo que ele extrai da natureza. O homem produz história, cultura, valores, ética, religião, linguagem e folclore.

Hoje eu acompanhei um interrogatório na Delegacia de Piên, Estado do Paraná. A situação está bastante precária por lá. A Delegacia abre apenas na quinta-feira. Quando eu saí da sala do escrivão deparei-me com uma morena bonitinha, bastante apetecível que veio até ali para dar queixa do padrasto. O mesmo tentara agarrar a rapariga à força no seu local de trabalho. Detalhe: a moça trabalhava em zona de meretrício. Essa foi só para descontrair, mas é verídica.

          A moça demonstrou que apesar de ser prostituta tinha o escrúpulo de não copular com o companheiro de sua mãe. Nas pessoas mais depravadas ainda perdura o vínculo de família. As mulheres se respeitam. Condutas deste tipo é que fortalecem o gênero feminino. Em última instância é na família que aprendemos a sermos éticos, fiéis, justos e bons. Lá tudo se aprende ou se distorce. Não inventaram e nunca inventarão uma instituição que substitua a família.

          Penso que o Estado deve ser presença até onde não há mais nenhuma presença além daquilo que seja o próprio Estado, como nestes rincões fronteiriços. E a filosofia também deveria ser esta presença. Roma só é Roma, porque no interior do Macapá há uma capela de santo lá ao lado da aldeia indígena. A filosofia tem de parar de ser pensamento de metrópole. E nós, Mariano, estamos fazendo isto. Duas potencias cerebrais estelares num continente marginalizado, num país dividido por discrepâncias de toda ordem, num Estado do interior, num Município do interior, discutindo ideias globais e propostas para a condução das nações e da humanidade como um todo.

         Nós não apenas ousamos saber, ousamos assumir que sabemos, e mais que saber, pensamos, temos o poder de imaginar, conjecturar, construir esquemas mentais. Nossas ondas mentais não têm limites. O desafio agora, para o cidadão do século XXI “ousa amar”.

 

Respeitosamente, Cléverson Israel Minikovsky, o civilizado de origem barbárica, meio eslavo, meio germânico, cem por cento amigo das letras.

 

 

Carta n° 5

 

          Uma filosofia tem a sua identidade. De tal modo, vemos muito por aí de comentários e comentários, de saladas sem sua própria cosmovisão. A visão macro terá um grande papel quando o complexo homem-máquina-arte perceber que não passa de marionete de poderes, inclinado à ignorância e vícios, e que perde a sua individualidade, a sua consciência. A filosofia será a sua arma contra esses poderes da escuridão.

          Já no que superou o animal, o homem quer um dia ainda superar a si mesmo, os seus erros. De certo modo isso antes estava restrito a sacerdotes, xamãs, feiticeiros, magos etc, mas com a informação e com certa evolução em massa, seja pela educação obrigatória, seja por uma sociedade mais centrada na razão, e até informação enlatada, vemos na filosofia o acesso a quem assim queira, sem votos de castidade ou conversões, ou mesmo sem crença em Deus.

          Desde meus primeiros ensaios filosóficos eu pensava em teorias próprias, e muitas vezes descobria que já teriam sido pensadas, mas de forma diferente. De certo modo, eu procurava o arquétipo de minha filosofia. Dei “nomes aos bois”. Assim, observando o aspecto fenomênico das coisas, percebi algumas alterações sociais e mesmo humanas, atribuindo a estas, nomes como: inteligência carnal, amor em equilíbrio, mutação de gênero, triplo equilíbrio, adestramento do humano, simbólico da realidade, consciência da sexualidade universal, amor a priori, carinho primordial, para-pragmatismo, padrão estético anoréxico-anabolizado, ser eletrônico, homem e mulher em si, direito cósmico etc etc. Muitos desses ensaios e ideias ainda não foram publicados, mas outros estão presentes nas obras que já circulam, das quais leste todas caro mestre.

          Com a Contrarreforma Ético-Filosófica foi dado mais um passo, e que passo, o meu maior. Junto contigo, aprendi muito e que devemos sim levar em frente essa utopia de vingar como filósofos, independente de comerciais editoras ou de qualquer dificuldade inicial, que vem por interesses financeiros, e que se nossa obra ou pessoa tivesse fama, certamente seriam diferentes.

          O Estado é um “grande irmão”, um big brother que controla e vigia. Longe de ser um Leviatã, ele serve de sustento e pai para muitas pessoas, educa e castiga, ou na linguagem de direito penal, ressocializa. Mas uma moça que trabalha em bar de meretrício, já afastada pelo preconceito da sociedade, também tem o direito de buscar proteção contra investidas de padrasto ou qualquer outro. Outrossim, tem o direito de fazer o que quiser com seu corpo, e de cobrar qualquer bagatela por uma transa.

Mudando de assunto, vejo que a filosofia tem de ter certo fim, sistema, que também deve buscar o espírito de seu tempo e de acordo com a evolução de consciência de determinada humanidade, uma vez que sabemos haver melhores no oriente, mas impraticáveis ao homem ocidental, assim como vice-versa. Um nome tem de aparecer, talvez não sejamos nós a dá-lo. Talvez a fama venha do que é diferente, e, temos que buscar isso, uma vez que somos os únicos que em nossa terra temos capacidade, ou pelo menos oportunidade. Somos máquinas de filosofar, mas também artistas.

Muitas religiões se tornaram verdadeiros mercados, devendo ser respeitados apenas os crentes ou fiéis. A ciência também busca muitas vezes não a verdade, mas algo que sirva a interesses, seja de grandes organizações ou mesmo militares. Porém, a filosofia muitas vezes não está adstrita a academia, sendo produto muitas vezes de uma mente brilhante, no seu quarto escuro, como Spinoza e suas lentes, ou de um místico e humilde dono de uma mercearia, como Jacob Boehme, ou mesmo no castelo de Montaigne, com seu sino que tocava pela madrugada e frases filosóficas escritas no forro. Devemos além de ter um parto ao contrário, dar nome a essa criança, caro amigo e mestre. Devemos também ensinar gestos, símbolos, linguagem (dar nomes as teorias), para que esse bebê tenha desenvolvimento. Não servimos a nada, a não ser a nossa luz interior.

          Saberemos sim influir ao amar, nem que seja um amor incondicional, ainda onírico as pessoas no geral. E certamente estão carentes de uma linguagem filosófica de seu tempo, a algo novo, diferente do que seja impraticável, mas que leve a uma verdade que possa ser vivida, mesmo que após certa evolução. Essa noogênese não mais será de hábitos alimentares ou meramente postura corporal, será de pura penseneidade. Nós somos por fim esse luzeiro.

 

 

Respeitosamente, Mariano Soltys, o gênio que arvora se comunicar com a humanidade, para uma evolução volitiva.

 

Carta n° 6

 

Vejo você como um tímido e dócil leão. Mas todo leão tem sua realeza. Por certo é bem mais negócio a mansidão na força do que a irritação e o nervosismo na fraqueza. De minha parte sou filho da nobreza polonesa. Meus ancestrais lutaram com cátaros, hereges e turcos. Expulsaram os turcos da Europa. Uma das guerras mais importantes do continente europeu. A casa dos Minikovsky sempre foi amiga da coroa. Chegados do famoso Jan Sobieski. A nobreza está no coração, na retidão de caráter. O nobre é generoso, magnânimo, todos dele querem se aproximar. É rico do ponto de vista ôntico. Não precisa ser rico, necessariamente, do ponto de vista financeiro. Quando se é rico patrimonialmente, no caso dos nobres, - porque também há plebeus ricos, - a riqueza externa somente reflete a riqueza interna.

A filosofia é uma atividade de nobres, ainda que quem a ela se dedique não seja de estirpe famosa ou de patronímico festejado. Ainda que um miserável se dedique à filosofia, logo tornar-se-á nobre. A filosofia é altamente enobrecedora. Filosofia é humanismo e a nobreza traduz o amor ao humano.

A filosofia exige dos seus asseclas linguagem polida, urbanidade, elevação de atitudes, espírito de desprendimento e desinteresse. A filosofia é para quem de nada mais precisa além do próprio filosofar. A filosofia basta a si mesma. A filosofia é muito curiosa: porque quem a ela se dedica já superou uma infinidade de situações que ainda atingem a vida das pessoas menos buriladas, mas a partir do momento que você se torna o cultor dela, cresce mais e mais, de modo que a diferença entre uma filósofo experiente e um homem do senso comum é maior do que entre um gravador e um graduado.

É curioso que uma empresa de um município quase vizinho nosso tenha um cabo de transmissão direto da Itaipú até seu parque fabril e que a mesma Weg fabrique submarino nuclear para a Marinha e que nós sejamos uma pobreza na área filosófica. Prospere a ciência, a tecnologia e a indústria, mas até quando nós, filósofos, seremos ignorados?

Há uma empresa querendo se instalar em São Bento do Sul para produzir ferro-gusa. Ótimo! Fazemos pedra se transformar em ferro líquido dentro de um forno, mas não dá liga nosso pensamento filosófico. No apogeu da Revolução Industrial na Inglaterra Marx e Engels produziram o socialismo científico. É nós, meu caro Mariano, o que produziremos? Penso que a grande percepção é a busca do espírito que anda tão esquecido. Precisamos enveredar pelo mesmo caminho dos renascentistas. Deixar nossa filosofia bastante picante com o tempero do esoterismo, das ciências antigas, das sabedorias pagãs, explícitas ou ocultas. Tudo é informação, tudo é comunicação. Penso que o conteúdo das sociedades secretas também deveria ser trazido a público por uma questão de transparência e boa-fé. Será que nós temos o direito de esconder nossa personalidade? Eu vivo nu. Quem quiser saber quem sou que leia meus escritos.

A partir dos anos 90 ou um pouco antes começou a se falar freneticamente em globalização. Na verdade a globalização começou a acontecer com as mudanças de clima na pré-história. O homem sai do continente africano e se espalha pelos cinco continentes. A globalização se caracteriza pelo trânsito célere de bens e pessoas e pela instantaneidade da informação. Ora, toda informação deve vir à tona, inclusive aquelas que outrora eram confiadas apenas aos iniciados. Isto de maneira alguma enfraqueceria as ordens. O que mantém a ordem unida não é o sigilo absoluto sobre suas filosofias, mas a solidariedade entre os seus membros. Não quero empilhar conhecimento. Pelo contrário, quero propagá-lo à velocidade do vento. E não vale o dizer “echar perlas a los cerdos”. Porque só agarra o saber quem dele é digno. Os que não são dignos se autoexcluem. Muchas gracias, hermano, queda con Diós, tu fuerza moral me asombra. Soy sospecho para hacer encômios a tu respeto, pero mientras yo for tu espiritu simetrico hablaré bien de ti. Abrazo, Cléverson Israel Minikovsky.

 

 

Carta n° 7

 

          A indiferença de um estoico é interessante, mas a aversão ao sentimento não pode absolutamente prosperar. Seja pela própria natureza humana, onde a emoção participa da relação social e coletiva, seja pela psicologia do desenvolvimento humano, de sua personalidade, seja pelo amor desinteressado que move objetivos louváveis, ou pela própria lição do mestre Cristo. Também não tem nenhuma consideração o estoico com Deus, o que vai de encontro com a nossa concepção de transcendência. Claro que de forma positiva resta a questão de não ser perturbado por nada.

Ao pegar um veículo, cada um de nós sai de si em determinado momento, quando no trânsito se vê ferido por determinado abuso de outro motorista, o que leva a ira. Já Sêneca de certo modo trouxe reflexões com relação a essa paixão funesta, relatando ações extremas de imperadores romanos por motivos banais. Mas certos sentimentos, de forma homeopática levam o humano a perceber a vida com mais felicidade, não sendo de todo “paixão”. Talvez muitos dos vícios se vejam hoje mais tolerados, e as psicologia e antropologia contribuíram em muito com a percepção de que esses vícios ou paixões têm na estrutura humana certa função, como na agressividade que auxiliava na caça, no desejo que auxiliou na expansão da população, no orgulho que salvou muita baixa autoestima, e outros motivos assemelhados. Há um aspecto teleológico, tais vícios têm sua função na natureza humana. O adulto carrega toda essa estrutura e não é um robô filosófico, mesmo que tenha por preponderância a razão e o que chama de virtude.  

          Exceto certos abusos do povo, fica claro que uma filosofia almeja a virtude, combatendo paixões excessivas. Mas certo retorno a natureza às vezes se faz necessário, pois até reis usam o seu trono (referência de Montaigne a que todos defecam). Deste modo, necessidades fisiológicas igualam os seres humanos de certo modo, apesar de que o autodomínio varia no que tange a cada um em seu temperamento, condicionamento etc. Voltamos de certo modo aos sete pecados capitais, como divisa entre o que é considerado bom ou mau. Acontece que a nível individual há muita variação nessa concepção moral, sendo para alguém a gula não ser um grande mal, nem o orgulho algo que prejudique a sua vida, e o ciúme muitas vezes é algo que só prejudica o próprio indivíduo, não a sociedade. O filósofo porém está acima, mas não livre dessas paixões e vícios, que devem o perseguir feito sombra, por enfrentá-las face a face.

          Também a busca de prazer não constitui um mal em si, dependendo dos meios para a sua perquirição. Em nossa sociedade o problema é mais centrado no consumismo, virtualismo, na escravidão de meios para encontrar esse prazer, e aqui talvez more o problema, como financeiro ou prejuízo em relações sociais e familiares. As pessoas ficam endividadas por mil coisas, mil bugigangas e futilidades. Talvez os antigos gregos tivessem as suas, mas hoje já as crianças vêm “amestradas” nesse modus vivendi e o condicionamento (a modo Pavlov) se faz tão rigoroso que seria difícil convencê-las do contrário, que estão sendo enganadas para comprar, que brinquedos e outras coisas não são tão importantes as suas vidas assim, como são levadas a acreditar. Adultos são também levados a beber cerveja, torcer por um time de futebol, comprar roupas desnecessárias, cremes de rejuvenescimento e mil produtos enganosos. Vira um ciclo vicioso onde a humanidade inteira é descartada, após ser usada e abusada. São perturbados por tudo, tem ainda os nervos a flor da pele. O filósofo está inserido nesse mundo, mas às vezes não participa, apenas observando esses fatos sociais. Somos nós que devemos levar em conta o mundo em que vivemos e mostrar os defeitos, principalmente os que levam as pessoas para a tristeza e autodestruição.

          As pessoas são perturbadas por tudo, ciúme, inveja, pelo que não podem comprar, pela beleza que acham não ter, pelas próprias ilusões. Longe de agir eticamente, muitas passam por cima de outras pessoas, enganam, mentem, se apropriam do que não é seu. A falta de visão de que somos uma coletividade leva a semear futuras revoltas e mesmo guerras. Quem por fim oferece o pescoço é o povo, enquanto poderosos secam suas gargantas em discursos vazios que no máximo resultam em falsa diplomacia entre nações. Talvez não tenhamos o mesmo conceito de virtude que os antigos, mas devemos buscar a paz ara nossa própria subsistência e sustentabilidade, começando pela imperturbabilidade. Comecemos assim por nós mesmo, na nossa família, depois comunidade, cidade, estado país etc. Levando em conta os sentimentos positivos, podemos evoluir conscientemente, não sendo robôs ou fantoches de consumismo e certos bancos internacionais. Por fim, a lição de adaptação dos gregos, vemos que superar os problemas humanos é sempre algo similar, pois o humano não muito diferente naquele tempo e no nosso. Encontramos por fim a felicidade, usando a nossa inteligência.

          .

Respeitosamente, Mariano Soltys, filósofo por natureza.

 

Carta n° 8

 

          Caro Mariano, hoje fui até à Sociedade Ginástica e Desportiva São Bento para receber a última parcela que eu estarei lhe repassando ainda hoje. Posso lhe dar uma ideia. Gostaria que toda vez que você escrevesse uma carta com três páginas escrevesse também o livro do Ginástico, ao menos três páginas. Como escrevemos no mínimo duas páginas por dia, em um mês são 60 ou 90 páginas.

          Assim você fica com seus mil reais e me ajuda nesta empreitada. A propósito, você recebeu a carta de n° 6? Eu lha enviei duas vezes. Não sei o que está acontecendo. Passei o final de semana bastante atacado de resfriado. Considerando o clima de São Bento do Sul, demorou bastante eu ficar gripado. Nosso clima é extremamente semelhante ao de Londres. São Bento do Sul é a segunda cidade que mais chove no país, a primeira é Rio Negro. Pelo menos clima de primeiro mundo nós temos. Pena que o restante não é semelhante a Londres. A nossa Universidade local por exemplo.

         Hoje minha vontade era não trabalhar, mas minha mulher gentilmente me expulsou de casa porque eu sou um estorvo para a limpeza. Nada como repouso para quem está gripado. Nesta madrugada eu vi como é bom não ser fumante. Estava a me falar ar. Se eu tivesse o pulmão fraco iria sucumbir. Agora que estou próximo ao meio-dia já estou bem melhor.

         Conversava eu com meus professores que fizeram curso de doutorado em Roma e os mesmos me comentavam que muitos retornavam ao Brasil com a saúde abalada. O tempo fechado instiga à reflexão filosófica. Você procura uma luz em meio à escuridão. Se o sol está esplêndido e pleno então já não mais há o que ser buscado. Os países de sol a pino são países de muita religião. Os países de tempo fechado são fortes na filosofia.

          A religião é paixão, a filosofia também é paixão, mas a filosofia é uma paixão educada, refinada, consciente e civilizada. A religião é um enorme salto. A filosofia é mediação. A religião é fortemente emotiva. A teologia é a filosofização da emoção, é o invólucro racional no conteúdo místico e emotivo.

Quando falo que me comporto como estoico não podemos nos esquecer que os estoicos acreditavam em Deus e que os próprios primeiros cristãos foram ou simpatizavam com o estoicismo. O estoicismo é o desprezo do mundo e o apego única e exclusivamente ao espírito. O estoicismo é muito prático. O estoicismo se amolda a outros sistemas de ideias que não o seu. O estoicismo é uma ética que comporta várias metafísicas. Desde um existencialista estoico até um marxista estoico. Pascal e Benjamin são exemplos do que falo.

          Final de semana, mais precisamente no sábado, fiquei fazendo política. Acompanhando a Ângela Amin nos seus trajetos políticos. Estivemos em Rio Negrinho para uma passeata, que foi cancelada em razão do mau tempo e depois fomos para a Promosul para vermos o talento do pessoal de nossa terra.

         Parece que é difícil fazer campanha quando a coligação envolve um partido de esquerda e outro de direita. Descaminhos e desinformações são constantes. Há quem diga que muitos pepistas farão campanha para o Raimundo Colombo. Eu não acredito muito nisto.  O Valmir está animado e eu também estou.

Quem sabe você não se filiar conosco. Penso que seria uma boa. A vida não é feita só de filosofia. Aliás, todos os grandes filósofos, com poucas exceções, trataram da política, quem sabe a gente, vez por outra, não insere uma pitada de política em nossas cartas.

         Fico aguardando sua nona carta. E espero que tenha gostado das anteriores e da minha proposta de atrelar a confecção das cartas com a confecção do livro do Ginástico. Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, filósofo da humanidade e amigo seu. Good Luck!

 

Carta n° 9

 

          Caro Cléverson, ontem viajei para Rio Negrinho e não estava quando visitaste minha residência, mas estou com as chaves e apenas queria me lembrar de quais dias posso ir lá na sede da Edelweiss. Estou escrevendo sobre o grupo e estou apaixonado pela música, principalmente a religiosa e medieval, que já eram por mim admiradas. Está difícil escrever em quantidade, mas o livro do Ginástico ficará bom. Recebi a carta 6 sim. Não fiz muita política, mas certamente o fiz muita teologia em minhas orações e escritos reflexivos.

          Continuando assunto de cartas anteriores, parece que toda a grande filosofia tem uma busca do puro episteme. Mesmo os cínicos têm lições que ficam, como a aversão a certas autoridades e honrarias. O nosso não tem na classe ou honra uma forma de diferenciar as pessoas, mas o dinheiro. O mendigo seria uma grande crítica, ainda mais a molde “Sócrates enlouquecido”, nosso Diógenes.

Movimentos literários de longa data já discutem esse mundo moderno urbano, com sua tecnologia e sofistica-ação. A filosofia também o fez, apesar de esse sistema capitalista estar tão pacificado, que nem teorias de socialismo (que alguns dizem ser meras cópias da regra de São Bento em relação à propriedade), ou anarquistas conseguiram grande conquista, ou mesmo de uma moda ainda maior do seu tempo, como aqueles que seguiram Founier. Atualmente tribos de jovens como Alternativos, Emos, Góticos etc, tem um papel ainda isoladamente significativo, buscando o choque na aparência e na adulteração de gênero ou valores culturais.

          Novas versões talvez de cinismo ou do epicurismo, estoicismo etc. Também com a cara diferente, mas as suas ideologias, como volta a vida natural, criticar o sistema, questionamento de poderes, de classe, de costumes ou mesmo do que é tido como moral ou imoral. Vemos sempre duas classes de filósofos: tradicionais e rebeldes. Mas os tradicionais podem ser rebeldes e vice-versa. Tudo depende do foco e de qual situação vivemos. A metafísica outrora era o de mais importante, recentemente deixada de lado. A ética sempre volta a ser um megatema, apesar de vermos opiniões tradicionais, muitas vezes. Existem uma série de especialidades, afastando o essencial de um movimento, a sua identidade.

          Talvez não mais um “voto de pobreza”, a molde dos monges ou Templários, porém uma vida alternativa traga a muitas pessoas mais felicidade, e muita filosofia. Epicuro e sua grande família, os amigos, foram para o campo e produziram comunidades de seguidores de seus princípios, que escreveram frases suas no muro de um mercado. Na sua filosofia a riqueza tomara apenas o terceiro lugar de importância, estando autoanálise e amigos como dois primeiros. Longe da polis poderiam ter autossuficiência, uma vida de campo, plantar, fazer o que quisessem, não abandonando, contudo, uma ética elaborada. Vemos contudo em nossa sociedade “evoluída”, pessoas brigando ou até matando por dinheiro, objetos de consumo, e, há quem sofra e se suicide por não ter uma vida materialmente satisfatória, ou perder a que se antes possuía.    

          O ser humano nunca esteve tão estressado ou depressivo. Compra para superar a tristeza, compra para se autoafirmar, compra para namorar, compra para existir, compra para filosofar. Somente não compra uma filosofia, que vem certamente do brilho de um gênio, não de banqueiros ou casa da moeda. O filósofo é um milionário, não precisa comprar.

          A nossa sociedade é então sofisticada. Ela se vende, faz o preço para tudo, desde a salvação pela fé até a própria vida. Nesse sistema de venda acadêmica imitamos os sofistas, e o valor de um curso particular de mestrado ou doutorado se revela nessa dinâmica. Voltando aos cínicos, eles não precisavam de escola ou nação, porém sempre era de sua natureza a ironia e reflexão. Também epicuristas aceitavam certos prazeres do mundo, mas também não suportaram o centro urbano. Hoje não há para onde fugir, todo o lugar foi contaminado.

Apenas o necessário talvez fosse para os consumidores, e nunca brigar por objeto, pois as pessoas são eternas em nosso espírito e na realidade espiritual, já os objetos acabam perecendo em ambas as realidades. Certamente assim São Francisco de Assis ou São Bento restariam como lições em relação à propriedade, mais em relação ao desapego do que num mero sentido de pobreza ou nada possuir.

Por fim não devemos colocar mais valor em objetos do que nos seres humanos, nos sentimentos e na própria filosofia, sob pena de a filosofia virar uma marca qualquer que compra tudo e que engana a todos, dizendo-se a verdade, quando nada mais é do que enganação para o puro comércio, mercadoria. Vemos já alguns imitadores de filósofos que viraram mercadoria, por venderem bem, não por serem os melhores.

 

MARIANO SOLTYS, filósofo do cosmos e amigo seu. Congratulations!

 

Carta n° 10

 

         Mui digníssimo frade de labor intelectual. É ao sabor de um vinho tinto seco ligeiramente envelhecido que lhe escrevo esta epístola. Escrevo-lha com satisfação e saudades do mundo platônico.

         Me gusta escribirle. Mi bolígrafo es una lanza a apuntar leones y otras fieras. Solamente la filosofia serveme de consuelo. Ella es la madre bondadosa que me acoge. Soy su hijo, aunque un hijo rebelde. Las razones  del corazón no son las razones del razón. La filosofía es mi madre, hija, esposa, reina y meretriz. Si no le escribo más no es por debilidad de mi español, hasta mismo en portugués me escapan las palabras. Nuestras conversaciones son nobles y elevadas, llenas de urbanidad y llanura. Es verdad que soy sospecho para hablar de nosotros mismos. ¿Pero, quien ha autoridad sobre nosotros? El ditado español dice: “Mataron a la perra, pero quedan los perritos”. Nosotros somos los perritos, la perra es la filosofía. Estámos sin leche, sin el néctar que nos alimenta. Restanos compartir las sobras de los platos de los humanos, estos seres a nos tán inferiores y tán más ricos. ¿Donde están los sábios, donde están los filósofos? Ahora es lo momento ideal de hacer una revolución, ideales son las condiciones de la transformación. Mientras algunos sequier tienem lo que comer, otros vuelam a altiplanos espirituales. El mundo material es desigual por que desigual es el mundo espiritual. Sufre quien nega tal verdad. Las ilusiones son de múltiples colores, la verdade es de un único ton, es gris. Somos hijos benjamines de la matriarca filosofía. Los más mimados. Preguntame si quiero crear juicio, claramente que no. Vivir para mí es filosofar. El problema de lunes, martes, miércoles, de ayer, de hoy y de la mañana es el filosofar. La filosofia es lo comenzo, el médio y lo final. Lo que los enamorados dicen entre sí: “Yo te quiero”, yo lo digo a la filosofía y al filosofar. En las toradas se ve sangre, dolor y peligro. En la filosofía yo veo todo esto. Mucho más, en la filosofía yo soy el bravo torero. Mas en la arena estoy yo y el animal bravio sin platea. Usted comprende lo que estoy a hablar, usted vive todo lo que describi. Estoy lleno de trivialidad. No más soporto leviandad y cosas corriqueras. Tales cuales novela, comadrería, asuntos pequeños y similares. La filosofía es la ruptura con la banalidad. La propia filosofía ha se tornado un gran sombrero bajo lo cual se abrigan los más indignos librepensadores. Es nuestra tarea moralizar la filosofía. La filosofía es una íngrime escalera de muchos solpedaños que ascendemos de rodillas. Casi, o tal vez, justamente, una viasacra. Los hombres pretenden ser distintos, pero la filosofía les mostra que son redundantemente iguales.

Porca la pipa, chega de espanhol. Que bello diorno, andiamo parlando portoghese. Tutti bona gente brasiliani, anche merita auscultare in suo idioma.

Well, we are. Thank’s: you are much paciencious. É um desafio muito grande responder às suas cartas. Você é um intelectual de peso. Faço o que posso. Os antigos já diziam: “gutta lapidem cavat”. E em outro lugar: “repetitio est mater estudiorum”. Isto vale para a filosofia, para a aprendizagem de um idioma, para tudo. Penso que não serão em três anos que iremos resolver todos os problemas filosóficos do mundo. Mas eu já tenho mais de quinze anos de intensa dedicação à filosofia para não contar os três anos de filosofia que tive no ensino médio. Talvez a comparação da filosofia com uma cadela tenha caído bem, justamente nesta fase em que estamos tratando dos cínicos. As analogias são uma fonte inesgotável de hermenêutica. O filósofo é essencialmente um intérprete. Sempre me vi como um intérprete. Dos livros, do mundo, da vida, das pessoas. A filosofia é cruz, é missão, pesa toneladas, mas nos sentimos confortáveis com ela às costas. The world is philosophical and we are wizards and magi’s. The philosophy, I repit, is my mother. You are my friend, brother and teacher. You are, forever, my preferred philosopher. Respeitosamente,

 

Cléverson Israel Minikovsky, filósofo, advogado e jornalista

 

Carta n° 11

 

          Mui ilustríssimo Frater Cléverson Israel Minikovsky. Agradeço a carta poliglota e por incrível que pareça, entendi grande parte da mesma. E como você colocou a baila a questão: onde estão os sábios, onde estão os filósofos?

          Não me reconheço ainda como um sábio, mas constantemente busco a sabedoria. Tento imitar os grandes que já pisaram nesse mundo, ou que como eu, se definem como cidadãos do cosmo. Não me sinto muito bem, mas me faço o bem. Sou senhor do meu destino. Parece que a nossa conquista filosófica já é um dos máximos que um homem pode buscar nesse mundo, talvez o Santo Graal verdadeiro.

          Desde povos muito antigos, como os ditos Atlantes e Lemurianos, havia sempre uma ciência superior e homens (ou gigantes) que se destacavam. Talvez máquinas de tecnologia inimaginável, algo que já foi destruído. Longe do nosso tempo então se achar superior e afastar o Criador, pois apenas imita a história. Será que não seríamos nós os mesmo sábios ou filósofos com outra cara, nesse eterno retorno?

Somente o amor pela filosofia já é um atavismo com essa questão. Essa carta onze , que é um número que hodiernamente vem na referencia a “todos somos um”, a esse espírito de unidade tão perdido em meio ao egoísmo cada vez mais imperante. O filósofo apesar de isolado em livros, sempre se mantém muito social, e sobre isso tu já disseste na tua obra “A Filosofia e o Direito”. E é o mais apaixonado. Apenas tem um modo diferente de estabelecer o contato com tudo e todos, mas é sim um observador, usa de analogias. É a lei do triângulo que impera novamente.

Mas o que é do ser humano sem luz? Talvez aqueles da Bavária preocupados com isso, fundaram a Illuminati, muitas vezes mal compreendida e confundida com outras ordens, como a Maçonaria e a Rosa-Cruz, com as quais tem boas relações, porém independência ideológica e administrativa.  Em verdade, tanto Rosa Cruz quanto Iluminado são graus determinados de evolução espiritual ou de consciência, não ordens ou fraternidades, mas talvez parte daquela que no Tibete é chamada de Shambala, a “Grande Fraternidade Branca”, onde estão na mesma mesa Jesus, Buda, Zoroastro, Saint German e tantos outros mestres. A Maçonaria era em princípio ordem de construtores e apenas após rosacruzes adentrarem nesta é que a mesma teve maior enfoque “especulativo”, hermético, vindo também a ter mais poderosos em suas lojas.

          Não se confunda Loja Branca com Loja Negra, se é que existe alguma fraternidade maligna, ou se é que tem força. Existem sim filosofias que tendem a seguir algo outro, mas ainda para determinada evolução, mesmo que por aparência um tanto não convencional em seus símbolos. As ordens mágicas, como a Golden Dawn (Aurora Dourada), de parte com rosacrucianismo, parecem que são ainda mais seletivas e seus membros fundam outras ordens, como a O.T.O. e a A.A., que englobam os conhecimentos de Crowley, o polêmico. Não podemos esquecer que antes desses vários iluminados, foram os teosofistas que abriram portas para o oriente e seu aspecto esotérico, especialmente com Blavatsky. Não confundir nenhuma dessas versões com satanismo, o que a moda dos que escrevem sobre sociedades secretas vem o fazendo, e mesmo fundamentalistas religiosos.

          A Illuminati estava oculta até tempo recente. Outras ordens ainda se mantém ocultas, como algumas cabalísticas, pela própria evolução de seu ensinamento, não acessível a todas as pessoas, pela própria seleção que fazem ao seu ingresso. Não tem nada com atentados, mas tem participação política. Seu fim são os treze pontos, que estão abertos para qualquer um ver, e acabar com a fome mundial ou dar educação a todos, não são objetivos malignos. Ordens de poder sem fim esotérico existem, e talvez sejam essas as vilãs, não as escolas de iniciação aos mistérios que têm por óbvio nos mistérios seu maior enfoque.

 

Mariano Soltys, filósofo, advogado e místico

 

Carta de n° 12

 

         Doce es el número de la totalidad. De las doce tribus, de los doce apóstoles, doce es el número de lo PDT. Cuándo se habla de rosacrucianismo, masonería y otras órdenes usted es autoridad. El esoterismo es el conocimiento del bien y del malo. Esoterismo es filosofía. Tal vez no en el sentido de hoy pero por cierto en el sentido renascentista. No ha ni un otro conocimiento tán profundo cómo el esotérico. Yo también anhelo ser un brujo, un místico. Conocer es conocer el oculto, lo conspícuo está al alcance de todo, esto no agrega nada. Nadie avanza si no penetra el oculto. Por cierto es por eso que no soy invitado para componer los ilustres cuadros de las órdenes secretas: los cabezas saben que soy un peligro, un devasador de bibliotecas, voraz por lo conocimiento. Para mí, rosacrucianismo o masonería no es solamente un compromiso social, un “soirée”, como lo dicen los habitantes de Francia. Para mí, el ingreso a una de estas órdenes es mudanza de conciencia, es mudanza de visión del mundo. No es posible tornarse rosacruz o masón y quedar ojeando el mundo de la misma forma. El miedo de los iniciados en relación a mi persona es lo mi fuerte y exagerado interés por la materia. Yo no tengo médio término. Mi pasión es mayor que la recomendada. Sospecho que haya otro problema, sea ello, lo de que mis propiedades no sean lo suficiente para engendrá aparencia de opulencia ante la sociedad en general y ante la propia hermandad. Se esto esta a ocurrir entonces lamento profundamente. Yo repudío todas las formas de satanismo. Pero quiero conocer lo satanismo pues es mejor y más fácil luchar contra el enemigo cuándo se le conoce. Quiero desterrar los residuos de ingenuidad que aún habitan mi ser. The God is my Lord, I love your holy name. Quiero haber la astucia de los malos y la simplicidad de los niños. God: She/He is wise. Nosotros somos hijos de Ella o de Ello y por tanto igualmente sábios. Mi nombre es Cléverson (Hijo de la Sabiduría) Israel (Diós es Fuerte) Minikovsky (Tierra). El sentido cabalístico incumbe al señor apreciar, carísimo Mariano. God is’nt freemason, He simple is other within dimension but this – the to be freemason - is’nt important. Nothing important. Dizer que Deus é arquiteto não é nenhum erro mas é dizer muito pouco. Ele é o alfa e o ômega, o a e o z, o aleph e o tav.

         Mio amico il signore è un gentiluomo che me scrive, me dona il pane nostri de ogni giorni: la filosofia, il pensiero. Caspita, questa vitta non è giuoco. Porco cane!!!

         Caro Mariano. Tenho percebido que todo o erro da educação consiste em não exigir do aluno que ele se torne um produtor de texto. Ficamos anos e anos na escola estudando inglês e nada sabemos de inglês. Os alunos ficam três anos estudando filosofia no ensino médio e nada sabem de filosofia, porque não produzem textos filosóficos. Para a aprendizagem de um idioma é extremamente necessário que desde a primeira aula ele esteja produzindo textos naquele respectivo idioma. Matemática deveria ser aprendida dando projetos para os alunos desenvolverem em que o uso da matemática é imprescindível. Tudo está errado. James Hunter já disse para os joinvilenses: practice, practice, practice. Para quem ler esta carta além de você, meu querido amigo Mariano, e não conseguir entender: prática, prática, prática. Não foi no curso de direito que eu aprendi a advogar, lá eu apenas deixei de ser absolutamente leigo. Foi advogando que eu aprendi a advogar. Você, que tem mais tempo de advocacia do que eu, concorda comigo? Até mesmo o relacionamento humano: lamento ter aborrecido a Sônia com os meus primeiros tempos de casamento em que eu era tão inexperiente. Todo o conhecimento é empírico, mesmo o mais abstrato, mesmo o esotérico, religioso e místico. Tudo é relacionamento: relação do eu com os outros eus, do eu com o Eu Divino, do eu com os objetos e do eu com as ideias, com as sensações e toda sorte de impressão psicológica. Era isso o que eu tinha a lhe dizer por hoje, Mariano. So long, ciao, auf wiedersehen, adiós.

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, do Filho da Sabedoria ao Mestre dos Magos.

 

Carta de n° 1treze3

 

          Ilustríssimo amigo Dr. Cléverson Israel Minikovsky. Venho pela presente carta dialogar sobre o tema anteriormente proposto e sobre assuntos correlatos. Ao som de canto gregoriano Sacrum Triduum Paschal Passionis et Resurrectionis Domini Missa Vespetina in Cena Domini (Cantus Gregoriani - Sacrosanctae Romanae Ecclesiae de Tempore & de Sanctis), estou eu agora a escrever, na mais elevada sintonia de consciência.

          Não em menor monástica rotina, me vejo agora a refletir sobre diversos temas, e ontem ao estudar algo de teosofia, percebo que tanto no oriente quanto no ocidente podemos encontrar a luz, mesmo que por meios aparentemente diferentes. Assim vi que a senda é o que importa, no eu e no espírito, independente da religião ou escola filosófica que se frequente ou seja membro, como maçonaria, rosacrucianismo, catolicismo, budismo, hinduísmo, islã etc. Sobre o Grande Arquiteto do Universo, é nome utilizado para não possibilitar sectarismo entre irmãos e para facilitar a fraternidade, maior objetivo maçônico, fora se tornar “pedra lapidada”, evoluir. Como os ritos e graus comprovam, o Deus é judaico-cristão, pelos nomes hebraicos e pelo próprio grau/capítulo de cavaleiro rosa-cruz do Rito Escocês, que nada tem a ver com a ordem de mesmo nome, mas com puro cristianismo (essênio, claro). Pontos de vista diferenciados de cristianismo já existiam entre jesuítas, dominicanos, franciscanos.. etc, e Deus pode parecer diferente para cada crente.

          Essa presente carta é a treze, que significa morte e transformação no Tarô, uma nova vida. Saturno vem assim com sua foice, imitar aquele cruel Cronus, que nada mais é que o tempo. Como o tempo é relativo e ilusório, ligado ao corpo físico, apenas um dos veículos nossos, nada temos a temer. O número já revelou muitas tragédias, como o nome de Napoleão e o navio Titanic, que por numerologia levavam a esse mau presságio. A morte pode significar transformação e iniciação, e talvez por isso em ritos maçônicos se dê essa tônica ao mito solar de Hiram, que pode ter paralelo com o que ocorreu com Cristo e mesmo Osíris, ademais, principalmente esse último. O iniciado não teme a morte, pois conhece a vida mais ampla. Não é a toa que Jesus disse para que “os mortos cuidassem de seus mortos”, daí da vida espiritual ser mais sustentável.

          Mas voltando a Teosofia, perece que ela é que influenciou essas ordens de iniciação aos mistérios do ocidente, apesar da grande carga egípcia em ritos e símbolos, o paralelo com os do oriente é bem vasto, como demonstrou Blavatsky na “Doutrina secreta”. Lá está a verdade sobre essas fraternidades, não nessas revistas que encontramos em bancas, ou mesmo em livros tendenciosos e sensacionalistas. Nós filósofos devemos saber a verdade. Não que dentro de qualquer organização não existam conspiradores, poderosos e quem jogue com o poder, mas não se deve confundir os homens com as organizações. Essa confusão já foi feita entre a Inquisição e a própria Igreja Católica, o que não é de bom gosto ou sabedoria, uma vez que ela foi a primeira a difundir a sabedoria de Cristo em grande escala.

Mesmo porque Jeová tem um significado semelhante a AQUELE QUE É, não sendo um nome, pois o nome mesmo só o sacerdote deveria saber. Entre cabalistas judeus o que sabe é o mestre do bom nome, que o usa para curar as pessoas, sendo o Baal Shen Tov. Logo Grande Arquiteto do Universo, que era termo que existia antes dos “pedreiros livres”, não encerra a sabedoria maçônica, mas é termo geral para ter entre irmãos pessoas de diversos credos, como judeu, católico, budista etc. Assim, adapta-se de acordo com a cultura, costume, liberdade, etc, não com gosto particular. Uma seita filosófica de iniciação, seja qual for, tem uma vasta concepção de Deus, seja por estudos de cabala, filosofia, metafísica, teologias, e certamente não é por usar um nome que tenha uma concepção particular do Criador, que para começar não é personificado, por herança hermética.

 

MARIANO SOLTYS, filho do Pai, do seu mestre oculto.

 

Carta de n° 14

 

         Caro Mariano, ¿quien es su padre, quien es mi maestro oculto? Vamos jugar abiertamente. Revelame esa personalidad. Es lamentable que yo haya que preocuparme tanto con dinero. El centro de mi atención son los bienes de lo espíritu. Pidole que hayas la grandiosidad de ayudarme en esta espartería. En lo día que yo tuviere condiciones iré a Sant’Iago de Compostela. Tratase de una trayectoria de 800 kilómetros. De la Francia a la España. En lo percurso pasamse por los lugares y un cuaderno es sellado para hacer prueba de la viaje. Al final es quemada la ropa en señal de purificación. Llegando a la Catedral ha una misa. La está el manto do apóstol Tiago (o mejor, Iago), hermano de el Cristo, según los apócrifos. Las personas son acometidas de visiones y revelaciones en lo percurso. Es una experiencia espiritual sin igual. Es común yo sueñar que estoy siendo iniciado en una sociedad cerrada. Mis sueños son coloridos rellenos de símbolos y mensajes subliminares. Quizá, un día hazamos juntos esa viaje que Pablo Conejo hizo y que dió mucho resultado. Cristo dice de si próprio: “Yo soy el camino”. En otras palabras, “Yo soy la puerta”. Todos nosotros debemos ser puertas para los otros, los prójimos. Me gustaría que usted fuere una puerta para mí. En mi vida la mayoria de las personas son murallas. Las diversas dimensiones de la realidad son como puertas y ventanas. Abramos puertas y ventanas. Open doors and windows. The hearth of the people is closed. Look for moon, look for sun, look for rainbow. Who is your father? Who is my teacher? I want see the face of the my master. Las condiciones sine quibus non de toda aprendizaje es la intimidad entre maestro y alumno o discipulo. Yo creo en esto firmemente.

Pois bem, Mariano, vamos crescer juntos. Não gostaria de desfrutar de uma riqueza que eu não pudesse compartilhar com você. A solidariedade é a base do conhecimento. O conhecimento socializado que se torna poderoso. Cristo já dizia “Quem me conhece, conhece o Pai”. E quando os discípulos disseram: “Mostra-nos o Pai”. Cristo respondeu: “Há tanto tempo estou convosco e ainda pedis que Eu vos mostre o Pai?”. Somos filhos espirituais uns dos outros. A ponto de que Paulo chamava Timóteo de “filho”. Não tenho a pretensão de ser um pai espiritual, embora eu tenha um bom preparo espiritual se comparado com o homem médio. Mas quero ter um bom pai para ser instruído nas coisas do espírito.

          Com certeza eu não sou o mais digno. Mas se quem é digno despreza o seu quinhão, ele soçobra para aqueles que como eu, que embora sendo indigno reconhece o valor do quinhão e dispensa a ele a atenção que ele merece. Sobre a questão da dignidade acrescento a força do meu caráter, que a despeito da dúvida de alguns, é sobre-humano, efetivamente heroico, a oportunidade de demonstrá-lo está por chegar, e sou filho da nobreza polonesa e nobreza é hereditária, mil gerações para trás ou mil gerações para frente somos todos nobres, nós, os Minikovsky.

         Desejo-lhe um bom curso ao lado do meu colega e sócio Luciano, o homem da luz, e que ambos possam extrair muito proveito do curso. Quanto a você desejo sucesso no concurso e tenho certeza que a aprovação é certeira. Que bom vê-lo rico, casado com uma bela mulher, escrevendo e publicando livros.

Por gentileza, a chave do Edelweiss está com você. Espero seu empenho nesta obra. Não pela pecúnia que lhe toca. Mas pelo seu nome na capa da obra. Ajude-me a descascar este abacaxi. Quero seu apoio. Isto irá nos trazer muito prestígio, tenho certeza disto. Se precisar de mim pode contar. Precisamos tomar um chimarrão juntos ou uma cachaça qualquer dia destes. Filósofo gosta de bar. Precisamos cultivar mais isto. Às vezes com o Luciano e o Patrick, às vezes só nós dois para os assuntos esotéricos e filosóficos fluírem melhor.

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, do Senhor dos Anéis para o Inspetor do Grão-Mestre dos Grãos-Mestres.

 

Carta de n° 1quinze5

 

          Caro Cléverson, amigo dos mais elevados diálogos. Elucido que meu Pai é meu eu superior, o que chamo aquela semente deixada por Deus, parte ao mesmo tempo de mim e Dele. Na maioria das pessoas falta consciência dessa dimensão sua, até em mim. Mas na senda, que não pertence a sociedades secretas desse mundo, nem mesmo ao caminho de Compostela, mas a algo interior e sempre íntimo, de ligação entre o discípulo e seu mestre, de sua parte inferior e superior. Isso corresponde aos diversos veículos que possuímos, uns dos quais usamos para projeção astral, outros apenas para julgar, como o corpo mental. Outras tradições chamam isso de forma diferenciada, como corpo glorioso, mas não nos atenhamos a nomenclaturas, as quais são apenas véus de algumas religiões e seitas que insistem em terminar com a fraternidade humana. O filho do Pai deve superar essas distinções e apenas seguir o seu mestre.

          Pois bem, a carta já é a décima quinta. No tarô não é nada mais do que “O diabo”, que representa um homem e uma mulher acorrentados ao antigo “Pan”, que é essa tendência de regressão ao primitivo homem, a certa anarquia natural, de estágios anteriores de evolução. Disso tem de se livrar completamente o iniciado, e as chaves do tarô tem revelado estes mistérios, ocultos a muitos, e um tanto alterados nas gravuras. Quinze talvez seja um número mais sinistro que treze, mas devemos passar por essas provas espirituais em nossas cartas.  

          Apenas basta buscar, ser buscador. Talvez alguns ainda não estejam preparados para ouvir seu mestre, mas nós, de alma antiga e gosto filosófico, certamente temos algo de sintonia ao Pai. Nunca devemos fazer propaganda de qualquer saber, com orgulho ou vaidade, pois desse modo seríamos logo afastados e reprovados no primeiro teste, que é se discernir o que realmente tem valor, que pode ser o fim espiritual, daquilo que interessa ao mundano ou profano.

Quanto ao estudo, decidi o fazer, mas sem aquela obrigação de outros tempos, uma vez que possuímos profissão e renda. Seria apenas para sustentar meus ofícios filosóficos e de escritor, mas isso futuramente. Talvez por mapa astral demonstrar tendência a lidar com imóveis ou escrituras.

          Também farei uma homenagem a meus antepassados no que escrever, mas me vejo um tanto já superando raça, credo, mesmo influência de opinião. Somente o mestre interno deve guiar, e isso de acordo com plano Divino, não interessando os preconceitos que vêm junto a raça, família, credo e outros. Isso é hereditário. Já a Alma é herdeira unicamente de si mesma e de Deus, sendo que a si une ideais eternos, nunca os passageiros. É como o outro veículo, o físico, que após servir a essa missão aqui nesse mundo, e que devemos cuidar e respeitar, volta ao pó. Assim são os pensamentos ligados ao passageiro, ao não filosófico ou espiritual.

Certamente o encontro etílico acontecerá, uma vez que não mais somos tocados por essas coisas, já que temos almas antigas. É como o provérbio japonês, de que um gole traga outro gole e por fim é o homem que se encontra tragado. Nós tragamos a sabedoria e fazemos dela parte de nossa essência, caro Cléverson. Assim será nesse “jantar do advogado”, cuja tua ausência para mim seria penúria.

Os nossos escritos serão uma forma de ajudar a humanidade, e nisso deve constar grande parte de nossa missão nessa nave chamada Terra. Já temos a riqueza, e isso também se compõe de mulheres e dinheiro, mas principalmente de sabedoria. Somos um tanto salomônicos. Superamos de longe esse diabo, essa carta quinze do tarô, caro irmão. Deste modo assim falei nesses assuntos na carta, a fim de complementar a linha de pensamento da anterior.

 Que o Reparador dos Mundos lhe envolva em sabedoria

 

De MARIANO SOLTYS, humilde filósofo desconhecido.

 

Vela n° 16

 

          É curioso que você seja filho de você mesmo. É curioso que se autodenomine “humilde filósofo desconhecido”. Sim eu e você somos, por enquanto, desconhecidos. Mas eu não sou humilde, pelo contrário, muito ambicioso. Se quisermos que os outros nos dirijam tratamento elevado, devemos começar por nós mesmos dispensando ao nosso self o respeito e a consideração que ele merece.

          Concuerdo llenamente que el hombre que se entrega a la bebida alcohólica resta tragado por ella. Yo soy muy propenso a bebederas y procuro controlar mis instintos. A ejemplo de Martes Lobsang Rampa llamo esta carta de “vela”. 16 puede ser 8 más 8 o 11 más 5. Nietzsche decía que debemos dejar de ser camellos y debemos ser leones. Pero él no era ni camello y ni león, era un caballo. Yo veo a mí mismo como un mono. El hombre, biologicamente, es un superanimal, y, espiritualmente menos      que un ángel pero prójimo a ello.

         Es verdad que el yo superior está em nosotros mismos y no fuera. Entre tanto, rechazo la idea de que es una pierda de tiempo trazar el camino de Sant’Iago de Compostela. Hay lugares sagrados que suscitán nuestro espíritu como no sería suscitado allá. El espíritu es como un objeto empírico que precisa quedar sob determinadas condicionas para dar la respuesta respectiva. Es así que um plato aquecese en el microondas, que la botella resfría en la nevera. El espíritu refleja su entorno. La solenidad del rito influye en el espíritu. ¿Usted no siente su espíritu más sintonizado cuando está conmigo? La recíproca inversa es, para todos los efectos, verdadera. Refirome a mi persona. ¿O niega usted que el ambiente del iglesia es distinto de un salón de danza?

         Estoy escribindo esta carta al sabor de un delicioso té de manzana. Claro, por lo comienzo de la mañana sorbo un fuerte, grosero y amargo cimarrón, cosa de increíble macho. El cimarrón disminuye el colesterol y adelgaza. Bueno a quien ha tendencia a la obesidad. La hierba mate es ideal para grandes esparterías físicas y mentales.

Hoje estou com o raciocínio lento. Quando acordei me deu vontade de continuar dormindo. Sendo sexta-feira quereria eu que já fosse sábado. O frio contribui tremendamente para isto. A ausência de sol é privação de luz e a luz causa um impacto muito grande em nosso cérebro. Oxalá faça sol sábado e domingo.

Na segunda-feira próxima estarei indo para Mafra e Rio Negro, se precisar de alguma coisa é só dizer. Se for possível vou tomar um trago no bar do seu tio. Tenho que ver isto com o meu motorista. Às vezes trazer ou levar alguma coisa. Bem, estou à disposição.

         Você não gostaria de participar do nosso círculo de oração e reflexão da Bíblia? Você daria contribuições importantes. É toda quinta-feira na casa do George e da Val. Para quem não conhece, proprietário do Malagheta. O Manolo preside o encontro. Já que estou a falar dele, ele vai ser pai pela segunda vez. Sucesso para ele e a família dele.

         Recebeu o livro que lhe enviei por e-mail? A propósito, o que você anda lendo? Tenho lido alguns livros jurídicos bem técnicos do Luciano e do Patrick. Coisa que eu não me conformo de não ter lido até o dia de hoje. É nestas horas que percebemos que nem sempre acertamos o alvo durante o fazimento do curso de direito.

         Não está sendo fácil manter a estrutura do escritório e não ter toda aquela clientela. Financeiramente, eu estaria melhor se tivesse ficado com o escritório em casa. Mas a longo prazo a mudança para o centro será benéfica. Tenho convicção plena disso.

 

Obrigado pelas suas cartas amigo. Thank you very much. You are my friend number one. Big master. Good weekend, so long.

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY

Do Vencedor dos Turcos

Para o Filho de Hermann

 

Vela n° 17

 

          Ser filho de si mesmo é curioso, mas quando sei que sou parte de algo melhor, ou que o Pai está através de mim, isso é possível. Sobre o termo filósofo desconhecido o utilizei em homenagem aos martinistas, que usam essa designação para Saint Martin, seu idealizador, e por eu ter sido membro da Sociedade de Ciências Antigas, há alguns anos atrás.

          Mas dezessete é no tarô “A estrela”, carta positiva e de algum sucesso. Ser si mesmo. Refere-se também a Grande Mãe na cabala, Biná. A verdade que vem à tona.

Claro que a igreja é diferente do salão de festas, mas o sábio que entre nas duas é o mesmo. Mas a vibração de um lugar e outro é bem diferente, e mesmo a radiestesia comprova que certos lugares são melhores ou piores a saúde, para se construir ou outra finalidade. Não raro por nossa sensibilidade notamos algo pesado num lugar ou mesmo agradável, e antigos orientais já têm vasta sabedoria nesse sentido, restando às lições do feng shui.

          Lerei o seu livro e estou lendo coisas de pedagogia, algo de lei de registros públicos e também por fim de teosofia, nas horas vagas. Nosso trabalho exige sempre uma atualização e estudo, e não raro fazemos algo não tão perfeito quando nos limitamos a não saber a totalidade do direito. Descobri esses dias que para executar um título de avalista, é obrigatório o protesto deste.

O meu raciocínio está sobrando, é veloz. Com o grande frio eu fico bem mais produtivo e a concentração parece fluir perfeitamente. Durmo até as 8 da manhã, mas a partir da semana que vem com o curso, terei de acordar cedo novamente. Mas é assim que a rosa da alma evolui da cruz da matéria.

          Sobre seu trabalho na cidade de Mafra, desejo êxito e informo que meu tio mudou-se, sendo que não sei onde ficou seu bar, desconfiando que está próximo a ponte de aço. De qualquer forma, serão bem vindos se lá passarem, no Nivaldo.

Sobre círculo de oração eu verei o tempo, e se não haver muito frio, mas nas discussões você sabe que minha opinião é que a Bíblia é livro de ciências esotéricas, geralmente com vários sentidos, de preferência o cabalístico, e que desde magia, alquimia e astrologia estão presentes nela. Eu não seria bem recebido expondo essas opiniões entre evangélicos, e o choque seria inevitável. Somente de falar em Cristo Cósmico já pode levar alguém a se indignar, e ainda mais falar que Jesus somente foi veículo dessa grande presença. Sobre trindade talvez teríamos acordo. E no mais sempre vou além de sentido moral, o que é grandemente utilizado a quem se converte, pelos seus antigos erros, chamados pecados. Nós Cléverson, já superamos em grande parte estes degraus no reto caminho. Sabe que prefiro escolas de iniciação e filosóficas.

          O meu escritório também teve mais êxito o ano passado, neste ano apenas operando em manutenção. Acredito que melhor está esse mês, com novos clientes, mas as causas estão difíceis e juízes atrapalham. Ações como negatória de paternidade, revisional, etc, que têm decisões já prontas, não vêm sendo produtivas. Assim alguns clientes esperam mais e dependemos da mutação de decisões.

No mais, agradeço pelas cartas e muitas ainda virão, com todo o nosso saber e cultura. E aprendo assim também o espanhol, que é um idioma agradável e musical. Abraço, caro amigo.

 

De

MARIANO SOLTYS

Aquele que está na senda.

 

Vela de n° 18

 

         Caro irmão, mestre e discípulo, você é tudo isto para mim e eu sou tudo isto para você. É sempre uma satisfação aprendermos juntos. Hoje tive reunião com o prefeito Magno Bollmann para fecharmos apoio para o deputável Arno Schneider. Esse tal Schneider é coronel da reserva, filho de combatente da segunda guerra mundial. Dirige helicóptero, foi jogador de vôlei de times importantes, foi técnico de times importantes, foi secretário de segurança pública em Itajaí, tem um filho que é formado em direito, relações internacionais e economia, o rapaz foi Ministro interino por dois meses de um Ministério importante que agora não me recordo e atualmente trabalha no Banco Central. O Schneider é amigo pessoal do relator do orçamento da União, conhece muita gente em  Brasília, enfim, é muito bem relacionado. Gostaria que você desse seu apoio pessoal a ele, você e sua família. Ele é um nome forte do PDT. Com a dobradinha para governo de Estado PDT/PP o Schneider está buscando apoio dos prefeitos do PP. O Schneider ainda foi diplomata. O número dele é 1212. Por favor, lhe peço este voto de confiança e 11 para o governo do Estado, uma vez que o Manoel Dias é o vice da Ângela Amin. Acima de tudo o Schneider é um apaixonado por esportes, educação – defende período integral -, e, acima de tudo isto, é demasiadamente ético. Ética esta que vem não só da disciplina militar, mas do seio da família. Estudou no Rio de Janeiro. Tem apoio das associações de militares, de sindicatos e de algumas igrejas evangélicas. Mas é católico. Embora o pai fosse luterano por ser de origem alemã, a mãe sempre foi católica.

          O primeiro parágrafo foi escrito ontem, dia 10 e continuo a escrever a carta hoje dia 11. O dia 11 é dez mais um, é algo há mais que a própria perfeição. Hoje é dia do advogado, parabéns Doutor Mariano, você é um grande jurista, venerável causídico, nobre patrono. Aprendi muito com você. A comunidade de São Bento do Sul, a nossa gente, precisa de profissionais competentes e qualificados como você. Isto é desenvolvimento humano. Você não é mão de obra, você é cabeça de obra. Hoje fui nomeado para o meu quinto Tribunal do Júri. Este está tramitando aqui em São Bento do Sul. Tenho três em Rio Negrinho e dois em São Bento do Sul. Parece que bem pouca gente está cadastrada para esta área.

         Voltando aos temas filosóficos minha tradução da Summa Philosophica para o espanhol está indo devagar mas sempre. Não foi tarefa fácil traduzir o seu prefácio. Foi muito bom traduzir os respectivos prefácios porque eu pude me debruçar calmamente sobre cada um deles e degustar palavra a palavra. Pude apreciar os encômios dirigidos à minha pessoa. Uns mais cautelosos como o do Fídias e outros mais assumidos como o do Forteski e o seu. Senti-me amado. Sim, amado. Você terá um texto seu de cerca de dez páginas em quatro idiomas e devidamente publicado, ainda que nas entranhas de obra alheia. Mas penso que isto é importante. Quando eu terminar de fazer a tradução espanhola, italiana e inglesa terá se descortinado perante mim alguma grande chance de publicação. Tenho certeza disso.

         São várias as experiências intelectuais: a de leitura, a de escrita, a de reflexão, a de pesquisa, a de aprendizagem de idiomas, a de tradução, a de parceria intelectual, a de catalogação, a de operação de softwares, e tudo isto está na Summa. Não é apenas a obra que cresce, eu cresço junto com a obra. É como educar um filho, você aprende com o filho, cresce junto com ele, aprende a ser pai. É uma experiência ímpar, impressionante, indescritível, só fazendo para descobrir sua riqueza ontológica. Você também deveria fazer algo semelhante com suas obras. Ano que vem precisamos publicar a Contrarreforma Ético-Filosófico pela fundação, não podemos perder o trem, deixar a data passar. Você propõe este projeto em seu nome e eu proponho outro em meu nome, o que acha? A não ser que você também tenha uma outra obra. Este epistolário, quando tiver volumoso o bastante poderá passar por um processo avaliativo, daí a necessidade de desenvolvermos temas filosóficos para caracterizá-lo como obra filosófica. Respeitosamente,

 

CLÉVERSON I. MINIKOVSKY, el Hombre que Administra Felicidad

 

Vela de n° 19

 

          Caro mestre dos mestres. É também sempre uma satisfação aprendermos juntos. Sobre apoio político, pode contar com a minha força. Sabe que ambos somos ótimos profissionais na advocacia, e devemos nos orgulhar dessa honrosa atividade. Ajudamos aqueles que têm “sede e fome de justiça”, e apenas por isso já colaboramos com nossa missão cósmica.

          Sobre as traduções da obra Summa, fico feliz pelo mundo ter o privilégio de conhecer a sua luz, da qual tenho a graciosa oportunidade de prefaciar. O saber enciclopédico agora tem o seu novo embaixador, e tua obra é assim muito mais que qualquer enciclopédia que possamos encontrar nesse mundo, por se tratar exclusivamente de assunto filosófico, com pitadas dos mais variegados assuntos, dos quais elogiei os esotérico e parapsicologia.

          Vinte no tarô é “O julgamento”, que pode ser visto como uma espécie de juízo final. Refere-se a transformação cármica e uma espécie de cura. Uma nova vida virá e essa carta tem um simbolismo interessante, pois o iniciado aqui não seria mais o mesmo que antes caminhou na trajetória da existência.

          Acredito que a minha maior experiência na vida adulta, ou mesmo na juventude, foi ter escrito ensaios e obras filosóficas. De certo modo foram os filhos que tive. Mesmo talvez amores, que por muito tempo estiveram nascituros em meus ideais. De todo modo, espero que a humanidade seja auxiliada por algumas coisas que relato e que melhore em alguns aspectos, uma vez que nada escrevi sem entes refletir, mesmo que por alguns termos um tanto de variada interpretação. Com nossas trocas isso se ampliou e aperfeiçoou, e esse presente epistolário é formado por cartas de máxima qualidade.

          Sobre o projeto, posso levar a obra de Contrarreforma ético-filosófica e apenas com seu nome junto, como co-autor, pois sozinho não defenderei essa artística estátua. Não entalharia sem você, e se não estiver comigo a quebro nas rochas mais brutas, recolhendo as migalhas da eternidade nas páginas revelas.

Qual obra você vai publicar via projeto? O epistolário parece ser um tanto pequeno, mas colaboraríamos com a filosofia e escolas, e mesmo cultura e história municipal. Passando nas primeiras 3 fases do concurso, os livros contam como títulos, tanto é que o nosso cartorário de notas e protestos pagou para publicar livros. Nós já possuímos e talvez coloquemos algo como mundo jurídico em seu sub-título, talvez “nova ordem mundial e direito mundial”.. veremos o que ainda, para esse fim.

          Na evolução oculta do homem, ou de seu espírito, segundo certas tradições ocultas ele passou por uma fase mineral e vegetal, sendo por nós unicamente levada à tona a fase animal, defendida por Darwin, antropóides. Como certa interpretação da Bíblia pode nos revelar, o Adão era em princípio com dois sexos, “macho e fêmea”, sendo uma espécie de hermafrodita, e isso ainda depois, quando vivia numa região antiga chamada Lemúria. Também quando vivia na antiga Atlântida, esta relatada por Platão, ao saber isso com os egípcios, que havia lá muito ouro e uma cidade esplendorosa. Já o homem da Atlântida vivia numa região de muito vapor, tendo espécies de guelras para respirar, tamanha era a umidade, e mesmo o sol brilhava fracamente. Subiram as montanhas os escolhidos a evolução e veio o dilúvio, que foi quando se desfez esse vapor e muitos não conseguiram respirar, sendo que aqueles que subiram ou ficaram com seus navios (voadores) na montanha, Noé e outros, sobreviveram mais pela adaptação do seu corpo, que por uma enchente, enchentes das quais ocorreram várias na Atlântida, a última há 9000 anos antes de Cristo. Nós evoluímos agora em espírito caro Cléverson, e nossa obra tem essa envergadura.

 

MARIANO SOLTYS, aquele que está na trajetória da iluminação

 

Vela de n° 20

 

         Você pulou a vela de n° 19, meu caro amigo Mariano. 19 é 10, é o número da perfeição. 19 é 7 mais 3. Você compreende o que eu quero dizer. Ontem e hoje tentamos ajuizar algumas ações trabalhistas sem êxito. Não deveria haver limite para o tamanho do arquivo.

          Os últimos dias foram extremamente corridos, matei uma manada de leões por dia. Mas felizmente entrou um montante razoável para cobrir despesas e remanescer uns pica-paus. Este é o prazeroso da advocacia: receber um dinheiro e fazer jus ao mesmo, dando uma satisfação ao cliente.

Meu pai está internado em Joinville. Ele infelizmente está com leucemia. Talvez, dependendo do resultado dos exames, seja transferido para Florianópolis. Ele está muito abatido. O moral completamente fragilizado. Não era para menos. No horto até o próprio Cristo chorou e pediu a Deus Pai que afastasse este cálice. Nas suas orações inclua-o em suas intenções.

          Nenhuma outra carta foi tão difícil de escrever como está sendo esta de escrever. Falta-me assunto. Estou com a cabeça cheia de preocupações e poucas ideias. O ruim de ser um resolvedor de problemas é que quando não há nenhum problema a ser resolvido você para de pensar.

A filosofia é para quem já superou todos os problemas de ordem prática e pode se dedicar à teoria. Mas muita filosofia boa se produziu durante a Segunda Guerra Mundial. Isto significa que ainda há a possibilidade de abstrair dos problemas, não dizer que eles não existem, mas colocá-los momentaneamente entre parêntesis e filosofar. Tudo dá ensejo à reflexão filosófica. Até mesmo a morte e a doença. Faz-nos pensar na brevidade da vida. Faz-nos ver que tudo o que fazemos devemos fazer da melhor maneira possível. A vida é um palco, um teatro. Devemos representar bem a peça. Um dia será lido o livro da vida. O que estará lá dentro? É tudo muito rápido. Foram nossos avós, um dia vão nossos pais, logo nossos filhos estão adultos e chega a nossa vez da grande passagem. Esta que é a verdade. Se formos heroicos entraremos para os anais da história e um dia que alguém for a uma biblioteca pública pegará em suas mãos um livro poeirento e verá nosso nome lá dentro. Mas ele não terá a exata noção de quem nós éramos ou como éramos. Eis a verdade. Vai, no máximo, imaginar um Cléverson, um Mariano.

          Os melhores momentos que tive com meu pai foram na roda de chimarrão. Quando ele está com a cabeça fresca é bom de conversa, nunca falta assunto. Na verdade, embora ele nunca tenha gostado e nem possa ouvir em filosofia, ele sempre foi um filósofo. Ele é um contestador, um questionador. Ele não se deixa convencer na primeira palavra. É desconfiado. É preciso discorrer exaurientemente sobre um assunto para inculcar-lhe uma ideia estranha.

          Na verdade meu pai já é uma pessoa idosa. Apesar de estar completando apenas 63 anos de idade dia 21 de agosto agora. Aposentou-se bastante cedo. E no período da aposentadoria ficou em completo recolhimento. Penso que isto contribuiu para a manifestação da doença. O sedentarismo é a causa de todos os males do corpo e da alma. Mas foi uma opção dele e eu respeito. Particularmente prefiro seguir o exemplo de Miguel Reale que enfartou aos 95 anos de idade em seu escritório de trabalho a todo vapor. Quando eu não estiver entre os pseudovivos mas tiver ascensionado para os pseudomortos quero ser lembrado em atividade. Nem que seja a atividade não aparente, a intelectual.

         Conversamos Mariano. É uma satisfação eu manter este epistolário com você. Nos últimos dias tenho trabalhado ferrenhamente na advocacia e não me tem sobrado tempo para escrever o livro do ginástico. Você, meu caro, por favor, faça sua parte. Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY

Aquele que busca a compreensão

 

Vela de n° 21

 

          Cartas são cartas e pular uma ou outra não fere o conteúdo de sabedoria de que se envolvem. Pretendo de agora em diante falar muito sobre temas jurídicos, ou mesmo de nós, os juristas.

          Eu não vejo na advocacia já tanta fonte de dinheiro, haja vista a concorrência e mesmo a inadimplência de alguns clientes, daqui a pouco vou entrar com algumas ações de cobranças de honorários, e esses dias firmei um apenas porque o cliente me mostrou uma sentença de rescisão em contrato de trabalho, com quantia razoável a receber.

          Sobre seu pai, eu fico muito sentido, uma vez que sempre converso e é um senhor de bravura e caráter inquebrantável, e sempre que o encontrava falava com ele. A ultima vez foi em seu aniversário e me senti muito confortável, e percebi já seu pai abatido naquela ocasião, apesar do humor estar bom. Acho que de certos males eu não queira nem saber, principalmente aqueles que ameaçam a vida ou as pessoas que amamos, como os pais ou esposa.

          Eu hoje devolvi aquele livro dos Cínicos e agradeço pelo empréstimo, e ainda lhe empresto um livro de poesias em inglês, que troquei com o Nenevê no encontro regional de escritores, no calçadão. Apenas quero saber se pegamos o material sobre o ginástico e quando podemos combinar, bem como tirar fotos no Edelweiss. Preciso ir lá pegar mais material, pois não escrevi mais. Será puxada essa obra

Eu me transformei pela filosofia. Em momentos de quase tristeza, pelos vários fracassos ao longo da vida, ou mesmo pelo isolamento que enfrentava na faculdade ou trabalho, eu me via em leituras dos mestres um conforto, e foi justamente nesse tempo que escrevi os ensaios filosóficos que originaram a Axiologia. Após uma adolescência apagada, via-me como um modo de fazer a diferença, saber e conhecer os grandes temas, a sabedoria. Meu pai disse que eu parecia um padre.

          Também tive alguma desavença com ele, mas acredito que o amor de filho superou as diferenças que sempre existem, que são inerentes ao ego mesmo das pessoas. Meu pai chegou a me fazer sermões, quando eu estava desempregado, mas esqueci e lembro mais desses fatos, não como humilhação, mas como um meio de me ajudar, e ele bancava com minha faculdade ou mesmo outros cursos na época. Também foi graças a ele que me tornei filósofo, graças a conselhos para ler e estudar.

          Achei sempre o seu pai um homem bem conservado, semelhante a madeira rara, daquelas de móveis antigos e valiosos. O meu também as vezes parece mui mais jovem, quase adolescente, apenas recentemente reclama de se sentir mais velho. Como você disse, é nos velhos frascos que se encontram as melhores fragrâncias, então devemos nossos genes também a esses homens que nos trouxeram esse veículo físico que usamos e mesmo a vida em atual estágio de consciência.

          Diferenças menores existem de gênios, e aprendemos a conviver nessa encarnação coma família que possuímos, e sempre agradeço pela que possuo, até achando que os escolhi. Há uma tranquilidade em casa, as vezes viajamos e tudo se reveste de serenidade imperturbável. Acredito que você também tem essa relação com seu pai, e ultimamente o via final de semana o visitar.

          Conversamos Cléverson. É igualmente uma satisfação eu manter este epistolário com você. Farei mai linhas do livro do ginástico. Respeitosamente,

 

MARIANO SOLTYS

Um anjo sem asas

 

Vela de n° 22

 

         Caro Mariano: agradeço por você e sua família ter estado no velório do meu já falecido pai. Ele saiu do mundo corruptível e agora está no mundo ideal. É o que Platão e o cristianismo nos ensinam. Eu e minha irmã abriremos mão de nosso quinhão na herança para a nossa mãe. Não vou, pois, lucrar nem um centavo com a morte de meu pai, pelo contrário, terei bastante trabalho, o inventário.

         O Luciano está estudando o livro do Walter Ceneviva. Quando ele terminar eu vou estudar também. Trata-se, caso você não saiba, de um livro comentando a lei dos registros públicos. Vale à pena. Vou fazer o concurso.

         Espero que você esteja animado com o livro do Ginástico. A propósito, você verificou o material do Edelweiss? Por gentileza, tire um pouco do seu tempo para isto.

         Hoje tem reunião da OAB/SC mas eu não estarei lá. Demorei captar a mensagem, mas finalmente a entendi. A Diretoria não quer que eu esteja lá. Sou persona non grata. Como a gente demora para perceber este tipo de coisa. É que a estima que tenho por mim mesmo é tão grande que tenho dificuldade de captar considerações em sentido oposto.

         Quanto dinheiro jogado fora somente em fotocópia para as respectivas remessas para as editoras além de correio. Ou você é escritor rico ou lhe matam na falta de dinheiro. Ainda mais eu que tenho obras de grande envergadura como a summa. Bem você também vive esta experiência, não preciso lhe explicar. Espero que os nossos originais sejam devolvidos pela OAB.

         É incrível como quando alguém fala que vai construir uma casa, participar de uma prova esportiva, que vai casar, que quer ser médico ou advogado todo mundo apóia. Entretanto, quando eu digo que tenho uma obra com mais de 1.000 páginas e que vou verter esta obra, eu mesmo para outros três idiomas, que já li mais de 7.000 livros mas quero passar os 10.000, que sou bigraduado e pretendo fazer mais umas três graduações, todos silenciam. Qual é o problema? Estou incomodando? Ou alguém passou pela porta e esbarrou o cotovelo na quina? Sabe como se chama isto? O pacto da mediocridade. Todos são contra o excepcional. E o excepcional deficiente não sofre tanto preconceito quanto o excepcional superdotado. Primeiro todos riam de mim. Agora estão na segunda fase: fazem-me oposição ferrenha. Quando eu tiver triunfado irão não só me dar razão mas ainda dizer que tudo o que defendo era óbvio e não precisava nem ser dito. Esta é a sina de um gênio. Se fosse fácil ser gênio eles não seriam tão raros. Você também é um homem extraordinário e sabe do que eu estou falando.

         Quero tomar um bom chimarrão com você a hora que der Mariano. Visite-nos aqui no escritório. Vamos firmar nossas parcerias nos processos e nas audiências.

         Filosoficamente é bem distinto falar da morte antes e depois da morte de um ente querido. Eu já havia perdido um grande amigo e fiz menção a ele na summa. Um espanhol. Mas nunca perdi uma pessoa tão próxima de mim, como o meu pai. Próxima não só pela genética mas principalmente pelo convívio. É inadmissível a ideia de que esta pessoa agora é um nada absoluto. É muito mais plausível, não só do ponto de vista emocional, mas racional também, que esta pessoa partiu para uma outra dimensão. A teologia fala de “dispensação”. O século é uma dispensação, mas há outras dispensações possíveis. Deus é um artista e pode pintar várias telas do jeito que ele quiser.

         Aguardo a vela 23. O número 5 é muito rico de significado. Minha tradução está indo de vento em popa. Deu uma parada porque meu computador caseiro estragou. Mas o Patrick vai lá em casa hoje arrumá-lo.

         Felicidades, a vida continua, para nós, os pseudovivos e para eles os pseudomortos.

 

Cléverson Israel Minikovsky – Aquele que vive sabendo que vai morrer, aquele que morrerá sabendo que viveu

 

 

Vela de n° 23

 

          Caro Cléverson: é com grandes sentimentos que compareci eu e minha família ao velório de seu pai, além da coroa de flores que a ele dedicamos. Eu estou um tanto ocupado, mas hoje após o almoço consegui escrever a presente carta, também por ser edificante a nossa troca filosófica.

          Sobre o livro que o Luciano está lendo, emprestarei o mesmo e estudarei, logo que haja a sua leitura. Estou gostando de seguir esse rumo e torço para que algum de nós passe no concurso, sendo já de merecimento tal conquista.

Sobre o livro do Ginástico, irei no domingo ou mesmo quando puder tirar as fotos e continuo a escrever, uma vez que estava meio parado confesso. É muito difícil, mas darei um jeito.

          Não fui a reunião da OAB, e se estivesse mais próximo de Florianópolis, participaria mais daquele centro, que parece estar mais focado com minha simpatia do que local. O problema que lá acontecem nos dias da semana e em horário que trabalhamos, e normalmente coincide com audiências, impossibilitando frequência.

Sobre as cópias, podemos utilizar, e se você pedir, devolvo o que possuo, para que um dia leve a uma editora ou mesmo para que você tenha um volume materializado. Sempre apostei em nosso talento filosófico, acho que seremos reconhecidos, mas a luta será árdua. Na minha vida todas as coisas demoram a acontecer, e geralmente fracassam quando ocorrem, necessitando de reparos para funcionar. Sobre os livros, e a tua Summa em especial, vejo que o sucesso já está em potência, apenas necessitando de um ato efetivo que dê publicidade ao seu genial trabalho. Queira o mundo descobrir nosso trabalho quando ainda vivemos e podemos corresponder a eventuais curiosidades e questionamentos. 

O mundo não valoriza muito as obras intelectuais. Certa vez falei para alguém que eu ia lhe dar um livro de presente e esta pessoa me disse que livros se acham na internet, que devia lhe presentear com outra coisa. Não achei, uma vez que livro é um tesouro, e inclusive simboliza em sonhos os ganhos de dinheiro, o que revela qual o verdadeiro valor ao nosso inconsciente, que parece ser a verdade e a perpetuidade, não coisas que se podem comprar ou perecíveis, como os objetos que não espelhem a luz da sabedoria.

          Sobre a visita, farei sempre que possível. A morte para mim é apenas de uma parcela da personalidade-alma, mas a falta do ente querido é insubstituível, uma vez que o reencontro possa nunca mais se dar. Prevejo também a morte de alguém importante em minha vida, mas talvez não ocorra, pois o destino pode ser mudado. De certo modo somos pessoas que tem laços para a própria evolução da consciência e para aproximarmos mesmo daquilo a que chamamos Deus. Mas não vou falar sobre a morte de alguém por não ter sentido isso, o que seria um tanto duvidoso

          Sobre o número 5, é o nosso destino, a mudança e a liberdade, a carta do tarô do Papa. Eu já havia falado nisso. Pode haver relação com o pentáculo, o pentagrama, tão usado na magia e que anteriormente era algo do cristianismo, representando pentecostes. Para alguns tem relação ao nome de Jesus, que esse escrever com 5 letras (YeHeSHuaH). IESVSCRISTVS, diriam os romanos. O 5 pode ser a união entre o 2 e 3, segundo os pitagóricos relacionando-se a casamento. O mesmo número tem em magia uma relação com Marte, um deus (com d minúsculo, uma vez que o Supremo é outro) que engloba energia de guerra, lutas, açougue, sangue etc, relacionado a terça-feira e a pentágono (daí dos EUA terem esse símbolo a sua potência militar...). Muitas considerações poderia ainda serem feitas em relação a pêntada, se é que se escreve assim. Os Martinistas (Saint Martin) olhavam com desconfiança a esse número, o qualificando de mau. Se irmãos ao hierofante do tarô, ou papa, o símbolo gira o sacerdócio e poder, a maestria. Abraço.    

 

Mariano Soltys – Aquele que viveu e devia estar morto, decifrou-se, e que deve viver por alguma missão cósmica.

 

Vela de n° 24

 

          Caro Mariano, o número 24 é muito rico em hermenêutica. É o dobro da totalidade, ou então, a totalidade do mundo real e a totalidade do mundo ideal. Mas o seu sínolo redunda em 6, ou seja, o máximo da imperfeição, expressão da mais tosca parcialidade.

          Nestas últimas duas semanas que se passaram trabalhei muito. Duas coisas me chamam a atenção na minha profissão de advogado: 1) É incrível o tanto que a gente trabalha e 2) o sufoco que a gente passa na questão financeira. Os URH’s do governo são o maior exemplo disso. É uma verdadeira vergonha. Se eu não tivesse minha pequena renda extra-advocacia seria obrigado a mudar de profissão.

Ainda bem que teremos quatro dias corridos de folga. Isto é uma verdadeira bênção. Terça-feira é dia 07 e segunda-feira é ponto facultativo. Fiquei sabendo que tem gente que tem audiência dia 06. Isto é realmente ridículo. Emenda de uma vez esse negócio, penso eu. Os paranaenses têm uma folga ainda maior. Dia 08 é feriado no Paraná. As praias catarinenses vão ficar repletas de paranaenses. Quem sabe neste feriadão você não arranja uma namorada. Fica esperto, meu irmão, o cavalo encilhado passa uma vez só.

          Neste feriadão vou aplicar meu tempo na tradução da Summa. Isto era previsível, não é mesmo? Você sabe como sou. Nada melhor do que fazer uma coisa com calma e com a cabeça fria. É por isso que estou trabalhando duramente nesta semana. Não quero deixar nada para quarta, não quero deixar nenhuma pendência. Porque se há pendência, não há sossego.

          Se neste feriado você não realizar grandes viagens e quiser me visitar para tomarmos um chimarrão e trocarmos ideias filosóficas será muito bem vindo. Faz tempo que não fizemos isto. A última vez foi aquela em que estávamos no Alpenbier e depois voltamos para a minha casa para conversarmos. Lembra? Pois é, o tempo passa rapidamente. Faz tempo que você não me envia nenhum livro. Pode até ser virtual, mas prefiro os de papel. Nisso eu sou como os leigos. Quero a materialidade da coisa.

          Nos últimos dias estive atuando direto em três Comarcas: Mafra (Justiça Federal), Rio Negrinho e São Bento do Sul. Aqui no fórum de nossa própria comarca vou praticamente todo dia. Estranho não encontrar mais você do que geralmente encontro. É que, eu acho, vamos ao fórum em horários diferentes.

          Penso que um dos meus tribunais do júri, - tenho cinco - , vai sair logo. Já apresentei alegações finais. O réu com certeza será pronunciado e eu terei que fazer sustentação oral. Não vejo a hora de fazer mais uma faculdade. A próxima será na federal. Para eu fazer mais uma faculdade preciso me ver livre do livro do ginástico e para isto conto com a sua ajuda. Trabalho sempre que possível neste livro. Por favor me ajude. Vai lhe dar muito reconhecimento e retorno. Tenha certeza disto.

          Penso fazer cinco cursos superiores. O curso de número cinco será teologia. O filé mignon a gente deixa por último, não mesmo. Nesta área é que farei pós-graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado. Você não acha empolgante? Eu acho. Terei a chance de estudar grego, hebraico e aramaico. Eu acho isto o máximo. É o meu sonho. Espero tê-lo como colega. Será uma satisfação imensa, um prazer enorme.

          O homem é aquilo que ele estuda. Daí porque gosto de estudar ciências humanas, para humanizar-me e estudar teologia para divinizar-me. O ápice do conhecimento é a teologia. Mas quem é despreparado não deve se aplicar à teologia. É perigoso que o primeiro curso de alguém seja logo o curso de teologia.

          Deus o abençoe meu querido amigo. Que Ele seja contigo e guie seus passos.

 

Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, aquele que está em busca de Deus

 

Vela de n° 25

 

          Caro Cléverson, o número 25 resulta em 7. Já falamos nesse número que reflete os ciclos da natureza, os eventos cósmicos e mesmo divinos. Se fossem 25 anos, refletiria o quarto ciclo, que mais se liga a vida adulta e ao topo do desenvolvimento, que se daria aos 33 anos.

          Eu confesso que trabalhei muito e recebi pouco nos últimos tempos, e dependia muito do dinheiro que provinha da assistência judiciária. Não tendo outra renda fixa ou mesmo meus parcelamentos de honorários são em valores não elevados.

          O meu feriadão será de estudos, pois terei aula no sábado, na segunda e na quarta, o feriado paranaense. Pena não ser dessa vez que uma paranaense conhecerá meus talentos de massagista e meus carinhos catarinenses. Mas também sou paranaense, nasci em Rio Negro, vale lembrar.

          Talvez amanhã, ou outro dia combino de passar em tua casa e trocarmos ideias filosóficas, pois já sinto falta do nosso diálogo, que sempre é único nesse mundo, merecendo ser arquivado como maravilha. Daquela vez do Alpenbier foi especial, uma vez que eu estava meio inspirado. A visita assim acontecerá.

          Ontem eu estava limpando as folhas do jardim de casa e tentando trocar ou perceber a aura dos vegetais, e com as mãos percebia mesmo algo. Acho que todos temos a sensibilidade de perceber aquilo que não vemos ou nossos sentidos mas usuais revelam, e há seres vivos com os quais temos certa sintonia. O jardim de casa faz parte da nossa família.

          Sabe que esse curso que faço pela manhã me toma muito tempo. Porém sempre resta um aprendizado. Quanto a fazer outras faculdades, acredito que apenas faria em cursos que me atraíssem mais, como ciência da religião, parapsicologia, psicologia ou algum similar, ou mesmo apenas numa pós-graduação específica, como filosofia do Direito.

          Verei com muito gosto o seu primeiro júri e espero que a absolvição venha ao teu cliente, uma vez que vemos muitos erros judiciais e condenações sem a devida prova.

          Sabe que ultimamente ando pensando em muitas coisas novas, e parece que isso renderá futuros escritos filosóficos. Cada vez mais aprendo com a psicologia e percebo que a sociedade atual inverteu os valores, principalmente quando dá pouca importância ao humano e muita ao consumismo, a objetos. Filosofias orientais, logosofia, seicho-no-iê, teosofia, rosacrucianismo etc etc, também estão me ensinando mais que as academias tradicionais. Eu busco a sabedoria e a universidade parece estar um tanto obsoleta e apenas nos cursos que relatei em capitulo anterior, teria algum entusiasmo intelectual. 

          O homem é mais do que ele estuda, é o que experimenta e sente. Toda a complexidade que é ser humano me revela o quanto é maravilhoso, e mesmo que não tenha conhecimento racional e consciente, temos toda a herança dos sábios, guardamos tudo isso em subconsciente. Então numa “incorporação” de “espírito” o mais simples dos homens pode ensinar teologia ou filosofia, sem nunca ter sequer pisado numa aula ou presenciado qualquer ensinamento dessas ciências. Vejo que a missão parece importar mais ao Cósmico que conhecimentos aparentes, e mesmo a santidade pode ser mais ter fé do que excesso de conhecimento. Porém a minha essência é conhecimento, é estudar, sabedoria, sou o “mestre” já pela data de nascimento, influenciado pelo anjo Caliel, o qual é o mesmo de meu amigo. Mas não devemos projetar a essência de uma coruja em um crocodilo: Cada ser tem a sua finalidade na natureza. Apesar de os egípcios gostarem de crocodilos e ter até um deus com essa aparência.

          Deus guia já nossos passos, e qualquer tropeço ainda que venha, é apenas para que se cumpra a evolução até Ele.

Respeitosamente,

 

MARIANO SOLTYS, aquele que está em busca do reencontro de Deus através de sua personalidade-alma e evolução da consciência

 

 

Vela de n° 26

 

          Caro Mariano: agradeço-lhe a disponibilidade de sacrificar um domingo para colher material no Edelweiss. Foi uma satisfação passar este dia ao seu lado. Pena que às vezes sou um pouco impaciente. Tenho dificuldade de ficar fazendo o dia inteiro a mesma coisa. Preciso ora fazer isto, ora fazer aquilo, e assim por diante. Neste feriadão rendeu bastante a tradução da minha Summa para o espanhol. Estou bastante animado com a obra.

          Certamente não é fácil para você ficar estudando direto nestes dias para os assuntos cartoriais. Estou torcendo para que você passe neste concurso, arranje uma bela esposa e seja pai de muitos filhos. Se é que o amigo nutre em seu íntimo este tipo de desejo. Eu gostaria muito de constituir família. A minha maior dificuldade nos dias de hoje é de ordem financeira. O governo não paga meus URH’s e fico trabalhando muito e recebendo pouco ou quase nada. Somente o que entra dos clientes particulares.

          Paguei ao Patrick que hoje completa 31 anos R$ 300,00 da cadeira do escritório e sempre tirava minha verba da rádio Liberdade. Foram três meses sem receber os tais R$ 100,00. É complicado. Parece-me que os ingressos para ouvir o japonês falar da seicho-no-ie já estão esgotados. Refiro-me à palestra de amanhã. Pelo jeito o homem deve ser bom mesmo. Mês passado tive imprevistos financeiros de toda ordem. Neste mês gastarei uma barbaridade em oftamologia. R$ 140,00 de consulta e mais uns R$ 500,00 para mandar fazer um par de óculos novos. Tomara Deus que a política engrene e que eu possa fazer jus a meu cargo conforme tenho me dedicado ao partido.

          Fico feliz que você esteja crescendo dentro da Ordem Rosacruz. É uma sociedade, ao que entendo, bastante cristã. Isto significa que você tem um compromisso maior de ser um melhor cristão que os demais. Você está num nível de compreensão superior. Continue neste rumo. Você estará cada vez mais próximo da verdade. Na célula tenho aprendido muita coisa. Aprendi que o plano de Deus não é a salvação. Deus enviou seu Filho Jesus Cristo porque por um homem o pecado entrou no mundo e por um homem ele foi remido. Mas Deus não quer simplesmente salvar o homem. Deus quer relacionar-se com o homem. Deus quer ter intimidade com o homem. Muitos dirão: “Pregamos o teu nome, expulsamos demônios em teu nome”. E Jesus dirá: “Não vos conheço”. Não basta trabalhar para o Reino de Deus, não basta crer. “Pois até os demônios creem e tremem”. É preciso ser íntimo de Deus. Pensar em Cristo mais do que na esposa, nos pais, nos filhos. Conversar com Cristo mais do que se conversa com o melhor amigo. Você sabe, Mariano, por que Davi era o homem segundo o coração de Deus? Primeiro: pediu sabedoria para governar Israel. E Deus disse: “Como não me pediste riquezas, poder, mulheres, eu te darei saberia, e, de acréscimo, tudo isto”. E aí Davi pecou. Tomou a mulher do general Urias e se arrependeu nos seguintes termos: “Deus, me dê um coração que seja puro e não retira de mim teu Santo Espírito”. Ele não disse: “Não tira de mim meu trono, não tira de mim minha saúde, minhas mulheres”. O cara sabia ou não fazer uma oração? Às vezes peço a Deus e logo em seguida peço perdão a Deus por aquilo que estou pedindo. Porque ainda preciso crescer muito na fé. Os caminhos de Deus são mais alto que os nossos caminhos. O pensamento de Deus é infinitamente mais alto que o nosso pensamento. Você ora por mim, Mariano? Se não, então comece a orar. Pode ter certeza que você está em minhas orações. A oração tem poder. Tudo o que pedirmos receberemos. Tudo é tudo mesmo. Sem exceção. Esta é uma promessa bíblica. E a Bíblia não mente jamais.

 

Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, amigo de Cristo, filho de Maria, Templo do Espírito Santo, eleito de Deus Pai

 

Vela de n° 27

 

          Caro Cléverson: eu que agradeço por sua generosidade em receber-me em seu lar, com o aconchego de sempre, os livros e o mundo que estou sintonizado, de um filósofo. Sobre sacrificar, muitas coisas são sacrificadas, essa talvez seja a porta estreita a que falou Jesus.

          Não é fácil, mas também não é difícil estudas para as serventias e notários. De certo modo eu desejo passar e dar um grande passo a minha vida, com esposa e filhos. Apesar da minha dificuldade em relacionamento, fruto de certo isolamento passado, acredito que estou já com essa energia de Vênus em minha vida, ou de Santo Antônio. Mas até hoje me vi um tanto eremita, não sem frutos, pois meus livros surgiram daí, dessa introspecção.

          Parabéns ao Patrick e que ele continue efetuando muitos golpes de judô ao longo da vida. Sobre dinheiro, eu estou numa das piores situações desde que comecei a advogar, mas estou feliz por ter já livros publicados, estar com outros a publicar e por fazer parte da tua Summa e da Contrarreforma, os melhores livros que já vi, fora a Bíblia e livros espirituais.

          A R+C é cristã, mas não apenas. De certo modo poderíamos chamar em certa dimensão do mestre de Rosa+Cristo, como falou Frater Velado. Outros mestres junto a Ele formam o que chamamos de Grande Fraternidade Branca, formada por homens comuns que evoluíram até serem mestres. Mas se examinarmos obras como a de Harvey Spencer Lewis sobre Jesus, e mesmo as de Max Heindel, veremos que é de suma importância o Salvador. Ser íntimo de Deus é o mais importante, talvez porque nossa alma seja parte da consciência Dele mesmo que está se revelando. Cristo disse para largar as coisas e pegar a cruz, e isso revela um abandono simbólico das coisas do mundo, não que devam ser excluídas da vida, mas é que Ele é o caminho, a verdade e a vida. O messias vem mesmo no exemplo de Davi. Todos precisamos crescer na fé, que se já fosse do tamanho de grão de mostarda, faria maravilhas. E rezo sim por você, e por muitas pessoas, mesmo que seja numa meditação de boa vibração.

          Um homem levou o homem a conhecer a morte, e um homem o leva a vida eterna. O velho Adão e o novo Adão, Adão e Jesus. O homem deve assim se tornar um Novo Homem, encontrar a sua regeneração para que encontre na oração o caminho para o coração, o coração de Cristo. Isso se deu quando Saint Martin percebeu que para entrar em contato com Deus não era necessário toda a ritualística a que existia em excesso nas Lojas que frequentou: Elus Cohen, Martinezismo e Maçonaria, mas que a oração já seria satisfatória, e mesmo o que chamou de “caminho do coração”. O Cristo é ainda Cósmico, algo muito maior que um homem, chegando mesmo a ser uma das pessoas do Divino. Também o Cristo é interno, sendo parte daquela centelha que há em nós, presença de um eu interno superior, que tanto buscam os orientais.

A Bíblia será matéria de um futuro trabalho meu, a respeito dos livros mais simbólicos da mesma. De certo modo, antes do mundo Deus a criou. Não como talvez o livro que conhecemos, mas os cabalistas no Zohar já falam que Adão recebeu um livro de Deus, bem como outros, Noé, etc. O mundo foi criado através dela, de suas letras sagradas, signos vivos a que não conseguimos conceber. É ao mesmo tempo a Lei, o livro da Lei. Mesmo em Sepher Yetzirah, outro livro cabalístico judaico, vemos que a Criação se deu por letras, elementos como água, fogo e ar espirituais, sons que quase chegam a se confundir com os mantras orientais, retratados nos Vedas. Deus está bem além dos nossos planos, mas talvez a nossa obra seja já missão na cooperação da arquitetura do Reino, de um mundo melhor já prometido pelo mestre Jesus. Sejamos justos e nos sintonizemos com Deus.

 

Respeitosamente,

 

MARIANO SOLTYS: irmão de Cristo, filho do Pai, arquiteto do Cósmico, em bons pensamentos, palavra e ação; com luz, vida e amor.

 

Vela 28

 

         Caro Mariano: hoje não saiu publicação alguma e eu estou me dedicando ao livro do Ginástico. Espero que nos seus momentos de folga você faça o mesmo. Talvez não seja um assunto pelo qual a gente seja apaixonado, mas é uma coisa que irá nos dar reconhecimento.

         Estou pensando seriamente em mudar de profissão, meu amigo Mariano. Quando abrir a UFSC em Joinville farei um curso de engenharia. Se eu gostar do curso vou encarar. Dizem que um homem jamais deve revelar suas intenções. Mas você é meu amigo e quando este epistolário for publicado tudo estará consumado. Ninguém conseguirá embargar meus planos. Isto não significa que o meu curso de direito não tenha sido válido. Pelo contrário, foi muito válido e continuará sendo. O curso de direito é um curso de cidadania. É uma pena que cidadania não enche a barriga de ninguém. Na verdade, fico ciente de meus direitos e deveres. Hoje fui ao Sicoob e não tinha saldo a minha conta. A última vez em que recebi foi em março. De lá para cá, segundo o governo, não precisei pagar luz, água, imposto, não precisei morar, vestir-me, alimentar-me, não precisei manter meu escritório com luz, internet, condomínio, aluguel, não precisei colocar combustível no carro. Esse que é o duro da questão. E hoje é 09 de setembro de 2010.

         A impressão que tenho por vezes é que a gente está brincando de escritório. A brincadeira é gostosa. O problema é que não dá grana. Eu não quero dinheiro apenas para manter minha subsistência. Eu quero horrores de dinheiro. Eu quero dinheiro para não saber o que fazer com tanto dinheiro. O homem sem dinheiro não é livre. Tem coisas que o dinheiro não paga, eu concordo, para as outras 99,99% existe o dinheiro. Eu quero ganhar na engenharia mais do que um magistrado ganha na judicatura. Em certa época eu era contra o capitalismo. Enquanto eu fazia a burra oposição os outros ganhavam dinheiro. Hoje eu aceito as regras. Cansei de questionar as regras. Eu as aceito e jogo de acordo com elas. As pessoas dizem: quero ser advogado, quero ser médico, quero ser pintor. Eu não quero ser nada – além de escritor – eu simplesmente quero ganhar muito dinheiro. Não importa o que eu tenha que fazer para ganhar dinheiro, desde que não seja ilegal.

         Tudo o que obstaculiza meu caminho é a falta de dinheiro. De que adianta eu ser um grande mestre espiritual e até levitar se eu não tenho dinheiro nem para cuidar da minha saúde? Eu sou de candeia e consigo tudo o que quero. Como geminiano tenho personalidade complexa e tudo está ao meu alcance.

         Você pode se perguntar por que na carta anterior estive tão espirituoso e por que agora estou tão dinheirista. Basta ver o preço dos cursos de teologia. A mensalidade de um curso de teologia é mais cara que a mensalidade de um curso de direito. E se eu quiser tão-somente comprar livros de espiritualidade para leitura pessoal já terei de ter uma boa reserva para isto. Infelizmente tudo demanda dinheiro, inclusive os bens da alma. Se você quer mandar rezar uma missa para alguém terá de ter o dinheiro da intenção. Na verdade eu não ganho tão mal assim na advocacia. É que em todo o lugar aonde a gente vai a gente está pagando. Tudo é pago. Não existe mais nada de cortesia. Até a consciência tem preço. Pois mesmo que o voto não seja pago em dinheiro ele tem um custo bastante árduo e salgado.

         O maior bem que eu desejaria a um homem seria muito sexo com uma bela mulher, dinheiro desmesuradamente, saúde de um búfalo e incontáveis anos de vida. É isto o que eu desejo a você e espero que quando formos anciãos possamos nos regozijar das grandes vitórias de outrora, das vitórias dos dias atuais. Mas para olhar para o passado e se orgulhar é preciso que lutemos e logremos êxito nos dias de hoje.

         Hoje à noite nos falamos. Vamos ver se aprendemos alguma coisa com o Osvaldo Murahara. Eu acredito que será bastante proveitoso.

 

Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, o homem enraizado que voa alto

 

Vela de n° 29

 

          Caro Cléverson: o dinheiro $ é uma forma de energia, como tantas outras e vejo que é positivo, como ensina a parábola dos talentos, uma vez que devemos multiplicar o que Deus já nos ofereceu. Já somos ricos, temos o bem maior que não se compra, a sabedoria, que para muitos é coisa jamais alcançada. No oposto a estes, Salomão serve de modelo.

          Também concordo que o Estado não arca com sua obrigação frente a advogados de assistência judiciária, apesar da eficiência de nossos serviços, muito mais rápidos que de um defensor público, certamente. Mas a OAB dentre logo vai buzinar e acredito que as coisas normalizem, ou devemos parar em conjunto e ver o que acontece. Já parei na época que iniciei e não seria difícil repetir a dose, uma espécie de greve.

          Sobre dinheiro você tem mais fontes de renda que eu. Mesmo assim estou otimista em conseguir ainda outra profissão, uma vez que meu destino (e nosso) já pela numerologia é revelado como de mudança, com o número 5, o qual certa vez relacionei ao Papa do tarô. Então não nos desesperemos, que tudo transcorrerá bem. Eu, portanto, prefiro não começar a estudar novamente, a não ser depois que tenha já melhor condição, como no caso de assumir uma serventia (Cartório), passando em concurso. 

          Acho que a prosperidade bate a porta, já está entrando. Sou um sujeito econômico, e pelo que sei você também é, e pelo não gasto as vezes há a compensação e sobra algum dinheiro. As crises às vezes vêm como lições na vida, devendo ser interpretadas na forma positiva, como um aprendizado. Vimos ontem na palestra o caso daquele senhor que foi a falência e se reergueu, e não é difícil de melhorar ou recomeçar. Não é necessário milagre para isso, mas o sucesso talvez seja um prêmio necessário, outra ordem de ensinamento, uma vez que “para quem muito é dado, muito será cobrado”.

          Muitas pessoas têm uma vida agradável, mesmo com a humilde renda. Mas a condição do brasileiro melhorou nos últimos anos. A nossa região sofreu com crises, mas vejo que as coisas melhoram, que empresas diferentes têm dinâmicas também diferentes, umas lucrando mais, outras a beira da falência. É o caso talvez da boa programação mental, de uma prosperidade como único ideal, como único assunto. Devemos assim também nós falar de sucessos, de dinheiro ganho, mesmo que isso não venha sempre. Ontem ganhei meu salário: uma senhora me elogiou e agradeceu muito pelo tratamento, prometendo uma lembrança de presente – isso já vale muito, já cumpro assim com a busca de “sede e fome de justiça”. Quanto a ganhar mais, acho que até milionários buscam ganhar mais dinheiro. Parece o mito de Sísifo, onde ele rola aquela pedra morro acima e ela rola e ele volta a elevá-la, sem término. Uma carta do tarô parece representar isso: a roda da fortuna, onde um animal sobe, outro desce, e outro está por cima, na dita roda. O dinheiro assim virá em algum determinado momento dentro dessa lei cíclica, basta ter paciência. O próprio número 8 deitado revela ser um infinito ∞, este ligado a poder e dinheiro, deixando mais uma lição simbólica.

De certo modo o mais importante é primeiro buscar a Deus, que esse dinheiro virá como consequência. Hoje talvez eu vá na festa do Ginástico, pois seria meio estranho escrever ou auxiliar na obra e não ter ido a mesma. Estou meio enferrujado para festas, mas verei o que acontece, presenciarei a manifestação cultural. Acabou de me ligar o Patrick e irei nas audiências de dia 14. Hoje o dia está bem calmo, parece o deserto onde mergulha o olhar naquilo que é abissal no espírito. Já somos ricos, já temos muito dinheiro, e todos os bens nos acompanham Cléverson. Isso é o real, o resto é ilusão, não faz parte do mundo de Jisso. É ilusão tudo o que não cumpre com isso, Cléverson.

 

Respeitosamente,

 

MARIANO SOLTYS: um nome de sucesso.

 

Vela de n° 30

 

          Caro Mariano: dos livros da biblioteca do meu pai que me restaram li todos eles. Gosto muito de teologia. Gostei do seu livro de Filosofia da Educação e de magia do Barret. Já aquele livreto em inglês não sei como fazemos. Eu lhe devolvo e você me empresta novamente ou então você me empresta a longuíssimo prazo. É que só irei pegar firme no inglês quando terminar a tradução da Summa para o espanhol.

          Nesta sexta-feira que vem sai um artigo sobre o encontro com Osvaldo Murahara em 09/09/2010. Achei interessante quando ele disse que o consciente é em grande medida conduzido pelo subconsciente. E que o subconsciente é reflexo da repetição, do hábito. Quantas e quantas reiteradas vezes li livros. Ora, é por isso que o livro constitui minha personalidade. Leio muito, escrevo muito, traduzo muito. Minha personalidade se traduz em compreensão e produção de textos. E se a repetição positiva é fator de constituição da personalidade, a ausência repetida também é fator de ensablamento da consciência. Você deve saber melhor do que eu o que falta em sua vida.

          Eu penso, às vezes, que você seria um excelente sacerdote. Você tem vida intelectual e espiritual intensa, é calmo, bom conselheiro, visão verticalizada da vida. Você encarna tudo o que não é da carne. Seu mundo é o mundo dos avatares, dos santos, dos faquires, parapsicólogos, místicos, anacoretas, enfim, um santo filósofo solitário cuja grande companhia é o Espírito de Deus. Eu realmente não sei como você ainda não teve esta ideia. São Bento do Sul seria abençoada com a sua ordenação sacerdotal. A sua consciência é seu mestre, da sua vida você faz o que você quiser. Mas você tem o perfil ideal para ser um homem de Igreja. Eu tenho certeza que se você cursasse teologia católica iria se apaixonar pela disciplina. Você, advogado excelente que é, poderia ser um exegeta em Direito Canônico. Ninguém nunca lhe disse isto então eu lhe digo. Você poderia ser muito feliz como presbítero. Não seria pequena a possibilidade de alcançar o episcopado.

          O Patrick falou que na paróquia onde você for padre ele quererá ser tesoureiro. Você, segundo ainda o Patrick, tem pinta de fundador de congregação. Para o homem que não tem vocação à vida matrimonial o ter uma mulher além de não ser um prazer é um incômodo terrível. Não pense que a vida a dois seja fácil. É uma missão, requer paciência sem limites e todo dia você está sendo provado. É certo que não é fácil satisfazer aos paroquianos, todavia, mais difícil ainda é satisfazer a uma mulher.

          Porque um dia você não faz um estágio num seminário. Experiência de oração, estudo, trabalho e disciplina? Uma coisa eu admito. Participar da vida religiosa requer muito sacrifício da liberdade individual. Mas a felicidade de estar engajado no trabalho do Reino dos Céus supera tudo. O que mais eu queria era ser padre. Mas há um problema: a Igreja exige que sejamos celibatários. Penso que eu já assumi um compromisso com uma pessoa, mas você ainda está desimpedido. Aproveite a chance que está diante de você. No dia em que eu for engenheiro químico terei a satisfação de contribuir com o dízimo para os seus trabalhos eclesiásticos.

          O Reino dos Céus está dentro de você, permita que ele transborde do seu íntimo e se propale entre o povo de Deus. A advocacia já lhe deu experiência de trabalho com o público. Como diriam os dehonianos, vivat Cor Iesu, per Cor Mariae. Deus esteja com você. Muito obrigado pela atenção, caríssimo. Quem me dera um dia eu possa lhe chamar de reverendo. É mais do que excelentíssimo, digníssimo, etc.

 

Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, aquele que vê o que os outros não veem

 

Vela de n° 31

 

          Caro Cléverson: os livros fazem parte de minha alma, é alimento que tenho sempre que me sinto com fome, porém aquela que nada de material pode saciar. Sobre o Osvaldo, achei que ele falou de algo mas não falou o como. Faltou um modus operandi, e sobre a terapia do riso funciona mesmo, às vezes no trânsito começo a fazer os exercícios, quando da ida para o curso, e me sinto mesmo com outra energia, até tonto. Sobre agradecer também é positivo. Na verdade são métodos de reprogramação mental e acesso ao subconsciente, que move a realidade. Já tentei outros métodos, de magia e mesmo místicos, sendo que algo funciona, algo não, mas não é apenas repetição. Certo é que de tanto ler livros e repetirmos nos tornamos escritores.

          Sobre ser um sacerdote eu até por algum tempo havia pensado nisso, mas acho que sou assim pela filosofia. Pensemos num Kant, ou mesmo num Spinoza para vermos que o isolamento surge dessa introspecção. Contudo, gosto de mulher, de sua companhia e apenas talvez por faltar uma paixão mais avassaladora não consegui me ver em um laço mais durável, ou mesmo pela dificuldade em relacionar-se que se revestiu meu passado. Também o misticismo me atrai, mas não vejo necessidade de ser celibatário para ser santo, citando yôga tântrico e gnose em minhas obras, que foram seitas envolvidas com sexo mesclado a espiritualidade, o que seria meio contra censo se eu falasse disso em relação à bramacharia (celibato). Por avatares o tema sempre foi visto de forma muito particular, e geralmente se afastam de sexo. Mesmo alguém como Chico Xavier, que nem era avatar, não teve esposa. Ademais, certamente a vida com certa perfeição é a de um monge (franciscano, beneditino..), ou sacerdote, e são caminhos tão importantes quanto os políticos ou quaisquer outros. A contrario sensu, o casamento é legal, e sacramento, mas como tudo na vida não são apenas alegria e sexo, mas envolve responsabilidade, sacrifício, contudo é como dizem os do islã: é a metade da religião.

          As diferenças entre o homem e a mulher podem gerar um incômodo, mas as alegrias compensam muitas coisas. Talvez por sermos jovens e não termos filhos achemos que a missão acaba na mulher, quando ela vai para o gênio da espécie, para os filhos. Alegrias certamente virão com todos nós e necessito de companhia, às vezes sofro por não ter em quem pedir um abraço macio ou carinhos mais íntimos, e a mulher é abençoada com sua sensibilidade.

          De certo modo me sinto bem em locais como um seminário, e verei um dia se não sou reencarnação de um padre, o que certamente não me deixaria surpreso. Tenho certo controle e um temperamento que me torna um tanto diferente, mas não sou tão frio assim, nem tão santo. Talvez isso seja hormonal, genético, espiritual, não posso explicar, mas às vezes queria ser mais normal no assunto de namoro, casamento e outros afins. O Patrick poderia ser tesoureiro, desde que não provocasse as freiras (risos!!!).

          A advocacia já me foi uma missão, já revelei difundir a justiça. Muita coisa boa fiz, mesmo que com retribuição de honorários (que não é salário). Sabe que a mudança parece fazer parte da minha vida, primeiro pelos vários problemas de fobia a que passei, segundo por alguém antes tímido estar agora aparecendo em livros que muitas pessoas leem. Continuo com minha fé leiga, mas sempre com uma fervorosa fé. Somente a tranquilidade e uma paz está ultimamente me envolvendo, estou trabalhando em acabar com o ódio, em perdoar a todas as pessoas, em perdoar a mim mesmo. Somos maravilhosos, somente o sucesso nos é destinado Cléverson. Que o Cósmico lhe traga muitas alegrias.

 

Respeitosamente,

 

MARIANO SOLTYS, aquele que pensa o que os outros não pensam

 

Vela de n° 32

 

         Achei boa sua resposta Mariano. A introspecção é a condição sine qua non para a vida religiosa, mas nem todo esquizotímico tem de ser conduzido necessariamente ao repuxo monacal. A filosofia é uma cruz tão ou mais pesada que o celibato e é tão ou mais bonita que ele. A filosofia é a nossa roupa, o nosso pão, o nosso oxigênio, a nossa espiritualidade, o nosso abstrato e o nosso concreto também. Somente nós sabemos o que a filosofia representa para nós. A filosofia é uma amante. E nós vivemos um amor proibido. Um amor repreendido. A repreensão é a falta de dinheiro, a falta de incentivo, a indiferença, a imbecil rudeza dos bestializados. A filosofia envolve compromisso como a vida dos templários: guerreiros monges, celibatários dados às armas construtores de castelos. Espiritualidade e concreção da vida cotidiana, isto é filosofia. A filosofia é algo distante da vida só para quem conhece superficialmente a filosofia. Para mim a filosofia é a matéria-prima da vida. O elemento com o qual confecciono o devir vital. A filosofia é a cama em que me deito, a água em que me lavo, o chimarrão que bebo, o pensamento que transita em meus neurônios. Dê-me um cérebro para pensar a filosofia e eu construirei o universo. Deus é um filósofo por excelência. Aliás, Ele não é um filósofo, Ele é O Filósofo. Ele é o pai dos filósofos e de tudo o que é pensado. E quando um pensamento contradiz a vontade de Deus se trata de um pensamento divino às avessas. Você falou que o Murahara falou sobre algo mas não falou o como. Não falou sobre a metodologia de execução. Ora, a filosofia é justamente este modus operandi. A filosofia é, sim, principiologia, axiomática de premissas, é ainda teleologia, ou escopologia, mas é caminho, transição, via de condução. Ponte entre o feito e o pensado. Entre o projeto e o futuro agir. A filosofia é práxis. A filosofia é prática e práxica. É teórica e teorética, é ponto de partida, método e ponto de chegada. É a tese, a antítese e a síntese. É o modelo e o contramodelo. É conservadora e iconoclasta. É o ponto isolado e o contexto. É o nada e o tudo. É o eu, o tu e o nós. É a consciência e a nulidade absoluta. Por isso que eu amo tanto a filosofia. Quero ser tudo em todos.

         A filosofia torna-se ilusão para desbancar as ilusões. A filosofia é relativizante porque é sempre a alteridade, é a alteridade que relativiza o eu. A filosofia é o ego e o alter. A filosofia é a abstenção de sexo em nome do Reino é a genitália da meretriz que estremece à truculência do membro viril em seu íntimo. A filosofia é esse modo de Deus se manifestar no mundo. O corpo e o mundo são mais espirituais do que se supõe. A consciência é um rio e Deus é o oceano. Em Deus os múltiplos tornam-se uno. Há um alargamento ilimitado da consciência. A finitude é a personalidade. As personalidades salientes são rios mestres que recebem vários afluentes. As personalidades simples são córregos e riachos. Mas nenhum rio é tão poderoso como as ondas do mar. O grande poder do mar é o seu potencial de tudo conter. O mar é gigantismo, é grandiosidade. A filosofia é esse mar. Ou, talvez, ela não seja este mar, mas seja a consciência humana dele. É a visão que o riacho tem sobre o oceano. Uma corrente filosófica corresponde a uma corrente marítima. Pensar filosofia é pensar o todo, é pensar os sete mares como uma realidade una. Os conceitos são como embarcações. Há conceitos que definem uma canoa e conceitos que definem um transatlântico. É nas tempestades que se registram as grandes histórias marítimas. O mar calmo traz a monotonia. O turbilhonar das ondas é a consciência se desdobrando sobre si mesma. Netuno é o filósofo gigante que tem intimidade com o Criador. O Leviatã é a preguiça mental, a ignorância, a doença do intelecto, a falta de estudo e educação. O Leviatã é o maior inimigo da filosofia. As correntes marítimas provocam e são provocadas pelos canais de vento. A força eólica se conjuga com a força hidráulica. Isto significa que o pensamento fraco influencia o pensamento forte que é a filosofia. Seja o minuano ou o siroco. De qualquer maneira, continue remando meu amigo, que as águas que lhe rodeiam sejam cristalinas e piscosas. Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, aquele que, sabe não é...

 

Vela de n° 33

 

         Cléverson, você sempre me deixa estupefato. A filosofia talvez foi a única mulher que possuí na vida, e ao mesmo tempo me possuiu. Talvez seja irmã da sabedoria, ou mesmo amiga. Mas chegamos à carta 33, a idade chave da perfeição e desenvolvimento humano, de Cristo, e mesmo o número de graus do Rito Escocês da Venerável Maçonaria, a que devemos homenagem. Também é um número que significa o sacrifício pela caridade, a doação daquilo que até mesmo não se tem, a exemplo do dízimo da viúva no evangelho.

         Nem toda a filosofia seja talvez abstenção de corpo ou do sexo. Estão ocorrendo transformações na humanidade e certos discursos já estão sendo tolerados. Mesmo Nietzsche dizia que “o corpo é o pensador”, acho que ouvi isso numa das suas cartas (a Buckhardt), ao ver o filme “Dias de Nietzsche em Turim”, filme nacional estrelando Mariana Ximenes, muito bom, que eu um dia lhe darei de presente se encontrar. Contudo o exagero não faz parte do filósofo, a não ser que queira esse desequilíbrio. A questão é que ele tem consciência de seu microcosmo, enquanto outra pessoa se deixa levar por aspectos de seu forte sistema límbico ou Id da psicanálise. Na filosofia em geral, Epicuristas, Cínicos, Sofistas e outros exemplos não tiveram assim um afastamento tão grande do sexo, uns até fazendo em público, como os caninos. Hoje o mundo está muito rápido e prático, e todas as opções são viáveis, bastando a escolha de cada um, pois “todo o homem e toda a mulher é uma estrela”. Parece que o caos tomou conta e antes das certezas são mais as incertezas que dominam aquilo que achamos fixo, a matéria, como já nos ensinam os físicos quânticos. Perante essa não ordem sobra o caos como sistema de ciência, mesmo de filosofia. Somente a fé nos leva a uma certeza de ordem, acima da matéria, que é mutável e inconstante.

         A filosofia questiona tudo, duvida de tudo, omnibus dubitandum de Descartes. Ele não foi tão longe a ponto de duvidar de Deus, isso talvez por ser Rosa-Cruz. Mas aqui se fala em Consciência Cósmica, e nem sempre isso pode ter uma sintonia com algo antropomórfico. Por outro lado, vemos num Spinosa (outro que nas cartas usava de selo uma rosa...) a sua substância que permeia todas as coisas, que é uma forma de matéria, e que é ao mesmo tempo Deus e a Natureza. Por meu lado, sempre vi a natureza como uma roupa para Deus, a semelhança do nosso corpo carnal. A natureza é um meio-cosmo entre o céu e a terra, entre o atrium e o profano, divino e humano. Mas o humano também é divino, e o corpo tempo do espírito santo, inclusive com sexo (como a doutrina gnóstica defendia). O filósofo é um buscador da verdade acima de tudo, seja com corpo, sem corpo, com razão ou sem razão (irrazão). Talvez o que leve a alguma certeza é a matemática, ao gosto dos cartesianos, mas além de sua geometria, e as leis cósmicas e naturais, que estão aqui observáveis, traçando uma meta a seu espírito, mais confiável que meras transformações da matéria, do corpo físico e do tempo-espaço, relativo e mutável dependendo da circunstância.

          Também no atual tempo devemos ser m tanto pragmáticos. Não mais se pode defender extremos e culturalismos frente ao mundo de hoje, uma “nova ordem mundial”. Deve-se sim acessar o cerne das coisas, sua essência mais útil, aceitando-se diferenças e convivendo com as várias formas de discurso. Uma visão multifocal do mundo se faz necessária. Não mais interessa se uma pessoa que conheço goste de xamanismo ou wicca (bruxaria) e eu seja de uma religião que antes não tolerava esses pontos de vista, interessa mais que eu viva em paz com essa pessoa, que garanta certa sustentabilidade. O mundo pode ser destruído e ampliar diferenças a nível global, com guerras mundiais não pode prosperar. Aqui cabe o nosso papel Cléverson, sermos filósofos, alimentarmos a mente de multidões e em especial dos governantes. Também certas mazelas como a fome mundial não devem mais existirem, e a filosofia tem talvez antes de defender certo materialismo, algo meio alternativo a Marx, para reservar aos mais abastados a metafísica e questões profundas.

        

MARIANO SOLTYS, aquele que sabe pelos outros o que não sabem...

 

Vela 34

 

         Caro Mariano: minha esposa muito se queixa e eu não tiro razão dela de eu muito me empenhar na minha Summa. Mas se eu não fizer ninguém faz. Quando a obra estiver pronta quero mandá-la para 88 países diferentes. Vou privilegiar os Estados Unidos e mandar um exemplar inclusive para o Barack Obama. E aí vem o condicional: e se... e se ele me responder? Você não acha isto fantástico? O meu interesse pelo idioma inglês aumentou 500% depois que o Obama foi eleito. Fiz as pazes com os ianques. Vejo o Obama como síntese. Nada mais lógico que a maior potência global tenha um líder cosmopolita. Estava na hora de aquele texano xucro do Bush deixar a White House. Se eu fosse norte-americano com certeza seria democrata.

Mil perdões Mariano por ter sacrificado sua tarde ontem. Se você me cobrasse não só o combustível mas o tempo gasto comigo, o que eu ganhei em urh ontem não seria suficiente para pagar-lhe. Você é uma pessoa muito pacienciosa. Qualidade sine qua non, além da perseverança para se chegar ao topo. Para mim o que há de mais precioso é o tempo. Um minuto de banalidade é tempo demais para mim. Quero que todo o tempo seja tempo utilmente aproveitado. Reputo o tempo que passo a seu lado como tempo ganho e não como tempo perdido.

Se você precisar de alguém para fazer uma audiência sua pode contar comigo. A audiência é meramente exemplificativa. Você pode contar comigo para muitas outras coisas. Não economize pedidos de ajuda à minha pessoa quando você precisar de algo. Sério mesmo. Se nós que somos os iluminados não dermos o exemplo de caridade, o que devemos esperar dos comuns? Quando eu lhe fizer um bem não se sinta no dever de retribuir. Mas se você me beneficiar de alguma forma poderá ter certeza de que o retorno será líquido e certeiro. É o mínimo que eu poderia fazer pelo amigo. A propósito, já comprou o notebook? Está usando? Quando eu passar na sua casa quero dar uma olhada.

Desculpe a demora em lhe enviar esta carta de resposta mas estive assoberbado com audiências e prazos para cumprir. Ainda tenho bastante coisa mas acredito que passei a fase crítica. Agora tenho compromisso dia 1° de outubro, dia 04 e somente no dia 14. Depois pego mais um pico de audiências.

Continue batalhando com o livro do Ginástico. Eu estou encontrando uns horários exprimidos para escrever algumas linhas. Hoje fui à ótica verificar se meu novo par de óculos estava pronto mas nada ainda. Eu gosto de ter a visão de um emétrope e por isso gosto de ter óculos atualizados.

Estou me incomodando um bocado com o inventário de minha mãe. Ou do meu pai, como queira. Como os dois estavam casados em comunhão universal de bens o cônjuge meeiro não é herdeiro. Isto significa que eu fiz a Dief errada e agora vou ter que fazer uma retificadora a maior. Dividindo os 50% em dois e não em três como eu fiz. Se é que você me entende.

Tudo bem, isto faz parte. O que eu não consigo entender é como o Judiciário leva um bocado nisso se não tem participação alguma. Como o nome diz, imposto é compulsório. Não há como evitar.

Se der tempo vou ao fórum hoje e, eventualmente, conseguiremos lá nos ver se as circunstâncias concorrerem para isto. Forte abraço, Mariano.

 

Chimarrão, bomba e mate

Frio marrom o vivente não abate

Esse é o final de invernia, o queixo já não bate

Estação colorida viceja o pé de abacate

Mariano pessoa de grande quilate

As outras perto dele ficam escarlate

Depois deste poema só me resta o chocolate

 

Adiós muchacho, muchas gracias.

 

Vela 35

 

         Caro Cléverson: o meu tempo já um tanto mais abundante e o tempo que me falta é o aproveitado. Tomara que o Obama leia seu livro, lhe responda e convide para um bate papo na Casa Branca. Mas que ele reconheça os autores brasileiros e sua sabedoria, entre eles eu também, é claro. Trinta e cinco soma oito e não foi por acaso essa tua referência ao poder.

É sempre com alegria que lhe dedico meu tempo, mas hoje o dia foi corrido, o telefone tocou e clientes vieram, claro, em retorno e perguntar coisas. Imagina se cobrássemos uma consulta em cada visita de nossos clientes? Seria muito bom e rentável, talvez sejamos um dia como os médicos. Mas o meu tempo dedicado talvez seja a minha disposição natural para a fraternidade dos homens, sou uma espécie de irmão ou frater natural. Sobre os 88 países, acho que isso será ainda mais amplo, uma vez que pode se espalhar e como está em várias línguas, a Summa tem um destino globalizado.

Logo precisarei da tua ajuda caro amigo, e você será de grande auxílio. Somos uma corrente, uma corda que nunca se arrebenta. De certo modo um cabo de aço. Mas sem ferrugem, sem fuligem. Ainda não nos afligem aquelas preocupações egoístas dos não iluminados.

As cartas demoram a chegar, imagina como era noutro tempo. Navios atravessavam continentes, o trote dos cavalos requeria muito esforço e o carteiro cumpria a sua função de comunicar a alegria. Nosso agora virtual mensageiro também tem dos seus limites. E o tempo agora meu está pela metade, pois o curso consome a manhã inteira, estudando ontem Direito Tributário, peculiaridades.

Batalharei pelo livro do Ginástico, acho que amanhã terei tempo, seja qual for o amanhã. Agora com o computador no colo poderei tratar com mais carinho meus textos. Temos essa vantagem: outros escritores não largavam de sua máquina de escrever, por vezes pesada, que os levava para uma mesa. Mas com algo leve tudo melhora, e imagino eu a redução de tamanho dos nossos instrumentos, imagina a TV que antes tinha um tubo e era imensa, agora dá lugar ao LCD, LED, tudo fininho e leve. O celular era um tijolo gigantesco, hoje levamos no bolso da calça como um chaveiro. A filosofia também ficou meio micro, concentrou tudo que antes era grandioso.

         Você é um bom poeta, caro amigo. E confesso que não tive o meu nome antes referido em versos. Gostei muito, parece meio musical tudo o que se escreve dessa maneira, e o gauchesco tem isso por natureza. Hoje choveu muito, a tempestade bateu suas panelas na vizinhança, mas sem quebrar nada na cozinha de nossa cidade, espero. Falta um pouco de tempero a minha vida, logo teremos nossos livros com fama, esse talvez será o tempero. Mas a chuva reflete o temperamento dos nossos cidadãos antes das eleições.

Esperança tenho. Sendo um filósofo, é fundamental que eu tenha algum desejo na utopia de uma polis um tanto mais bem administrada e cuja paz reflita o povo. O sábio buscará uma utopia, isso já meio entendia Sócrates, por outros termos. As minhas obras tem um gosto um tanto Ianque, quase um paganismo, diversidade, liberdade, algo pragmático, e mil coisas que agradariam se chegassem ao americanos do norte. Futuramente você traduzirá esse meu trabalho, essas pedras que usarei para edificar um templo filosófico. O meu amor por escrever não acaba. Isso parece ser o meu ideal, estou meio Clarisse Lispector. Faltam os meus contos, mas os escreverei dentre o ano que vem.

O frio parece ter retornado, mas isso faz parte do nosso meio ambiente filosófico. Que seria de nossa terra sem a nossa genialidade? Ainda o nosso querubínico momento tem as suas asas por bater, levando a poeira das ideias aos espíritos que possam compreender, que tenham a sua consciência desenvolvida para acompanhar-nos. Pensamos noutro dia de algum indivíduo que apenas tem o seu primeiro ano de ensino fundamental como formação, e a criminalidade tem mais ou menos essa característica. A normalidade hoje quase se encontra no nível de graduação universitária. Os escritores  como nós (não de massa) estão acima até de um mestrado, ainda mais se forem filósofos, o que se poderia comparar a um pós-doutorado. Mas o ensino acadêmico ainda não atingiu a mística das buscas mais metafísicas.

Tem jogador de futebol que vale por meio time – nós valemos por meio mundo, Cléverson. Não é todo o dia que nascem os grandes gênios da humanidade. Mas isso não quer dizer que estejamos na fama daqueles que têm as luzes sobre eles, por diversos interesses. Mas o futuro nos reserva fortuna, talvez grande reconhecimento, pela criatividade mesmo que se revestem as nossas obras, o que está em extinção no mundo hoje, tão cheio de informação repetitiva e de entretenimentos que afastam o pensamento, impossibilitando o surgimento de pensadores. Até a próxima, abraço.

 

Vela 36

 

         Caro Mariano: a estilística da carta de n° 35 ficou sensacional, você estava bastante inspirado quando a escreveu. Gosto de quando você fala que somos iluminados. Somos mesmo. A razão é este luzeiro que quase cega aos homens de vista fraca. Platão, em A República, no mito da caverna, faz alusão a isto. Os homens não apenas não nos reconhecem como iluminados, mas nos odeiam por sermos do jeito que somos. Meu pai rechaçava meu estilo de vida filosófico. É que o grau de evolução em que ele se encontrava não no permitia compreender as razões da filosofia. E apesar de ele ter sido um homem, por um lado, com muitas qualidades, e, por outro, extremamente limitado e falho, cumpre sempre ressaltar que a seicho-no-ie e a sabedoria nipônica como um todo recomenda o culto aos ancestrais e a gratidão aos antepassados. Quem prima pela ancestralidade, prima por si mesmo. O homem que não ama sua raiz não ama a si mesmo.

         Gosto do tempo chuvoso, frio e fechado de São Bento do Sul. Se tivéssemos Sol todos os dias seria muito monótono. Valorizamos mais o Sol quando ele se mostra raro. O clima europeu é muito semelhante ao nosso. Basta pensar em Roma e Londres. Idêntico, não tem o que tirar nem por, com a diferença de que lá é mais frio.

         Fico feliz que o notebook tenha facilitado sua vida. É para isso que nós trabalhamos: não apenas para vestir-se, alimentar-se e pagar contas, mas para termos nossas comodidades. Se o grau de evolução da humanidade nos permite ter acesso a estas comodidades, então não há razão para não desfrutá-las.

         A propósito, Mariano, nunca mais lhe escrevi em espanhol, inglês, italiano ou latim, por que isto, eventualmente poderia ser um óbice à publicação deste epistolário. Assim sendo, deixo para treinar meus conhecimentos linguísticos na tradução de minha Summa. E olha que lá em casa eu treino mesmo. Meu português, modéstia à parte, é rico e complexo e verter isto para outro idioma requer conhecimentos bastante grandes. Vez por outra poderei utilizar frases curtas. Mas nada muito longo.

         Ontem fiz alegações finais num processo de tribunal do júri e argui que o direito é ciência e que o processo deve obedecer a toda uma metodologia científica. Ressalvei ainda que metodologia científica não é apenas formatação de trabalho acadêmico, é, antes disso e muito mais, modo de produzir ciência. É uma praxe rica de criteriologia para falsear ou corroborar um ponto de vista, da defesa e da acusação. No caso do meu cliente não há materialidade do crime dele. Ele é acusado de ser o mandante de um assassinato. Ora, não há gravação telefônica com prévia autorização de grampo do Judiciário devidamente periciada em que se constate que a voz do meu cliente esteja determinando ordem de morte em face de alguém e nem há uma carta com a caligrafia e firma do meu cliente determinando ordem de matar a outrem, menos ainda periciada por exame grafotécnico. Crime sem materialidade não é crime, não existe crime. Se o direito é ciência ele precisa trabalhar com um objeto empírico, apenas as ciências ocultas trabalham sem objeto empírico, mas acredito eu, e isto eu pus na peça, que o Judiciário ainda não chegou neste nível. O direito visto como técnica não pode apenas se contentar com prova testemunha, até mesmo porque isto é doxa e eu quero episteme. Você que conhece os gregos sabe bem a diferença entre opinião e verdade. O difícil, se o meu cliente for a júri, é explicar em palavras simples isto aos jurados. Quem sabe poderei contar com sua ajuda. Você sabe melhor do que eu atingir as pessoas mais simples. Você é mais carismático do que eu. Eu sou bastante frio e arredio ao cheiro do povo embora em última instância seja ele o público alvo de nossos livros. Bien era esto que yo tendría a le decir. Me gusta escribirle, es una actividad muy generosa. Haceme pensar. Solamente reflejionando filosoficamente es que crecemos. Suceso em la escuela. Usted renueva mis fuerzas, muchas gracias por eso. Gran abrazo, de su hermano y iluminado,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, aquél que tiene la cabeza en los cielos

 

Vela 37

 

         Caro Cléverson: a inspiração me sobra – talvez eu seja um filósofo-inventor. A iluminação depende de certo estado tanto místico como racional, talvez se entendendo razão como uma espécie de verbo transcendente. Ninguém talvez rechace meu estilo filosófico porque transpareço isso mais em meus livros, e não perco tempo com quem não pode compreender meu dom. Durante muito tempo vivemos nas trevas medievais, chega agora o momento em que a ciência vai superar todas aquelas crenças mistificadoras, doenças serão curadas, envelhecimento retardado, comunicação levada acima das barreiras espaço-tempo, a engenharia genética dentre logo possibilitar seres artificiais quase perfeitos, os limites morais que impediam a felicidade de algumas pessoas foram suprimidos, superamos o tempo das guerras mundiais e a liberdade e igualdade favorecem que o indivíduo seja ele mesmo, com sua genética peculiar, tenha ele pés grandes, ou seja, um homem efeminado.

         O notebook é apenas uma das ferramentas que nos auxiliarão a escrever, a filosofar, a superar o antes estipulado. Acredito que daqui a cinquenta anos poderemos entrar um na casa do outro sem sair da nossa, voar sem asas, levitar, conversar telepaticamente, recriar a nós mesmos, nosso corpo.

         De certo modo um governo mundial ainda se faz necessário. A ONU ainda não conseguiu nem perto de uma reunião, até menor que uma copa do mundo de futebol. Não vemos grandes filosofias surgirem, a não ser a daqueles físicos que ousaram mesclar misticismo em sua materialidade científica. Mas a unidade na diversidade está aí, é um fato notório. Após muitos tempos de totalitarismo, imposições e tudo mais, vemos que finalmente podemos dialogar, ter um mundo dialógico.

         Trinta e sete soma dez, que é a totalidade. Também Deus, o tetragrama, nome de quatro letras, 4+3+2+1. Mas mesmo os seus Elohim, criadores relatados no livro do Gênesis esperavam essa evolução, ou esperavam tudo...”Eu Sou o primeiro e o último”, está escrito. Javé foi otimista em não ter destruído tudo com seu dilúvio (nuclear?) o mundo, mesmo porque para o antigo havia águas no céu, firmamento, e restou nossa “arca”. Mas o mundo evoluiu daqueles tempos para cá, e a ciência nos fez questionar sobremaneira os propósitos lá de cima.

         Não mais com ovelhas, cavalos, fogos no céu, querubins em rodas, ou quer que o diga um Ezequiel no seu tempo. Hoje essas coisas ficaram na figura de linguagem, metáforas. Estamos talvez preparados para um contato mais direto, sem a projeção de imagens além daquelas que realmente vemos, sem ilusões. Não mais religião absoluta, a não ser a união daquelas que já conhecemos.

         Sobre o teu juri, é assim que ainda vemos a justiça dos homens, algo meio limitada, uma vez que começa na diferença, que deixa existirem pessoas que sofram, passem fome, não tenham prazer em viver e assim por diante. Não há grande culpa, pois não existirão mais seres que não evoluam. Talvez os mundos evoluam e certas pessoas migrem para outros mundos, superando assim uma condição e equilibrando as diferenças. Uma paz perpétua haverá um dia, e isso não é utopia de filósofo. Talvez já haja esse “paraíso”, mesmo diferente do almejado por muitos. Ajudarei se puder, mas não fiz nenhum, e meu discurso é popular, até demais, mas explicar certas coisas técnicas é difícil,veja que terei de explicar sobre honorário de sucumbência e terei de cobrar honorários de um cliente, e isso é difícil. Eles acham que quem devia receber eram eles. Mas é tão honrosa essa sede de justiça, estou alegre por poder trabalhar nesse ofício mais que relevante a evolução da sociedade que participo. Nós filósofos temos ainda de ver nosso ideal realidade.

         Quem pensará o mundo? O futuro está em nossas cabeças, o céu está próximo, talvez tenhamos céus em cada célula de nossos corpos. A genética permitirá a recriação, aperfeiçoamento e tudo mais. É somente a certeza da mudança que poderemos ter, acima de uma bioética ultrapassada ou regras sem sentido material e racional. Nunca estivemos sozinhos, nunca fizemos nada não percebido, talvez haja um grande computador que grave tudo, talvez nosso Javé seja um bom programador. Quisera os vírus não nos arruinar, a maldade dos donos do poder não inventar novas guerras, possamos viver em paz, ou sermos arrebatas a um céu outro, a uma nova Jerusalém. Minha intuição me diz que nascemos no tempo certo, que é agora o tempo que nossos antepassados esperaram, que presenciaremos as maiores mudanças que já ocorreram, isso tudo ao olhar filosófico. Um abraço fraternal.

 

Paz profunda

        

        

MARIANO SOLTYS, aquele que tem os céus em sua cabeça

 

Vela 38

 

         Eu admiro você, Mariano, por uma multidão de qualidades, enumerá-las seria descrever a infinitude, mas o que mais me chama a atenção é esta sua capacidade de ser tão profundo e místico. Você consegue falar de querubim e outras figuras sem perder a seriedade de costume. Você fala do futuro e do passado como se já estivesse tido acolá e aquém. Vislumbramos tantas grandes evoluções para um futuro tão próximo, mas o que mais precisamos melhorar são os relacionamentos. Certas pessoas têm em sua boca palavras mais duras do que o coice de um burro xucro. Você já superou quase todas as linhas de evolução. É caridoso e simpático e atingiu a fase mística. Creio que esta é sua última encarnação. Desencarnando você virará espírito luz. Quem leu Kardec sabe do que estou a falar. Você é um ótimo argumento para se construir uma antropodiceia. Fazer teodiceia é fácil, difícil mesmo é fazer antropodiceia. Quase, uma causa perdida. Claro, apostamos no ser humano porque somos cientistas sociais e, acima de tudo isto, filósofos. De um lado sou um misantropo e de outro lado sou um filantropo. Tenho aversão a multidões. Mas tenho uma profunda admiração pelo ser humano de modo abstrato. Principalmente em relação às grandes personalidades do mundo filosófico, científico e da penseneidade em geral. Admiro a genialidade, que é um atributo humano. Mas tenho pavor do homem comum. O homem comum me causa náuseas. Aí sou obrigado a concordar com Sartre. Não todo homem, mas o das man (Heidegger) é um inferno (Sartre). Tenho certeza de que você me entende perfeitamente. O das man me lembra banalidade, futilidade, volatilidade, inconsistência, senso comum, doxa, crença infundada e preconceito gratuito. Se você coloca uma criança excepcional, digo retardada, entre retardados, ela ficará ainda mais retraída. Mas se você coloca uma criança retardada entre os ditos normais, então ela tenderá a evoluir. Por isso que tanto repudio o homem intelectualmente desqualificado. Por isso que somos tão parecidos.

         O Reino de Deus está dentro de nós. Está dentro do cristão, não dentro de todos, mas somente de alguns. Está dentro do budista, do seicho-no-iísta, do judeu, do faquir e do muçulmano. Está dentro do homem de boa vontade que acredita “em algo superior”. O Reino de Deus não é uma coisa, nem massa de pão e muito menos semente de mostarda. Ele é uma postura diante do mundo. É um modo de encarar a vida. O Reino de Deus é aquilo que com outras palavras chama-se felicidade. A felicidade não depende de ter uma casa grande, um livro publicado, um título de doutorado ou quaisquer outros bens. A felicidade não é a meta, é o caminho. A felicidade pode habitar um morador de rua ou um mendigo e um milionário pode se sentir profundamente infeliz. A felicidade é bem diferente da moda, ela não é passageira, é perene. O homem verdadeiramente feliz não se abala com quase nada. Eu penso que quanto mais espiritualizado um homem tão mais feliz ele é. O Reino de Deus é ideal, espiritual, nada de material. Os evangelhos condenam a excessiva preocupação com os bens materiais. Mesmo quando publico um livro, o livro em si pouco valor tem. O livro é o suporte material que abarca a mensagem, mas a mensagem extrapola as estreitas margens da folha do livro. A matéria não existe. A matéria é uma subcategoria do espírito. O corpo é resultado da vibração dessa centelha de vida que somos nós. Mas a vida em si não é o corpo. O corpo é manifestação. É a aparência da essência, mas a essência é muito mais do que a aparência. Eu vos louvo e agradeço Divino Espírito Santo por terdes me revelado estas verdades com a vossa iluminação. Eu vos agradeço Deus Pai pela vida e pela existência do Universo. Eu vos agradeço oh Cristo, Messias e Santíssimo Deus, por ter nos resgatado com o preço do seu sangue e por ter nos brindado com a luminiscência de sua sagrada doutrina.  Os anjos do céu não permitam que o meu amigo mesoangelical e monge do mundo tropece em alguma pedra ou dê um passo em falso. Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, o búfalo de Lao Tsé

 

Vela 39

 

         Também o estimo, caro Senhor Doutor Cléverson. Na época da faculdade já admirava os seus textos no pequeno jornal lá publicado, o Ethica. Quando falo em anjos estou cada vez mais racional, acho que são seres que existem mesmo, quase sou um Tomas de Aquino, doctor angelicus. Mas sem asas, sem atributos sobrenaturais, também não são nada “normais”. Para mim são seres do céu, por serem mesmo extraterrestres. Esses mesmos que nos contataram como Elohim (homens do céu), que ensinaram muitos ofícios ao ser humano, que o tornaram pedreiro livre, arquiteto. Que o ensinaram as artes como astronomia, magia, medicina, curandeirismo etc. Com seus carros de fogo e tudo mais, e não mais teremos de chamá-los montados em rodas, cavalos etc.

         De certa forma o João no seu livro de Revelação fala em 7 selos. Nada mais são que sete períodos da história, pelo menos até o fim de uma profunda transformação humana, em 666 gerações, desde o tempo da Criação ou quando o homem se tornou imagem e semelhança de seus cientistas criadores, os Elohim, cujo líder se chama Javé. Em 1945 iniciou-se o sétimo selo, que quer dizer o conhecimento da arma atômica, a tal “besta”. Alusões como cavaleiros nada mais são que o verde doença, o vermelho guerras religiosas e assim por diante. No mais referências a armas da segunda guerra e mais recentes, que para o nosso João pareciam monstros e estrelas no céu.

         O reino dos céus como o nome mesmo indica está nos céus e na possibilidade do humano encontrar esses mesmos, primeiro em si. São os 144.000 que o encontram. Talvez estejamos entre eles, e torço para que isso se efetive. Tal reino é um outro planeta mais evoluído, e não muito diferente da vida que vivemos, com corpos (ressuscitados)  e uma felicidade paradisíaca, ao gosto e necessidade de cada um: sabedoria, mulheres, jardim, oásis, mel e leite, e assim por diante, e vida muito longa, em torno de 700 anos. Mas isso graças a uma tecnologia superior, não a mágica ou “milagres” que não se compreendem. Para o homem primitivo tudo era misterioso, para o mistico moderno, é objeto de compreensão. A evolução da consciência é sua conquista.

         Esses são os seres que nos deram sábios e líderes criadores de religiões, ou que inspiraram outros a assim o fazer. De certo modo, todos filósofos. Ora, para guiar alguém não se pode ser cego, deve pelo contrário ver mais luz que os outros. Enquanto a humanidade do passado desenhava um m undo de ideias cheio de impropriedades, nós podemos efetivar muitas coisas pela tecnologia. Poderemos adaptar a vida, aperfeiçoá-la, superar doenças, dificuldades corporais, produzir felicidade, criar um m undo virtual, ter mais tempo ao ócio, mais do que criativo. E muitos buscarão saber coisas, exercitar seu espírito, e nossos livros são o que há de top nesse sentido. Afora livros clássicos de filosofia e religiosos, apenas aqui se pode encontrar uma cosmovisão digna de inovação. Não vejo que as pessoas estejam destinadas a  trabalhar demasiado, e nos próximos anos a evolução no trabalho será reduzir a jornada pela metade. Contudo todos têm de ver mantidas suas capacidades financeiras. Uma nova metalinguagem virá, não mais o trabalho será necessário, sendo o comércio e o consumo o motor do futuro capitalismo, de total entretenimento. As ocupações prazerosas serão na verdade o exercício da dignidade humana. Não haverão mais escravos, nem fome, nem guerra. Mas para isso tem de haver um novo homem, novas pessoas. No governo há de existir um gênio, alguém que inove mesmo, não que repita antigos colonialismos.

         Hoje trabalhei e fiz acordo, levando um pequeno valor de honorários sucumbenciais. Falta um acordo mundial em que as pessoas tenham olhos para ver que suas religiões dizem algo semelhante, que buscam amor, bondade, sabedoria, algo superior, no céu, na paz e certa tolerância. De certo modo todas tiveram as suas cruzes como símbolos, nomes parecidos de personalidades (Cristo/Krishna, Abraão/Bramam, etc). “Milagres” parecidos, anjos semelhantes, enviados do céu. Suástica que ao mesmo tempo aparece no oriente e nos povos pré-colombianos. Pirâmides pelo mundo, monumentos que seria impossível a força humana por si só construir. Muitos mistérios.

         Não há porque lutar, não precisamos defender a posse de uma terra, por meio de guerras, como o exemplo de Israel. É que lá foi o local da Criação do homem, talvez por isso esses livros religiosos diferentes tenham indicado como lugar prometido. Mas seja prometido para todos, não para apenas um grupo. Os que mereçam efetivamente podem partilhar dessa posse, que é mais de veneração.

        

MARIANO SOLTYS, o guia do Milênio

 

Vela 40

 

         A sua carta me deixa ébrio de episteme. Chego a cambalear. Fico chapado de bênção. Vomito a essência, transpiro enteléquias, defeco transubstanciações, exsudo doces flatulências odoríficas. Cavalgo no lombo da paixão e as ninfas se regozijam e masturbam meu membro viril. Sintetizo a subconsciência com a superconsciência. Os seres do mundo ideal a todo instante me recordam que estou no mundo, mas não sou do mundo. O príncipe deste mundo escraviza as nações, usa a política e a ideologia para colimar seu escopo. Toda bruxaria me foi revelada, ela é na verdade, a parapsicologia das mediações toscas e empíricas. Cada um de nós tem os seus próprios selos a desvendar. Minhas perquirições filatélicas mal começaram. O homem tem de ser sacerdote e médico de si mesmo. Eis a suma dos livros de autoajuda. O homem cresce dentro de si mesmo. Seu papel fulcral é a expansão da consciência, de todas as formas de consciência. A máxima sabedoria muito se assemelha à loucura. Porque nada mais ignóbil do que o senso comum. Ignorância cristalizada, podre doxa cheia de prestígio. O grande livro que temos que ler é aquele que precisamos escrever. Existe um livro dentro de nós configurado em nosso ser e este merece o Nobel, a coroa da glória, mesmo que ele conte com um único leitor, nós mesmos. O que penso é o que é, é o que parece ser, é o que poderia ser, é o que inarredavelmente será. O pensamento produz a realidade. A penseneidade é a vitalidade, o erlebniss. Quando leio o jornal vejo o achatamento e a deformação da realidade. A realidade é, sim, o que colocamos em nossos escritos, óptica superior do mesmo objeto cognoscível. A cognoscibilidade depende da capacidade de observação e análise do sujeito cognoscente. No caso, nós, vanguarda do pensamento filosófico e esotérico altamente amadurecido. Eu não apenas compreendo, mas sinto, vivo, experencio, degusto, abuso e defloro a realidade. A realidade é minha escrava, ao contrário da grande maioria da humanidade para a qual a realidade é escravizante. Cristo não nos salvará se nós não nos salvarmos a nós mesmos. Cada cristão é convidado a ser um salvador de si mesmo e do próximo. Quem olha para o espelho e vê a si mesmo não sabe que lá dentro existe outra dimensão, uma outra realidade, semelhante a esta mas muito superior. A gravidade é uma força possível, mas não necessária, nos acostumamos com um mundo que é desta maneira, mas poderia ser de mil outras maneiras. O machado está posto à raiz da árvore, está posto à raiz da última árvore, deixaremos o lenhador solapar a frondosidade do verde áureo? O nosso país vive um momento ímpar na política. A Dama vermelha da perdição cujo vice tem compromissos escusos com forças inferiores de um lado e de outro lado, um ateu que tem a prudência de assim não se declarar, pois sabe que vive em um país cristão. Quando Dilma disse: “nem Cristo querendo, me tira essa vitória”, lembrei-me do Titanic “nem Deus afunda este navio”. Ora, sabemos que o navio não completou nem a primeira viagem. O mundo é feito pelos homens do mundo, infelizmente. Particularmente sou de esquerda mesmo que a esquerda seja teoricamente ateia, porque ela tem piedade do fraco. O ateísmo da direita é pragmático e subliminar, em nenhum momento se diz que Deus não existe, mas se explora o trabalhador como se Deus não existisse. A busca do ser humano, infelizmente, até agora, tem sido a busca por este esterco, o dinheiro, papel anêmico e morto que só serve para dividir os homens. Quando os homens atingirem um nível superior até mesmo este detalhe nos será facilmente acessível. Porque quem tem acesso ao superior tem acesso ao inferior. A ufologia nos mostra que as civilizações superiores do universo não se preocupam com dinheiro, mas apenas com energia. Nós humanos precisamos mudar nosso foco. Minhas vestes são sagradas porque sagrado é o conteúdo que elas abrigam. Sempre se deve observar o que comunica dignidade a quem. De minha parte não busco nada, sou buscado. Se busco alguma coisa é a mim mesmo. Obrigado por ler minhas epístolas, respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, o aventureiro buscador de si

 

Vela 41

 

         Ri muito com sua quadragésima carta, irmão Cléverson. Contudo eu havia deixado algum assunto em aberto: as pessoas simples, humildes. Após tantas divagações sobre os anjos, vejo que agora posso discutir assuntos mais próximos da nossa realidade de quotidiano.

         Já estive muito próximo do povão, e trabalhei na produção da nossa fábrica de produtos de higiene, pintura e limpeza, a Condor. Lá conheci essas pessoas comuns, que me ensinaram a ver um outro mundo, mais acessível, e eu, como Sócrates a perguntar ao povo grego, tirei lições de sabedoria na época que convivi junto a essa classe. Não estava eu tão afastado destes, até me sentindo envolvido pela energia que a egrégora me proporcionava.

         Aprendi a respeitar na época o bruto que há nas pessoas, a parte corporal, que para mim sempre esteve tão incomunicável. Trabalhei numa máquina que montava pincéis, desde ½ polegada até 4, sendo que fazia as vezes 20000 pincéis por dia. Mesmo meu pai me auxiliou a estar empregado,uns chamam  “pião”, para que eu me “enturmasse”. De certa forma ocorreu, e o pragmatismo do filósofo Mário Soltys me caiu bem, pelo menos pelos 3 anos  que estive lá. Ouvia música sertaneja e vanerão, olhava com grosseria às moças, falava palavrão, era um tanto rebelde, sujava-me de graxa e pó, exercia atividades as vezes de trabalho braçal, como descarregar um caminhão, rolos de fio de aço, lã de carneiro, cerdas etc.

          Talvez a verdadeira esquerda não esteja em sindicalistas, afiliados em partidos populares ou quem vista de vez em quando uma camisa velha para se parecer com o povo, mas seja um daqueles que realmente trabalhou e sentiu na pele um pouco do que eles viveram. Assim criei um grande respeito pelas pessoas humildes, converso com todos, descubro uma sabedoria, que já o nosso Montaigne sabia valorar, o que a universidade não ensina. A sabedoria se diferencia da erudição.

         Era um tempo que apesar de eu não me alimentar em excesso, tinha mais força física e disposição do que em dias atuais. Mesmo no curso de direito uma hora de estudo me valia por umas três de agora, talvez porque a minha força era geral, eu era uma extensão da máquina onde laborava, era um super-homem (o que Nietzsche chamou de além do homem). Mesmo no rebanho, eu era uma espécie de ator, um tanto palhaço, e me deram o carinhoso apelido de Popô na época, o que era mais coisa das moças que lá tinham o seu ofício, sempre bem feito e com todo o detalhismo.

         Não é à toa que Marx e Engels viram na diferença de classes uma chave para desvendar o capitalismo. Eu também vi que trabalhando em meio a esse povo o que na verdade temos é uma escravidão, uma vez que o empregado de fábrica trabalha unicamente para comer e pagar dívidas, gozando muito pouco os prazeres da vida. Mas vivendo melhor que muito empresário. Não apenas a questão da mais valia. O que ocorre é que quanto mais simples, parece que melhor vive o homem. Compare você comigo uma festa  popular e uma ópera:qual é o mais divertido? Certamente as pessoas sensuais estarão no primeiro, sendo o segundo frequentado por senhores e senhoras, e no máximo famílias que querem algo mais cultural. Há mais valor que o simples dinheiro e que a produção, há a felicidade e o entretenimento que garante a saúde, ou não chegamos ao consenso que a depressão e o estresse são  duas doenças do nosso tempo. Males causados não pelo excesso de trabalho, mas pela falta de uma catarse, de diversão, festa ou qualquer coisa do gosto de cada um. O povo faz festa com pouco, pipoca e refrigerante garantem grandes diversões.

         Quer descobrir ócio criativo, inteligência emocional, terapias alternativas?– então observa esse povão no pátio da fábrica, conversa, convive com eles. Grandes lições tomei na sua prática, até Epicuro me vem a mente, com seu saber para a amizade, para o prazer. Nem um lanche se deve fazer sozinho, isso aprendi com o povo, mesmo talvez um  espírito epicúreo. A amizade e companhia são fundamentais, e lá tive muita companhia, tando é que quando sai do emprego, as pessoas me abraçavam, sentiram após muita saudade, e eu também. Lá vi uma sinceridade que na universidade, em meios profissionais de classe, mesmo em lugar algum vi igual. O presidente nosso é do povo, e muitos governantes da América latina caminham nesse sentido, e isso é um sinal da democracia. Preferia eu ainda o gênio, mas talvez seja melhor alguém que governe numa plutocracia. As teorias dos governos não pensaram nisso - que cientista político poderia ver no seu governo o popular, aquele que não tem descendência real ou tradicional?

         O povo vive bem, economiza em remédios. Comida, sexo, festa, dança, bebida e outras coisas simples e tudo está resolvido. Nem terapia, nem remédios são necessários. Parece primitivo, mas eles estão mais próximos a essência do que muitas pessoas que se dizem buscadoras de espiritualidade. O desequilíbrio é o pai de toda a doença. Quer equilíbrio entre corpo e alma? Mistura-se ao povão. Mesmo é mais real o mundo deles, tem cheiro, tem força, tem menos roupa, dá livre vazão às necessidades básicas. Abraço.

 

MARIANO SOLTYS, o grande cordeiro do rebanho

 

Vela 42

 

         Caro Mariano: ontem foi muito válida a reunião da célula. O facilitador, o Manolo, tem por hábito falar do padrão de Deus e do padrão do homem. Para o nosso padrão nós nos consideramos muito desiguais entre nós seremos humanos. Mas como o padrão de Deus é muito superior ao nosso padrão, Ele nos tem como semelhantes. Em astronomia isto se chama paralaxe. Na visão vertical vemos as diferenças. No nosso plano rasteiro e baixo. Mas Deus que nos vê de um ponto de vista vertical tem uma ótica totalmente diferente.

         Ontem antes de ir para a célula eu estava ouvindo A Voz do Brasil e uma economista explicava porque a China já tem mais dólar do que os Estados Unidos. Quanto mais um país compra dólar, mas a moeda nacional daquele país se desvaloriza em relação ao dólar. Assim é que um dólar vale mais do que 6.000,00 yuans. Isto estimula a economia do país através da exportação. Vários países emergentes têm feito isto para alavancar suas economias. O problema é que esta medida prejudica a economia dos países ricos. O FMI quer tomar medidas radicais para evitar que isto continue acontecendo. A saída seria uma única moeda mundial. Já tem um modelo da nova moeda, ela se chamaria unity university e traz insignes dos illuminati.

         Diria que caminhamos para uma só moeda, um só idioma, e uma só civilização. Ainda nos dias de hoje os geneticistas conseguem fazer o mapeamento dos gens em torno do planeta. Mas com a língua única e com a moeda única o trânsito de pessoas em torno do globo será tão grande que surgirá algo novo. Negros de olhos puxados, índios de olhos azuis, brancos com cabelos crespos e tantas outras combinações que já conhecemos. Darwin será pensado e repensado. E o que dizer da religião? Teremos uma única religião, conseguiremos superar o proselitismo e chegar a um pleno ecumenismo? Segundo o Patrick não haverá religião alguma. Somente a escatologia para responder a esta complexa e intrincada pergunta. A Teosofia, sabemos disso, se apresenta como essa religião global.

         Querem fazer do RG um cartão de crédito, depois ele será convertido em ship, depois inserto sob a pele, depois cada um de nós terá um número e chegará o final dos tempos. O fim está próximo. Nós não veremos, mas nossos netos com certeza. É lamentável que Aristóteles tenha sido lido por 2.400 anos e minha Summa não aguentará muito mais de um século. A não ser que no departamento de humanidades da biblioteca celestial minha obra esteja catalogada.

         Os líderes mundiais conseguem fazer o que há de mais difícil, mudar a cultura dos povos. Como é difícil fazer mudar um único indivíduo, mas os senhores do mundo mudam nações. Como é difícil implantar uma nova mentalidade de um único indivíduo. Doutrinar alguém não é fácil. Mas as multidões rendem seus cérebros aos grandes. Os grandes usam o cinema, a música, a literatura e tudo o que é estritamente cultural para mudar a cultura. A dinamização da economia é outro fator de aculturação. Eu não quero ficar na plateia. Quero ser um dos promotores da mudança. O sucesso ou fracasso de um ser humano, seja em qual área for, depende de sua capacidade de promover mudanças bem sucedidas. Incomodo-me com a advocacia justamente por este fator. A advocacia é a profissão da mesmidade. Por mais que as leis mudem, por mais que a jurisprudência mude. Há uma continuidade na mudança. E digo mais. Também o direito não passa de um reflexo das diretrizes que os senhores do mundo impõe forçosamente à massa de manobra. Sou um manobrado no direito. Somente como escritor é que pairo acima de todo este vendaval e consigo respirar um pouco e tomar ciência dos fatos do mundo. Você falava dos seus amigos “chão de fábrica da condor”, talvez eles sejam mais felizes por não terem consciência de todo este processo. Pior é ter consciência do processo e não poder fazer absolutamente nada. Muito obrigado, meu caro leitor, Mariano Soltys, o homem da síntese entre o simples e o complexo. Do seu sempre

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, magister sapiens sapiens per secula seculorum

 

 

Vela 43

 

         Caro Cléverson: daqui a duas semanas verei se comparecerei a célula, apenas por curiosidade. Mas a minha filosofia se mostra um tanto incompatível com o mundo neo-pentecostal, evangélico e mesmo o que há de novo no mundo cristão. Ainda somos católicos, e por isso defendemos certa universalidade. Como místico, vejo não mais caber achar um buda algo demoníaco, ou esperar por fins de mundo, quando sei que existem leis naturais de ciclos no mundo e sempre haverão transformações.

         Sobre a moeda mundial será uma simples consequência do sistema global que já está presente, e além dos Illuminati, a própria Rosacruz defendeu em seu último manifesto, o Positio Fraternitatis Rosaecrucis um governo mundial, o que leva também   a crer que defenda moeda mundial. Outros assuntos de atualidade estão ali discutidos, como avanços de comunicação, informação, tecnologias etc. O dólar mesmo já parece ser subjetivamente essa moeda, e o Euro ficou objetivamente instituído em determinada integração.

         Sobre a civilização planetária mesmo, Leonardo Boff já falou muito, e para ele essa única religião seria a cristã. Entendo que o ceticismo tomará conta, e haverá uma mistura que nos inclinará certamente ao misticismo, o que já fizeram Templários, Rosacruzes, Aurora Dourada e outros, e você falou em Teosofia. Digo que haverá uma Teosofia cristã. Mas o ateísmo será quase que unanimidade, e basta vermos agora mesmo para sabermos que novas gerações não mais conciliam seus mundos virtuais e consumistas com caridade cristã, nirvana budista, yôgahindu ou outra forma, uma vez que não mais se quer ficar preso numa única religião ou filosofia. O pluralismo tomará conta também da religião, e uma linguagem apenas será a unidade de muitas vertentes, até antitéticas.

         Tudo favorece que o paganismo retorne com mais força que nunca, e não foi de agora que conheci pessoas que se dizem bruxas, ou adeptas de Wicca. Mesmo essa magia natural tem muito de várias fontes, usando cabala judaica, feitiços gregos e celtas, cromoterapia, astrologia, numerologia e assim por diante. Talvez uma religião que misture parapsicologia, ufologia e conhecimentos de psicologia. A autoajuda será mais importante que o resto. Hoje a teologia da prosperidade e os milagres defendidos em nossas igrejas populares têm já um enfoque desse gênero. Sobra por fim a cientologia e o movimento raeliano, esse último onde já fui convidado a encontros. Modernos também são os thelemitas e os caóticos, mas nem tanto cristãos.

         Hoje a cultura é uma escolha pessoal. Posso ouvir música japonesa, entrar para uma tribo de Emos, ir a uma balada “nada a ver” e ser adepto de comida natural. Posso comer costela com refrigerante e laçar o boi num rodeio, ainda ouvindo country americano. Também alguém pode se vestir de super herói e sair nas ruas, como ocorre no Japão, para se diferenciar das outras pessoas. Se pode viver perambulando pelo mundo feito um cigano, levantando a bandeira do meu país num evento esportivo, fazendo festa com adversários, mesmo comemorando a derrota. Não há presidente que governe sem levar esses microssistemas em conta. O esperto Obama já viu que o barco navega nesses mares.

         A verdade é que sou já um cidadão do mundo (ou do Cosmo, como diziam os antigos cínicos). Mas quem irá governar esse mundo, senão um sábio? Voltaremos a teocracia? Mas já superamos a teocracia após Revolução Francesa, e mesmo a nossa Igreja já não tem tanto crédito. O Islã ainda acredita nessa possibilidade firmemente. Mas aí o mundo se divide novamente. Acredito que um conselho dos governantes mundiais seria mais seguro, pois um homem só não deve governar justamente. Voltamos a tripartição dos poderes, ou mesmo a necessidade de uma câmara do povo e uma dos lords, o que temos em nossa Câmara de Deputados e Senado. A lição da história já teve seus governos mundiais, língua mundial, etc. O latim, a Igreja, a Inquisição, as navegações, colonização, tudo isso já nos ensinou de tempo a viver nessa dimensão planetária.

         A verdade é que o mundo sofrerá grandes transformações e que nós somos filósofos desse tempo, de informação abundante, consumismo, uma tecnologia que de hoje não vale mais amanhã, pensamento que se altera de acordo com gostos. A opinião virou moda. Doxologia pura. A universidade virou um bem de consumo, por isso já combati de longa data esse sistema, acho que temos de buscar outras formas de conhecimento profissional, sei lá, talvez corporações de ofício. A escola também tem de ser um local mais virtual, e de diversão. Não mais se terá de frequentar uma cela com um professor todo poderoso. O diálogo deve imperar e qualquer coisa a criança é levada as autoridades. A família não é mais família, os pais são mais padrastos e tios que outra coisa. A moral acaba entre quatro paredes e o prazer sexual está acima de muitas escolhas, vemos no povão esses caminhos sendo seguidos, mesmo pelos mais tradicionais. O mundo virou um só povo, mas de diversificada opinião, seja com uma moeda, língua ou governo.

 

MARIANO SOLTYS, FRATER ZURISADAI

 

Vela 44

 

         Caro Mariano: nada tendo a lhe dizer lhe digo que às vezes é bom não ter assunto para dar asas à criatividade. O ter muito assunto tira nossa capacidade de pensar, imaginar e conjecturar. Por exemplo, na minha coluna do jornal Evolução pouco ou nenhum esforço faço para escrever. Sobra assunto para manter uma coluna semanal. Mas se a coluna fosse diária eu teria que me esforçar bastante para encontrar temas. Gosto de escrever sobre política, mas dificilmente concorrerei a um cargo eletivo. Você se recorda de quando eu falava com você sobre a invectiva de satanás sobre Cristo tentando aliciá-lo? A terceira tentação, a meu ver, seria a mais forte de todas. Satanás levou Jesus Cristo ao alto de um monte e lhe disse olhando para a grande Jerusalém: “eu te darei todos os reinos da terra, todos os governos do mundo, se te prostrares diante de mim”. Ao Cristo respondeu: “Está escrito: adorarás somente o Senhor teu Deus”. A questão que fica é: satanás poderia oferecer alguma coisa que não fosse sua? Penso que ele não estava blefando. Jesus foi claro: dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. Nós estamos no mundo, mas não somos cidadãos do mundo, nossa pátria é o mundo celestial, isto aqui é um desterro, como os católicos costumam dizer na Salve Rainha. O príncipe deste mundo é o senhor das trevas. Quem quer salvar-se já nesta dimensão deve fechar aliança com o anticristo, porque para os cristãos a verdadeira vida acontece depois da experiência telúrica. Cristo escolhe as coisas que não são para confundir as que são. A sabedoria de Cristo é loucura para os homens do mundo. Cristo elege o desimportante importante e o importante é um vaso quebradiço vazio. Os critérios de Deus são diferentes dos nossos critérios. Os caminhos de Deus são mais altos que os nossos caminhos assim como o firmamento celeste dista do solo que pisamos. O que muito me preocupa na Igreja Católica é a promiscuidade entre poder temporal e poder espiritual. A Igreja Católica Apostólica Romana é a única instituição religiosa que tem a ingerência direta sobre a ONU e outros organismos internacionais. Quando o poder mundial estiver mais bem delineado o papa mostrará com mais precisão o alcance de seus poderes pontificais.

         Penso que o verdadeiro cristianismo é aquele praticado nas galerias do subsolo porque a luz do dia não tolera o autêntico evangelismo. O verdadeiro cristianismo é o praticado em pequenas células na casa das famílias cristãs. O cristianismo de massa não é o cristianismo que eu aprecio. Não que ele não seja válido, mas é que o verdadeiro cristianismo encerra em si solidariedade e a solidariedade só existe entre um grupo definido de pessoas.

         Você é uma pessoa muito especial e será muito bem acolhido no grupo. Sua aceitação será imediata, venha participar conosco no grupo. Os cristãos também fazem a diferença no mundo. Eles são o sal da terra. Fiquei sabendo que o maior centro de umbanda na região é Mafra. Muita gente de São Bento do Sul vai para lá para participar dos rituais. Não sei se isso acontece em Mafra, mas em alguns lugares o pai de santo come iguarias, fuma maconha, bebe cachaça e depois vomita numa bandeja e depois passam a bandeja para o pessoal comer a imundície. É coisa de maluco. Eu prefiro nem participar de um evento destes porque lá estão presentes as forças demoníacas e a gente volta para casa carregada de energias negativas.

         Leu o artigo do Fídias no Jornal Evolução de hoje? Ficou muito bom, o cara não é fraco. Eu e o Fídias fazemos um bom par como colunistas neste jornal. Deus lhe proteja e lhe guarde. Se um dia eu for para o estrangeiro, e é o que eu quero, mas ainda não sei se vai dar certo, não me esquecerei do amigo. Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, um pecador tentando ficar parecido com um cristão

 

Vela 45

 

         Caro Cléverson: tenho muito a dizer, não somente a vossa pessoa como ao mundo. Acho que se escrevesse em jornal faria algo mais leve, como mini-contos, numa espécie de novela/folhetim, colocando assuntos filosóficos e políticos nas entrelinhas. Sobre o governo do mundo, certamente esteve nas mãos de Satanás, que para mim é mais a ignorância. De certo modo existe um ente egregórico, uma criação mental que tem realmente vida, mas não tanto poder. Quanto ao Satanás, dizem os raelianos que ele foi um dos Elohim, dos anjos responsáveis pela criação do homem e que disse a Javé que ele, o homem, era mau, lutando por sua destruição, mesmo estando em um planeta distante. Isso somente será superado se a Besta (bomba atômica), não destruir o mundo, em uma terceira guerra mundial ou outra que o homem criar. Mas o inconsciente do homem mesmo, seu lado sombra, quando toma o poder pode por si mesmo pode ser terrível, como o exemplo do fascismo, terrorismo e seus líderes.

         Sempre acreditei no verdadeiro cristianismo como algo um tanto humilde, até mesmo chegando a ser uma sociedade secreta. Os essênios parecem ter sido o mais próximo disto, bem como a comunidade de Kunran. Não vejo também que a Igreja Católica esteja errada, mas que já muito tem mudado, sendo a hierarquia talvez o problema, o poder. Mas entre os Judeus não vemos essa questão de poder como algo ruim, nem o dinheiro, nem governar. Salomão, Davi e outros têm um livro na Bíblia em seu favor, e mesmo Crônicas não podem estar de fora dessa dinâmica. Deus dá o poder para quem quiser governar, mas o seu rei é mesmo o Messias, não outro. Um cabalista poderia lembrar de Metraton.

         De certo modo mesmo assim Deus criou o mundo. Os reinos do mundo são outra coisa. Podem ser de homens ou mesmo estes enganados por demônios. Lendo-se as Clavículas de Salomão, bem como outros grimórios (gramáticas) de magia, percebe-se que muitos desses seres espirituais têm uma grande identidade com os interesses do home, como tesouros, ciências, poder, mulheres ou até mesmo filosofia. Mas a energia que move a matéria é a mesma, apesar de com energia diferente em cada ser ou ente. O referido demônio que tentou Jesus pode ser um como Lucifugo, Barrabás, Leviatã ou outros. A Bíblia não fala especificamente quem é, pois Satanás parece ser gênero. Em verdade são espíritos com quem Salomão mesmo teve acordo, e para o sábio eles são dominados, não dominadores. O homem comum e profano contudo é marionete desses seres, ainda mais se esse home não for um microcosmo, mas um Elemental encarnado (logo, não home, apenas aparentando o ser). Os interesses primitivos do homem, o que se faz pelas áreas neuronais de sistema límbico, reptiliânico etc, levam este quando no poder a praticar o que se poderia chamar de obra de Anticristo, que nada mais é que contrario ao amor, ao perdão e a caridade, entre outras virtudes. Daí que o cristão não é desse mundo, ou melhor, de Malcut: do mundo material, mas se eleva a um plano espiritual, mais próximo a Briah, Atzilut: criação e emanação, segundo os cabalistas.

         Leia Jó 34;12-13 e 30: “Na verdade, Deus não procederá impiamente, nem o Todo-Poderoso perverterá o juízo. 13 Quem lhe entregou o governo da terra? E quem lhe deu autoridade sobre o mundo todo?” “30 para que o ímpio não reine, e não haja quem iluda o povo.” E Jeremias 18: 7-10: “7 Se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação, e acerca dum reino, para arrancar, para derribar e para destruir, 8 e se aquela nação, contra a qual falar, se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que intentava fazer-lhe. 9 E se em qualquer tempo eu falar acerca duma nação e acerca dum reino, para edificar e para plantar, 10 se ela fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha”. Mas há outras fontes que falam em um rei bom aos olhos do Senhor, como em Reis e Crônicas. Se existia algo bom aos olhos Dele, não são todos os reinos então ruins. Deus governa tudo.

        

MARIANO SOLTYS, aquele cujo pecado foi unicamente o erro passageiro

 

Vela 46

 

         Caro Mariano: eu penso que a grande lição que podemos tirar da filosofia é a relatividade dos pontos de vista. A história da humanidade e a história da filosofia é a história dos excessos. Quanto mais leio a bíblia mais me torno relativista. Engraçado que algumas pessoas quanto mais leem a bíblia mais dogmática elas ficam. Não sei que tipo de leitura elas fazem. Até o próprio alcorão é um livro que engloba muitas passagens extremamente subjetivas. Não fosse assim o islamismo não estaria tão fragmentado em seitas. Penso que o homem que galgou o grau místico sabe que tudo o que é humano é relativo. Quem ingressa em uma sociedade secreta e tira como lição de vida o relativismo já restou aproveitado seu ingresso na ordem. O próprio bem e o mal são instâncias relativas. Na advocacia vivencio diversas situações em que me vejo aquém e além do bem e do mal. Quando defendo um estuprador, um homicida, enfim, um fora da lei. Como diria Chaïm Perelmann, a verdade é um discurso. Acaba se tornando verdade o discurso mais forte, o mais convincente. O reino da verdade é o reino da verossimilitude, é o reino daquilo que é politicamente mais convencional e socialmente mais aceitável. A verdade é uma convenção. Às vezes a convenção é esmagadoramente majoritária, às vezes há vários núcleos de convenção por onde transitam diversas versões da verdade. O homem grande é o que consegue sopesar os mais variados pontos de vista numa única situação, numa única circunstância. A característica das pessoas limitadas é serem apegadas a um único e frágil ponto de vista cuja verbalização é frontalmente destruída por outros pontos de vista que lhe anula pelo efeito de contrapesos. Filosofia é argumentação, advocacia é argumentação, jornalismo é argumentação. Eu sou simultaneamente filósofo, advogado e jornalista. Quando Sócrates disse “só sei que nada sei” ele demonstrou ser sábio justamente pelo fato de conhecer plúrimas perspectividades e não conseguir se posicionar dentro de uma delas preterindo todas as outras. Esta é a sábia ignorância: ler dez mil livros e descobrir que não sabe nada. Claro: o que um autor diz o outro desdiz, um terceiro rediz e um quarto redesdiz. É por isso que somos amigos Mariano: porque você está no mesmo nível que eu. Em relação aos demais, não tenho amigos, porém, seguidores. Você é uma contínua provocação que sempre me faz crescer. Espero que o que você é para mim eu seja para você. Toda religião exige um pouco de cegueira. Porque o homem iluminado tem sua própria religião. Quem tem as luzes da razão não precisa da revelação. A revelação é para os que têm um pavio apagado.

         A sabedoria não é tanto, e este é o ponto de vista das grandes religiões e dos grandes sistemas filosóficos, uma busca por princípios. Aliás, os princípios nos são inatingíveis. A epistemologia deixa isto muito claro. A sabedoria é uma postura diante do mundo. É algo mais psicológico do que intelectivo. O intelectivo depende do psicológico. A auto-confiança é a chave de tudo. Da filosofia, da ciência, da religião, da prosperidade, da fama, da maneira como as outras pessoas nos tratam. Nada transcende o eu. O eu é a última ratio, a última instância. Com isto não quero negar Deus, pelo contrário eu o afirmo na medida em que ele é o maior de todos os eus. A ideia de um eu forte é a mesma senão nenhuma outra de um eu equilibrado. Você é um homem de muito equilíbrio. Vejo-o carente em alguns aspectos, Mariano, mas você, muito astutamente, trabalha com sofisticados mecanismos psicológicos como transferência, compensação e sublimação que não permitem que seu sistema entre em crise. Isto é resiliência. Todos os centenários que conheci eram altamente resilientes. Saem do problema inteiros, sem traumas. Espero que na nossa ancianidade possamos estar com as barbas brancas e longas, fumando um cachimbo, lendo textos e livros de outrora, percebendo o quanto éramos limitados ou sábios. Isto faz parte da vida. Muito obrigado pela sua atenção. Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, um arraigado relativista apaixonado por todas as verdades

 

Vela 47

 

         Caro Cléverson: desde que conheci a filosofia simpatizei com um discurso relativo, não pela física de Einstein, que é mais complexa do que muitos pensam, mas pela própria condição humana, que se sustém por este aspecto dialógico. Quando escrevo, tenho algumas defesas de assuntos polêmicos justamente para provocar os dogmáticos, às vezes para reverem se o que pensam está realmente certo ou errado. Conceitos e teorias antigas existem de toda a ordem, umas comprovadas cientificamente, outras fruto mais da imaginação e superstição, mas todas têm uma opinião importante para a vida, e o conhecimento renasce a cada década renovado. Dependemos muito da tecnologia, de rapidez ou experiências como a de um acelerador de partículas, de nanotecnologias ou mesmo redução de tamanho daquilo que possuímos como produtos eletrônicos.

         Sempre vi que os discursos de determinadas épocas refletem um anseio, isso se deu quando a razão subjugou a fé, se deu quando a fé superou a razão, se dá quando ambas estão em equilíbrio. Não vejo que o eu tenha tanta importância, a não ser que seja um eu aperfeiçoado. É a consciência desse eu que tem importância. Mas isso deixa que este não seja mais um ego, mas se torne um self, eu melhorado. Quase um não eu, talvez a exemplo de um Buda, Jesus, Krishna, Zoroastro, Lao Tzé e outros. Nesses dias estava lembrando da advocacia e de ser Gandhi advogado, apesar de a sua verdadeira causa ser maior que a de um cliente ou outro.  Um eu coletivo também é possível, mas não destruindo o eu, contudo o validando nessa jornada que é a vida, ou as vidas.

         Na feira do livro de hoje descobrimos que não apenas as crianças conhecem algo sobre filósofos, como também querem ganhar um livro num sorteio. Comprariam se tivessem dinheiro. Os tempos estão mudando e é uma geração obrigada a ler, por causa da Internet. A nossa ficou muito na TV e passivamente se abandonou a margem da leitura, talvez por alguma revolta inexplicável e engano. A ignorância fundou muitos dogmatismos. Mas certas regras existem e mesmo Jesus ficou bravo ao ver mercadores no templo, no pátio daquele de Herodes. Não era muito a favor de se misturar o clero e outra forma de governo, estatal. Superar a superstição pode ser um grande passo ao humano, mas entender o fenômeno paranormal, por outro lado, pode fazer com que esse mesmo não tropece. Tenho mais esperança na geração que lê, mesmo que em seu computador e forçadamente em qualquer curso superior que faça, do que aquela que nem mesmo tinha  a matéria de filosofia em sua grade curricular, como na que frequentei, que era colégio de freiras.

         Um sorriso de um leitor é mais valioso que palmas, por mais numerosas que elas sejam. Não apenas pelo pensamento de sociedade secreta ou iniciática que me vejo num discurso democrático, mas acima de tudo pelas minhas experiência mentais, pelo mundo que já sustento dentro de mim, com pessoas, planetas, paz, guerra e ainda certa sustentabilidade. Nos livros encontrei mais companhia que das pessoas, por muito tempo, e isso me prejudicou certas fases da vida, se é que existem fases. Não sou ainda Lua, nem tenho as estrelas aos meus pés, mas um dia terei. E leitores podem surgir, mais do que certos consumidores de livros, como há com outros autores. O que desejo é que pensamentos meus se vejam espalhados e que seja visto como um grande homem, mesmo que isso não tenha tanto retorno financeiro, apesar de hodiernamente parecer indissociável a questão da vida e do consumo. Mas o aspecto místico supera esse mercado e toda a minha obra é uma arca de aliança entre o que há de melhor no ser humano, no seu amor e na paz que pode cultivar em seu íntimo.

         Me vejo equilibrado, mas tenho certos aspectos ainda não resolvidos, e minha vida é sempre uma superação a cada dia, a cada momento me vejo melhor. Já tive uma timidez absurda, sentia ódio por coisas que criava em meu imaginário e mesmo alergia por conflitos que alimentava, sem motivo aparente. Lembre que sou do signo de escorpião, que alimento as vezes certas violências, paixões, vinganças que supero em muito, mas que a semente sempre tenta germinar.  Sobre a resiliência, me vejo um tanto identificado com anciãos, com sua alegria, que na minha juventude ainda não compreendo. Ancianidade tenho de alma. Sobre os mecanismos psicológicos, vejo que outro homem no meu lugar não estaria apto a suportar certas coisas e que apenas a paciência pode me construir aeroporto seguro a um pouso não destrutivo no mundo. Sou um piloto do meu corpo, aeronauta de variegadas aerovias espirituais. Até tenho um ensaio filosófico com o título de sublimações, bem ao estilo de Wilhelm Reich. Mesmo Freud não me veria com bons olhos. Pena ele não ter um estudo que eu conheça sobre timidez, mas sobre fobias pode ser utilizado em paralelo. Os maiores conflitos que tenho é sobre o passado que não vivi, e, quando vejo a garotada curtindo a vida volto em flashes para situações de isolamento. Biografia de filósofo. Não mais preciso contar,  gosto de lembrar de personagens como Nietzsche e Kant, mesmo Shopenhauer e Kierkegaard. Assim vivemos crises para evitar a crise de milhares de pessoas.

 

MARIANO SOLTYS, aquele que sente a complexidade humana

 

Vela 48

 

         A melhor maneira de desfazer relativismo é criando dualidades. Platão, dogmático, falou do mundo material corruptível e do mundo ideal perfeito. Você está lembrado daquela passagem do Lázaro e o rico, dualidade rico/pobre, lembra? Pois é, Lázaro tem nome, é Lázaro, mas o rico é denominado simplesmente de rico. O bom ladrão na cruz é Dimas, mas o mau ladrão não tem nome. É através do batismo que ganhamos um nome, ou seja, quem se arrepender e for batizado será salvo. Está lembrado do homem rico, que perguntou a si mesmo: que farei? Já sei, construirei celeiros maiores e guardarei meu estoque para muitos anos. Tolo, tua alma será cobrada ainda esta noite. Ou o administrador infiel. Que farei? Já sei vou repartir o patrimônio do meu patrão entre os devedores dele. Claro, foi elogiado. Não só pela esperteza, mas porque de uma forma ou de outra ele repartiu. Já o jovem rico não pergunta a si mesmo, mas pergunta ao próprio Cristo? O que devo fazer para ganhar a vida eterna. Jesus responde: guarda os mandamentos. Mas tudo isto tenho observado. Então vende tudo o que tens, dá aos pobre e segue-me e terás um tesouro no céu. Mas ele estava pedindo demais. Foi por isso que Cristo disse: é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus. Agulhas eram as gretas da muralha de Jerusalém por onde até passavam camelos. Mas um detalhe: tinha que tirar a carga de cima do lombo do animal e o animal tinha de se ajoelhar. Essa dualidade está em toda a Bíblia. Lá pelas tantas alguém diz a Jesus: teus irmãos e tua mãe estão lá fora. Ou seja o de dentro e o de fora. O judeu tinha a ideia de que quem estava dentro do judaísmo iria se salvar e quem estava fora do judaísmo os gentios, iriam se perder. Jesus foi um líder. Como diria Francisco de Assis, o líder ama mas não espera ser amado. O líder é pioneiro, está abrindo seu próprio caminho, ora, se assim é, de quem então ele esperará reconhecimento? O líder não busca ser compreendido, ao menos de imediato. Quem não tem paciência não vê a pedra florescer. Tu és pó e ao pó retornarás. Somos humanos, feitos de húmus, de terra, e à terra retornaremos. Somos, também excelentes. Entes do céu. Se viemos do céu, ao céu retornaremos. Eu tenho prazer em lhe escrever, escrever é um ato de nobreza. O que nos salva é o movimento. Por isso nas bem-aventuranças Jesus diz: em marcha os que sofrem, em marcha os que têm fome e sede de Justiça... O caminhar é importante. Quando caminho eu me equilíbrio, mas o caminhar também é um constante desequilíbrio, mal termino um passo já começo outro. É impossível ser feliz sozinho. Temos uma profissão, uma profecia. Somos profeta, rei e sacerdote. Temos uma missão, não é só padre quem reza missa, nós também rezamos nossa missa, nossa vida é uma missa. Quem conhece a si mesmo conhece o mundo inteiro, mas quem conhece o mundo inteiro e não conhece a si mesmo perdeu o tempo de sua vida. Daí que eu me encontro quando saio de mim mesmo. O eu é como a acordeona do gaudério que se encontra nas idas e vindas do gaudério. É no movimento que pegamos nosso ponto de equilíbrio. Nem tanto à riqueza e nem tanto à pobreza. Nem tanto à avareza e nem tanto à prodigalidade, há momentos para gastar e para poupar, há momento para inspirar e para expirar. Neste último final de semana participei do Congresso Catarinense de Rádios Comunitárias e aprendi muito. Se der, em 16,17,18 e 19 de dezembro participarei do encontro nacional. É uma grande escola. Vale à pena. Hoje tenho três audiências e durante esta semana estarei abarrotado de audiências. Se precisar de mim, pode contar. Leia o artigo que será publicado este final de semana no Evolução, espero convencer a você e à sua família. Li o livro do Donald, gostei, mas poderia ser mais apimentado. Ele foi um escritor bem comportado. Forte abraço, respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, o edificador das pirâmides do espírito

 

Vela 49

 

         Prezado amigo Cléverson, hoje estou muito bem. Até agora trabalhei num mapa astral, decifrando uma pessoa a pedidos. Hoje adicionei comunidade de Orkut, uma de teosofia, e noutra de quiromancia, eu decifrei alguns pedidos, como interpretação de certas linhas, uma que não era coisa boa, mas fui sincero.

         Jesus relativizou o judaísmo. De certo modo, algo bem diferente existia nessa comunidade cristã daqueles tempos, bem místico, bem mais intenso do que aprendemos a ver. Naquele mundo limitado, onde doenças eram curadas, demônios expulsos,  o Evangelho pregado com grande sabedoria, onde fé, esperança e caridade eram três pilares seguros. As parábolas do Cristo lembram muito aquelas ditadas por Buda, onde havia sempre um saber transcendente e coisas que se relacionavam a algo metafísico, de complexa filosofia. O sacrifício se dá do inferior para o superior, e isso nossa ciência chama de evolução das espécies. Mas não é apenas material, mas também relativa a alma. É mais dar que receber, é fazer-se pequeno, é amar o próximo como a si mesmo.

         Ainda acredito que o Mestre tinha uma sociedade secreta, e seus discípulos eram mais do que doze, mas talvez cento e vinte, de início. Também que conheciam algo de filosofia grega, algo de egípcia, talvez Platão e Hermes. Os sinais (e palavras de passe) eram assim dados aos que tinham a confiança e a iniciação (batismo) era do estilo essênio (ou Kunranianos), bem como a ceia ritualística, ao gosto também essênio. Talvez se vestiam de branco e tinham a missão de curar as pessoas, muitos não se casando (como Pedro, Paulo etc). Não era o celibato uma obrigação, mas possivelmente uma escolha, como bramacharia entre os hindus.  A santidade tem destas coisas, e um iluminado já não é mais o mesmo homem frente ao mundo.

          Também que o filho de Maria tinha conhecimento de cabala,  talvez fosse até um baal shem, mestre curandeiro que tinha direito a usar um dos nomes de Deus. Mas algo o afastou dos judeus, pois na sinagoga até chegou a pregar, apesar de que fez ferrenhas críticas a  seitas judaicas, como fariseus, que são hoje os que sobreviveram e continuaram sua doutrina. O Apocalipse ou Revelação é um livro de alta carga simbólica e a cabala pode dar respostas das mais claras nesse sentido. Eu pretendo escrever algo futuro para clarear um pouco esse enigma que é o livro final da Bíblia. Não é apenas questão de dualidade, mas de complexidade de um foco múltiplo, uma vez que as raças são doze, não duas, se lembrarmos tribos de Israel. 4 animais. Isso pode levar a conhecimentos de astrologia e mesmo os povos antigos mais dogmáticos ou severos em seus ensinos, respeitavam as estrelas que brilhavam a noite, o Sol e a Lua.

         O calendário judaico é lunar e o cristão é solar. Jesus nasce muito próximo a data do solstício de inverno, ou na exata do deus Invicto romano, e isso se deve ao gosto pelos conhecimentos de sabedoria dos antigos astrônomos. Novamente com doze discípulos, e no Apocalipse, e em toda a Bíblia tem referência ao sete, que para antigos eram sete deuses ou sete planetas mágicos. Mesmo no livro Revelação o número sete e a alusão à planetas pode ser uma boa chave a querer se traçar um calendário para o futuro, talvez uma forma de perceber os ciclos maiores, como órbita solar e acontecimentos que se repetem na história e que para os antigos eram já conhecidos.

         O mestre avatar surge sempre a cada época para apoiar na evolução da humanidade. Assim foram Osiris, Ram, Lam, Krishna, Zoroastro, Lao Tsé, Fo Hi, Hermes, Sidarta, Moisés, Jesus, Mohamed e outros. O Cristo estava neles, o Grande Espírito parece superar a diferença humana. As escolas de mistérios e a Grande Fraternidade Branca, que é a verdadeira loja, de cunho espiritual, também colaboram a esse papel de evolução humana, para que não mais peque o homem: em ação, palavra e pensamento. O místico parece ressurgir timidamente, num Swedemborg, Böehme, Dalai Lama, Mahatma e assim por diante. Oriente e ocidente estão unidos para esse povo. Jesus é respeitado, é venerado até por alguém do oriente mais longinquo. As suas palavras eram então nessa sintonia, as vezes pouco compreendida  pelo mundo profano, onde comer, beber, trabalhar são primeiras necessidades. A mística em nosso cotidiano acaba ficando em mosteiros e igrejas, em momentos muito curtos e mesmo somente em cultos.

         Mesmo aqui em nossa cidade de São Bento do Sul, cidade germânica por autonomásia, bem como polonesa e italiana, existiu um homem relatado, acho que por um historiador, que sabia ler mãos, conhecia essa arte da quiromancia. Sabia ele que temos selos nas mãos, como relata certo trecho bíblico. Esse moço morreu cedo, e era muito inteligente, mas não sei de que família era. Também grandes manifestações de fé por aqui devem ocorrer, acontecimentos maravilhosos e sábios que nascem, como você. Vivamos muito e nossa terra será abençoada. Que Cristo nos ilumine e nos leve ao Espírito Santo. Eu continuarei buscando saberes do mundo todo, mesmo por que não vejo Jesus como alguém que veio separar, mas unir e pacificar. Doutro modo não aceitaria estrangeiros para ouvi-lo e serem curados por ele.

 

Mariano Soltys, o filho espiritual de Pitágoras

 

Vela 50

 

         A vela 49 foi 7 vezes 7, a perfeição vezes a perfeição. Cinquenta é o ano sabático. O ano em que as dívidas deveriam ser perdoadas, em que os escravos deveriam ser libertos, em que a terra deveria descansar. Cinquenta é metade de cem, é 5 vezes 10, onde 10 é divindade e cinco o número místico da síntese. São 4 cantos mais um.

         Vejo Jesus essencialmente como líder, porque o líder é pioneiro, ele abre a picada. E Jesus diz “Eu sou o caminho”. Eu também sou o caminho, na pior das hipóteses, o meu próprio caminho. Caminho este que converge para o caminho do mestre. Na última carta me autointitulei como o edificador das pirâmides do espírito. Portanto, minha missão é faraônica. E olha que construir uma pirâmide de pedra é bem mais fácil do que construir uma pirâmide de psi-gama. Você conhece a teoria do Pe. Quevedo segundo a qual depois de 21 dias a partir do óbito ocorre a ressurreição? Segundo ele 21 é 3 vezes 7 e mais ou menos o tempo que leva para todas as células do corpo morrerem. E se alguém for cremado? E o que dizer das palavras de Cristo ao bom ladrão “ainda hoje estarás comigo no paraíso”. Ainda hoje e não daqui vinte e um dias. Quevedo ainda nega que haja evolução do espírito, segundo ele somente o cérebro evolui mas não o espírito. Discordo veementemente. Tanto a matéria quanto o espírito são essencialmente evolução. No paraíso continua nossa evolução para o infinito, mas só no plano do espírito. O único que não pode evoluir é Deus, porque, como ensinou Aristóteles em Deus não há potência, Ele é ato puro. Mas quando falo em evolução recordo que Aristóteles nega a evolução porque para ele as essências são fixas. O que existe é tão somente a transição do estado potencial para o estado atual. Mas segundo a minha visão a própria essência pode modificar-se, pode trasladar-se para algo que não é da sua essência, algo supraessencial. Isto é dialética, é marxismo, darwinismo, Pietro Ubaldi, Teilhard de Chardin, kardecismo, qualquer coisa, menos cristianismo católico ou aristotelismo. O meu pensamento é a noesis de um livre pensador, e somente o pensamento livre é capaz de compreender a realidade.

         Dias atrás tive uma palestra com Mauro Santin, um pedagogo com pós graduação em psicologia. Ele fazia um trabalho interessante com a etimologia das palavras. A mesma coisa que Martin Heidegger fazia com as palavras em alemão. Dizia ele que no plano somático existe a dor e o prazer. No plano da psique existe o sofrimento e a felicidade. No plano da consciência que está acima disto, como no nascimento de um filho, existe a dor, o prazer, o sofrimento e a felicidade. A vida depende de um sopro. Somos um sopro, um atman, uma anima, um huah. A vida é caminhar e postura. Daí a importância da postura. Quem não tem postura representa estar desanimado. O sofrimento, transformado em soma, torna-se doença. O nome já diz do-ente, é um problema do ente e não da essência. Depois somos tratados e ficamos enfermos, ou seja, instalados numa câmara de enfermagem. Convalescemos e tornamo-nos pacientes. Cientes da paz interior.

         Amanhã é aniversário do Luciano e do pai dele. Eles não vão fazer festa porque a dona Ciniria não está bem de saúde. Mas amanhã o Luciano irá trazer um bolo para o escritório. Ele me autorizou convidar você e eu faço questão que você venha parabenizar o colega. Será uma alegria. Você, como pajé, irá nos dar a bênção. Ele completará 38 anos. Já atingiu, pois, os 33 graus e tem 5 de jubilação. O aniversário do Luciano assinala uma passagem para todos nós. Dias atrás comentávamos entre nós quantos meses faltavam para o Luciano aniversariar e a data já chegou. É incrível a rapidez do tempo. Faltam mais 62 para atingir o centenário, digo, o primeiro centenário, uma vez que não descarto a possibilidade de o ser humano viver tanto quanto nos primeiros dias bíblicos. Falamo-nos, meu amigo, respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, o hálito do dragão, o sabre dos grandes felinos, aquele que pisoteia Antares como a um grão de areia

 

Véspera de 27 de outubro de 2010

 

Vela 51

 

         O ano sabático ainda deveria ser respeitado, eu já pensei nesse sentido, em relação ao perdão de dívidas. Hoje logo cedo me veio uma voz negativa, e as vezes as pessoas com quem convivemos podem retardar nossa evolução espiritual, mesmo material. Não apenas em iniciação nas escolas que encontramos nesse mundo, em relação aos mistérios, mas em relação a vida mesmo temos de estar alertas, feito galos. Uma lâmpada deve nos acompanhar nas mãos, para nos guiar frente a animais peçonhentos e mesmo buracos no caminho, para que não caiamos. Nas escolas dos mistérios isso se chama “Senhor do Umbral”.

         Hoje foi aniversário do Luciano e o presenteei com discos. Como audiófilo ele tem o bom gosto de ouvir a maior qualidade, que apenas encontramos em LP's (chamados discos de vinil), ou em CD's especiais, chamados HDCD e também o DVD Áudio, estes dois últimos bem pouco conhecidos e acessíveis no Brasil. Mas o LP continua ainda em sebos encontrado, com uma qualidade superior, desde que não tenha riscos e o som não encontre muitos chiados. Mas falei disso pois é o que ele gosta. Assim eu gosto de coisas, nós gostamos, e não somos respeitados, Cléverson.

         Para certas pessoas, até mesmo de nossas famílias, estamos perdendo tempo escrevendo, estudando, procurando conhecimento iniciático, ou mesmo religioso ou espiritual. Não temos uma caminhonete importada ou um carrão, então as pessoas pensam que perdemos tempo. Perguntam: o que você ganha com isso? Ou até afirmando: Eles apenas te dão papel, você não ganha nada com isso; você devia usar teu dinheiro em oura coisa; ele escreve como hobby, faz para passar o tempo; eles estão te enganando, você devia isso, devia aquilo... Não sei, mas com a tua Summa deve ser ainda mais criticado, pela envergadura e trabalho que toma na tradução. Sei que você divide esse mesmo sentimento que eu. Mas a Bíblia também é apenas papel e transformou o mundo e muitas pessoas. Graças a aparente “perda de tempo” de filósofos que vivemos melhor, que temos qualidade de vida, temos democracia, Estado, toda a ciência. Graças a cientistas que ficaram “por nada” fazendo experiências que temos todo o conforto, eletrodomésticos, medicina, curas em geral. Para a ignorância a doença já deve existir como uma fatalidade, e certamente tornarão esse seu mal mesmo fatal. A salvação é para poucos, pelo menos na primeira ressurreição. A segunda vem na marra, e muita gente somente funciona na marra.

          

         O “Senhor do Umbral” nos afasta do portal que está na senda, nos leva a esse demônio chamado senso comum. Pior que o materialista ou ateu intelectual, é o ignorante que questiona os diversos caminhos espirituais do mundo com base nas suas poucas e insignificantes, mesmo contraditórias experiências. Antes de criticar as pessoas por pagarem dízimos, mensalidades, a sua fé, a sua busca de conhecimento e sonhos pessoais, o nosso questionador deveria lembrar que foi graças a pessoas como nós que o mundo evoluiu, que tivemos progressos e certa paz. Lembra muito Satanás tentando Jesus no deserto, e o inimigo parece estar nas pessoas, ele não vem com toda a pompa e identidade a nos enganar. Mesmo as pessoas mais próximas podem nos ser prejudiciais, feito o Judas. Devemos agir com sabedoria e um dia ter nossos livros e trajetória bem sucedida, para fazer piada dos nossos críticos e questionadores, sejam quem for.

         Para o profano, o mundo é comer, ganhar dinheiro, comprar roupas, colecionar bugigangas. Não irá compreender a vida de um santo, de um iluminado ou mesmo de um que esteja no caminho. Nem sabem o que é um filósofo, para eles é um sujeito com loucura. Loucos são eles, que vivem feito galinhas no cercado da sua ignorância e pequenez. Para alguns a morte ou a vida não farão diferença, e muitas vidas virão para sofrer até aprender a verdade, a sentir o sopro de Deus. A porta estreita não é para eles, esses obesos da carne e do materialismo. Não é a toa que Jesus ao falar de alguém que nem Salomão no seu tempo se comportou assim com relação as roupas suntuosas. O Salomão era rei, e nossas pessoas céticas são apenas escravas de seu ego.

         Perguntam: o que você ganha com isso? Sabe que eu teria mil respostas para dar, muitas já a priori traçadas pelo inconsciente coletivo, cuja lição já é uma resposta rude e indubitável. Mas como essas nossas serpentes precisam de algo mais primitivo a sua compreensão, jogamos ao chão algo que ao rastejar elas possam engolir, assim ficamos distantes, nós essas águias nas alturas. Hoje está mais difícil buscar o misticismo que no século XVII, há uma nação de céticos a nossa volta, sem esperança, sem fé, sem nada, apenas com o seu discurso de dúvida, de Iblis do Alcorão. Na 27ª Surata, versículo 67: “Os incrédulos dizem: quando formos convertidos em pó, como foram nossos pais, seremos, acaso, ressuscitados?”. Certamente como serpentes comerão do pó dos seus pais, colherão do fruto da sua perdição a que continuam a defender no materialismo e ceticismo, e na segunda ressurreição sofrerão por seu erro.

 

MARIANO SOLTYS, o leão que ruge anunciando o temor aos ignorantes, desossando-os com os dentes da verdade e as garras da consciência

 

Vela 52

 

         Você bem disse que as pessoas que mais fazem a diferença na humanidade são as menos reconhecidas. Desde filósofos, cientistas, matemáticos e por aí afora. Eu tenho ciência da nulidade dos meus esforços. Não precisamos ir muito longe. Para a minha esposa. Tudo o que eu leio, escrevo, penso e faço não interessa. Para ela interessa apenas aquilo que é concreta e brutalmente palpável. Eu não a repreendo, apenas vejo nela o sintoma de uma mentalidade que é maior do que ela e na qual ela está inserida. Nossa mentalidade caminha no rastro da idealidade. E pensar que uma Antares é feita de átomos e partículas subatômicas como nós. Quimicamente somos mais complexos que Antares, porque antares e todas as outras estrelas não passam de hidrogênio e hélio. Mas nós que somos os mais complexos dependemos do mais simples. Não é interessante? Lúcifer era o maior dos anjos e devido à sua soberba se separou de Deus. E Deus para dar o troco a Lúcifer criou o homem, ontologicamente inferior a ele, pois o homem não é espírito puro mas participa da matéria e intelectualmente inferior a ele. Isto deve ser dolorido ser superado por um ser inferior. Mas em outra perspectiva somos muito superiores a Lúcifer. Porque Deus nos ama. É Deus quem atribui grandeza às suas criaturas.

         Hoje é sexta-feira, 29 de outubro de 2010. Tivemos cinco finais de semana em outubro. Isto ocorre em média a cada 820 anos. Ou seja, 8 + 2 + 0 = 10, o número de Deus, o número da perfeição. Este final de semana, portanto, é sagrado. Dia 02 é dia de finados e dia 1° não haverá expediente público seja porque, na Justiça do Trabalho é feriado regimental, ou, na Justiça Estadual, poucos dias antes os funcionários trabalharam no dia do funcionário público. Assim, emendam quatro dias para dedicar nossa alma ao estudo e às coisas de Deus, e, para quem é casado, para a esposa.

         Interessante que a demologia dos evangélicos de certa forma reconhece as entidades satânicas da umbanda. Há quem tenha sonhado com o exu caveira, prelúdio da morte, de quem alguém está tentando ceifar sua vida, e reconhece que quem tem vida sexual desregrada está comandado pela pomba gira. São curiosidades que vale à pena serem registradas. Os demônios de pequena envergadura são os que causam fenômenos ditos parapsicológicos, já os demônios das mais altas hierarquias inspiram o orgulho no coração dos homens, influem os líderes mundiais na conduta do governo global e assim por diante. A Igreja Católica também exerce um governo global. Os teólogos da libertação até hoje têm mágoa de João Paulo II. Este pontífice foi um revolucionário em relação a discursos e doutrinas inovadoras, mas teve uma política de nomeação de bispos e cardeais extremamente conservadora. Colocou o Ratzinger, um conservador de carteirinha para inibir publicações e registrá-las no índex. Agora que o presidente da Congregação para a Doutrina da Fé é o próprio pontífice, está sendo dada continuidade à política anterior. A teoria, enfim, é bonita, mas a política clerical é reacionária. Isto cria uma sistemática terrível, porque os clérigos carreiristas já vão se adaptando a este perfil para poderem galgar cargos na hierarquia. O medo do Vaticano é que a Igreja Católica do Brasil se abrasileirize a tal ponto que acabe proclamando sua independência em relação a Roma. Daí a tendência romanizante das políticas do pequeno grande Estado. Todas as organizações internacionais são como um rolo compressor, e por mais que falem em inculturação e aculturamento, tudo isto não passa de um sofisma. Nós que somos filósofos incorremos no mesmo erro dos reverendos, com nossas declarações universais dos direitos do homem, seja de caráter jurídico ou filosófico, passamos por cima das idiossincrasias das culturas locais. Globalização é homogeneização. Estamos caminhando para uma cultura global. Pelo menos nisto o cristianismo está em melhor situação que o islamismo que é bairrista e pensa pequeno. O ecumenismo serve para deixar tudo como está, o proselitismo é guerra de campanha em que se ganha, a muito custo, alma por alma. Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, o amolador da navalha da palavra

 

Vela 53

 

         Prezado Cléverson. No limiar do sucesso nos encontramos. É fatal que o nosso saber seja por hora subestimado por quem ainda não chegou ao nosso desenvolvimento espiritual. Longe de um discurso sem sentido, ou de mera demagogia, o que sai pela nossa boca é a voz de um gigante adormecido. Também distante dos delírios coletivos ou até mesmo sociais, bem como de impulsos muito fortes e próximos a animosidade, eis que desenvolvemos nossas Almas, ou que tomamos mais a consciência destas. Somos assim personalidades-alma além do nosso tempo e damos uma pré-figuração da complexidade a que chegará o pensamento da humanidade. Lúcifer foi um deus romano adaptado pela teologia cristã, mas se tratava provavelmente de um concorrente a Jesus, por ser suposto deus de luz, ou portador desta como o nome indica. Não há na Bíblia referência a ele, a não ser a uma passagem de Isaías que se refere a “estrela da manhã”, que mais nos parece uma Vênus que o anjo caído. Quedas de anjos são referidas no Gênesis, e parecem preceder o período do “dilúvio”, que sendo universal, não se refere a um planeta inundado, mas a algo mais complexo.

         O número dez parece ser o número da perfeição, porque  Pitágoras (mestre inspirador das escolas iniciáticas), entendeu ser espécie de totalidade, uma espécie de soma dos 4 (4+3+2+1), que se refere a quaternário, tetragrama, nome de Deus novamente, em hebraico IHVH. Mas isso se deve a Ele ser começo, meio e fim, Totalidade e Unidade. Nós estamos presos ao ciclo 9, bem como ao 7, então essa é a superação Dele em relação a aqui. Qualquer número multiplicado por nove dará o mesmo em redução teosófica, sendo um número de harmonia, neutro em vibração. 9x1=9, 9x2=18=9, 9x3=27=9 e assim por diante. Mas nove é também igual a 0, mas aí é outra reflexão.

         Das demonologias que observei, pouco tem boa credibilidade, sendo grande material proveniente da Inquisição e de seus defensores. Muitos deuses de inimigos foram superados e se tornaram demônios, até alguns inocentes, e isso é um processo natural com relação ao vencedor da guerra, ou da cruzada. Hoje se bebe vinho e não se admira a Dionísio, não se tem deus árvore (Odin), se tem prosperidade na colheita e não se agradece a certa dividade, mas a um santo, outro agradece a Jesus e assim variando de crenças. Houve divindades terríveis e esses dias vi um filme sobre os maias, “Apocalipto”, que mostrou bem as cabeças rolando em muitos sacrifícios humanos naquele povo. Contudo, divindades como aquelas relacionadas ao amor, sempre tiveram grande simpatia das mulheres, sejam elas de onde forem, e do contrário sobra ao nosso Santo Antônio. Mas as divindades africanas, os Orixás e Exus, certamente têm mais com o nosso povo, de origem miscigenada africana e indígena, quase que em maioria, refletindo assim esse atavismo a ser estudado por etno-psiquiatria. As entidades segundo alguns são formas-pensamento, e, para mim, devem ter grande sintonia a estágios anteriores na nossa evolução. A Pombagira deve refletir um instinto de luxúria plena, esta tão reprimida em nossos mecanismos psicológicos, sublimações e castrações. Já os Exus, que não devem ser confundidos ao Exu orixá, este mensageiro e essencial, são refletores de nossos impulsos destrutivos, vingativos, dos sacrifícios e coisas que ficaram possivelmente no inconsciente coletivo. Nem maus, nem bons, mas lições que ficaram no nosso desenvolvimento humano.

         Quanto a Igreja Católica, acredito que seja a opinião de alguns que estão na hierarquia que prejudique o seu progresso, mas muitas religiões e seitas diversas assim se comportam. Algum progresso houve e não acredito que seja a teologia da libertação ainda o foco, mesmo porque materialista. Não é a simples redução da desigualdade social ou defesa do meio ambiente que farão do catolicismo, ou mesmo do cristianismo, algo que supere o nosso tempo. Essas ideologias de sustentabilidade e mesmo defesas sociais vêm por variados caminhos, sendo a religião mais um aspecto espiritual de tudo, não devendo se confundir com ciência, como diria o Quevedo. Há assim o que é inteligível e o que não é. Nem tudo percebem os nossos sentidos e ainda não temos uma religião totalmente superada.

         Parece não serem uma ou outra forma de cristianismo a tendência que vemos na humanidade envolta em tecnologia, baladas, orgias, bebidas, Internet etc. Nem parece que as pessoas tenham o mesmo comportamento, quando se dizem cristãs, a aqueles cristãos que viveram em diversas épocas. Isso é simples, pois o mundo não é o mesmo. Hoje temos ciência e muitas doenças não mais se devem a espíritos imundos ou demônios, mas a determinados vírus, bactérias e outros malefícios. Vivemos em aparente harmonia a bactérias, ou vivíamos, até viram os remédios, antibióticos, que fortalecem mutações. Mas ainda acredito que a influência energética e até espiritual seja a chave para se levar uma pessoa a cura e outra para a autodestruição, mesmo ao milagre. Certamente Deus existe, mas não seja o que a nossa mente já foi capaz de pensar. Mesmo porque é difícil um pensamento de criatura entender um Pensamento Criador. Mas tanto seres como os microcósmicos prejudiciais, bem como as entidades negativas têm sua utilidade ambiental.

 

MARIANO SOLTYS, o abnegado

 

Vela 54

 

         O Patrick puxou assunto comigo e observou que a bateria do seu notebook é feita de componentes da Coreia, a tecnologia é japonesa e montado na China. Todos eles Tigres Asiáticos. Mas o processo de mundialização do mundo tem seus retrocessos. Como diria Hegel, “a roda da História às vezes gira para trás”. Alguns países europeus eventualmente poderão sair da União Europeia. São tantas imposições que as economias mais fracas não estão conseguindo acompanhar. A Grécia é uma das prejudicadas. Leio quatros jornais. Três brasileiros: A Gazeta, Evolução, A Notícia e um internacional El País. O El País comecei a ler quando o Manolo viajou para a Espanha e trouxe um exemplar de lá. Vi que ele diariamente está exposto no sítio www.elpais.com e diariamente o leio. Tem notícias do mundo inteiro, porque eles têm correspondentes em todos os lugares. Lendo El País sinto-me um cidadão global. Quero treinar meu espanhol e quando me debruçar sobre o inglês lerei The New York Times. Se quiser ficar informado dê uma olhada nos seguintes sítios www.indekx.com e também www.netpapers.com/paises.cfm Nestes endereços você encontrará os milhares dos principais jornais que fazem circular a informação ao redor do mundo. Em tempos idos em que poucos tinham acesso à informação, poucos sabiam ler, o jornal era artigo de luxo e ninguém tinha acesso a dois jornais diferentes. O que estava escrito em um jornal era verdade absoluta. Aliás, em tempos idos o saber um idioma estrangeira era coisa de outro mundo. Hoje podemos ler folgadamente em três ou quatro idiomas. O mundo cresceu, mas, não obstante isto, ficou menor. Até o cidadão comum tem um controle razoável sobre aquilo que ocorre ao redor do mundo. A mídia é o contrapeso às deliberações chanceladas no interior das lojas das sociedades secretas. Há pessoas querendo guardar segredo é há um exército de jornalistas e outros profissionais da imprensa batalhando para tornar as informações públicas. A mídia tem um papel importante também na manutenção do idioma. Isto é um pesado contrapeso em face da universalização do inglês, por exemplo. A mídia local dá vida aos idiomas e dialetos locais. Eu espero que os canais que lhe dei sirvam para você treinar novos idiomas, que as informações ali encontradas diversifiquem seu vocabulário e a riqueza de temas filosóficos por nós trabalhada. Ainda que a filosofia seja abstração, antes de abstrair, é do concreto que ela parte. Portanto, o jornalístico, bem burilado, serve para integrar os ingredientes que comporão os nossos tratados de filosofia. Hegel dizia que preferia ficar sem o café da manhã do que sem a leitura de seu jornal. Se ele que foi o mais idealista dos filósofos dizia isto, o que dizer acerca de nós mesmos que pretendemos ser bem mais pragmáticos do que Hegel? Se eu não tivesse cursado nem filosofia e nem direito com certeza seria jornalista graduado. Na verdade gosto de transmitir, doa a quem doer. A vida inteira eu levei lição de moral, fui alvo de inculcações ideológicas. Hoje quero fazer movimento inverso. Quero dizer o que penso. Já não sou uma tabula rasa. Sou um ser que retém e articula milhões de informações e tenho a fantástica capacidade de pensar.  Não nego que minha opinião engloba o ponto de vista de pensadores alheios. Mas eu seleciono o que coloco em meu cérebro. Mas eu já sou um formador de opinião. Ascendi a um outro plano. Você também está neste nível e é uma pena que não tenha coluna em nenhum jornal. Tenho comigo que o jornal prima pela polêmica. Princípio compartilhado pela filosofia. “Ninguém lê jornal para encontrar o óbvio” (Patrick Vicente). Assim, toda vez que suscito uma polêmica em minha coluna estou contribuindo para o avivamento do periódico para o qual eu escrevo. A próxima coluna trata de possíveis projetos de lei na esfera municipal, estadual e federal. Não perca. Bom proveito. Boa leitura, de minha coluna e de todos os jornais que lhe enviei. Faz-me lembrar do conceito de consciência infeliz segundo o qual ninguém tem consciência de tudo ou tem consciência de sua limitação. Para eu ler o que é produzido em um dia pelos jornais do mundo inteiro eu precisaria de muitos anos. Respeitosamente,

 

Aquele que é feliz na sua fragmentada consciência

 

Vela 55

 

         Parece que na constituição de um notebook há uma inter-relação de países produtores de seus componentes. Outras peças podem ser americanas, processador, o programa de sistema operacional e assim por diante. Quanto aos jornais, acredito que muito do óbvio está neles, pois sabemos que a manipulação e o controle sempre existem em redação dos grandes jornais. Por isso gosto tanto de pessoas que ousam, feito um Freud, Einstein, Bohr e assim por diante. Se eles apenas acreditassem em jornais e na notícia corriqueira, jamais teriam criado ou descoberto as teorias que defenderam. Revistas científicas são preferíveis, nesse sentido.

         Cada mídia defende os interesses locais a que está inserida. Se estivéssemos no coração da Palestina, bastaria estar em uma ou outra religião para ter uma defesa preconcebida. Mais edificante para mim são as informações da mais nova ciência, que faz suas descobertas, a maioria não divulgada em jornais, e sobre sociedades secretas, que também não vemos nada nos mesmos. Hegel nesse sentido no que se refere a minha pessoa errou, pois um jornal me daria indigestão logo pela manhã. Prefiro meu próprio café e olhar o nascer do Sol, muito mais salutar a alma do que o jornal.

         Entre tanta informação enlatada, não é o melhor meio para se encontrar a verdade. Devemos sim encontrar boa informação, e sinto-me melhor quando leio artigos e crônicas de filósofos como tu e Fídias, o que não encontro em outros jornais. Gostava, não nego, do que escrevia Mangabeira Unger no “A Notícia”, ou Leonardo Boff, e após ter aulas com o cronista Rubens da Cunha, busco às vezes uma crônica com aparência de conto nesse mesmo jornal, muitas vezes quebrando a necessidade de me informar sobre o mundo, mas sendo uma espécie de literatura, apenas isso. Mas a qualidade dos grandes jornais é indiscutível, chegam a ser melhores que as revistas, as quais vemos inflacionadas de propagandas, mais que artigos.

         Quando se poderia ver uma matéria de som em jornal onde se falasse em hi-end? Qualquer coisa que saia da massa em qualidade de som, ou qualquer outra coisa, parece não interessar muito. Basta partirmos para os livros, onde a moda dita sobre o que será falado em jornal, não que sejam os melhores livros. Quanto a história, parece que temos sempre alguma mera e superficial versão da história. A verdade resta apenas a Deus saber, pois certas coisas ficam ocultas pelas próprias circunstâncias e jornais vêm do que é acessível, apenas. Sabe de tudo e ao mesmo tempo não sabe de nada, esse é o jornalista de carreira, que informa bem, na forma, mas nem sempre na essência. Não tem muitas vezes conhecimento técnico direcionado, quando fala em justiça, medicina, informática, música ou outro assunto.

         A condenação pela mídia de qualquer acusado serve de prova do que falei, quando este é absolvido pelo Judiciário. Já mais de um cliente meu foi acusado por jornais locais apenas com informação tendenciosa dos inimigos da pessoa em questão, apenas investigada. Um papagaio é bom quando ele não fala injúrias e palavrões. Mas na informação basta que se fique com a ilusão e ingenuidade de que aquilo que se lê é verdade, sem questionar a fonte ou a linha daquele jornal, seus proprietários, chefes de redação. Para nós isso é fácil, somos críticos o bastante e temos um conhecimento de livros, que supera em muito o jornal, internet ou revista, pois compramos os nossos livros, ou escolhemos, enquanto em revistas e jornais é o dinheiro que os escolhe.

         Se eu escrevesse em coluna de jornal faria algo não repetitivo, sempre diversificando o assunto e se possível tentaria um conto ou romance em capítulos minúsculos em cada coluna. Algo mais artístico, tenho meio essa veia artística. Falar de filosofia também, mas tentaria traduzir coisas complicadíssimas numa linguagem quase popular, como já fez em grande parte a religião, o espiritismo etc. Nietzsche falaria em platonismo para o povo. Esse autor comentou em A Gaia Ciência: “rubrica de 'prostituição do espírito', como tudo o que se escreve para os partidos e os jornais” [1] Não concordo em parte com o autor de “Assim falou Zaratustra”. Somente em parte. Falava ele ainda que o judeu dominava a imprensa europeia, com bom talento para atores.

         Nos vem a baila o quanto lemos e não aproveitamos, qual é o nosso filtro natural? Os sonhos muitas vezes servem como uma espécie de evacuação para informações que colhemos antes de dormir, e segundo a interpretadora de sonhos, Janete Dopke, esses sonhos não têm importância. Mas nada de muito sonhador se encontre nos jornais, apesar de a ambiguidade revestir muitos fatos neles, às vezes. 

         O mundo tem sim grande informação disponível, e útil. O acesso que temos em sítios da Internet nos dá certo privilégio sobre aqueles que ficavam escravos unicamente de jornal local. O mais correto é comparar a mesma notícia em jornais diferentes para se fazer uma “prova real”. Mínimo múltiplo comum, talvez a migalha da informação. E sobre as coisas mais profundas não ajudará informar em jornais, pois a consciência tem de ter evolução suficiente para absorver esses conhecimentos. Para se acessar planos superiores tem de ter a adequação a estes.

        

Mariano Soltys, aquele que deseja mergulhar na Consciência Cósmica

 

Vela 56

 

         Caríssimo Mariano: hoje eu tenho muito assunto para a minha carta. Amanhã teremos uma legião de escritores em nossa cidade. Gente de todo o país. Uso o coletivo legião, porque ele remete à pluralidade de anjos. Sim, dia 06 de novembro de 2010 é um dia especial em nossa comunidade. Entre nós estará presente o Dr. Mario Carabajal, atual Presidente da Academia de Letras do Brasil. Depois da solenidade nos deslocaremos para o Restaurante Sabor Caseiro e fico imaginando o turbilhão de ondas mentais que lá irão se entrelaçar. Será uma noite de muitas sinapses. Hoje saiu um artigo meu no Evolução, como de costume, e, excepcionalmente, um outro em A Gazeta. Na próxima edição do Evolução darei minha cobertura midiática retratando um pouco daquilo que se passou entre nós da diretoria. Eu não sei com quantos paus de faz uma cangalha no dizer daqueles ditos machões, mas sei muito bem com quantas páginas se faz um livro. Tenho obras bem lacônicas como A Filosofia e o Direito, que, quiçá, um dia vire La Filosofía y el Derecho, até uma majestosa Summa Philosophica, com milhões e milhões de palavras até ficar pronta. Sempre tive mania de grandeza, quando eu era criança fazia desenhos tão grandes que não cabiam na folha ofício. A tia brigava comigo que era para eu desenhar menor. Sempre fui aficionado por magnitude, grandeza, gigantismo, obras faraônicas, enfim, um verdadeiro megalomaníaco. A Summa é apenas um pequeno ensaio. Penso ser o fundador de uma nova disciplina e dedicar a ela a redação de uns bons iniciais cem volumes. É lamentável que eu tenha de trabalhar. Isto me rouba o tempo que eu poderia dedicar às ciências, artes, religião, filosofia, etc. Mas a vantagem do trabalho é que ele nos dá matéria-prima, fornece assunto para a nossa reflexão. De acordo com o amigo Patrick Vicente, o que leva um indivíduo a desenvolver uma nova disciplina, um ponto de vista totalmente novo é o fato de ele encontrar as portas todas fechadas aliado ao anseio de encontrar uma saída e uma colossal dúvida epistemológica. Um fator exógeno e um endógeno, portanto.

         Eu tenho certeza de que nós não inventamos nem dez por cento dos ramos do conhecimento que ainda hão de existir. Há muito o que revolucionar. Eu serei um dos revolucionários. Tenho certeza da viabilidade epistemológica e fática de isto acontecer. Mas eu ainda não tive o insight, não “rolou a química” como dizem os mais jovens. Quando você tem um novelo ou você puxa qualquer fio e faz nó ou puxa pela ponta e desfaz o novelo inteiro. Eu estou à procura da ponta do novelo. Você e o Fídias são pessoas determinantes na minha carreira intelectual. Espero poder retribuir-lhes exponencialmente. Além de todos os requisitos indispensáveis para a emergência de um intelectual o mais importante de todos eles, sem dúvida alguma, é querer sê-lo. E isto eu tenho vontade de sobra. Eu nutro uma certeza muito grande em relação às coisas que jamais vi e digo isto sem conotação religiosa. Refiro-me ao meu sucesso como escritor e intelectual. Da minha cabeça exsurgirá um boom epistemológico que irá mudar a forma de a humanidade enxergar ao mundo e a si mesma. A propósito Mariano, ontem queria eu ser músico, hoje pintor e amanhã estarei mais propenso a físico nuclear. Eu sou esta metamorfose ambulante. Logo está chegando a hora do almoço. Sua carta alimentou minha psiqué mas o soma também nos cobra. Na noite de amanhã ficaremos empanturrados sob todos os pontos de vista. Curioso: o município de São Bento do Sul prefere pagar salgada multa diária a fornecer medicamento a pessoas carentes. A funcionária pública falou: “isto daqui não é padaria para chegar e levar”. É duro na queda, não é verdade? Bem são ossos do ofício. Vemo-nos, registro meus protestos da mais alta estima e consideração por sua pessoa. Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, criador de mais um daqueles mundos virtuais possíveis e ainda não criados, o mago da epistemologia, o vedor extrafocal do mundo escondido na superfície do óbvio

 

Vela 57

 

         Ilustre Cléverson: hoje estou feliz por ter ontem conhecido o presidente da academia de letras do Brasil, o Dr. Mario Carabajal. Certamente essa porta que vem a se abrir já estava por mim prevista, haja vista meu papa astral ter boas influências dos planetas nesse período, as melhores influências daqui  para a frente. Então gostei muito das palestras, especialmente a do Fídias, haja vista falar em axiologia e não sei se tu notaste, mas a figura utilizada era parecida com a capa da minha obra. Também envio juntamente com essa carta as fotos nossas, com o presidente da academia.

         Sobre o conhecimento, acredito que nós repetimos muito dele, uma vez que já antigos egípcios e gregos conheciam muito, verdades que a nossa ciência acaba por conhecer aos poucos. Sobre as partículas e determinada inteligência que viria através delas, bem como da herança genética, fiquei surpreso que ao proferir a palestra, o Dr. Mario e agora amigo, tenha falado disso na ótica das neurociências. De certo modo par mim ele talvez tente uma teoria alternativa e queria auxiliá-lo de algum modo nesse labor, pois sobre intuição sou bom. Acredito que já temos a resposta em parte resultante de experiências paranormais, muitas arquivadas por sociedades de pesquisas, sendo que podemos usar até aquele instituto de ciências psíquicas de Brasília. Contudo a tese dele tem de ser bem fundamentada, e, algo realmente novo. A distância da influência mental de um indivíduo para outro, a herança genética, precognições, as partículas especiais, tudo isso tem de ser analisado para que tenha aceitação do meio científico. Não tendo, vale a batalha do filósofo contra paradigmas muitas vezes falhos a que se veste a sociedade, como também retrataram os palestrantes.

         Como místico esses assuntos para mim não têm grande novidade. Já pensei em quase tudo, e quando ouço teorias, das mais diversas, vejo que muito do que eu já havia intuído acaba por se concretizar. Mas recebemos mesmo a cada época a verdade em determinado assunto, e a ciência ainda há de descobrir muito. Cura para câncer, nanotecnologias, células-tronco, dimensões do universo, novas partículas, espaço-tempo decifrado em sua real natureza, mecânica quântica, cordas etc, tudo virá a apoiar o desenvolvimento, que não é de agora, mas que já em gregos e egípcios estava germinado, tudo pensado. Os grandes cientistas mesmo não tiraram do nada suas teorias, sendo muitas vezes influenciados por leituras, experiência feitas por outros filósofos, etc. A biblioteca do Cósmico é consultada em comum por todos. Nós também frequentamos essa Alexandria espiritual, caro Cléverson.

         Meus pais tiveram nesse fim de semana um problema alimentar, intoxicação acho, por via de bactéria, presumo. Vejo que não por via de descuido, mas por alimentar  às vezes pensamentos não bons é que essas coisas nos atacam. E você ter falado sobre perdão, sobre sua dificuldade no assunto, me fez refletir. Sobre mim mesmo, melhorei muito do meu intestino quando fiz um exercício diário de repetição do pensamento de que não tenho raiva, ao estilo seicho-no-iê. Muito simples, apenas repetindo, eu já sentia a melhora de dores abdominais quase que incontinenti. Ainda faço certas asanas de hatha yoga antes de dormir, relacionadas a essa região, que também liberam energia e equilibra, além de que a irmã do Luciano, Clausse, me fez Reiki. Volto, o perdão é o desligamento desse laço mágico que temos com uma pessoa, esteja essa viva, morte, distante ou próxima. A cura integral um dia emerge.

         Sobre o ocorrido da nossa amiga, secretária do Fídias, ter optado a sair em balada, ao invés de conhecer meu charme, fica equilibrado por eu essa semana ter ouvido de outra moça que a inteligência é afrodisíaca para ela. Destarte, somente os escolhidos e predestinados participam de nosso meio, e é escolha dela, participar ou não. É como iniciação, muitos desistem, outros escolhem uma vida profana, tudo faz parte da liberdade, a qual apoiamos. Mas a experiência não deve ser forçada, deve ocorrer de acordo com vontade superior. Assim é o espaço-tempo, que provém de uma única energia do universo, erroneamente separados por nossa compreensão. Achamos o tempo algo subjetivo e vago. Assim, chegar a uma nova era não é apenas estar num novo tempo, mas também num novo espaço. É o que os antigos gregos chamavam de aeon. Bebamos desse éter e façamos da nossa embriaguez lição ao retorno ao Todo. As mulheres que nos acompanham são assim dignas de compartilhar esse novo tempo, senão ficam no velho, aprisionadas pelas correntes mortas do astral.

         Sobre contatos mais com o Dr. presidente da academia de letras nacional, solicito envio de seu e-mail para eu manter contato, auxiliando nesse desenvolvimento de tese. Sobre o Quevedo, poderei dividir alguma bibliografia e será de grande apoio para ele. O sonhos nossos estão próximos de se realizar, Cléverson, e as coisas positivas caminha juntas na roda da fortuna, as vezes cruel em certa época, mas alternante em graças e alegrias. Esse encontro foi especial e certamente terá reflexos para o futuro, onde os nossos nomes serão eternizados, bem como de famílias, da eternidade de nosso DNA que ainda será especialmente usado no futuro.

 

MARIANO SOLTYS, criador de um universo e de seu mestre através do mistério da Criação Mental

 

Vela 58

 

Amigo imortal, caro Mariano: O Dr. Mário Carabajal não é presidente da Academia Brasileira de Letras, pelo que me consta até alguns dias atrás o presidente desta Academia era o José Sarney, mas ele é presidente da Academia de Letras do Brasil, que é outra instituição. Brasileira é uma coisa, do Brasil é outra, entende? Mas ambas as duas são nacionais e de igual prestígio ainda que a Academia Brasileira de Letras seja mais antiga e conservadora. No dia da solenidade também me passou desapercebida esta diferença, mas pesquisando na internet me dei conta do quiproquó. Eu sou a favor dos caminhos alternativos. É para isto que existe Igreja Católica Apostólica Brasileira, Maçonaria Mista e tantas novas ordens sendo fundadas. Penso que há espaço para todos. O que não é admissível é fechar as portas para quem tem talento. O talento sempre deve ser acolhido, jamais preterido. O Carabajal me respondeu um e-mail que enviei a ele e disse que o nosso ingresso na Academia de Letras do Brasil está garantida. Será um prazer garantir a pelerine em Brasília. Ela é nossa veste sacerdotal. O papel, a caneta, o computador são as alfaias litúrgicas e nossa escrivaninha o altar. A vítima do holocausto é a vida do escritor, integralmente dedicada à causa das humanidades. Nossa religião é o culto à humanidade e a razão humana é a mediação entre a individualidade e o sagrado. A vida de escritor é uma missão. Sublime missão! Nossa vida é um grande sacrifício, ou, como quer o étimo, sacro ofício. Cristo repreendeu os levitas, escribas e doutores da lei, mas nós não seremos repreendidos por este mesmo Cristo, porque nossas letras não cativam, mas libertam. O único que é escravizado pela caneta é o próprio escritor. Mas ele, o escritor, é o vigário, o justo, que sofre a pena no lugar do bárbaro, do ignorante e insolente.

Hoje o dia é de chuva. Depois do calor intenso dos últimos dias. Ontem eu não podia abrir a boca para não engolir uma formiga alada. Os passarinhos que fizeram a festa ontem. Tudo noticiava e pressagiava a chuva de hoje.

Da mesma forma estão surgindo prenúncios em nossa carreira de escritor. Haveremos de ir muito longe. O Deus Pessoal Abstrato haverá de nos ajudar. Hoje vim ao trabalho e mesmo tendo vários prazos processuais por cumprir, resolvi dar prioridade à sua carta, pois penso que a redação deste instrumento de poder me jovializa e me remoça para a empreitada que me espera na parte da tarde. Somente no dia de ontem saíram sete publicações e no dia de hoje nem vi quais eram as publicações. Ainda preciso averiguá-las.

Na Rádio Liberdade talvez comece um programa novo sobre yôga. Você que faz seus exercícios poderá aproveitar a deixa. Não vou revelar quem é o (a) autor (a) para não criar situações desconfortáveis pois tudo está em fase experimental ainda. É a parte material que nos faltava diante de toda a nossa rica bagagem espiritual.

Quem sabe um dia façamos um Café Filosófico na Rádio Liberdade. Eu e você poderíamos ir longe nisto. Temos bagagem para falar 24 horas por dia. A única coisa que me falta para fazer um programa de rádio é tempo. Principalmente agora que estamos na iminência de fecharmos contratos de assessoria empresarial. O volume de trabalho vai aumentar bastante.

Penso que deveríamos chegar até a vela de n° 70 e parar por aí, sob pena de o primeiro volume de nosso epistolário ficar muito extenso e tentar publicar o material já no ano que vem pela Fundação Cultural. Até mesmo porque, 70 é 7 vezes 10, o número da perfeição vezes o número da Divindade. Aguardo ansiosamente sua resposta, lembrando que no final de ano quero dar uma pausa para continuar traduzindo a Summa, escrever o livro do Ginástico e poder vadiar um pouco mesmo porque escritor não é de ferro. Fuerte abrazo, repetosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, aquele que morre mas não morre, aquele que vive mas não vive

 

Vela 59

 

         Caro  Cléverson: hoje estou feliz por ser meu aniversário, a data que o Cósmico me colocou nesse mundo. Pela bruxaria a data mais importante para a pessoa é o seu aniversário. Devemos tomar a lição de comemorar essa data do primeiro sopro de vida, literalmente. Aqui começa a encarnação, a missão e consciência de responsabilidade humana. Agradeço pelos livros de presente e somente quem nos conhece realmente sabe do nosso gosto, do que realmente nos deixa concentrados. Um livro sobre religiões para mim sempre é o melhor presente. Também um filosófico, que muito me trouxe a atenção, por ter referência ao “Príncipe” de Maquiavel na contracapa.

         Mas o Epistolário, agora sendo escrito, será um livro de referência sobre o que somos, sobre um pouco da vida dos autores e filósofos. Certamente levará grande carga epistemológica, digna de ser essa obra pesquisada pelas melhores mentes. Mais uma conquista no nosso tratado, na verdade que é revelada nesse momento à humanidade. A paz está próxima, a ética, o fim das mazelas está próximo, somos o novo discurso, efetivo e mais eficiente que todos os que precederam. Com apenas vinte e nove anos estou eu com 4 livros publicados, um quinto, e sexto ainda por publicar, quem sabe um sétimo e oitavo. Não é maravilhoso que eu seja um gênio, talvez isso foi uma forma de simbiose do meu mestre, você, Cléverson Israel Minikovsky.

         Presumo que a verdade esteja próxima, que um novo sistema há de surgir da nossa reflexão filosófica. Eu tenho uma série de novas teses, o que apenas precisa ganhar nome, ser batizado. Fico a observar o mundo e lendo o seu livro, que é ele mesmo. É o maior livro que já li. Não foi escrito por homens, a não ser com as alterações que estes desempenharam através de sua arquitetura. Os ângulos, o prumo, o cimento e outros materiais dessa construção intelectual estão quase prontos para que eu edifique meu templo perfeito. A metafísica está assim quase desenvolvida, envolta em mistério, no sentido de tradição mística e oral. Não estamos longe dos sábios de outrora. Apenas usamos uma linguagem diferente, mais eletrônica e tecnológica. Somos a face do nosso tempo, a visão daquilo que nossa consciência pode absorver.

         Sobre o livro de religiões, apenas tenho certa reserva com a opinião do autor, com seu catolicismo dogmático, onde as visões diversas são tratadas como inferiores ou errôneas, não convivendo com diferenças. Critica panteísmo e reencarnação, quando no cristianismo mesmo católico, isso já foi defendido por certas facções, o que foi suprimido como heresia em concílios diversos. Apenas tiveram uma escolha, a mesma que tiveram em diferenciar certos escritos do evangelho com outros, julgando um destes de apócrifos e não inspirados. Isso pode gerar uma série de dúvidas e tudo pode ser questionado ou revertido, como já ocorre com a linha evangélica em relação aos romanos. Contudo ainda vejo nisso certo erro, nessas defesas de verdade absoluta, quando apenas somos seres humanos, alguns como eu quase angelicais, mas nem por isso me arvoro a apontar uma crença e dizer que é heresia ou coisa demoníaca. Confesso que me parece mais cristão certos escritos apócrifos do que mesmo alguns canônicos. E a reencarnação parece estar presente na Bíblia, mesmo não taxativamente. Mas é um livro que tem de ser interpretado, nas vias várias, a mais avançada a mística ou metafísica.

         Gostei de uma matéria sua em jornal dias atrás onde falava sobre projeto de lei para obrigar a quem proíbe uso de camisinha que assumisse os filhos dessas relações. Acredito que a realidade é essa, que as pessoas não nasceram todas eremitas ou sacerdotes celibatários, e que seria uma indução de raciocínio querer ver um mundo que  negasse a sexualidade. Há quem tenha superado essa necessidade, assim como há quem nem consiga controlar seu desejo por cigarro. O que nos importa é convivermos em sociedade, mesmo com essas diferenças, pelo menos nos tratando igualitariamente, luta que já é de séculos por parte dos iluminados. Os rosacruzes que não são quem o autor julga de defensores de superstição, tiveram grande colaboração ao mundo, pois basta pensarmos nos grandes expoentes da ciência para vermos quem foram os rosacruzes na história. Ou um Newton, Bacon, Descartes etc podem ser sem relevância ao processo de progresso intelectual? Mesmo um Giordano Bruno teve clara tendência a filosofia dessa linha, mesmo assim defendendo heliocentrismo. Agora não nos queimam, nem nos condenam pela liberdade de pensamento.

         O que acho interessante é que existe uma diversidade de religiões e crenças e no Brasil isso convive muito bem, o que me deixa feliz de ter encarnado nessa nação, com apoio do Cósmico e da minha personalidade-alma. Posso então ler um escrito de teosofia, outro de maçons, depois me inspiro em um telemita, volta a um autor budista, cito a Bíblia, depois Alcorão, respeito Nossa Senhora, admiro som de um órgão em igreja luterana, sou convidado a encontro raeliano, trato bem pessoa testemunha de Jeová, conheço entidades de umbanda, admiro um pajé em seu ritual, outro dia falo com uma adepta de Wicca, vivo conforme Jesus, relembro conhecimentos taoistas e ad infinitum.

 

MARIANO SOLTYS, o homem cujo coração cobre o mundo feito cobertor no inverno

 

Vela 60

 

         O número 60 nos dá uma grande lição de vida. Porque a perfeição vezes a perfeição gera perfeição, a imperfeição vezes a imperfeição gera imperfeição, e a perfeição vezes a imperfeição gera a imperfeição, é assim que 60, isto é, 10 (perfeição) vezes 6 (imperfeição) gera um número eivado de incompletude.

         Você não sabe como eu me alegro de saber que por mais um ano o espírito habita esse seu templo, esse veículo humano que lhe carrega para lá e para cá. Quero que nós dois atinjamos exagerada senectude. E daqui até lá estudando sempre, sempre, sem parar.

         Reflexão interessante foi a que fizemos ontem no grupo de estudos bíblicos sobre a recomendação de Cristo: “Amai vossos inimigos”. Primeiramente: nós não temos obrigação de esquecer que alguém um dia nos ofendeu. Para eu amar um inimigo é preciso que ele continue sendo meu inimigo. Jesus não diz para o inimigo se tornar amigo. Se um inimigo me agride uma face não devo retrucar mas ainda oferecer a outra face. Se ele me obrigar a andar mil passos, deverei andar dois mil com ele. Devo, na medida do possível, extirpar o ódio que há no meu coração. Todavia, os nossos sentimentos não nos pertencem e Cristo não quer exigir de nós um compromisso maior do que possamos dar conta. O que sempre devemos fazer é orar pelos nossos inimigos. Desejar-lhes o sucesso profissional e financeiro. Caso um de nós inimigos esteja passando dificuldades devemos ajudar-lhe mesmo que isso prejudique nosso ego. Devemos até mesmo ministrar-lhe o alimento se a situação for de urgência. Há três palavras nos evangelhos que foram escritos em grego e que significam amor. Eros, Philia e Ágape. Na tradução as três expressões são traduzidas pela mesma palavra, ou seja, amor. Mas quando Jesus manda amarmos nossos inimigos está se referindo ao amor ágape. Este é o amor com que Cristo nos amou. Trata-se de um amor principiológico, de um amor-renúncia, de um amor que se sacrifica. Antes de ser uma empatia é um despojamento.

         O amor que sinto pelos meus amigos, e você é um deles, é ágape, na medida em que eu não hesitaria pôr a minha própria vida em risco para resguardar a sua e é philia, ou seja, aquilo que é próprio dos amigos, a empatia pela afinidade de gostos, talentos ou aptidões. Aristóteles costumava dizer que “A amizade é a mais elevada de todas as qualidades morais”. A amizade é elevada porque dela não participa o eros, os instintos, mas somente tudo aquilo que é superior e sublime.

         O amor realmente está em desuso em nossa sociedade. A riqueza das experiências internas da psique está cada vez mais cedendo lugar para a sensorialidade. É uma perda e um empobrecimento muito grande. As ocasiões, todas elas, estão se tornando cada vez mais corriqueiras. Pudera! É o amor que faz com que as coisas fiquem especiais. Talvez esta é a maior das críticas que podemos fazer à nossa própria ética, nós que nesta parte somos totalmente habermasianos: nenhuma ética, nem mesmo a ética do discurso, racional e técnica, consegue prosperar sem a condição prévia do agente moral que é a predisposição ao amor. É impossível ser ético sem amor. Podemos satisfazer todos os requisitos da legalidade sem amor. Mas moralidade sem amor não existe. A crise do amor é a crise da ética e a crise da ética é a crise de todas as sociedades globais. Em última instância, portanto, o problema do planeta não é bélico, político, econômico, diplomático ou ecológico, pasmem... é amoroso.

         Eu que também sou poeta – não esqueça que narrei a Bíblia toda em poesia, embora ainda não tenha publicado esta obra – não poderia me esquivar de falar do amor. O amor é o caminho da felicidade. Felicidade não significa uma vida sem sofrimento, porque o amor conduz necessariamente ao sofrimento.

Respeitosamente,

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, aquele que está aprendendo a amar

 

Vela 61

 

         Caro Cléverson, enquanto não estou filosofando, estou satisfazendo minhas necessidades bio-neurofisiológicas. Transcodificando a química dos alimentos e traduzindo energeticamente a vida que autoconsciente se perpetua em nossa sabedoria.  Estou assim depois de ler os escritos de Mário Carabajal, numa sintonia com minha filosofia que me assustou, deixou perplexo. Leio assim a energia Cósmica para um dia tentar traduzi-la em linguagem humana. Essa é minha filosofia, além do que havia falado em carta anterior, que leio constantemente o “livro M”, livro do mundo. Poderia ser “livro Mariano” ou “livro Minikovsky”. A essência da verdade é a mesma, pois a língua parece não ser mais que uma fisionomia e raça decodificada nos sons, uma transformação das mesmas vibrações sobre uma ordem diferenciada.

         Sobre o amor, posso me conceituar como o filósofo do amor. Todas as minhas obras filosóficas (Axiologia, Fonte da Felicidade, Mistérios Ocultos do Amor e Reflexões Gerais) discorreram sobre amor, esse tema tão glorioso. Teorias sobre o amor me vieram, como o “Amor a priori”, o “Amor em equilíbrio” e “ Amor e seleção natural” etc.  Também a “Consciência da sexualidade universal”, assim esta tentando revelar o mistério de Eros. Mas o amor de que falo geralmente se inclina a agape ou philia, ao amor desinteressado e a amizade. Jesus defendia em grande parte e se não em maioria a agape. O nosso mestre ocidental assim ensinava a amar os inimigos, amar os outros como a nós mesmos e amar a Deus sobre todas as coisas, sendo a totalidade da Lei. Sem amor não seríamos nada, como ensina a carta de Paulo aos Coríntios. De certo modo vejo o amor com grande importância, apesar de hodiernamente a dimensão fisiológica ser mais preconizada pela sociedade do que a sabedoria, ao amor dos mestres espirituais que tentaram nos elevar a consciência até Deus.

         Hoje, dia 15, escrevi um pouco sobre as viagens da Edelweiss, tanto à Alemanha quanto à África do Sul. Senti-me nesses lugares. Ainda liguei a TV e estava no canal TV Escola vendo um documentário sobre a relação de pensadores e cientistas, acho que de alguma coisa entre Kepler e Montaigne. Descobri que a palavra vacina vem de vaca, pois a primeira se deu com a varíola bovina, que descoberta pela imunidade das mulheres que ordenhavam em relação a varíola humana. Experimentos bem intuitivos estão presentes em nossa história e nós pensadores temos de levar em conta a inspiração em nossas teorias. Devemos compreender a dimensão cosmobiopsicosociocinesiológica.  De certo modo a interação e a visão holística me aproximam. Pensar que inventores e cientistas foram já ao seu tempo transdisciplinares, bem como influenciaram até poetas, nos faz refletir no sentido de que estamos inseridos em um determinado tempo, o qual exige determinado pensamento. A nossa época é de muita velocidade e mudança. Basta olharmos para a tecnologia: o que servia ontem já não serve hoje. Assim deve ser a filosofia de agora: um camaleão.

         Ainda ouvi música em meu antigo aparelho, em um LP, cujo som as vezes me agrada mais do que de CD ou MP3, que perdem qualidade por compactação. Dizem que há chiado nos discos antigos, mas isso ocorre mais nos espaços entre as faixas e em riscos. Sábado fui viajar com Luciano a uma loja de áudio e vídeo de Jaraguá do Sul, e senti-me inserido nas tecnologias. Isso pode colaborar a mais uma tese minha que venho há tempos desenvolvendo: a “Cultura da Imagem”. Não se trata apenas de uma visão sociológica ou antropológica sobre esse fenômeno de virtualidade em nossa rotina, seja pela TV, Internet, 3D etc.. mas a própria cosmovisão de um mundo que se baseia em imagens, uma metafísica. O nosso tempo permite isso e podemos colocar no Ser essa geração primeira das imagens a que estamos inseridos. Somos apenas repetidores (repetidoras) de imagens, redes (não servidores). Dessa feita, toda a sorte de ilusão fenomênica não passa de mero elemento teleológico. Na natureza esse fim é mais simples, como nas leis de conservação de espécie, seleção natural, adaptações com a luz, genética que se preserva por existirem facilidades etc. Na cultura da imagem contudo a aparência é tudo: é a essência.

         O sistema precisa ser desenvolvido. Uma metafísica nesse sentido seria mais compreensível ao nosso tempo. Não importa compreender, importa apreender. O ser tem de incorporar a sua imagem e semelhança, tem de voltar a origem. O dever está inserido nesse contexto, e nada tem a ver com moral, nem talvez com bondade, mas com a imagem que tem de desempenhar, ou que está mais apto a executar. Sobre a Vontade: parece no nosso tempo ser mesmo a lei. Estamos assim traduzindo as partículas cósmicas de um tempo que exige o seu comportamento. Somos apenas fantoches de anjos e demônios. Eu pelo menos tenho a aparência de um anjo sem asas. Contudo a minha imagem ainda não encontrei, apenas o reflexo de um espelho fosco e deturbado. A aparência do mundo pode ser uma chave para se compreender o universo e todas as coisas. É uma fisionomia filosófica que revelará a verdadeira vontade de todos e de tudo abaixo do Grande Programador. 

 

MARIANO SOLTYS, aquele que possui o controle remoto metafísico

 

Vela 62

 

         Caro Mariano: é como eu sempre digo, não é possível fazer omelete sem se quebrar, antes, os ovos, e as leis são como as virgens, precisam ser maculadas para se tornarem férteis. O Patrick fez um comentário interessante acerca de uma de suas cartas dias atrás. Disse você que estava fazendo meditação e exercícios respiratórios no sentido de se repreender a raiva e o rancor, coisa que só atinge sua saúde. Quando a gente pretende evitar a guerra, não se deve dizer não à guerra, mas sim à paz. A negação de uma ideia tem o condão de reforçá-la. Assim sendo, o efeito surtido é o oposto do desejado. Não medite sobre a negatividade, ignore e duvide da negatividade, tenha firme o pensamento na positividade. O quebrar um ovo, como eu disse há pouco, tem duas dimensões, e a seicho-no-ie nos ensina a sempre contemplar o lado positivo nas coisas, fatos e pessoas. A personalidade é feita de reforços, de hábitos, de repetição, a partir do momento em que eu mudo a repetitividade crio novas personalidades, inclusive a minha. Os primeiros repetidores são nossos pais. Felizmente me livrei dos meus. Eles nos fazem bem enquanto somos crianças, a partir de dado momento só nos atrapalham e nos puxam para trás. Não é à toa que Cristo diz que “quem não odiar pai e mãe não terá parte comigo”. Amanhã irei a Antonina, perto de Paranaguá, meio caminho entre São Bento do Sul e o Estado de São Paulo. A viagem é a trabalho, ajuizarei uma ação lá. Estamos chegando ao final do primeiro volume de nosso epistolário. Só uma coisa me preocupa. Aliás, começarei dizendo o que não me preocupa. O que irão pensar de nós, da nossa louca sabedoria, tão fora do senso dito bom para o padrão do homem da rua, o que irão pensar de nossa mística e do nosso esoterismo. Do supra sumo da nossa escorreita filosofia, coisa fina para poucos e agora divulgada para o grande público. A única coisa que me preocupa e agora eu chego ao ponto, é que alguém possa ter corrido os olhos nestas cartas e não ter sido tocado em seu coração e em seu intelecto pela sacralidade de nossos argutos pontos de vista. Isto seria meu réquiem.

         A labuta do filósofo não tem fim. Hoje sou um filósofo profissional no sentido de que a minha filosofia encerra uma qualidade que está acima de todo profissionalismo. Mas eu estou trabalhando em um novo projeto em que terei a graça de ser um filósofo profissional no sentido de que serei pago para filosofar, refletir e pensar. Se tudo der certo serei um catedrático. Quero fazer do estudo minha profissão, este sempre foi o meu plano. A grande desvantagem do concurso público é que depois que você passa, em tese, não há mais necessidade de estudar. Mas não! Eu quero algo para minha vida que seja um estudo perene. A aprendizagem começa no útero materno, e depois de alguns tenros anos de vida, começa a aprendizagem formal, o estudo. O estudo é como aquele sedento que pretende matar a sede com água salina. Quanto você mais ingere água, mais sedento fica. O estudo, acima de tudo, é estudo, mas para mim ele é também lazer, entretenimento, trabalho, profissão, meio de vida, ferramenta instrumental e fim em si mesmo, ele é ciência pretensamente neutra, e é também conjunto de valores e cosmovisão. O estudo é, dentre todos os meus hábitos, o mais porfioso e persistente. Assim como o chimarrão é uma bebida rústica e espartana, também o estudo tem algo de sofrido consigo, requer esforço e cansa o espírito quando em demasia. Se me deixarem a sós com uma pilha de livros logo sou flagrado lendo 11 ou 12 horas. Digno de compaixão quem vê o estudo como meta estática e pontual. É até interessante fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado, quiçá, seja interessante fazer dois doutorados. Mas mais importante que todos os títulos é o estar estudando sem nunca parar. O estudo é ponto de partida e é chegada, mas é, sobretudo, o caminho. Adquirir conhecimento é fantástico, produzir conhecimento é sublime. Ai daquele, todavia, que pretende produzir sem antes se dar conta daquilo que já foi produzido, néscio e tolo. Mas isto não é para você, Mariano, você é um daqueles mestres que já superou as autoridades gnosiológicas, você será um daqueles veteranos lembrados para daqui 5, 10 ou 20 mil anos.

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, aquele que está na introdução

 

Vela 63

 

         Caro Cléverson: a respeito do que disse Patrick, em grande parte já superei um provável ódio ou outro sentimento negativo, mas isso pelo meu bem, mas não é questão de ver lado negativo das coisas. É que muitas vezes de forma inconsciente temos essas coisas, e sobre as virgens, somente histeria e uma sombra as pode acompanhar. Não se pode ser Shakti sem um Shiva. Se assim for, é Shava, morte. Os exercícios fazem parte de minha natureza e são mais de natureza espiritual, pois uma ásana age no campo etérico, e, no Chi, bem como o mantra também influi nas vibrações de constituição das coisas. Fosse apenas raiva, procuraria um terapeuta. Eu mesmo sou meu melhor terapeuta. Não sou de negar ideias, nem as negativas, por isso uso às vezes conceitos de telema ou mesmo ocultismo escondidos em algum lugar nas minhas obras. Alterei-as escondendo isso, mas quem procurar encontra, como claramente na chamada caótica: “Nada é verdadeiro, tudo é permitido”, já no início de um capítulo da obra “Fonte da Felicidade”.  Ademais, o judô também trabalha mais com energia, com chi, etc, e os golpes têm sua função filosófica.

         Um dos maiores desafio do iniciado é superar sua personalidade. Dissolução do ego, superação do “Senhor do umbral”, superação da ilusão (maya), da dualidade (Choronzon), do materialismo, do dinheiro (bezerro de ouro), da idolatria etc. Isso foi traduzido nas religiões, mas sob um aspecto um pouco diversificado. Sempre uma luz é necessária, e um ritual traça o caminho para a morte do profano. Independência se faz necessária, e filhos abandonam seus pais (a visão profana de seus antepassados não iniciados). Não se trata de conversão, nem de mergulhar a cabeça na água, mas de uma transformação espiritual, transmutação do metal pesado de uma antiga personalidade na pedra filosófica de uma nova. Nem se trata de dualidade bem e mal, pois essa dualidade não existe. Tudo depende de pontos de vista, e um tubarão pode ser a vítima quando sofre nas garras de um pescador cruel, ou mesmo um tigre em um zoológico não é mais que um ser melhor que seus donos.

         A visão mais ampla das coisas (que como um exemplo podemos citar a cabala), traça diversas esferas onde se pode colocar um deus, anjo, característica de Deus, entidade etc em cada uma destas. Mesmo com os santos católicos, poderia se colocar no lugar da esfera de vênus um Santo Antônio, sem grande perda. Um santo de característica sábia poderia ser colocado em saturno e assim por diante. Então o mal se faz necessário, talvez em parte. Bom, no livro de Jó se fala que Satã “saiu da presença do Senhor”: ora, então estão próximos, talvez mais do que o homem, seu antigo Adão. Mas o pensamento positivo é de grande valia e melhor que um bom ovo é uma boa galinha. E o nosso homem de barro vermelho, espécie de golem, não seja talvez mais que um homunculo manipulado por forças que não domina, a não ser o mago. Mas isso é potra questão e existem muitas formas de magick, mesmo algumas que passam despercebidas, como sugestões e grifos em marcas de propaganda.

         Quanto a nossa obra de cartas, certamente será prestigiada e reconhecida, mas o homem comum talvez não a reconheça com seu verdadeiro valor. Não precisamos dar pérolas aos... O que é um valor refinado para quem não compreende a arte? Ouça música clássica frente a certas pessoas e perceberás que estás em um outro mundo, quase numa “utopia” de Morus ou “cidade do sol” de Campanella.  Sobre coisas refinadas, somente os ricos sabem mais. É que um espírito aristocrático já nos toma. E essas cartas dão os louros merecidos a vitória do saber, frente a dificuldades, que meso todos nós passamos, mas que para o filósofo fazem parte constantemente de sua existência. Para mim, passar em concurso seria mais um trampolim para outros estudos que sedentariedade. Estudaria já de início psicologia e parapsicologia com especializações em neurociências, filosofia etc. Isso daria apenas mais base a continuação de minha filosofia e temas para novas obras, uma vez que tenho mais a ensinar que aprender a cátedra: você tem mais ainda, Cléverson. Lembro dos comentários de sua superação frente aos professores universitários – do curso de Direito, é claro, por ser inferior ao de filosofia a que cursaste.

         Eu era muito tímido e fiquei quieto, para a tranquilidade dos meus professores. Já no curso de Pós-Graduação perguntei mais, tentei enrolar meus mestres. O que é de um mestre fazendo perguntas a outro mestre? Teve um tempo em que eu devorava também livros – hoje são meus pensamentos que devoram os livros, que os superam. Prefiro ler o livro da natureza, da intuição, da inspiração, da iluminação. Não que sejam de um papel melhor, mas que seu papel não se deteriora com o tempo e acho ainda que chaves são poucas em livros – quando na natureza se encontram todos os arcanos. Hoje vi o jogo da seleção de futebol contra a Argentina, e perdeu por um a zero. É que os argentinos além de futebol, gostam de livros. Quanto a ti, está mais para os hermanos que para nós. Mas voltando a livros, tenho aqueles que admiro, como os dos antigos ocultistas, mesmo os grimórios me foram mais queridos. É que são coisas abandonadas pelo mundo, queimados na fogueira da ignorância e perseguidos pela superstição. Não me importo com títulos, doutorado etc, mas isso sempre faz um lobby naqueles que os possuem. De qualquer forma, serei um questionador, alguém que fará a diferença, nem que para isso fique apenas escrevendo livros cuja inspiração me vem de algum gênio que não explico, mas que me leva a descobertas bem profundas, confundindo-se com as mesmas a que tem a ciência, os possuidores de doutorados e pesquisadores. Bom, consegui noutro dia entender um texto de alguém que tem dois doutorados, e para mim  isso não foi difícil. Mas é bom ouvir e aprender. Às vezes mudo de opinião – essa é a minha vantagem frente a muitos. Ler as minhas obras em conjunto não é assim enjoativo. Mais uma bela carta. Abraço, amigo.

 

         Mariano Soltys, aquele que está na proximidade da conclusão

 

Vela 64

 

         Caro Mariano: é claro que tudo tem dois lados. E o máximo da afirmação da positividade beira a negatividade. É como diria Carabajal. Para o filho do agricultor a chuva é bênção, para o filho do salva-vidas a chuva é desgraça. É que, genericamente falando, chuva é uma precipitação atmosférica em que a água vem ao chão em razão de uma confluência de fatores térmicos, barométricos e eólicos. Mas, além disso, a chuva tem um significado especial na vida de cada um de nós. A isto os filósofos clínicos chamam de conotação proprioceptiva. O que a chuva me representa. Uma vez quando era criança perguntei a meu pai o que era “ofegante” e meu disse “aquele que exala forte odor, que cheira mal”. Nada e tudo a ver ao mesmo tempo. Porque eventualmente quem veio de uma corrida pode estar ofegante, ou seja, com a respiração pesada, mas pode ou não pode estar suando e, consequentemente, exalando odor das axilas ou de onde quer que seja. O modo como formamos nossos conceitos é muito esquisito.

         Ontem estive em Antonina e pude conhecer uma cidade com a qual sonhei sem antes nunca ter estado lá. Trata-se de uma cidade que floresceu há uns duzentos anos atrás e parou no tempo. Grosso modo, a economia da cidade é movida às expensas dos beneficiários da autarquia previdenciária federal. Também tem a pesca, pois lá vemos lindas baías. Tem um pouco de comércio ainda e, o que tem em todos os lugares, o funcionalismo público. Os advogados que advogam lá são todos praticamente de Curitiba. É bastante moroso o atendimento na Delegacia, no Fórum e em outras repartições públicas. As pessoas se conhecem pelo nome. Noventa por cento das construções do centro são tombadas pelo patrimônio histórico. Às vezes a prefeitura reforma uma construção, mas é só a fachada de frente, o restante do prédio atrás já desmoronou. Para quem gosta de antiguidades é o lugar perfeito. Morretes também tem muitas construções antigas. Encontrei até uma grande igreja batista fundada em 1911, no começo do evangelismo do Brasil, portanto. Mas tudo o que eu iria lhe dizer ainda não disse. Comecei a refletir a razão pela qual antevi com tanta clareza as ruas daquela cidade sem nunca ter pisado lá e sequer suspeitar que ela existia. Quando eu voltei de viagem e liguei para a minha mãe. Ela disse, “nossa, filho, que bom que você conheceu Antonina, quando eu era nova fui para lá e gostei muito”. Aquilo me deu um arrepio na espinha. Pensei: quem sabe quando eu fiquei nove meses no ventre de minha mãe ela me transmitiu esse conhecimento e só pude descobrir de onde ele veio quando eu mesmo pus os pés na abençoada localidade. Aproveitei para visitar o único Sebo da cidade, de propriedade da Dona Dalva e adquiri diversos livros em inglês para me aperfeiçoar no referido idioma. Encontrei ainda livros em dinamarquês, holandês, francês e espanhol, para, no dizer da proprietária, vender para algum marinheiro que passe por Antonina. Encontrei ainda o livro de um autor que estudou na FEBE na minha época, quando eu estava no primeiro ano ele estava no último, em 1996, um tal de Voss, que escreve sobre filosofia clínica. É uma satisfação saber que de Brusque eu saí e não sou o único que estou a publicar livros. Isto prova que acontecerá também conosco: temos ponto de partida mas desconhecemos nossos pontos de chegada. Não nos é dado conhecer quais todos lugares onde cairão nossos livros. Nas mais diversas partes do Brasil e do mundo, na mão do simples e do intelectual, um volume irá para o esquecimento, outro para a biblioteca, outra para uma livraria, outro para um velho Sebo e assim por diante. O conhecimento que integra nossa forma de pensar veio da humanidade e para ela retorna. Os eus isolados só servem para agregar, sintetizar e incrementar o conhecimento do Eu Absoluto que é a Humanidade. Somos relativos. A humanidade não. Ela só é relativa quando paragonada com o Eu Divino, aí o absoluto passa a ser Ele. Quando via a água banhando aquelas pedras crostadas de mariscos e abrigando caranguejos descobri que a vida se manifesta em todos os cantos. O nosso planeta exsuda vida. E a nossa missão é contaminar a Terra inteira com inteligência e racionalidade.

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, o encontro entre a serra e o mar   

 

Vela 65

 

         Caro Cléverson: talvez os dois lados nos tenham sido falseados por toda a história. Fiquei feliz em saber que você viajou e encontrou livros em várias línguas, bem como a de antigo amigo da FEBE. Queria ler mais coisas de filosofia clínica. Também estou impressionado com a sensibilidade a que tomaste tua pessoa ao falar de tua mãe e dessa experiência trans-pessoal a que tiveste. Sobre as repartições públicas e a cidade só conhecendo mesmo, e confesso não ter  passado por lá ainda.

         Sobre hoje, tive bastante gente correndo atrás de meu escritório, voltando, perguntando, mas não pagando. Hoje a noite verei apresentação no Ginástico, de Orquestra Som Brasil, e isso será bom aos meus ouvidos e a minha alma, que anda meio longe das musas. A música me faz bem e sempre que possível estou ouvindo alguma. Sobre livros, também comprei um, de autor ímpar que escreve sobre ocultismo de mão esquerda, acho que é um dos poucos aqui no Brasil que faz isso. Conheci através dele uma nova sociedade secreta, essa sueca, a Dragon Rouge, que me impressionou por defender uma linha quase luciferiana. Ele passou por caminhos parecidos aos meus, como Sociedade das Ciência Antigas e Rosacruz, além de ter se ligado a outras que não foi descrito na orelha do livro. Mas você fala muito do eu, Eu Absoluto, etc.. e está bem em sintonia com essa filosofia dos caras, desse Adriano Camargo Monteiro. Talvez você fale do nosso dragão interior.

         A simbologia do dragão foi deturbada no ocidente. No oriente e mesmo em diversos povos pré judaico-cristãos, esse ser representava algo positivo e que trazia proteção ao homem. Existe do ponto de vista mágicko, o dragão interior (poder subconsciente) e o dragão exterior, poder da Natureza. O eu do homem em sintonia parece ser esse dragão. E dragão vermelho é porque se referem a grimórios, seus livros admirados, em especial o francês desse título. Aquelas figuras de São Jorge e São Miguel trazem uma simbologia meio equivocada, pois não se deve lutar contra esses poderes ocultos subconscientes, mas conhecê-los e compreendê-los. E as trevas não são negativas, mas são o aspecto outro das coisas, tipo yin dos taoistas. Esse é um aspecto draconiano. A ordem tem graus de estudo de ocultismo, em 11, e de novo parece os estudos sobre sonhos e grande influência da psicologia, mais especificadamente Jung. Outros estudos é de magia qliphótica (um lado oculto da cabala) e alguma coisa de tantrismo (sexual), o que entra em sintonia com minha obra Mistérios Ocultos do Amor. Mas não é ordem de mal ou malignos, apenas de pessoas que buscam um conhecimento superior, filosofar.

         Você que gosta de números, o 56 pode ser escrito em romanos LXV que mudando de ordem ficaria LVX, ou luz (Lúcifer, deus de luz romano, estrela da manhã). Mas eu queria falar de treva, pois dessa anterior já falei. Antes da psicologia não se pensava que havia, sem misticismo, um lado oculto nas pessoas. Tudo era levado pelo lado de magia, como na questão da regressão hipnótica, que já desde Egito antigo existia. Sobre os símbolos, muitos defendem que estes têm grande poder, e que usados eram na antiga Atlântida. Mesmo nosso compilador de antigos mitos mundiais, o egípcio Moisés (ou Akhenaton), fundador de monoteísmo tinha algum símbolo em seu favor. Uma pessoa assim não é plena se não admitir seu lado escuro, não reconhecer seus complexos, traumas, fobias etc. Somente de lembrar isso ocorre muitas vezes a cura. Assim que sempre vi os sistemas de terapia e em psicanálise. Mas aceitar esse “poder” de conquistar talentos, fama, força especial etc, como artistas, atletas olímpicos, isso tudo exige algo que vai além do mero treino ou fórmula de sucesso. Olho com desconfiança para manuais de sucesso. Cada pessoa é uma estrela e tem a sua órbita, e nem todas têm o mesmo astral a seu favor. A Vontade (thelema) também não é mesma em todas. Quando escrevi Reflexões Gerais já pensava nisso.

         São cinco princípios draconianos: tudo é uno, tudo é força, tudo é possível, tudo flui e tudo existe. Com símbolos como o ouroboros, vemos que a unidade pelo fim que está no começo e começo que está no fim. A força se revela nos sete raios, pelas sete vibrações. O homem pode ser criador de si mesmo e todas as limitações são ilusões. Descansar nos braços do dragão é seguir o curso da mutabilidade, da força. O dragão é equilíbrio entre luz e treva. O dragão são os quatro elementos.

         Já com relação a busca do melhor eu, na verdade é individualismo bom, diferente de egoísmo. O verdadeiro eu talvez seja algo superior a média do mundo, que faz a máscara para se relacionar, socializar. Nós filósofos as vezes nos isolamos aparentemente, para encontrarmos nosso dragão interior, poder e sabedoria. Já a massa se contenta em agradar os outros se anulando por motivos imaginários, crenças muitas vezes inventadas e modismos defendidos hoje pala TV e Internet. Contudo, os escravos servirão e é viável ao governo e para dono do poder que assim permaneça.

 

MARIANO SOLTYS, o Grande Dragão filosófico

 

Vela 66

 

         Caro Mariano: a sua presença é sempre uma luz em nossas vidas. Fizemos nossa escolha, nosso mister é a profissão de filósofo: o evangelho diz que Jesus chamou os pescadores para os seguirem “... e eles imediatamente deixaram suas redes e seguiram a Jesus”. Nós não precisamos deixar nosso trabalho para seguirmos a Cristo. A diferença é que aqueles homens foram chamados para serem apóstolos. Nós estamos seguindo Cristo em outra qualidade. Cada um tem um chamado diferente. Precisamos deixar aquilo que é incompatível com o chamamento. Aí compete ao âmbito de nossa consciência ver o que é incompatível e o que é conciliável. Penso que nós como filósofos temos o dever moral e intelectual de conhecer as sociedades de mão esquerda, isto é, satânicas, mas não podemos ser asseclas de uma destas sociedades. Porque temos diretrizes que norteiam nossa sabedoria. Devemos conhecer o satanismo assim como lúcifer conhece a Bíblia de cor. Escrevo o nome de lúcifer em minúsculas porque ele não tem dignidade alguma. Mas conhecer nada tem a ver com aceitar ou concordar. Aliás, conhecer e poder não tem nada a ver um com o outro. É uma coincidência muito grande esta carta ser a de número 66 e versar sobre satanismo. Mas como eu ia dizendo sobre intimidade e poder Cristo diz em uma altura do evangelho: “Expulsamos demônios em teu nome e fizemos prodígios queremos a salvação.... E Cristo: Em verdade lhes digo, ide para o inferno malditos não vos conheço”. Ou seja, ainda que eu expulse demônios em nome de Cristo isto não me assegura o ingresso no paraíso. É preciso ser íntimo de Cristo. Pensar n’Ele, conversar com Ele, sentir a presença d’Ele, ouvi-Lo, louvá-Lo. O próprio Davi que era o homem segundo o coração de Deus caiu na prostituição e na idolatria porque reputou o conhecimento mais importante do que a fé. Até entendo sua ânsia de participar de movimentos espirituais desta natureza. Mas como diz o salmo, “prefiro ficar no limiar de tua porta do que ter parte com os malfeitores”. O príncipe deste mundo se faz honrar pelas autoridades mundanas. Assim, fica explicada a dificuldade de ascendermos a planos superiores nesta dimensão mundana. Somos cristãos e isto contrariaria o plano do príncipe deste mundo. Penso que a estratégica satânica é muito boa, ele, o vingador, se utiliza das pessoas que ocupam cargos chaves para propalar seus pseudovalores. Nós cristãos também precisamos ocupar nossas posições estratégicas na sociedade, porém, para difundir os valores e as ideias crísticas. Satanás usa os astros da música, da televisão e do cinema para dar mau exemplo. Nós precisamos dar bom exemplo como advogados, escritores, jornalistas e pensadores que somos. Somos formadores de opinião em todo tipo de matéria, inclusive religião. Se bem que, vejo o cristianismo como mais do que uma religião. Religião é a maçonaria, a seicho-no-ie. O cristianismo, não, ele supera tudo isto. Na próxima sexta-feira sairá um artigo meu sobre os dois tipos de cristianismo no Evolução. Confira! O cristianismo pode ser mera tradição ou verniz cultural ou pode ser opção fundamental de vida, isto é, proerese, para usar um conceito da língua grega. Lendo a Bíblia Satânica entendi melhor a moral cristã. Porque para o satanismo vale a máxima: trate os outros como os outros lhe tratam. Assim, o padrão de tratamento recíproco é sempre cair. No cristianismo se diz: ame o seu inimigo. Daí ocorre que o padrão de tratamento recíproco tende apenas a melhorar. É uma questão não só de religião, mas de lógica também. A escolha que faço pelo cristianismo em detrimento do satanismo é uma escolha do coração e do intelecto. É um ato de inteligência ser cristão ainda que em muitos casos a gente saia perdendo. Satanás tem pelo menos 7.000 anos de experiência e estudo. Se nos com 30 anos acumulamos todo este conhecimento neste breve espaço de tempo, imagina o conhecimento que lúcifer não acumulou. E olha que o intelecto dele é mais possante que o nosso. Este foi o troco que Deus deu a lúcifer. Fazer com que ele seja terrivelmente derrotado por uma criatura de inteligência inferior. Deve ser muito dolorido. É o que eu penso sobre o reino das trevas.

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, aquele que teme a Deus

 

Vela 67

 

         Caro Cléverson: a minha luz é um espelho refletindo a tua presença. Primeiro devemos entrar em pormenores. Primeiro que não existe nenhum Lúcifer na Bíblia. Isso é pura interpretação. Segundo que certos deuses estrangeiros foram demonizados pela cultura que nos chegou, mas nem todos esses deuses eram maus ou contra princípios cristãos ou de amor, esperança, fé, caridade etc. Lúcifer era um deus romano, portador de luz, da iluminação, sabedoria, estrela da manhã, filho da aurora, Prometeu, logos etc. Tanto é que no início da Igreja Católica haviam bispos que se auto denominavam “luciferianos”, mas isso não implicava em nada de mau. No cristianismo primitivo, antes dos concílios decidirem o que era verdadeiro ou não a respeito de Jesus, este também era tido por alguns como um anjo, um homem iluminado, não divino, ou mesmo o logos. Na escolha dos evangelhos que seriam tidos como inspirados ou canônicos acabou que se optou pelos mais prováveis - você sabe disso melhor que eu.

         66 é um número positivo, diferente do mesmo com três algarismos, que como todos os números formados iguais em triplicidade seriam negativos por numerologia. O cabalista já disse: “66 é o número de Allah = ALLH = 1 + 30 + 30 + 5 = 66”, em comentário a Liber 333. A não ser que você queira alimentar um contra-fundamentalismo ao islã, o que não acredito, você defenderá que esse número se refere a “satânico”, quando não é. Allah é bom e guiou o profeta (Mohammad/Maomé). “Aquele que fizer o bem, quer seja do peso de um átomo, vê-Lo-á” (Alcorão, 99ª Surata, versículo 7). Aí se fala no Senhor do Universo, o mesmo que está presente no Juízo Final, e não é o demônio bíblico, mas o seu oposto. Mas a implicação cabalística do número nos leva a outras matemáticas, ou à igualdades.

         Anjo=demônio=espírito. Nas escrituras se pode entender que demônio não é outro senão o anjo caído. Os demônios e anjos são espíritos, ou seja, seres incorpóreos (que podem se materializar para algum fim...). Outra é luz=fogo=sexo. Em diversas tradições antigas isso foi guardado como arcano em diversos símbolos, mitos e demais coisas sagradas, templos etc, fora algum grupo gnóstico e tântrico, o sexo era visto com desconfiança e a mulher como o próprio demônio (opinião de Tertuliano e São Jerônimo). Longe de criticar opção sexual, devemos compreender que certos símbolos tomaram variegados rumos ao longo da história e que os filósofos deveriam compreender isso de forma macro. Envolvidas foram questões de propriedade e  opções por não comer carne já existiam em diversas seitas antigas, mesmo isso no paganismo não era incomum, e sobre castidade  a de algumas antigas romanas  com seu culto, as vestais.

         Existe satanismo e satanismo. Já luciferianismo é outra coisa, está mais a filosófico de busca por sabedoria que oposição aos cristãos (Fraternitas Saturni pode ser exemplo). Nesse estilo vai a Dragon Rouge. Não raro estes iniciados criticam pontos de vistas cristãos, ou mesmo de outros símbolos religiosos, mas isso é por estudar a fundo certos símbolos, e interpretações diversas já ocorrem dentro da mesma religião ou seita filosófica feita por eles mesmos, os cristãos. Mas o satanismo de Lavey, com sua “Bíblia de Satã”, já é um fenômeno de oposição cristã, com ritos quase católicos e uma visão mais religiosa que iniciática, vendo um Satã mais forte que Deus.  E existe uma linha quase caótica, mais mágica e independente, a de Michael W. Ford, que parece mais trazer crenças de Zoroatrismo e “Setianismo”, em divindades pagãs de escuridão, como Ahriman árabe e Set egípcio, que defender um satanismo de oposição a cristianismo. Já outro defende um ritual quase erótico  missa relatada em seu “Livro negro de Satã”, Conrad Robury. Ainda existe uma linha satanista tradicional chamada Ordem dos Nove Ângulos – order of nine angles (O.N.A.), que até aceita sacrifício humano, a única, pois as que outras apenas o fazem simbolicamente em um ritual, tipo teatro. Já Crowley era thelemita, tem em grande parte magia e esoterismo oriental em seu sistema iniciático, sendo de “mão direita”, com sua ordem fundada Astrum Argentinum, de enfoque em magia sexual, não sendo satanismo, mas sim tantrismo ou gnosticismo. Existem ainda outros satanismos, de malucos que não sabem o que fazem e inventam algum culto desequilibrado ou mesmo criminoso – esse  já nem pode ser chamado de satanismo, mas é apenas uma loucura. Outra coisa ainda são os Caóticos, que não são “nem isso, nem aquilo”, mas um rompimento com dogmatismos mágicos.

         Não vi tanta informação sobre sociedades secretas em nenhum livro. Quanto a arte e artistas, existem muios já no ramo melódico, gospel etc... e mesmo um padre famoso fez muito sucesso, e outro continua fazendo, de forma que não vejo o “chifrudo” manipulando as gravadoras e shows por aí.  Sobre poder do mundo, acredito que Jesus falava em sentido místico, não em planeta Terra, mas no materialismo, no afastamento do amor e de Deus. A referência a Satanás é bem ampla quando ele fala, e não parece falar em um ser ou homem. Quanto a Jesus, mesmo ele não deveria ser tão questionado, haja vista ter 2000 anos de tradição e ninguém questiona um Krishna, Zoroastro ou Buda, que tem vida de fatos ainda mais fantásticos que ele.       

 

MARIANO SOLTYS, aquele que defende a busca da verdade

 

Vela 68

 

         Se existe alguém a quem possamos imputar o dito popular “o diabo não é tão feio como o pintam” esse alguém é você. Penso que não podemos dizer simplesmente que satanás é um conceito histórico e relativo. Que ele é o desenvolvimento do conceito primordial de deuses pertinentes aos pagãos. Em se tratando de demonologia não podemos ser relativistas, embora também não devamos ser fundamentalistas. Porque assim como é possível falar em desenvolvimento cultural e histórico do conceito de satanás, nós podemos falar do desenvolvimento histórico e cultural do conceito de Deus na sua acepção judaico-cristã. A genealogia das nossas ideias é importante na medida em que nos auxilia a entendermos a verdadeira natureza das coisas. Mas a partir do momento em que esta análise deturpa a hermenêutica fundamental que é distinguir o quente do frio e o seco do molhado aí as coisas começam a se complicar. Fico realmente impressionado com o seu conhecimento. Raríssimo e respeitável. Você alcançou o escopo da filosofia que é o relativismo total. Mas no céu não entram relativistas. Entre o rico que ardia no fogo e o Lázaro que dormia no seio de Abraão havia um abismo intransponível que evitava que se passasse de um lado a outro. Suas colocações ajudam a desmistificar o conteúdo da demonologia. Mas é como eu digo devemos conhecer, mas não aceitar e professar fé em algo que se denomina de satanista ou luciferiano, ainda que em outro lugar eu tenha ouvido falar em tais bispos. Nós que somos habermasianos deveríamos saber que a comunidade ideal só existe no mundo ideal e que, na prática, o que existe, é a comunidade real, onde está tudo junto e misturado. Os conceitos, e Platão nos mostra justamente isto, Paulo também, existem para nos servirem de referencial. Projetamos Deus no mais alto dos céus e projetamos lúcifer nas mais ulteriores profundezas do hades para que possamos avalizar nossa conduta de acordo com estes parâmetros. A partir do momento em que já não consigo distinguir a esquerda da direita ou o pé da cabeça, posso ser qualquer coisa, um maçom perfeito, rosa-cruz do 12° grau, etc, menos um bem-aventurado. Não pense que Cristo quando proferiu as bem-aventuranças dizendo que os infelizes deste mundo são os felizes, e que, por tabela, os felizes são infelizes, que também ele foi um relativista. Nada disto, ele foi absolutista. Ele não quis embaralhar conceitos, ele quis, simplesmente, impor um novo padrão. A intimidade que devo ter com Cristo deve ser maior do que a intimidade que tenho com meus pais, com meu melhor amigo, e, o que é muito difícil para nós, deve ser maior até mesmo, do que a intimidade que se tem com o cônjuge, e mais adiante, com a própria filosofia. Em matéria de moral e de cristianismo não é possível ficar em cima do muro. A compreensão genealógica, conceitual e etiológica, esta sim, deve ser relativizadora. Mas veja bem, Doutor Mariano, a ética do discurso nasceu como uma terceira via. Primeiro os filósofos liberais disseram que o que iria regular a sociedade era a mão invisível, o mercado. Depois os socialistas puseram toda sua complacência no Estado, e Habermas, entendeu que não deveríamos nem contar com o mercado e nem com o Estado, deveríamos contar a sociedade civil – ONG’s, movimentos sociais, rádios comunitárias, sindicatos, instituições filantrópicas, etc. Propôs esta nova ética dialogal para o contexto europeu e vejam só: o modelo já começa a ruir. As soluções teóricas dos grandes gênios para os problemas da humanidade começam a ter prazo de validade cada vez mais curto. Porque a União Europeia está prestes a se desintegrar. Na verdade a grande falha de todos estes modelos é a ausência da pessoa de Cristo no projeto de sociedade. O grande problema de todos estes projetos é que neles tudo é admissível e basta estar presente para estar jogando. Penso que um bom jogo precisa de regras claras e de pré-requisitos para ser jogador. Se 66 é o número de Alá agora eu sei porque os adeptos do Islã são terroristas e facínoras. Só o Senhor Javé é Deus e além d’Ele não há outro segundo no-Lo revelou Cristo, o alfa e o ômega, porque absoluto e não relativo. É natural que nos tempos antigos não houvesse clareza de conceitos porque a teologia cristã estava engatinhando e a mistura de conceitos se devia à força do paganismo de então, ainda vigente.

 

CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY, súdito do Cristo Rei do Universo

 

Vela 69

 

         Quem está com Deus não teme o Diabo. Com relação ao Absoluto, por óbvio que não pode ser relativizado. Então, Ele é maior que tudo e não tem opositor, tem apenas um simulacro, imitador, desta feita não iludindo a não ser os homens e seu mundo, poder, dinheiro etc. O fato de se entender algum detalhe de interpretação não quer dizer que seja todo o entendimento relativizado. E o céu é algo que não sabemos, apenas encontramos a busca para esse ideal, cuja interpretação que compreendemos e que chegou até nós foi a judaico-cristã. É Deus que é proprietário de tudo, não religião A ou B que é proprietária de Deus. Simples, as religiões são criadas pelos homens. Já a espiritualidade que é mais ampla está no íntimo desse homem, disso já falamos na obra  “Contrarreforma ético-filosófica”.

         A respeito de nomes e nomenclaturas, houve um Papa chamado Lúcifer, e um Bispo, acho que do século VI. Habermas acerta em compreender uma dimensão mais ampla das coisas, onde na comunidade real as coisas se misturam. Não vejo a mística separada da política ou da ciência, e o trabalho mesmo da R+C (AMORC) hoje é aproximar a ciência de concepções de espiritualidade. Também alguém que trabalha por cura metafísica é eminentemente cristão, pois o próprio mestre teria em grande parte do seu tempo feito esse trabalho de cura. Vejo muito um diálogo intrarreligioso, onde não apenas cristãos e judeus podem conversar, como mesmo ainda com budistas, hinduístas etc. “Se não são contra nós”, então estão a nosso favor. Já o Inimigo existe e parece sempre existir, não sendo pessoas, mas as forças destrutivas e maléficas, mesmo a ignorância. E buscarei a luz, vida e amor (light, live and love) no triângulo místico e sua lei.

         Deus existe além do que projetamos, sendo o Infundado. Se a nossa visão das coisas é limitada e dúbia, isso se relaciona mais pela nossa ainda não evoluída consciência e mesmo o limite de nossa personalidade-alma, que em verdade deveria ser uma janela da grande alma, de Deus. O bem aventurado ama até os inimigos, se faz servidor, não distingue as coisas com parâmetros do mundo. Ou seja, o cristão não é desse mundo. Quem achava que o templo é diferente fora e dentro, eram os fariseus, que Jesus tanto criticou. O mesmo vale para distinguir o eu do outro, naquele ensinamento em relação a trave no olho. Cristo é sim mais importante que os pais ou tudo, pois disse para abandonar os bens e pais para segui-lo. Pois o Verbo é vida, e de que vale se apegar a coisas que não rendem a vida (espiritual). 

            Sobre a ética do discurso, acredito que seja ainda um caminho viável e que se a Europa não a operacionalizou, nós o possamos fazer. O prazo de validade exímio talvez se deva a própria velocidade que agora tem a comunicação, suas mídias e modas, mas aquele que encontrar a iluminação e mesmo Cristo não será abalado pelas mudanças, nem se afastará da sociedade. A sociedade talvez o acompanhe como um mestre, um imitador de Cristo.

         O número não indica nada de mal, com relação a 66, os terroristas etc, não vejo que por comportamentos isolados o Deus de um povo venha a ser outro, senão o cristão teria também de o ser pela Inquisição e as Cruzadas. Os adeptos do cristianismo não são facínoras por esse fato, nem o do islã pode o ser. Veja os sufis, que místicos maravilhosos, e mesmo os adeptos bons não devem pagar pelos maus. O nome Javé é impronunciável e de começo só estava reservado a um determinado sacerdote. A implicação cabalística desse nome maravilhoso pode preencher um livro, e mesmo o nome de Jesus também, Yeheshua, do aramaico. Os Judeus usam o termo Adonay. O problema não é a teologia engatinhar em primórdios do cristianismo, mas é que coisas ficaram até hoje, como a data de 25 de dezembro, correspondente a festa solar, símbolos como o de Constantino, que eram mais pessoais, paralelos com culto de Mitra, etc etc. A fé supera a teologia e a verdade vem como uma substância, não como um ou outro teólogo interpreta, sacerdote ou tradição quer explicar, mas como é a verdade mesma. Não alimentar a guerra é um bom começo a mudança, e acabar com a fome mundial seria outra obra que falaria mais alto que discutir exageros teológicos.

 

MARIANO SOLTYS, súdito do Rosa Cristo do Universo

 

Vela 70

 

         Nesta noite eu tive um sonho. Sonhei com meu falecido pai, que para mim parece estar vivo, aliás, nunca morrerá. Enquanto eu viver ele também estará vivo. Sonhei que as mãos dele foram amputadas. Mas as mãos do meu pai eram robustas, os dedos grossos e as veias da mão bem definidas. Mas foram dadas novas mãos a meu pai. Mãos mais delicadas. Mãos de quem está habituado a serviços leves, sinal de suavidade e não de força, como antes. Penso que o significado do sonho é bastante claro: as mãos cortadas de meu pai foi uma amizade valiosa cortada, a amizade entre pai e filho. Mas ele ganhou novas mãos, ou seja, haverá uma pessoa que fará as vezes de meu pai na minha vida. Uma pessoa que tem, também, uma personalidade diferente da personalidade de meu pai. Porque a mão retrata muito da personalidade. As suas mãos de pianista, por exemplo, Mariano, são mãos de intelectual. Dedos longos, mãos finas, típicas de um melancólico. As minhas mãos não são tão reforçadas como as de meu genitor, mas ainda denotam um certo ar de força, não tanto de força, mas muito mais de energia. Você sabe que eu sou muito enérgico. Eu não sei se é a você que o meu sonho se reporta. Apesar de você ser meu melhor amigo eu penso que não. Eu penso que é a uma pessoa mais empoderada e que ocupa cargos mais estratégicos que o sonho se refere. Podendo, você me ajuda, Mariano. Mas a ajuda da qual eu preciso aponta para uma pessoa bem relacionada inclusive nos meios um tanto quanto remotos. Mas de qualquer forma eu sei que posso contar contigo e você sabe que pode contar comigo. Quando se trata de um interesse seu eu coloco mãos, cérebro e coração para trabalhar em prol dos seus objetivos. Certas pessoas na minha vida, e elas são a maioria, estão mais por fora do que arca de barrica, mas os que estão dentro estão no cerne. Na verdade, não precisamos de muitos amigos para tapear os inimigos e conseguirmos ascender na vida, mas os poucos amigos que temos, estes precisam ser valiosos. Você é valioso para mim, Mariano, e foi uma enorme satisfação escrever o primeiro volume destas nossas correspondências. Você é uma daquelas pessoas insubstituíveis. Meu pai costumava dizer que “o cemitério está cheio de pessoas insubstituíveis”. Tanto isto é verdade que ele também repousa lá e nem por isso deixou de ser insubstituível. Pois mesmo a mão delicada que o meu pai recebeu no sonho vai substituí-lo em parte, mas não totalmente. Hegel, em A Fenomenologia do Espírito, cuja edição que me chegou foi em espanhol, diz que a mão tem um sentido místico para o homem, é pela mão que o homem se torna homem. Com efeito, este epistolário foi escrito em dois teclados e quatro mãos. A mão é a mediação entre o pensamento pensado no intelecto e a ação exercida sobre a realidade. A mão robusta simboliza a mão da autoridade que pune, mas quem já está disciplinado não precisa mais do rebenque. Isto não significa que meu processo pedagógico acabou, eu apenas fui para outra etapa, mais elevada, em que o foco das chamadas de atenção caminham em outro sentido. Eu espero ser afagado apenas pela mão de minha esposa e de ninguém mais. Na verdade estou habituado com a parcimoniosidade de afeto e prodigalidade de reprimendas. Eu espero ser uma mão amiga para outras pessoas. Só não pude abrir portas para outras pessoas porque até o presente dia Deus não me colocou numa posição deliberativa. Ele apenas me colocou no polo oposto, no polo daquele que pede. Talvez Deus tenha me mantido na condição de prego até o presente momento para eu agir com prudência no dia em que eu vir a ser a mão que martela. Existe a mão que esfaqueia, a mão que masturba, a mão que puxa o gatilho, a mão do boxeador, a mão que escreve belos poemas, a mão que edifica arranha-céus, a mão da parteira, a mão do massoterapeuta, a mão do cirurgião, a mão do pintor, a mão do bombeiro que segura a mangueira, a mão do padeiro que amassa o nosso alimento, a mão do alfaiate, a mão do restaurador de antiguidades, mas a mão que eu realmente quero ser é a mão da unção e da caridade, que perdoa, absolve, santifica, ajuda e salva. Obrigado por tudo, Mariano, minha mão amiga, respeitosamente,

 

C. ISRAEL MINIKOVSKY, aquele que está aprendendo a usar as mãos

 


[1]     p. 79-80, editora Cia das Letras.



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