Pela primeira vez na história, uma mulher na presidência da República
Brasília DF - A ex-ministra da Casa Civil Dilma Rousseff torna-se na tarde deste sábado a primeira mulher a chegar a Presidência da República. Para a cerimônia de posse, que recebe em Brasília milhares de aliados políticos, autoridades, chefes de Estado estranheiros e militantes, Dilma fez questão de pedir ao cerimonial do Planalto que a deixasse próxima ao público, seguindo a receita tradicionalmente usada pelo antecessor Luiz Inácio Lula da Silva. A forte chuva, entretanto, prejudicou os planos da presidenta, que teve de abrir mão do tradicional desfile em carro aberto.
Logo na abertura de seu discurso de posse, Dilma exaltou o fato de ser a primeira mulher a chegar à Presidência. E agradeceu a "ousadia" do povo brasileiro em eleger uma mulher para o mais alto cargo do Executivo, depois de ter escolhido um homem do povo para liderar o País nos últimos 8 anos.
"Esta será a primeira vez que a faixa presidencial cindirá o ombro de uma mulher", apontou Dilma, dizendo-se consciente de que recebe a faixa com uma "imensa responsabilidade" e alegando que espera abrir a oportunidade para que "muitas outras mulheres" venham a ser presidentes do Brasil. "Venho antes de tudo para dar continuidade ao maior processo de afirmação que este Pais já viveu em tempos recentes", completou.
Dilma também exaltou o presidente Lula: "Venho para consolidar a obra transformadora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com quem tive a mais rigorosa experiência política da minha vida". E reservou no discurso espaço para uma homenagem ao vice de Lula, José Alencar, que se ausentou por estar internado em São Paulo. "Quero, neste momento, prestar minha homenagem a outro brasileiro, um incansável lutador, um companheiro que esteve ao lado do presidente Lula por todos esses anos, o vice-presidente José Alencar."
Dilma ressaltou os resultados da política econômica e social do governo. Disse que o governo "resgatou" milhões de brasileiros da pobreza e agora caminha para buscar novas soluções. "Vivemos um dos melhores períodos da vida nacional", disse.
Em vez de repetir a saudação "meus amigos, minhas amigas" do presidente Lula, Dilma investiu no aceno "queridos brasileiros e queridas brasileiras". Disse querer fortalecer o sentido programático dos partidos e aperfeiçoar as instituições. Destacou ainda a importância de manter a estabilidade econômica no País e dar continuidade ao desenvolvimento do setor produtivo.
Ainda no que se refere à área econômica, Dilma prometeu barrar a inflação. "Não deixarei que esta praga volte a corroer nossa estabilidade econômica", afirmou, aproveitando ainda para mandar um recado às nações que impuserem barreiras econômicas ao comércio brasileiro. "Não faremos a menor concessão ao protecionismo dos países ricos", discursou.
Dilma prometeu trabalhar para erradicar a miséria, aumentar a qualidade do ensino brasileiro disse que manterá o foco no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) como mecanismo de desenvolvimento, comprometeu-se a melhorar a estutura aeroportuária do País,
Desfile
Dilma deixou a Granja do Torto por volta das 14 horas, em direção à Catedral de Brasília, ponto de partida do desfile que antecede a cerimônia de posse. Ela usou o Rolls Royce presidencial, mas o veículo teve de permanecer com a capota fechada. A chuva também impediu que Dilma chegasse ao Congresso pela entrada principal, obrigando a petista a utilizar a garagem do prédio.
Ao chegar ao Congresso, Dilma deparou-se com uma multidão de aliados, que tentavam cumprimentá-la. Com certa dificuldade de se movimentar, ela atravessou o trajeto entre a entrada do Congresso e o plenário da Câmara, local escolhido para a cerimônia.
Dilma recebeu o termo de posse das mãos do presidente do Congresso Nacional, José Sarney (PMDB-AP). Na mesma ocasião, o deputado Michel Temer (PMDB-SP), que aos 70 anos compôs a chapa presidencial da petista, foi empossado vice-presidente da República. Dilma ganhou uma salva de palmas da plateia, sob o grito "Dilma, Dilma".
Na plateia, entretanto, boa parte das cadeiras permaneciam vazias, ao ponto de alguns jornalistas sentarem-se em assentos originalmente reservadas aos convidades. Entre os presentes, ao menos um governador de oposição chamava a atenção - o tucano Siqueira Campos, do Tocantins.
Biografia
Mineira de Belo Horizonte, Dilma chegou ao posto mais alto da nação após integrar o primeiro escalão do governo Lula, onde ocupou o Ministério de Minas e Energia e a estratégica Casa Civil da Presidência. Ela herda de seu padrinho político um governo com índices de aprovação superiores a 80%.
Candidata do PT com o apoio dos partidos da base governista, Dilma foi eleita em 31 de outubro de 2010, com 55,7 milhões de votos. Ela derrotou no segundo turno o ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB), que conquistou 43,7 milhões de votos. É o primeiro cargo eletivo que Dilma disputou.
Dentro do PT, a presidenta é novata. Ingressou na sigla apenas em 2001, 21 anos depois de o partido ter sido fundado por um grupo de intelectuais e representantes da classe trabalhista, entre eles Lula, que na época presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo.